Aviso: Domingo, 6 de outubro, será a Missa de Nossa Senhora do Rosário com comemoração do 20º Domingo depois de Pentecostes

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Caros, salve Maria!

O Padre Daniel Pinheiro pede para informar que, conforme permitido pelas rubricas, a Missa do Domingo, 6 de outubro, será a Missa de Nossa Senhora do Rosário com comemoração do 20º Domingo depois de Pentecostes. A Missa é às 11:15 na Capela da Irmãs de Santa Marcelina: QI 05, chácara 90 no Lago Sul – atrás do Gilberto Salomão.

Salve Maria!

[Sermão] A orientação do sacerdote e o silêncio na Missa

Sermão para o 14º Domingo depois de Pentecostes
25 de agosto de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer a um, e amar ao outro; ou há de afeiçoar-se a este, e desprezar aquele.”

Faz quase um mês consideramos brevemente a importância do Latim na Liturgia. Consideramos sua importância para a nossa vida espiritual, importância para o bem da Igreja. Hoje, consideraremos também brevemente os outros dois aspectos mais sensíveis quando se fala da Santa Missa no Rito Tradicional: a orientação do padre com relação a Deus e aos fiéis e o silêncio. Lembro que esses aspectos, embora sejam os mais visíveis, não são, porém, os mais importantes. São aspectos fundamentais e de grandíssima importância, mas não são os mais importantes. Os aspectos mais importantes da Missa Tradicional são suas orações riquíssimas doutrinariamente e espiritualmente, com todos os ritos que acompanham essas orações, que são também sacramentais que glorificam a Deus e imploram a sua misericórdia para conosco, pobres pecadores. Consideremos, então, a orientação do sacerdote, voltado para Deus, e o silêncio da Missa Tradicional.

É muito comum ouvirmos as pessoas se referirem à Missa Tradicional – muitas vezes com certo desprezo – como aquela Missa em que o Padre está de costas para o povo, como se fosse uma grande injúria ao povo, um crime de lesa-povo. Na verdade, o sacerdote não se encontra de costas para o povo, mas de frente para Deus, como é evidente. O sacerdote e fiéis estão olhando para o mesmo sentido, para Cristo, para Deus. Originalmente, sacerdote e fiéis se voltavam para o oriente, voltados para Cristo, chamado na liturgia de Oriens (Antífona “O”,por exemplo) de sol que nasce, de sol de justiça. Com o passar do tempo, muitas vezes já não se voltavam para o oriente geográfico, mas simplesmente para o mesmo sentido, para o mesmo lugar, para um oriente espiritual. É quase certo que, mesmo na última ceia, Cristo não estava de frente para os apóstolos. O modo de se dispor à mesa naquela época era bem distinto do nosso. Com o corpo reclinado, ficavam, em geral, todos do mesmo lado, segundo os estudos mais recentes. Tratava-se também de uma ceia ritual (páscoa judaica) e não de uma simples refeição. E mesmo se tivesse Cristo rezado a primeira Missa de frente para os apóstolos, nada mudaria em nossa argumentação, já que ao longo do tempo – e muito rapidamente, segundo atestações históricas, a Igreja estabeleceu a celebração voltada para Deus e não para o povo. Diz Bento XVI, no primeiro volume de suas obras completas (citado por Dom Athanasius Schneider em seu artigo sobre as cinco chagas da liturgia – Les cinq plaies de la liturgie) que “a ideia de que o sacerdote e a assembleia devem se olhar durante a oração nasceu com os modernos e – continua o papa – essa ideia é totalmente estranha à cristandade tradicional. O Padre e assembleia não se dirigem mutuamente uma oração, mas é ao Senhor que eles se dirigem. Por isso, na oração eles olham para a mesma direção: seja para o leste, como símbolo cósmico do retorno do Senhor, ou então, onde isso não é possível, olham para uma imagem de Cristo situada na abside, para uma cruz ou simplesmente olham juntos para o alto.”

Quando o sacerdote celebra a Missa virado para o povo, existe uma grande tendência de que o povo se torne o centro da Missa. Parece muitas vezes que a Missa é um diálogo do sacerdote com o povo, e a Missa permanece num plano quase exclusivamente horizontal – entre homens -, sem elevar-se a Deus, num plano vertical. A posição do padre virado para o povo é mais condizente com uma aula, com uma refeição, ou com uma situação de palco. Fazer da Missa uma pura catequese, fazer dela uma simples refeição ou um show são coisas que, consequentemente e infelizmente, vemos com frequência. Além disso, o Padre voltado para o povo e vendo a reação dos fiéis ao que está sendo feito e dito, tenderá fortemente a adaptar sua ação e seu discurso para agradar aos fiéis presentes, gerando inúmeros abusos.

Assim, a Missa em que o sacerdote dá as costas ao povo para voltar-se unicamente para Deus, coloca Deus no centro da liturgia e deixa claro que aquela ação é um ato de culto para Deus e não uma mera catequese ou reunião social. Deixa claro que não se trata de uma mera refeição e muito menos de um show para agradar aos fiéis presentes. Com o Padre voltado para Deus, ele conduz o povo a Deus e não vai no sentido oposto ao dos fiéis. Ele é o Pastor que conduz os fiéis ao Calvário e ao Céu, à Jerusalém Celeste. Sacerdote e fiel devem se dirigir ao mesmo lugar. O Padre voltado para Deus está na posição que convém ao mediador entre Deus e os homens: o sacerdote está diante de Deus, suplicando diante d’Ele em favor dos homens. O Padre está, dessa forma, voltado para o tabernáculo, onde está NSJC realmente e substancialmente presente e que convém muitíssimo que esteja no centro da Igreja e não em uma capela à parte. Ele está também voltado para a Cruz, colocada no centro do altar. É preciso ter bem presente na nossa inteligência que as nossas disposições espirituais mudam conforme nossa posição, conforme a arquitetura do lugar, etc., pois somos não só alma, mas também corpo. Assim, rezar ajoelhado, em pé ou sentado nos dispõe de maneira distinta para a oração, por exemplo. Consequentemente, por mais que se diga que espiritualmente estão todos voltados para Deus quando o Padre celebra a Missa voltado para o povo, os resultados são bem distintos, pois estão, de fato, voltados uns para os outros, olhando uns para os outros, dirigindo-se uns aos outros. Dessa forma, a posição do sacerdote, voltado para Deus é de importância enorme para uma boa liturgia, para colocar Deus no centro, para evitar fazer da Missa uma mera refeição ou um mero espetáculo. A posição do Padre na Missa Tradicional diminui a importância dos fiéis e diminui a importância do Padre. Todos diminuem para que Cristo possa crescer, como fazia São João Batista. Vale destacar que, teoricamente, o padre voltado para Deus não é exclusivo da Missa Tradicional. Seria possível fazê-lo também na liturgia oriunda da reforma litúrgica de 1969 do Papa Paulo VI. Na prática, todavia, é algo quase exclusivo da Missa Tradicional. A mudança na orientação dos padres foi talvez o que mais chocou os fiéis no processo de reforma da liturgia, pois a sensação foi de que o povo passava a ser o centro e não mais Deus.

O silêncio, ao contrário do latim e da orientação do padre, é próprio da Missa Tradicional. Falamos aqui do silêncio que advém do fato de muitas orações serem rezadas em voz baixa pelo sacerdote e que não é um silêncio artificial. Falamos do silêncio da própria Missa e não de um silêncio inserido na Missa. O silêncio na Missa Tradicional traz um grande benefício para a nossa vida espiritual. Antes de tudo, o silêncio permite que deixemos, mais uma vez, de ser o centro da Missa. Ora, aquele que fala é o centro das atenções. Se as pessoas falam constantemente durante a Missa elas terão grande tendência a achar que a Missa diz respeito, em primeiro lugar, a elas e não a Deus. As orações do Padre em voz baixa deixam claro também para o padre que não é a sua pessoa particular o centro da Missa. Não é ele que precisa aparecer. Essas orações em voz baixa e o consequente silêncio da Missa Tradicional deixam claro que o centro da Missa é Deus, é Cristo que renova o seu Sacrifício oferecendo-o à Santíssima Trindade. O Padre que fala em voz baixa é o centro da liturgia, mas não enquanto padre tal ou padre fulano, e, sim, enquanto instrumento de Cristo Sacerdote, de forma que o centro é claramente Cristo. Assim, colocando Deus como o centro, o silêncio nos ensina a caridade, que nos inclina a fazer tudo a partir de Deus, por amor a Deus.

O silêncio nos ensina também a mortificação. Pelo nosso orgulho, temos muitas vezes tendência a falar, a querer ser o centro das atenções. Pelo silêncio, negamo-nos a nós mesmos, às nossas inclinações, mortificamos os nossos sentidos e deixamos que Deus aja. Muitas pessoas que assistem à Missa Tradicional pela primeira vez se queixam do silêncio ou de não terem participado da Missa, etc. (Trataremos em outra ocasião da questão da autêntica participação na Missa). Na verdade, essas queixas se devem muitas vezes à simples repulsa por essa mortificação imposta pelo silêncio e pelo fato de não ser o centro da liturgia. O homem moderno tem grande dificuldade em deixar de ser o centro em livrar-se do antropocentrismo. Como sabemos, porém, a mortificação é indispensável para uma vida espiritual ordenada. O silêncio ajuda bastante nesse ponto: negação de si. O silêncio mostra que não precisamos ser o centro das atenções para que a Missa tenha sentido, mas que é justamente o oposto. A Missa tem sentido quando Deus é o centro.

O silêncio na Santa Missa coloca Deus no centro e nos mortifica. Ele também nos ensina a rezar. O fato é que, durante o silêncio, não há alternativa: ou a pessoa reza ou ela se distrai. Aceitar a distração seria um pecado, ainda que leve muitas vezes. A pessoa precisa, então, rezar, e rezar sozinha. O silêncio nos ensina o valor da oração individual, nos ensina a rezar e nos faz buscar o melhor meio para nos unirmos ao Sacrifício de Cristo, renovado diante de nós.

O silêncio, mortificando os sentidos, nos ajuda muito a considerar com a inteligência o que realmente importa durante a Santa Missa. O silêncio favorece o progresso na oração, nos conduzindo além da oração simplesmente oral. O silêncio nos permite considerar as verdades eternas e tomar a resolução, com o auxílio divino, de ajustar nossa vida a essas verdades. Em resumo, o silêncio favorece a meditação, meditação católica. Cada vez mais no mundo o silêncio é raro. Aonde vamos há alguma espécie de barulho de música, de televisão, de rádio, ou algo para ocupar nossa imaginação e inteligência com coisas sem importância. Todo mundo anda com seu fone de ouvido. Ora, sem silêncio não pensamos devidamente e, se não pensamos, não podemos aderir com firmeza a Deus. Esse barulho entrou também na Igreja, no centro da vida da Igreja que é a liturgia, infelizmente. O silêncio é necessário para a nossa vida espiritual e a Missa tradicional o favorece.

Ademais, o fato de a pessoa ter de rezar sozinha durante a Missa favorece a oração fora do contexto litúrgico e favorece, em particular, a oração individual, tão em desuso atualmente. Há uma tendência de muitos a considerar que a única oração que tem importância é a oração comunitária.  Assim, diante do silêncio, a pessoa tem de rezar, do contrário, ela se distrai. O silêncio favorece uma oração mais elevada, nos faz considerar o que realmente importa na Missa: o sacrifício de Cristo renovado para a glória de Deus, para o perdão dos nossos pecados.

Estamos falando aqui do silêncio litúrgico, que tira a pessoa do centro das atenções, que a mortifica, que a obriga – em certo sentido – a rezar. Muitas pessoas dizem que gostam muito do silêncio da Missa, apesar da presença de uma ou várias crianças na Capela ou próxima da Capela chorando, fazendo barulho. Esse silêncio litúrgico não é necessariamente um silêncio absoluto.  O silêncio litúrgico favorece, então, a oração e, consequentemente, a devoção, a prontidão no serviço de Deus.

Finalmente, o silêncio na Missa explicita o fato de que é o sacerdote que age na pessoa de Cristo e que é o sacerdote que renova o sacrifício do Calvário ao dizer as palavras da consagração. Não é o povo que consagra, não é o povo que celebra a Missa. É o sacerdote. Para deixar clara a diferença de papéis, o Padre reza as orações mais profundamente sacerdotais em silêncio: o ofertório, o cânon, as palavras da consagração. Um dia estava ensinando um padre a celebrar a Missa. Durante o treino ele falou as palavras da consagração em voz alta. Eu disse, então, que deveriam ser ditas em voz baixa. Ele disse que pensava que pelo menos as palavras da consagração eram ditas em voz alta. Na verdade, justamente as palavras da consagração são as que mais devem ser ditas em voz baixa, para deixar claro que quem realiza o mistério da Missa é o sacerdote agindo na pessoa de Cristo, independentemente dos fiéis, contra a concepção protestante da igualdade completa entre sacerdote e fiel. As orações em voz baixa, portanto, têm também um profundo sentido doutrinário.

Temos aqui, caros católicos, alguns aspectos que ilustram a importância da orientação do sacerdote e a importância do silêncio durante a Santa Missa. É uma importância grande para nossa vida espiritual e para a vida da Igreja. O silêncio, a orientação do Padre, voltado para Deus e o latim, de que já falamos em outra oportunidade, nos ajudam bastante a servir um só Senhor – a Santíssima Trindade – e a buscar em primeiro lugar o reino de Deus.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] Sobre o uso do latim na Liturgia

Sermão para o Décimo Domingo depois de Pentecostes
28 de julho de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

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Peço mais uma vez que rezemos pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pelo Brasil, e para que haja bons frutos da visita do Papa ao nosso País, sobretudo quanto ao jovens.

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Gostaria de aproveitar a Missa Solene celebrada aqui hoje para tratar de um dos aspectos mais visíveis quando se fala da liturgia no Rito Romano Tradicional, em particular quando se fala da Missa Tradicional. Trata-se do latim. O Latim jamais foi abolido da liturgia católica, mesmo com a reforma litúrgica feita em 1969. Infelizmente, todavia, caiu em desuso em praticamente todo o mundo. Bento XVI, quando Papa, constatando o estado das coisas trabalhou para restaurar um maior uso do latim entre os católicos, inclusive fundando a Pontifícia Academia de Latinidade. O latim não é, ao menos em teoria, algo exclusivo da Missa Tradicional, embora na prática seja raro, infelizmente, encontrar o latim fora da liturgia tradicional. Evidentemente, o latim não é o aspecto mais importante da Missa Tradicional, pois o mais importante são as orações e os gestos, mas o latim tem também a sua importância e grande importância, que consideraremos brevemente hoje. O Latim favorece nossa vida espiritual, pois ele favorece a caridade, favorece a reverência e o temor devido a Deus, aumenta a eficácia de nossas orações e nos inclina à mortificação. O Latim favorece também a vida da Igreja dando segurança doutrinária, fomentando a unidade e a catolicidade.

Vejamos alguns bens para nossa vida espiritual. Quando falamos de liturgia da Missa, devemos ter bem presente, antes de tudo, o fato de que a Missa não é, em primeiro lugar, uma catequese. A Missa é, antes de tudo, um ato de culto a Deus, é o Corpo e o Sangue de Cristo oferecidos à Santíssima Trindade, renovando o Sacrifício de Cristo no Calvário. A Missa é primeiramente para cultuar Deus, para adorá-lo, para aplacar a ira divina diante de nossos pecados, bem como para agradecer a Deus pelos seus benefícios e pedir-lhe as graças de que precisamos para a nossa salvação.

Se a Missa é, antes de tudo, um ato de culto a Deus, é evidente que Deus deve ser o centro da Santa Missa. E o latim nos ajuda muito bem a compreender e a realizar isso. O fato de não ser uma língua vulgar diferencia a liturgia dos atos cotidianos e nos mostra claramente que assistimos à Missa primeiramente para cultuar Deus, colocando-o claramente no centro. Dessa forma, o latim favorece a virtude da caridade, pois a virtude da caridade coloca Deus no centro e nos faz agir sempre tendo Deus como causa de nossas ações. O Latim colocando Deus claramente no centro, nos ajuda a agir sempre por amor a Deus em todas as coisas.

Muitas pessoas que frequentam a Missa Tradicional pela primeira vez reclamam que não entendem o latim, não entendem o que está sendo dito. De fato, não compreendemos tudo o que está sendo dito e nem é esse o objetivo da Missa, mas com o latim compreendemos o mais importante, quer dizer, compreendemos que aquilo que está sendo feito, está sendo feito para Deus. Ao contrário, quando se usa o vernáculo as pessoas podem até compreender literalmente o que está sendo dito – o que é raro – mas dificilmente penetram verdadeiramente no mistério. O latim nos faz compreender que se trata de um mistério, que se trata de algo que está sendo feito para Deus. E tudo isso favorece também a nossa reverência para com Deus, favorece o temor de Deus – temor que é o início da sabedoria. E diante desse mistério, podemos ficar a vida inteira contemplando-o sem tédio, sem precisar buscar novidades, invenções litúrgicas ou músicas superficiais. Quando pensamos que compreendemos o mistério – tendência facilitada pelo uso da língua vernácula – começamos a procurar outras coisas que possam nos prender a atenção durante a Missa, gerando os abusos litúrgicos.

Além disso, a língua latina é uma língua sagrada. São três as línguas consideradas sagradas: o hebreu, o grego, o latim. O hebreu e o grego são as línguas da Sagrada Escritura. O hebreu era também a língua sagrada no templo e na sinagoga. Os judeus utilizavam o hebreu em seus ofícios Sagrados, enquanto a língua vulgar era o aramaico. O latim é uma língua Sagrada porque Deus escolheu o latim, desde o tempo de São Pedro, como meio pelo qual o governo e a instrução são realizados na Igreja Católica. Pouco a pouco o latim tornou-se a principal língua do culto da Igreja Católica. Foi também nessas três línguas que Pilatos escreveu o motivo da condenação de Cristo, para que todos pudessem ler: “Jesus Nazareno, Rei dos Judeus” estava escrito em hebreu, em grego e em latim. Nada mais conveniente, então, do que usar o latim na Missa, que é a renovação da Cruz de Cristo, e nos outros sacramentos, que são a aplicação das graças obtidas na Cruz. Como língua sagrada, escolhida pela providência divina, é forçoso dizer que a língua latina agrada mais a Deus do que a língua vulgar e que, agradando mais a Deus, ela é mais eficaz (vide: Padre Chad Ripperger, sermão Learning prayers in latin). Nesse sentido, podemos considerar a língua latina até mesmo como um sacramental, quer dizer, como algo que nos traz graças quando usado com devoção. O latim é uma língua sagrada e é a língua de nossa Mãe, a Igreja. Convém que nós conheçamos, como diz São Francisco de Sales, ao menos as orações básicas em latim, tal como o Pai Nosso, a Ave Maria, a Salve Rainha, a fim de honrar nossa Mãe e agradá-la.

O latim, não sendo uma língua vulgar, favorece também a mortificação, ou a negação de si mesmo. O latim dificulta que ajamos segundo nossos gostos por meio de improvisações litúrgicas, mudando uma ou outra palavra para agradar às pessoas ou por outro motivo qualquer. Também o fato de não compreendermos perfeitamente o latim é uma espécie de mortificação e de submissão de nossa inteligência a Deus. Muitos têm aversão à liturgia em latim por que não a compreendem. Na verdade, muitas vezes o que existe é uma aversão à mortificação, à negação de si mesmo, a não ter domínio sobre a liturgia.

O latim é, então, uma grande arma para a nossa vida espiritual, favorecendo a caridade, favorecendo a reverência e o temor devido a Deus, aumentado a eficácia de nossas orações e nos inclinado à mortificação.

Se as únicas consequências do latim fossem essas, já seria algo muito considerável, pelo qual deveríamos buscar a volta do latim na liturgia romana. Todavia, os benefícios do latim vão muito além do simples benefício para a vida espiritual individual. Eles atingem a vida da própria Igreja no que toca à exatidão doutrinária, à unidade, à catolicidade.

O latim é garantia de precisão, exatidão, clareza doutrinária.  O Papa João XXIII, na Constituição Apostólica Veterum Sapientia, diz que a língua latina tem “um estilo conciso, rico, harmonioso, cheio de majestade e de dignidade, que singularmente contribui à clareza e à seriedade”. E continua o Papa João XXIII, citando Pio XI: «De fato, a Igreja, como mantém unidos no seu conjunto todos os povos e durará até a consumação dos séculos… exige, pela sua natureza, uma linguagem universal, imutável, não vulgar.» A língua latina na liturgia contribui, então, para garantir a doutrina pela precisão dos seus termos e pela sua imutabilidade. A tradução da liturgia para uma língua vernácula traz sempre consigo uma diminuição na precisão doutrinária e dá ocasião para que na tradução se introduza uma teologia ou uma visão particular das coisas. Por exemplo, na tradução portuguesa da Missa, traduziu-se Dominus Deus Sabaoth como “Senhor Deus do universo”, em vez de Senhor Deus dos exércitos, em virtude, talvez, de um pacifismo ingênuo. Além disso, as línguas vernáculas são línguas vivas, com palavras que mudam de sentido o tempo todo, ou que se tornam mais nobres ou mais populares conforme os usos e costumes. Daí surge a necessidade de uma revisão regular das traduções, tanto para corrigir erros quanto para encontrar palavras mais condizentes com a situação concreta da língua. Recentemente houve uma profunda revisão da tradução inglesa e está em curso a revisão para a língua portuguesa. Portanto, a língua vernácula não favorece a precisão e segurança doutrinária. O latim, sendo uma língua morta, portanto praticamente sem mudanças, corresponde perfeitamente à doutrina da Igreja, que é uma doutrina imutável.  A precisão da língua latina, a precisão dos termos forjados ao longo dos séculos de tradição, são garantias de acerto quanto à doutrina. Além do mais, o simbolismo é extraordinário: a religião do Deus feito homem que morreu e ressuscitou usa uma língua morta, mas que é ressuscitada para dar maior glória a Deus.

Também a unidade da Igreja é favorecida pelo uso do latim, pois assegurando a precisão e exatidão doutrinárias se assegura com maior facilidade a unidade da fé, que é o principal fator de unidade.

O latim na liturgia favorece também sobremaneira a universalidade da Igreja. São Francisco de Sales diz: “(…) como nossa Igreja é universal no tempo e no espaço, ela deve celebrar os ofícios públicos numa língua universal no tempo e no espaço, como no Ocidente é o Latim e no Oriente, o Grego; de outra forma, nossos padres não poderiam rezar Missa nem outros entendê-los fora dos respectivos países. A unidade e grande extensão de nossos irmãos requer que digamos nossas preces públicas em uma língua comum a todos os povos.” (The Catholic Controversy, 128). É uma língua que favorece a universalidade da Igreja porque, como diz o Papa João XXIII (Veterum Sapientia), ela “não suscita inveja e se apresenta imparcial para todos os povos, não favorece a nenhum em particular, e, enfim, é agradável e amigável a todos.”

Dessa forma, caros católicos, são inúmeros os benefícios do latim na liturgia, tanto para nossa vida espiritual individual quanto para a própria vida da Igreja. Tenhamos um grande amor pelo latim litúrgico, que nos aumenta a caridade, a reverência, o temor de Deus. Tenhamos um grande amor pelo latim litúrgico que favorece a mortificação, que diminui os abusos litúrgicos, que torna nossas orações mais eficazes. Tenhamos um grande apreço pelo latim litúrgico, que favorece a clareza e precisão na doutrina, que favorece a unidade da fé e a universalidade da Igreja. Amemos a língua latina, que é a nossa língua materna, a língua de nossa Mãe, que é a Igreja. Amemos nossa língua materna e trabalhemos para que ela volte a encontrar o lugar que é o seu dentro da liturgia católica. Não se trata de simples nostalgia ou de simples apego às coisas do passado. Trata-se de uma solução para os problemas de hoje.

[Aviso] Missa Solene no próximo domingo, 28 de julho (Capela Santa Marcelina)

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Lembramos que no próximo domingo a Santa Missa a ser celebrada na Capela Santa Marcelina (no horário de sempre, às 11h15), pelo Revmo. Pe. Daniel Pinheiro, será novamente uma Missa Solene; a chamada Missa Solemnis distingue-se da Missa Cantata (como é comumente feita aos domingos na capela) pela presença de ministros sagrados em assistência ao sacerdote celebrante: diácono e subdiácono.

[Fotos] Missa Solene – Missa do Oitavo Domingo depois de Pentecostes

[Aviso] Missa Solene no próximo domingo (Capela Santa Marcelina)

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Lembramos que no próximo domingo a Santa Missa a ser celebrada na Capela Santa Marcelina (no horário de sempre, às 11h15), pelo Revmo. Pe. Daniel Pinheiro, será uma Missa Solene; a chamada Missa Solemnis distingue-se da Missa Cantata (como é comumente feita aos domingos na capela) pela presença de ministros sagrados em assistência ao sacerdote celebrante: diácono e subdiácono.