Cidade do Vaticano (RV) – Mudança no Episcopado no Brasil: Após a renúncia de Dom Osvino José Both por razão de idade, o cargo de Arcebispo Ordinário Militar será ocupado por Dom Fernando José Monteiro Guimarães, que deixa a Diocese de Garanhuns, em Pernambuco. (…)
Felicitamos Dom Fernando Guimarães pela recente nomeação e expressamos nosso sincero desejo e esperança de que obtenha grande êxito em sua nova missão no serviço de Nosso Senhor Jesus Cristo e de sua Santa Igreja.
Neste blog, os leitores podem rever as fotos da cerimônia em que Dom Fernando Guimarães procedeu às ordenações sacerdotais do Instituto do Bom Pastor, em 2012, na cidade de Bordeaux, França; um dos ordenados foi o Pe. Daniel Pinheiro, junto com Yvain Cartier e Giorgio Lenzi:
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.”
Como Nosso Senhor havia prometido aos discípulos, Ele enviou, junto com o Pai, o Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora no Cenáculo em Jerusalém. Na continuação do texto dos Atos dos Apóstolos que acabamos de cantar, está dito que alguns zombavam dos apóstolos dizendo que eles estariam, na verdade, cheios de vinho. Claro que essa afirmação apenas poderia vir da má fé daqueles que ouviam os apóstolos, pois não pode estar cheio de vinho aquele que faz um discurso inteligível falando das maravilhas de Deus. Nesse verdadeiro dom de línguas que receberam os apóstolos no dia de Pentecostes, cada um entendia perfeitamente em sua própria língua o que eles falavam. Todavia, se consideramos o sentido espiritual, é preciso, realmente, dizer que os apóstolos estavam cheios de vinho. Eles estavam cheios do vinho da nova lei, que veio substituir a água da antiga lei. Eles, em Pentecostes, eram os recipientes em que Nosso Senhor transformou água em vinho, como em Pentecostes. Em suma, os apóstolos estavam repletos do Espírito Santo, repletos da graça divina, repletos do amor a Deus. E é essa a principal missão do Espírito Santo: a santificação das almas, a infusão da caridade nas nossas almas. Como dissemos há três domingos, o Espírito Santo vem para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Ele vem para ensinar toda a verdade, para nos consolar e nos fortalecer. Ele vem para glorificar Nosso Senhor. Ele vem para realizar também tudo o que está expresso nessa magnífica Sequência da Missa de hoje, que é o Veni Sancte Spiritus. Realizando tudo isso, o Espírito Santo vem, sobretudo, para nos dar o amor de Deus. Como diz São Paulo aos Romanos (V,5): “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”
O Espírito Santo, como sabemos, é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Se, de maneira simples, podemos dizer que o Filho é Deus que conhece a si mesmo desde toda a eternidade, podemos dizer que o Espírito Santo nada mais é do que o amor perfeito e eterno que existe entre o Pai e o Filho. Assim sendo, a obra de santificação, que é uma obra do amor de Deus para conosco, é atribuída ao Espírito Santo, embora seja realizada pelas três Pessoas da Santíssima Trindade. É, particularmente, ao Espírito Santo que pedimos que acenda em nossas almas o fogo do amor divino: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.” A principal missão do Espírito Santo é colocar em nossas almas a caridade. As próprias peças do gregoriano da Missa de hoje nos deixam isso claro: as melodias nos elevam de tal forma a alma que nos fazem reconhecer que nosso tesouro está nas coisas do alto e, consequentemente, nos fazem reconhecer que nosso amor deve estar nas coisas do alto, em Deus. E é esse fogo do amor divino que devemos manter aceso em nossas vidas, em nosso dia-a-dia, em meio dos afazeres quotidianos, em meio das tribulações.
Todavia, esse fogo do amor divino não é necessariamente algo sensível. A caridade, o amor a Deus está na vontade, que é uma faculdade espiritual e não sensível. O amor a Deus – Nosso Senhor deixa claro nesse importantíssimo Evangelho de hoje – consiste em guardar as suas palavras, isto é, o amor a Deus consiste em aceitar o que Deus nos fala e em colocar isso em prática. O amor a Deus é baseado na verdade e na fé. O amor a Deus não é o palpitar do coração, não é o sentir-se bem, ou o aceitar o bem e o mal indistintamente. O amor a Deus é mais estável e mais perfeito do que isso.
Para amarmos a Deus, devemos reconhecê-lo como o Sumo Bem, como aquele que é infinitamente perfeito, que governa todas as coisas com sabedoria, mesmo quando permite o mal para que do mal venha um maior bem. Devemos ver a bondade de Deus ao longo da história da humanidade, desde o tempo de Adão e Eva, passando pelos patriarcas e pelos judeus no Antigo Testamento, até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo para nos salvar por sua morte de cruz. Devemos ver a bondade de Deus ao institutir a Igreja, os sacramentos, o sacerdócio, ao elevar o matrimônio a sacramento. Devemos ver a bondade de Deus em nossas vidas, caros católicos, como Ele quer nos levar até Ele, nos converter. Devemos ver a bondade divina mesmo nas tribulações e provações, que Deus permite para que expiemos pelas nossas culpas, para que avancemos na virtude, para que nos tornemos semelhantes a Nosso Senhor Jesus Cristo crucificado. Devemos ver a bondade de Deus também em seus mandamentos. Os mandamentos são um grande bem, eles são o caminho que o Sumo Bem nos indica para chegarmos ao céu. Deus é o Sumo Bem, mas não é um Sumo Bem inalcançável e distante. Não, Deus veio até nós pela encarnação, Ele vem até nós pelo Espírito Santo. Deus nos ama verdadeiramente com um amor de amizade, que é o amor mais perfeito que existe, pois o verdadeiro amigo não poupa esforços para buscar o verdadeiro bem do amigo. Deus fez tudo para nos salvar, ao ponto de entregar seu próprio Filho e de enviar o Espírito Santo. Devemos amar a Deus porque é ele a nossa felicidade. A felicidade de cada ser está em agir em conformidade com a sua natureza. Nós somos seres racionais, dotados de inteligência e vontade. Nossa felicidade está em conhecer a verdade com a nossa inteligência e em amar o bem com a nossa vontade. Deus é A VERDADE e O BEM. Nossa felicidade é, então, conhecer Deus e amá-lo. E Deus, na sua bondade, nos eleva a uma felicidade muito superior à felicidade que, naturalmente, poderíamos desejar: Ele faz com que o conheçamos como Ele mesmo se conhece e Ele faz com que o amemos como filhos e como amigos. Ele quer, para nós, uma felicidade sobrenatural. Como não amar a Santíssima Trindade, caros católicos?
Muitas vezes, em nosso quotidiano, nos esquecemos de elevar os olhos ao céu e de considerar a bondade infinita de Deus e de renovar o nosso amor por Deus com um ato de caridade, com ato em que reafirmamos nosso firme propósito de amá-lo sobre todas as coisas, fazendo a vontade dEle e não a nossa. O Espírito Santo vem para acender em nossas almas esse amor, essa disposição inteira, sem reservas, de servir a Deus, de guardar as suas palavras, de fazer a vontade dEle. E é a caridade, entendida corretamente dessa forma, que vai renovar a face da terra. Ao renovar as almas pela caridade, e enterrando o velho homem pecador, é toda a face da terra que começa a ser renovada. No dia de Pentecostes, eram poucos os discípulos de Cristo. Mas era grande a caridade, que levou os apóstolos a propagarem a doutrina de Cristo até os confins da terra. Já no primeiro dia, três mil são batizados. Essa caridade dos primeiros discípulos vai tornar o mundo cristão, caros católicos, pelos martírios, pelo combate incessante contra as forças do demônio e do mundo, pela pregação fiel do ensinamento de Cristo, pela heroicidade de todas as virtudes.
O Espírito Santo não veio nos trazer, em primeiro lugar, dons extraordinários, como o dom de línguas, o dom de cura e outros. Tudo isso é bem secundário. Tudo isso não santifica a pessoa que os possui, mas se ordena para o bem do próximo. Como dizem os autores espirituais clássicos. O Padre Royo Marín diz que “seria temerário desejar ou pedir a Deus essas graças gratis datae, uma vez que não são necessárias nem para a salvação nem para a santificação, e requerem – muitas delas ao menos – uma intervenção milagrosa de Deus. Vale mais um pequeno ato de amor a Deus que ressuscitar um morto.” (Royo Marín, Teologia de la Perfección Cristiana, p. 888). O Padre Jordan Aumann diz também que “uma pessoa pode ficar sob o poder do demônio em razão de um desejo descontrolado de experimentar fenômenos místicos extraordinários ou graças carismáticas.” (Jordan Aumann, Spiritual Theology, p. 411). Em outra ocasião trataremos mais propriamente da questão dos dons carismáticos e de como são muito mal compreendidos hoje pelos movimentos que pretendem possuí-los. Consideremos simplesmente o que foi dito: mais vale um pequeno ato de caridade do que ressuscitar um morto.
Nós devemos invocar com maior frequência, caros católicos, e de joelhos, como fizemos no Aleluia da Missa de hoje, o Espírito Santo. Muitas vezes, o Espírito Santo é o grande esquecido na nossa vida espiritual. Invocando o Espírito Santo, pedindo para que Ele acenda em nossas almas o amor divino e cooperando com as graças que Ele nos dá, poderemos avançar na caridade e, avançando na caridade, poderemos avançar em todas as outras virtudes, poderemos fazer com perfeição todas as tarefas mais ordinárias de nossas vidas, poderemos viver bem o nosso estado de vida, seja no matrimônio, seja no trabalho, em qualquer situação. Vale mais uma ação quotidiana feita com imensa caridade, quer dizer por amor profundo a Deus, do que uma grande ação feita com uma caridade morna. Sem a caridade, nada tem valor. Agora, não uma caridade vaga, mas uma caridade que supõe a fé e que supõe a obediência aos mandamentos divinos. Não esqueçamos que estamos aqui nessa terra para amar o Sumo Bem, guardando as suas palavras.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…
“Irmãos, sede realizadores da palavra e não vos contenteis apenas de a ouvir, iludindo-vos a vós mesmos.”
Essa frase da Epístola de São Thiago nos traz um ponto essencial de nossa religião católica. Não basta ouvir a Palavra de Deus, que nos foi dada por Cristo. É preciso realizar o que Cristo nos ensinou. A mesma doutrina está contida na coleta, em que pedimos a Deus não só o bem de pensar no que é reto, mas pedimos igualmente o bem de poder realizar o que é reto. Em outras palavras, caros católicos, não basta ter a fé, que nos vem pelos ouvidos, não basta acreditar. Continuar lendo →
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…
“Quando vier, porém, o Espírito de verdade, ele vos ensinará toda a verdade.”
Caros católicos, a liturgia da Santa Igreja começa já a nos preparar para a Ascensão de Nosso Senhor. E, juntamente com a Ascensão de Nosso Senhor, ela nos prepara também para a Festa de Pentecostes. Quando Cristo diz que deve voltar ao Pai, que o enviou, a alma dos discípulos fica repleta de tristeza. Ele promete, então, enviar o Espírito Santo, o Consolador, e diz o que o Espírito Santo fará. E não está dito que o Espírito Santo virá primeiramente para dar os dons carismáticos. Não, a essência da vinda do Espírito Santo, não é o dom de línguas, nem o dom de cura ou outro dom extraordinário. O Espírito Santo tem sua vinda partilhada em três aspectos: quanto ao mundo, quanto a nós e quanto a Nosso Senhor Jesus Cristo.
Quanto ao mundo, o Espírito Santo vem convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo. O Espírito Santo vem reprovar ao mundo todos os seus pecados, sobretudo o da incredulidade, da falta de fé naquilo que NS ensinou. O Espírito Santo condena a incredulidade pela sua ação na história, em particular pela história da Igreja. Vendo como a Igreja se desenvolveu, desde os apóstolos até hoje, guardando intactos os ensinamentos de Cristo, apesar de todas as perseguições violentas e de todas as heresias, podemos constatar a verdade dos ensinamentos de NSJC. Tantos motivos para crer em Nosso Senhor e na sua Igreja, mas os homens preferem crer irracionalmente em mestres criados por eles mesmos, ou preferem acreditar na própria vontade. O Espírito Santo reprova ao mundo também os outros pecados, toda classe de pecados, servindo-se, para tanto, da pregação dos apóstolos e dos sucessores deles, servindo-se da fortaleza heroica dos mártires, da ciência dos doutores da Igreja, do exemplo dos santos. Muitas vezes, o Espírito Santo reprova ao mundo o pecado, servindo-se de castigos, como, por exemplo, a destruição de Jerusalém pelo imperador Tito no ano 70, ou pela tomada de Constantinopla pelos maometanos em 1453, ou ainda pela infiltração de algum erro entre os católicos.
Quanto ao mundo também, o Espírito Santo vem convencê-lo da justiça. Nosso Senhor foi basicamente acusado de duas coisas: de ser um pecador, e de ter blasfemado ao declarar-se Deus, afirmando ser verdadeiramente Filho de Deus. O Espírito Santo vem para estabelecer a santidade de Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua divindade. E isso já desde Pentecostes, em que São Pedro, pela sua pregação, restabelece a justiça e a verdade quanto a Nosso Senhor Jesus Cristo. E são esses os dois pilares da pregação da Igreja: a santidade de Cristo e a sua divindade. O Espírito Santo mostra, pelos santos, como aquele que se assemelha e imita Nosso Senhor se torna verdadeiramente bom. O Espírito Santo mostra ao longo da história, como uma sociedade que se baseia em Nosso Senhor Jesus Cristo e nos preceitos de sua Igreja floresce em todos os aspectos, mas sobretudo na virtude, onde se encontra o bem do homem. Ele mostra como uma sociedade que não se baseia em Cristo tende ao caos. Portanto, o Espírito Santo reprova ao mundo sua injustiça e mostra a esse mesmo mundo a santidade e a divindade de Nosso Senhor. Nosso Senhor está hoje no lugar que lhe é devido em justiça: a direita do Pai.
Ainda quanto ao mundo, o Espírito Santo o convencerá do juízo, isto é, da condenação do príncipe do mundo, o demônio. Pela morte na cruz e pela ressurreição de NS, o demônio foi derrotado. Qualquer alma, unindo-se a Cristo pela fé e caridade, pode derrotar o demônio e o pecado. O Espírito Santo vem para nos mostrar que a vitória está com Cristo e com seus seguidores, para mostrar que Cristo venceu o mundo. Ele vem para mostrar que o demônio e o pecado já estão condenados.
Quanto aos homens, o Espírito Santo vem para ensinar toda a verdade, para consolar e para fortalecer. Ele vem para ensinar toda a verdade. Toda a verdade foi revelada pelo Espírito Santo aos Apóstolos. A Revelação termina com o último apóstolo, que foi São João Evangelista. A Igreja não foi instituída para inventar ou ensinar novidades, mas para defender, guardar, explicitar e propagar as verdades Reveladas por Cristo e pelo Espírito Santo aos apóstolos. O Espírito Santo, com sua assistência, assegura a fidelidade da Igreja à verdade revelada, garantindo assim que o ensinamento de Cristo chegue até o final dos tempos. Foi o Espírito Santo que deu a coragem e o zelo missionário aos apóstolos em Pentecostes, para que eles propagassem a boa-nova do Evangelho até os confins da terra. O Espírito Santo nos ensina a verdade iluminando as nossas inteligências, para que possamos conhecer e aderir às verdades reveladas por Cristo e por Ele.
Também quanto aos homens, o Espírito Santo vem para consolá-los. Ele vem sustentar os justos nas provações da vida cristã, para ajudá-los nas desgraças. Ele vem para nos fazer ver Jesus e a alegria no meio das cruzes. Ele vem para nos encorajar no bom caminho, neste vale de lágrimas em que vivemos. O Espírito Santo vem para nos unir em tudo a Nosso Senhor Jesus Cristo. E Ele vem consolar não só os pecadores, mas também os justos, ferindo-os com o remorso, estimulando-os ao arrependimento, fazendo-os ver que o perdão dos pecados e a conversão da vida é perfeitamente possível.
Ainda quanto aos homens, o Espírito Santo vem fortalecê-los, para que possam resistir a todas as adversidades desse mundo que já podemos chamar, com toda exatidão, de completamente pagão. Os ataques do demônio e dos outros espíritos malignos que vagueiam pelo mundo para perder as almas são inúmeros. Nesse combate, contra esse ambiente anticatólico em que as pessoas vivem totalmente esquecidas de Deus e entregues por completo às coisas da terra, é necessária essa fortaleza dada pelo Espírito Santo. Precisamos dessa fortaleza para resistir às falsas máximas do mundo : “Deus é bom e compreensivo, não vai nos condenar por nos divertirmos um pouco; comer bem, vestir-se segundo a moda, divertir-se muito, é isso que se deve procurar; o principal é a saúde e uma vida longa” e assim por diante. Precisamos do Espírito Santo para resistir às zombarias e perseguições do mundo contra a vida de piedade, contra os vestidos honestos e decentes, contra a delicadeza de consciência na profissão e em todas as ações. Precisamos dessa fortaleza dada pelo Espírito Santo para resistir às zombarias contra as leis santas do matrimônio, leis que o mundo julga antiquadas ou impossíveis de serem praticadas, leis que o mundo subverte completamente. É preciso dessa fortaleza para resistir aos escândalos e maus exemplos praticamente onipresentes, bastando sair às ruas para vê-los, ou abrir um jornal, ou mesmo escutar uma conversa por acaso… Precisamos dessa fortaleza para resistir às diversões cada vez mais abundantes e refinadas e imorais: teatros, músicas, filmes, danças, praias, piscinas, jornais, revistas, modas indecentes, conversas torpes, piadas provocadoras, frases de duplo sentido. O mundo parece nos indicar que para se divertir é preciso pecar. Tal força dada pelo Espírito Santo nos vem primeiramente e principalmente do sacramento da crisma.
Finalmente, com relação a Nosso Senhor Jesus Cristo, o Espírito Santo vem para glorificá-lo. Jesus, com sua vinda à terra, glorificou Deus Pai, com sua obediência, com sua doutrina com seus milagres. Deus Filho glorificou o Pai, dando testemunho do Pai. Deus Espírito Santo vem para que Deus Filho seja glorificado, isto é, para que Nosso Senhor seja conhecido, amado e servido. O Espírito Santo assistindo a Igreja, propagou por toda a terra a verdade sobre Deus e sobre seu amor por nós.
Que grande graça é para nós a vinda do Espírito Santo, afastando-nos do pecado, da injustiça, do juízo de condenação e levando-nos a Jesus Cristo ao nos ensinar a verdade, ao nos consolar e nos fortalecer.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Prezados leitores, salve Maria! A pedido do Pe. Daniel publicamos abaixo (e disponibilizamos para download) as meditações da Sexta-Feira Santa (2014) para a Via Sacra .
Nosso Senhor está no Pretório de Pilatos. Eis o Homem. Ecce homo. Eis aqui o homem por excelência, o Homem em quem Deus colocou todas as suas complacências. Mas ele é o homem por excelência porque ele é também Deus. E essa a causa de seus sofrimentos: Ele afirmou a verdade de sua divindade, mas os seus não o receberam. Vós sois, meu Jesus, o verbo de Deus feito carne, vindo para satisfazer perfeitamente a Deus por nossos pecados, ofensas infinitas feitas a Deus. Vós viestes para satisfazer, é evidente, mas sobretudo para nos mostrar Vosso amor, capaz de suportar os maiores sofrimentos, físicos e morais, e de suportá-los para o nosso bem, para nossa salvação. Deus amou tanto o mundo que nos deu seu próprio Filho, nos diz São João. Percorramos, então, o caminho da Cruz de Jesus Cristo, mas não o percorramos como os fariseus ou os chefes dos sacerdotes, com verdadeira malícia. Não sigamos o exemplo de Pôncio Pilatos, que por fraqueza e frouxidão entregou Cristo a seus carrascos. E se nós não podemos seguir o exemplo da Imaculada Virgem Maria, que se uniu perfeitamente aos sofrimentos de seu Filho, tornando-se corredentora, sigamos o exemplo do bom ladrão e das santas mulheres, que reconhecendo seus pecados e a bondade e misericórdia divinas, converteram-se inteiramente a NS. Dai-nos, Senhor, a verdadeira detestação de nossos pecados e uma grande dor por tê-los cometido. Dai-nos, Senhor, o firme propósito de evitar de agora em diante todo pecado. Dai-nos a graça de vos amar de toda a nossa alma, com todas as nossas forças.
Ah, meu Jesus, vós transmitistes vossa doutrina celestial não só pelas palavras, mas também pelo exemplo. Vós dissestes: “se alguém quer vir após mim, que ele renuncie a si mesmo, que ele carregue a sua cruz e que me siga.” E sois vós o primeiro a carregar a Cruz, a Cruz mais pesada que pode existir.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…
“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.”
Caros Católicos, no Evangelho de hoje, Nosso Senhor se dá o título de Pastor e de Bom Pastor. Nosso Senhor é o pastor que conhece perfeitamente suas ovelhas, que guia seu rebanho, que vai à frente de suas ovelhas, que guarda e defende suas ovelhas, que as alimenta e que dá a vida por elas. Onde já se ouviu falar do pastor que dá a vida pelas suas pobres ovelhas? Somente Nosso Senhor Jesus Cristo é tão bom Pastor ao ponto de dar a vida pelas suas ovelhas, pecadoras. Que grande a bondade e a misericórdia divinas ao nos dar um Pastor como Nosso Senhor. E Nosso Senhor foi venerado como o Bom Pastor desde o início, desde o tempo dos primeiros cristãos. Já São Pedro, no final da Epístola de hoje, menciona Cristo como Pastor. Nas catacumbas em Roma, onde os cristãos muitas vezes se reuniam para o culto e para venerar os mártires lá sepultadosdos, encontramos pinturas de Jesus, o Bom Pastor.
Nosso Senhor, o nosso pastor eterno, subiu aos céus, que é o seu lugar próprio após a ressurreição, com seu corpo glorioso. Antes de subir aos céus, porém, na Quinta-Feira Santa, durante a Última Ceia – a primeira Missa -, Nosso Senhor nos deixou pastores, seus representantes na terra, para guiarem os homens ao pasto eterno do céu. Ele instituiu o sacerdócio. Nosso Senhor fundou a sua Igreja, a Igreja Católica Apostólica Romana, como uma sociedade hierárquica, com o Papa como chefe supremo, com os bispos, responsáveis por uma parte do rebanho, sempre em dependência do papa, e com os padres, que cooperam com os bispos. Nosso Senhor, na sua bondade infinita, instituiu o sacerdócio, Ele instituiu o sacramento da ordem, Ele instituiu pastores para as suas ovelhas.
São Bernardo nos diz que todas as graças nos vem pelas mãos de Maria. E não só ele, mas vários santos e a própria Igreja. Podemos dizer também, repetindo as palavras do Santo Cura d’Ars, que tudo nos vem também pelas mãos do sacerdote. Todas as graças, todos os dons celestiais. É muito conhecida a passagem da Sagrada Escritura em que o profeta diz que todos os males vêm dos maus sacerdotes. Mas o contrário também é verdade: todos os bens vêm pelas mãos dos sacerdotes. É pelas mãos do padre que o sacrifício de Cristo na Cruz é renovado sobre os altares durante a Missa. E é pela Missa que os méritos de Cristo nos são aplicados. É pelas mãos do padre que Nosso Senhor desce do céu em corpo, sangue, alma e divindade sob as aparências do pão e do vinho. Nem Nossa Senhora nem os anjos podem fazer tal coisa. Quem deu a vida da graça para a nossa alma pelo batismo, tirando-a do pecado original? Ordinariamente, o Padre. Quem purifica a nossa alma dos seus pecados atuais? O Padre, pela confissão. Quem alimenta nossa alma, dando-lhe o Corpo de Cristo? O padre. Quem prepara a nossa alma para a morte pela extrema-unção, fortalecendo-nos para o último combate no momento da morte? O Padre. Quem nos presta o auxílio das bênçãos e dos sacramentais, para podermos viver bem em bons cristãos? O Padre. Quem tem o dever de nos instruir naquilo que Nosso Senhor veio nos transmitir e nos revelar? O Padre. Em última instância, caros católicos, como nos diz o Santo Cura d’Ars, todas as graças vêm ao mundo pelo sacerdote.
O padre se torna tal ao receber o sacramento da ordem. O sacramento da ordem, como o próprio nome sugere, ordena o padre inteiramente para o próximo e para Deus. O sacerdote não é sacerdote para si mesmo, mas para os outros e para Deus. O sacerdote não pode confessar a si mesmo, ele não pode administrar a si mesmo os sacramentos, com exceção da eucaristia. O sacerdócio é inteiramente para Deus e para o bem das almas. Que grande graça Nosso Senhor nos deu com o sacerdócio. O sacerdócio católico é participação no sacerdócio de Cristo. E o que Nosso Salvador veio fazer no mundo? Dar testemunho do pai e nos salvar. O mesmo deve fazer o sacerdote: fazer que Deus seja mais conhecido, amado e servido, e deve trabalhar para a salvação as almas.
Se é tão grande e importante o sacerdócio, é imperioso que haja padres e bom padres. Ainda para citar São João Maria Vianney, se uma região é deixada 20 anos sem padre, as pessoas irão adorar os animais. O mesmo se pode dizer no caso em que o pastor, em vez de ser um bom pastor, é um mercenário, preocupado com seu próprio bem e conforto, preocupado em propagar suas próprias ideias ou em agradar ao mundo, em vez de se preocupar coma a glória de Deus e com a salvação das almas. O mesmo santo nos diz que quando se quer destruir a religião, se começa por atacar o sacerdote, pois sem o sacerdote não há mais sacrifício e, se não tem mais sacrifício, não tem mais religião. Ataca-se o sacerdócio porque é dele que vem todo o bem, pelo sacrifício, pelos sacramentos, pela recitação do ofício divino e por tantos outros meios. O demônio, porém, sabe que não pode destruir o sacerdócio católico, pois Nosso Senhor nos assegurou que as portas do inferno não haveriam de prevalecer. Sabendo que não pode destruir o sacerdócio católico enquanto tal, o inimigo tenta desvirtuar o exercício desse sacerdócio, de forma que o sacerdote já não seja mais o homem do sacrifício da Missa e do culto a Deus, de forma que o sacerdote se preocupe mais com os aspectos sociais do que com o bem das almas, de forma que o sacerdote se torne um filantropo mais do que um pastor, de forma que o sacerdote busque os seus interesses e não os de Deus e o da salvação das almas. Infelizmente, esse desvirtuamento do sacerdócio católico está bem presente atualmente. Se nossa sociedade vive na grande confusão atual, é, em grandíssima parte, devido à crise que há no sacerdócio. Ainda não chegamos talvez a adorar os animais, todavia, já temos o aborto e a união homossexual e tantas outras coisas que destroem o próprio fundamento da sociedade. O sacerdote tem que ser o homem da Missa, o homem do Sacrifício, o homem da eucaristia. Ele tem que ser o homem da fidelidade aos ensinamentos de Cristo. Ele tem que ser o pastor que aponta e denuncia o lobo. Ele tem que ser o homem que aponta para o céu, que nos faz lembrar que fomos criados para o céu, para a vida eterna para Deus. Ele tem que ser o homem que reflete a caridade do Coração de Jesus, conduzindo com bondade e firmeza as pessoas para a glória eterna.
É dever de todos nós, caros católicos, contido no 4º mandamento, rezar pelos pastores da Igreja. Rezemos a Deus pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes. Peçamos a Deus pelas vocações sacerdotais e para que Ele nos dê sacerdotes santos. Não há outra solução para a crise a não ser famílias santas, para que dessas famílias possam sair sacerdotes santos, para que possam converter as almas. Façamos, então, a nossa parte, sendo bons cristãos, pois Deus dá ao povo os pastores que o povo merece. Nosso Senhor é o Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas. Se rezarmos, pedindo-Lhe que nos dê pastores segundo o seu Coração e nos esforçamos para viver em bons cristãos, Ele há de ouvir as nossas preces.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…
“Veio Jesus, estando as portas fechadas, e pôs-se no meio e disse: a paz seja convosco.”
Caros católicos, três vezes no Evangelho de hoje Nosso Senhor deseja a paz aos discípulos. É bem sabido que os judeus se saudavam desejando a paz uns aos outro. Todavia, o desejo de paz de Jesus não se reduz aqui a uma mera saudação de formalidade. As palavras de Jesus são um desejo de verdadeira paz, verdadeira paz que só é possível porque Ele ressuscitou dos mortos ao terceiro dia após a sua morte. Nosso Senhor é o Príncipe da paz.
Entre as profecias do Antigo Testamento sobre o Salvador, um dos nomes dados pelo profeta Isaías a Nosso Senhor é justamente o de Príncipe da Paz. E o profeta continua dizendo: “seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino.” (Isaías IX,7). Zacarias, pai de São João Batista, diz no canto do Benedictus que Nosso Senhor “há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e que Ele há de dirigir os nossos passos no caminho da paz.” (Luacs I, 79) Assim que Nosso Senhor nasce, os anjos entoam as palavras: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. (Lucas II, 14). E São Paulo diz que Cristo veio para anunciar a paz aos que estavam longe, e a paz também àqueles que estavam perto, ou seja, aos pagãos e aos judeus. O mesmo apóstolo diz que Cristo é a nossa paz. (Efésios II, 14 e 17). Ainda São Paulo nos diz que Cristo restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus ao preço do próprio sangue na cruz. (Colossenses I, 20). E durante a sua vida pública Nosso Senhor também nos fala da paz muitas vezes. Ele envia os apóstolos dizendo que ao entrar em uma casa devem desejar a ela paz (Mateus X, 12). À mulher curada do fluxo de sangue, Nosso Senhor diz: “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.” (Marcos V, 34). Ao contemplar Jerusalém e a sua incredulidade, Cristo lamenta: “Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!” (Lucas XIX, 42). Aos díscipulos, na última ceia, o Salvador diz: “falo-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim.” (João XVI, 33) E temos ainda os três desejos de paz que o Santo Evangelho de hoje menciona. Não há dúvida, caros católicos: Nosso Senhor é o Príncipe da Paz.
Todavia, Jesus Cristo diz também: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada.” (Mateus X, 34) Ou ainda, conforme São Lucas: Julgais que vim trazer paz à terra? Não, mas a separação.” Haveria, então, contradição nas palavras de Nosso Senhor? Ele veio trazer a paz ou a espada e a separação? É claro que não pode haver contradição nas palavras de Nosso Senhor, sendo Ele a própria Verdade, sendo Ele Deus. O próprio Cristo nos explica, quando na última ceia diz aos discípulos: “deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vô-la dou como o mundo a dá.” (João XIV, 27) Portanto, caros católicos, Nosso Senhor veio trazer a paz ao mundo, mas essa paz não é a paz como o mundo a entende. Qual é, então, a paz de Cristo?
A paz que nos trouxe Cristo é, antes de tudo, a paz com Deus. Com sua paixão e morte de cruz, pela nossa redenção, operada com seu sangue, Nosso Senhor nos traz a reconciliação com Deus, com a Santíssima Trindade. Com o seu sacrifício na Cruz, Cristo restabelece entre Deus e os homens a paz. Deus é aplacado pela caridade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo. A justiça divina é satisfeita pelos sofrimentos de Cristo suportados com tamanha caridade. O Homem-Deus estabelece a paz. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela fé, acreditando e aderindo incondicionalmente aos seus ensinamentos. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela caridade, praticando os seus mandamentos. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela fidelidade à Igreja e à sua doutrina perene. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela frequência aos sacramentos da confissão e da eucaristia. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam se arrepender de seus pecados e que desejam se voltar para Deus. Tudo isso nos ordena a Deus. E a estabilidade, a tranquilidade nessa ordenação a Deus é justamente a paz. A verdadeira paz está fundada em Cristo. Nosso Senhor não veio trazer a paz no mundo, nem a paz do mundo. Ele veio trazer a paz entre Deus e os homens. Ele insiste, sobretudo, depois da sua ressurreição, mostrando que a plenitude dessa paz será alcançada com a vida eterna.
Além da paz entre Deus e os homens, a paz de Cristo é também uma paz do homem consigo mesmo. Aquele que adere aos ensinamentos de Cristo e pratica seus mandamentos, estabelece a devida ordem em sua vida. Essa ordem estável é a paz. Aquele que vive em estado de graça ordena e submete a inteligência e a vontade a Deus. Aquele que vive em estado de graça ordena os sentimentos, as emoções, as paixões, à inteligência e à vontade. Aquele que vive em estado de graça ordena os bens materiais para o bem da sua alma. Cristo, pelos seus méritos, nos dá a graça de ter uma vida ordenada, ordenada a Deus: bens materiais ordenados à alma, sentimentos ordenados à inteligência e à vontade, inteligência e vontade ordenadas a Deus.
Além da paz entre Deus e os homens, além da paz do homem consigo mesmo, Nosso Senhor traz também a paz entre os homens. Essa paz, no entanto, só será verdadeira quando for fundada na fé e na caridade, isto é, na adesão aos ensinamentos de Cristo e na prática da sua lei. Nunca se falou tanto em paz e nunca se viu tanta desordem. Isso ocorre porque se busca uma paz sem o Príncipe da Paz, que é Cristo. A verdadeira paz entre os homens existe quando eles cooperam mutuamente para ordenar a sociedade, para ordenar uns aos outros a Cristo. Muitos acham que a paz de Cristo é simplesmente unir as pessoas, um viver junto, evitando problemas, aceitando tudo o que o outro faz, mesmo os pecados. Muitos acham que a paz de Cristo é achar que todas as religiões são boas. Muitos acham que a paz de Cristo é evitar todo conflito. Muitos acham que a paz de Cristo é a união a qualquer custo. Essa é a paz do mundo, uma falsa paz. Não é a paz de Cristo. A paz de Cristo, baseada na fé e nos mandamentos, termina gerando, como Ele mesmo disse, a separação, porque nem todos desejam a verdadeira paz, mas se contentam com uma paz aparente e superficial. A paz de Cristo, nesse mundo que se opõe a Ele, é também uma espada de combate. A paz não é a mera ausência de conflitos, não é o políticamente correto, não é o simples bom mocismo. A paz não é a indiferença diante dos acontecimentos de nossa vida. Muita gente associa a paz hoje a um estado em que a alma já não deseja nada ou em que a alma não se preocupa com nada, procurando evitar assim todo sofrimento. Essa paz é própria de religiões esotéricas ou orientais. É uma paz pagã, ilusória, uma paz contrária à natureza humana e que causa enormes sofrimentos. É uma paz que destrói a nossa alma, alma que é feita justamente para amar o bem e sofrer pelo bem aqui nesse mundo. A paz do catolicismo é amar a Deus, o Bem, a Verdade e sofrer por Deus, pelo Bem, pela Verdade. A paz de Cristo é uma paz heróica. A paz é a tranquilidade, a estabilidade na ordem, na ordem a Deus. Portanto, a verdadeira paz entre os homens, na medida em que ela pode existir entre os homens, só pode ser uma paz fundada na fé e na caridade. A paz entre os povos e nações só será verdadeiramente uma paz quando povos e nações se subemterem a Cristo, Príncipe da Paz.
Para alcançar, então, a paz nesses três níveis, com Deus, consigo mesmo, com o próximo, é necessário combater. Conforme o antigo ditado latino: si vis pacem, para bellum, se queres a paz, prepara a guerra. Para alcançar a paz da graça será preciso separar-se do demônio, do pecado, do mundo. Para alcançar a paz será preciso separar-se das nossas paixões desordenadas. Para alcançar a paz será preciso, com frequência, desagradar às pessoas, pois é preciso agradar a Deus antes que aos homens. Cristo ressussistado passou antes pela cruz. Nesse mundo, a paz vai acompanhada da Cruz, do combate, da separação. A paz de Cristo é a vida da graça, a vida de união com a Santíssima Trindade.
Na Santa Missa, o padre saúda inúmeras vezes os fiéis com a saudação DominusVobiscum, o Senhor esteja convosco. O Bispo, nas Missas festivas, ao se dirigir aos fiéis pela primeira vez diz Pax vobis, a paz esteja convosco. As duas saudações, Dominus Vobiscum e Pax Vobis, têm o mesmo significado: que os fiéis estejam na graça de Deus, que ordenem as suas vidas a Deus. E os fiéis desejam a mesma coisa para o sacerdote: et cum spiritu tuo, e com o teu espírito, isto é, que a tua alma também esteja na graça do Senhor. Contemplemos Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado e aceitemos a paz que ele nos dá. Paz que começa nesse mundo acompanhada da cruz e que será plena no céu.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
A coisa mais bonita deste lado do céu – a Liturgia Tradicional – para aquela que é inteiramente bela, sem a mácula do pecado original, Nossa Senhora: Tota pulchra es, Maria, et macula originalis non est in te.
“Tudo o que fizerdes, em palavras ou por obras, fazei tudo em nome do Senhor Jesus Cristo, dando por Ele graças a Deus Pai.”
Na parábola de hoje, NS diz que, enquanto os homens dormiam, veio o inimigo e semeou cizânia no meio do trigo e foi-se. Entre a cizânia semeada, podemos destacar o pecado da impureza, que tão grande mal faz às almas e à sociedade e que abunda na sociedade, em todos os meios. Diz o Santo Cura d’Ars que nenhum pecado destrói tão rapidamente a alma quanto esse pecado vergonhoso que nos tira da mão de Deus e nos joga na lama. São Tomás de Aquino diz algo semelhante: pela luxúria ou impureza somos afastados ao máximo de Deus. Os santos não estão dizendo aqui que o pecado da impureza é, em si mesmo, o pecado mais grave. O pecado de ódio a Deus ou um pecado contra a fé são em si mais graves, por exemplo. Todavia, os santos dizem que a impureza afasta mais de Deus que outros pecados em virtude da dificuldade em emendar-se quando se contrai o mau hábito de cair nesses pecados vergonhosos. Levado pela ferida do pecado original, o ser humano se deixa escravizar facilmente por esse pecado. E daí vêm consequências gravíssimas. Sobre as consequências drásticas desse pecado para uma alma e para a sociedade, sobre as filhas da luxúria ou impureza, falamos em um importante sermão nos dias do carnaval. Não custa enumerar essas consequências novamente. O vício da impureza gera: cegueira de espírito, precipitação, inconsideração, inconstância, amor desordenado de si mesmo, ódio a Deus, apego à vida presente, desespero com relação à salvação. A luxúria, por tudo isso, leva também a pessoa a perder a fé, a desprezar as verdades reveladas e a se obstinar no pecado, esquecida do juízo e do inferno. Para fazer uma alma perder a fé, é muitas vezes mais eficaz fazê-la se afundar na luxúria do que combater a fé diretamente. As músicas sensuais pelas letras e ritmos, filmes, roupas indecentes, etc., contribuem muitíssimo para a perda da fé sem atacá-la diretamente. Os que combatem a Igreja sabem muito bem disso. Podemos citar ainda, entre as filhas da luxúria, o aborto, que é assassinato, e a eutanásia, que é suicídio ou assassinato. A luxúria leva ao aborto porque as pessoas querem satisfazer suas paixões desordenadas sem responsabilidade. Leva à eutanásia porque se a pessoa já não pode aproveitar a vida, melhor que morra. Quantos males gravíssimos e quantas calamidades espirituais são causados pela busca de um prazer desordenado instantâneo, passageiro. Se de nada vale ao homem ganhar o mundo inteiro, se ele vier a perder a sua alma, o quanto vale ao homem cometer tão vergonhoso e torpe pecado, que lhe faz perder o céu e merecer o inferno? Diz Santo Afonso que, entre os adultos, poucos se salvam por causa desse pecado. Ele dizia isso no século XVIII. Podemos imaginar a situação em nossos dias… Por tão pouca e vergonhosa coisa.
Tendo, então, uma breve ideia das consequências desse pecado, procuremos os meios para adquirir ou avançar na virtude oposta a esse vício, quer dizer, na virtude da castidade. A virtude da castidade é a virtude derivada da virtude de temperança que nos faz ordenar o apetite venéreo conforme a razão iluminada pela fé, que reconhece que isso se reserva aos cônjuges no bom uso do matrimônio, isto é, sem que a procriação seja impedida, podendo, nesse caso, ser verdadeiramente um ato meritório diante Deus. Nossa razão reconhece que esse ato é ordenado à procriação e subsequente educação dos filhos, que se deve fazer dentro de um matrimônio indissolúvel.
Para que possa haver castidade, é preciso que haja primeiro, nos diz São Tomás, a vergonha e a honestidade. A vergonha é o sentimento louvável de temer a desonra e a confusão que são consequência de um pecado torpe. A honestidade é o amor à beleza que provém da prática da virtude. Devemos ter essa vergonha e essa honestidade. Outra raiz da pureza é a modéstia no nosso exterior, no falar, nos modos, no vestir, etc. Sem a modéstia, a pureza será impossível para nós e seremos também causa da queda dos outros.
Colocadas essas bases, para alcançar a castidade, é preciso também rezar muitíssimo, pedindo essa graça. Rezar, sobretudo, para Nossa Senhora, Mãe Castíssima, que sabe ensinar a seus filhos a castidade. A devoção das três Ave-Marias quando se acorda e antes de dormir, pedindo a graça da pureza é muito eficaz para se adquirir a pureza ou para perseverar nela. Também a devoção a São José é muito eficaz no combate pela pureza, pela castidade, sobretudo para os homens. São José ensina aos homens a verdadeira virilidade, que consiste em ter o domínio sobre suas paixões. O homem que se deixa levar pelas paixões, pela impureza é considerado em nossa sociedade decadente como viril. Ora, esse homem é, ao contrário, efeminado, pois efeminado, tecnicamente, é aquele que se deixa levar pelas paixões, pelas más inclinações, que não tem força para combatê-las e vencê-las, em virtude da tristeza e das dificuldades que existem na prática da virtude. Portanto, a devoção a São José vai nos ensinar a verdadeira virilidade, que consiste na castidade. Como diz o Salmo (30, 25): Agi com virilidade e fortalecei o vosso coração, vós que esperais no Senhor. Viriliter agite et confortetur cor vestrum qui speratis in Domino. Invocar o nome de Jesus, Maria e José é de uma eficácia particular para se obter a pureza.
Para sermos castos, é preciso também mortificar os sentidos, sobretudo os olhos. Jó fez um pacto com seus olhos para não olhar para as moças e, assim, se manteve casto. Evitar a vã curiosidade, não parar os olhos em algo que possa suscitar maus pensamentos ou imaginações. E, justamente, é preciso mortificar nossa imaginação, controlando-a, ordenando-a.
É preciso evitar também as ocasiões de pecado, isto é, os ambientes, as pessoas, as coisas, as circunstâncias que podem levar a pecados contra a pureza. Muito cuidado é necessário no namoro ou no noivado. Namorados e noivos devem estar sempre em locais públicos que lhes impeçam de cometer pecados contra a pureza. Devem evitar andar de carro sozinhos, por exemplo. Namoro e noivado devem durar entre um e dois anos, tempo suficiente para conhecer a alma do outro, e que impede o surgimento de familiaridades indevidas. Bastaria um beijo apaixonado para haver um pecado grave entre namorados e noivos (conforme decreto do Santo Ofício de 1666, sob o Papa Alexandre VII). Os pecados contra a pureza aqui prejudicam também o correto juízo que se deve fazer da alma do outro, de suas qualidades e defeitos, a fim de saber se é possível ou não viver uma vida inteira com a pessoa… Levada pelos sentimentos e paixões, o julgamento será falseado.
Outra ocasião de pecado muito séria hoje é o computador, a internet. Deve-se usar a internet com um objetivo preciso, definido, fazendo uma oração antes ou depois. Quem navega à toa na internet dificilmente se preserva de pecado nessa matéria. Redes sociais também são grande fonte de perigo. Se uma pessoa já caiu várias vezes por meio de internet, reze antes de usá-la, coloque uma imagem de Nosso Senhor ou Nossa Senhora perto, para lembrar a presença de Deus, utilize o computador em local público, a que outras pessoas têm acesso. Se nada disso adianta, a solução é simples: renunciar à internet, ao menos temporariamente: mais vale entrar no céu sem internet do que com a internet ser condenado eternamente. O mesmo vale para TV, filmes e coisas do gênero. É preciso lembrar-se sempre de que o mais oculto dos pecados são conhecidos por Deus e serão conhecidos por todos no dia do juízo. É preciso fugir das ocasiões de pecado. Como diz São Felipe Neri, na guerra contra esse vício, os vitoriosos são os covardes, quer dizer, aqueles que fogem das ocasiões de pecado.
Além da oração, da mortificação dos sentidos e da fuga das ocasiões, é preciso evitar a ociosidade. A ociosidade é mãe de inúmeros pecados, a começar pela impureza. O Rei Davi pecou cometendo adultério e homicídio porque em um momento de ociosidade olhou para a mulher do próximo.
É preciso também mortificar-se, fazendo penitências, jejuns, abstinência de carne. Devemos começar observando a penitência da sexta-feira imposta pela Igreja, procurando fazê-la do modo tradicional, quer dizer, nos abstendo de carne. As mortificações facilitam o domínio da razão e da vontade sobre as paixões. É preciso mortificar-se em coisas lícitas para aprender a vencer a si mesmo na hora da tentação. É preciso, de modo particular, ter muita sobriedade no beber álcool.
No combate pela castidade, é preciso se aproximar dos sacramentos com assiduidade. É preciso se confessar com frequência não só depois da queda, mas também para evitá-la. Aqueles que têm o vício da luxúria ou impureza devem procurar a confissão uma vez por semana, ou pelo menos uma vez a cada duas semanas. É preciso comungar com frequência, estando em estado de graça, para evitar quedas futuras. Com o método preventivo e não só curativo, se impede que o pecado lance raízes mais profundas.
É preciso também pensar no inferno, na condenação eterna que se merece por tão pouca coisa, por algo tão passageiro e instantâneo. Perde-se o céu, se merece o inferno, se crucifica NS novamente por pecado tão torpe. Usar dessa faculdade fora do matrimônio, nos assemelha aos animais brutos, irracionais. Como diz São Tomás, o impuro não vive segundo a razão. Portanto, é preciso pensar no inferno e na nossa morte, da qual não sabemos o dia nem a hora. Não devemos adiar nossa conversão. Pode ser que Deus não nos dê a graça da conversão depois. É preciso aproveitá-la agora.
Na hora da tentação propriamente dita, é preciso rezar, em particular invocando o nome de Jesus, Maria e José e pensar em outra coisa, distrair o pensamento com algo bom, lícito, ainda que sem importância, como enumerar as capitais dos estados, por exemplo. O importante é que ocupemos a imaginação e o pensamento com outra coisa. É preciso cortar a tentação imediatamente. Se cair, procurar levantar-se imediatamente, buscando a confissão com verdadeiro arrependimento e propósito de emenda. Existe uma tendência em desmoronar depois da primeira queda, cometendo outros pecados. Isso agrava muitíssimo as coisas, multiplicando os pecados, as penas, solidificando o mau hábito, dificultando tremendamente a conversão.
Quem tem o vício da impureza não deve desesperar, mas deve se apoiar em Deus, em Nossa Senhora, nos anjos e santos e aplicar os meios que mencionamos com muita determinação. Não basta um eu quisera, um eu gostaria. Não, tem que ser um eu quero firme, disposto a empregar os meios necessários para atingir o fim buscado, que é a pureza. Ao ser humano pode parecer impossível livrar-se de tal pecado uma vez que se contraiu o vício e, de fato, não é fácil. Mas com Deus é perfeitamente possível. Quem realmente quer se livrar desse vício e se apoia em Deus, consegue ter uma vida pura. Aqueles que não têm o vício devem continuar vigiando e orando, desconfiando de si, pois se acharem que estão imunes a tais pecados, cairão.
Combater pela pureza é necessário. Devemos fazê-lo com determinação e rezando muito. Diz Santo Agostinho que nessa espécie de pecado a batalha é onipresente, mas que a vitória é rara. Mas bem determinados, vigiando, rezando, empregando os meios que citamos, é plenamente possível. E que grande liberdade nos dá a castidade, que grande alegria viver segundo a razão e a fé.
Dirijo-me agora aos pais e aos que ajudam na educação das crianças. Os pais devem vigiar e favorecer a pureza dos filhos desde a mais tenra idade, para que adquiram a vergonha e a honestidade, para que sejam modestos no falar, nos modos, nas vestes… Cabe aos pais evitar que os filhos adquiram maus hábitos nesse campo, ainda que os filhos não entendam a malícia do que estão fazendo, pois depois não conseguirão se livrar do vício. Cuidado pais, cuidado com as crianças. Vejamos o que diz Pio XII: “Por desgraça, diz o Papa, às vezes acontece que pais cristãos com tantos cuidados na educação de um filho ou de uma filha, que são mantidos sempre longe dos perigosos prazeres e das más companhias, de repente vêem os filhos, com a idade de 18 ou 20 anos, vítimas de miseráveis e escandalosas quedas: o bom grão que semearam foi arruinado pela cizânia. Quem foi o inimigo do homem que fez tanto mal? O que ocorreu, continua o Papa, foi que no próprio lar, nesse pequeno paraíso, se introduziu furtivamente o tentador, o inimigo astuto, e encontrou ali o fruto corruptor para oferecer a mãos inocentes. Um livro deixado por acaso na mesa do pai foi o que destruiu no filho a fé de seu batismo, um romance abandonado no sofá ou no quarto pela mãe foi o que ofuscou na filha a pureza de sua primeira comunhão.” Até aqui o Papa. A cizânia pode entrar ao se folhearem revistas de notícias ou jornais largados na casa. A cizânia pode entrar pela televisão por um trecho do jornal televiso a que a criança assistiu por acaso. Vigiem, pais, vigiem pela alma dos filhos. Por favor, mantenham-nos longe da internet e de tablets e ipads, em que podem acessar verdadeiramente qualquer coisa. Eles já vêem tanta coisa ruim fora de casa. Que ao menos dentro dela eles possam encontrar a pureza e a virtude, a começar pelo exemplo dos pais.
De que vale ganhar o mundo inteiro se viermos a perder a nossa alma? De que vale uma satisfação instantânea, fugaz, e que nos faz perder o céu, merecer o inferno e que crucifica novamente NS? Confiando em Deus, desconfiando de nós mesmos, com uma determinação muito determinada, sejamos castos e puros conforme o nosso estado de vida.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo Amém.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.”
Nesse dia da comemoração dos fiéis defuntos, a Igreja quer que nos voltemos para a as almas do purgatório, para que possamos, por meio de nossas súplicas, aliviar essas almas que sofrem enormemente pelo adiamento da visão beatífica. As almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram completamente sobre a terra a pena devida por seus pecados já perdoados, encontram-se em grande sofrimento no purgatório. No pecado, há a culpa e a pena. A culpa é perdoada na confissão, se se trata de um pecado mortal, ou também fora da confissão, se se trata de um pecado venial. Mas, além da culpa, há a pena pelo pecado. Mesmo depois de perdoado o pecado, é preciso expiar por ele, satisfazer pelo pecado, para que a ordem lesada pelo pecado seja restabelecida. No purgatório, encontram-se, então, as almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram inteiramente as suas penas. O sofrimento no purgatório advém primeiramente do adiamento da visão beatífica, como dissemos. As almas do purgatório sabem que ainda não vêem Deus face a face somente por culpa delas, pela negligência em se desapegar dos pecados veniais quando estavam aqui na terra, pela negligência em reparar pelos pecados de que já tinham sido perdoadas. Sofrem também com uma pena sensível, com um fogo semelhante ao do inferno. A diferença com o inferno é justamente que essas penas são passageiras e a alma que está no purgatório sabe disso. Ao mesmo tempo, então, que é grande o seu sofrimento, grande é o seu consolo, pela certeza de poder chegar ao céu. O purgatório é fruto da justiça divina que exige satisfação pelos nossos pecados. Mas o purgatório é também fruto da misericórdia divina, pois sem essa purificação não poderíamos ver Deus face a face, já que Ele não pode admitir diante de si uma alma que tenha relíquias do pecado. Portanto, só podemos ser admitidos diante de Deus depois de expiar todas as penas devidas pelas nossas faltas. Sem o purgatório só iriam ao céu os que morreram sem nenhum pecado venial e que expiaram, aqui na terra, por todas as suas culpas, o que é raro. Assim, o purgatório é fruto também da misericórdia divina.
É um dever do cristão ajudar essas almas na medida do possível. Esse dever pode ser um dever de justiça, se alguém se encontra no purgatório por nossa culpa, por exemplo, devido aos nossos escândalos ou à nossa cooperação em um pecado. Ele é um dever de piedade filial quando se trata de parentes. Pode ser um dever de gratidão quando se trata de alguém que nos fez bem. Ou pode ser um dever de caridade, que nos faz desejar e agir para o bem do nosso próximo. Portanto, devemos rezar constantemente pelas almas dos fiéis defuntos, em particular pelos nossos parentes já falecidos e por aqueles que, eventualmente, lá estão por nossa culpa. E, claro, o melhor meio de fazê-lo é encomendando Missas e aplicando-lhes as indulgências que podem ser aplicadas a eles. Uma indulgência plenária aplicada a uma alma do purgatório a leva diretamente ao céu, pois a indulgência plenária serve justamente como satisfação de todas as penas. Ao se fazer a obra prescrita na indulgência, nas condições prescritas, os méritos de Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos são aplicados à alma, satisfazendo pela sua pena. Nas indulgências, a Igreja aplica os tesouros que lhe pertencem para satisfazer a pena pelos pecados já perdoados. A indulgência não perdoa um pecado, ela não perdoa a culpa do pecado. Isso só com o arrependimento e, se for pecado mortal, é preciso também a confissão. A indulgência paga a pena. Portanto, para lucrar uma indulgência, é preciso já ter os pecados perdoados. Não se trata de comprar o céu, mas de chegar mais rapidamente a ele, pela prática de uma boa obra, como visitar uma Igreja, um cemitério, fazer certas orações, etc. Muito importante, então, ajudar as almas do purgatório, pelas Missas, pelas indulgências, mas também pelas orações no dia-a-dia, etc…
A Igreja, na Missa de Requiem , na Missa de Defuntos, nos dá algumas lições para esse dia de finados. Nas cerimônias das Missas de Defuntos, ela está mais preocupada com as almas dos fiéis defuntos do que com os vivos. Assim, o salmo 42, recitado ao pé do altar é omitido. Esse salmo diz que nossa alma não deve estar triste. Todavia, como na Missa de Defuntos temos razão de possuir uma certa tristeza, a Igreja omite esse salmo. Em seguida, quando o Padre recita o Introito na Missa de Réquiem, ele faz o sinal da cruz sobre o Missal e não sobre si mesmo, como que abençoando os fiéis defuntos, para o alívio deles. A Igreja omite também o Gloria Patri no Intróito e no lavabo. Também o Gloria in Excelsis Deo é omitido, bem como o aleluia. Antes do Evangelho o Padre não recita a oração que pede para si mesmo a bênção, pois a leitura do Evangelho, que é um sacramental que nos perdoa as faltas veniais, se estamos arrependidos, e pode nos perdoar também as penas, deve beneficiar aqui somente aos fiéis defuntos. Pela mesma razão, ao fim do Evangelho, o Padre não beija o livro e não pede que nossas faltas sejam perdoadas. Não o faz porque tudo isso deve ser aplicado em benefício das almas do purgatório. Na hora do ofertório, o Padre não faz o sinal da cruz para abençoar a água, pois a água aqui significa os fiéis vivos, sobre quem a Igreja ainda tem jurisdição. E como a Missa está sendo oferecida pelo repouso das almas dos fiéis defuntos, ela omite essa bênção da água. No Agnus Dei, não pedimos a misericórdia e a paz para nós, para pedirmos o descanso para as almas do purgatório. A primeira oração depois do Agnus Dei, que é também um pedido de paz, é omitida nas Missas de Réquiem, pois pedimos a paz para eles e não para nós. No final, não se diz o Ite Missa est, mas Requiescant in Pace, outro um pedido para que os fiéis defuntos descansem em paz. Não há a bênção final, pois, assim como no Introito, a bênção, na Missa de Réquiem, deve ser para eles e não para nós. E hoje, depois da Missa, faremos a benção sobre a essa, essa espécie de caixão vazio e que representa todos os fiéis defuntos. E durante a Missa, quantas vezes a Igreja clama: réquiem aeternam dona eis domine. Dai-lhes senhor, o descanso eterno.
Imitemos a Santa Igreja e, no dia de hoje e na próxima semana, reforcemos as nossas orações pelos fiéis defuntos, sobretudo nossos familiares.
Se podemos fazer bem aos fiéis defuntos, eles também podem nos fazer algum bem. Em particular, eles nos ajudam lembrando-nos o fim de todos nós nessa vida, que é a morte. Do túmulo eles nos dizem: hodie mihi, cras vobis. Hoje, a morte é para mim. Amanhã, será para vocês. Eles nos lembram que a morte há de chegar, e por mais que ela tarde, ela chega rapidamente, em 70, 80, 90 anos. Eles nos alertam também ao dizer: hic iacet pulvis, cinis, nihil, aqui jaz pó, cinza, nada. É tudo o que temos nesse mundo: pó, cinza, nada.
Tumba de Antônio Barberini na Igreja dos Capuchinhos em Roma
A única coisa que não passa é a morte em estado de graça ou em pecado mortal. Todo o resto será devorado pelo tempo. Portanto, ao rezar pelos mortos, lembremo-nos de que nós também vamos morrer e que não sabemos o dia de nossa morte. Precisamos sempre estar preparados. Não deixar nossa conversão para mais tarde em nossas vidas, não deixar para o ano que vem ou para o mês que vem ou para amanhã. Não, precisamos estar preparados agora. São dois os momentos mais importantes da nossa vida, em que pedimos para que Nossa Senhora reze por nós: agora e na hora de nossa morte. É preciso que a gente considere sempre que o agora pode ser a hora de nossa morte.
Nesse dia, devemos fazer o bem às almas dos fiéis defuntos e convertermo-nos a Deus.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.