Calendário Litúrgico 2015

Salve Maria!

Calendário Litúrgico 2015, de acordo com o Rito Romano Tradicional (com o próprio das festas celebradas no Brasil), disponível para aquisição por meio deste blog, no valor de R$ 30,00 + valor do frete. Interessados devem contatar-nos pelo e-mail calendariumliturgicum@outlook.com (inclusive para informações sobre forma de pagamento e outras dúvidas).

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Para destacar a importância de se acompanhar o calendário litúrgico da Igreja Católica ao longo do ano, repetimos aqui trechos de um sermão do Padre Daniel, recentemente publicado neste blog.

“O ano litúrgico com seus tempos próprios, com suas graças próprias, não devem ser para nós algo distante e sem muito sentido. Ao contrário, o ano litúrgico, com seus tempos e suas festas, devem ditar o ritmo da nossa vida. Uma sociedade cristã se deixa influenciar profundamente pelo calendário da Santa Igreja.”

“A liturgia católica, que se desenrola ao longo de todo o ano litúrgico, é o nosso maior tesouro, caros católicos. É por meio dela que se formam as famílias católicas sólidas. É por meio dela que se forjam as almas sacerdotais e religiosas. É por meio dela que se forja uma sociedade cristã.  Que importância tem a Sagrada Liturgia! Não se voltarão em grande quantidade as almas a Deus se não houver uma restauração litúrgica. A liturgia precisa voltar a se centrar em Deus. A liturgia precisa voltar a expressar claramente as verdades católicas. É exatamente isso o que faz a liturgia tradicional, também chamada de tridentina. Essa velha liturgia, sempre nova, centrada em Deus. Essa velha liturgia que alegra a alma da juventude católica (juventude espiritual, do novo homem constituído pela graça divina). Essa velha liturgia, sempre jovem porque reflete a eternidade da Santíssima Trindade. Deixemo-nos, caros católicos, impregnar pela liturgia católica.”

[Sermão] A exaltação da Santa Cruz e o sentido do sacrifício e do sofrimento para os cristãos

Sermão para Festa da Exaltação da Santa Cruz
14 de setembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

“Cristo fez-se obediente por nós até à morte e morte de cruz.”

Exaltation-de-la-sainte-croix-par-heracliusA Festa de hoje nos lembra do fato histórico ocorrido em 628, ano em que o Imperador Heráclio conseguiu tomar de volta a Cruz de Cristo, que havia sido levada de Jerusalém pelos Persas, que a profanaram enormemente. Tendo recuperado a Santa Cruz, Heráclio quis entrar em Jerusalém carregando ele mesmo o Santo Lenho em ação de graças pela vitória. Todavia, vestido com todas as insígnias imperiais, não pôde entrar em Jerusalém, detido por uma força invisível. O Patriarca de Jerusalém assinalou ao Imperador que não convinha carregar com tanto aparato a Cruz que Nosso Senhor carregou com tanta humildade. Despojado de todo o aparato imperial, Heráclio conseguiu entrar em Jerusalém carregando a Cruz.

Exalta-se, hoje, a Santa Cruz, da qual pendeu a salvação do mundo. Ó bem-aventurado lenho e benditos cravos que tão suave peso sustentastes, só vós fostes dignos de sustentar o Rei e Senhor dos céus. Foi pela Cruz que Nosso Senhor lançou fora o príncipe desse mundo. A cruz está tão profundamente associada que as relíquias da verdadeira cruz devemos prestar um culto relativo de latria, pois essas relíquias da verdadeira cruz representam o próprio Cristo e pelo contato que tiveram com Ele. É um culto de latria, quer dizer, um culto que se deve unicamente a Deus. É um culto relativo, isto é, não adoramos a cruz por si mesma, mas pela sua ordem a Nosso Senhor Jesus Cristo, pela sua relação com Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nosso Senhor, para nos salvar, morreu na cruz. Ele ofereceu à Santíssima Trindade um verdadeiro sacrifício. O sacrifício é justamente o oferecimento de uma coisa sensível a Deus, com mudança ou destruição da mesma, realizada pelo sacerdote em honra de Deus, para testemunhar seu supremo domínio e nossa completa sujeição a Ele. Na paixão e morte de Cristo estão, em grau excelente, todas as condições que se requerem para um verdadeiro sacrifício. Nós temos a coisa externa que é o corpo, a vida de Nosso Senhor. Esse corpo vai ser imolado voluntariamente por Ele na cruz, por sua infinita caridade. Cristo é o Sumo Sacerdote que se oferece a si mesmo. Ele é sacerdote e vítima. E finalidade de Cristo não pode ser outra: dar honra a Deus, reparando pelo pecado e nos obtendo graças para nos convertermos a Ele. Nosso Senhor, na cruz, ofereceu-se em verdadeiro sacrifício. E o sacrifício de Cristo na cruz é o único, depois da sua vinda na terra, que pode oferecer a Deus.

Nosso Senhor se ofereceu voluntariamente por caridade, para honrar a Deus, para satisfazer por nossos pecados, para nos alcançar as graças que precisamos para nos salvar. Que grande o amor de Cristo, que vai até a morte e morte de cruz. Nosso Senhor, inocente e sumamente santo, sofreu, e sofreu mais do que todos nós juntos, para fazer a vontade perfeita de Deus e para nos salvar. Nós, se queremos nos salvar, se queremos seguir Nosso Salvador, deveremos tomar a nossa própria cruz e oferecer nossos sacrifícios, em sentido largo, em união com o sacrifício de Cristo. Nós precisamos saber sofrer, caros católicos, se quisermos chegar ao céu.

Nossa sociedade, neopagã, hedonista, tornou-se incapaz, como acontecia na antiguidade pagã, de compreender o sentido de sacrifício e de sofrimento. Nossos contemporâneos e nós mesmos temos horror ao sofrimento. Muitas vezes pensamos: tudo, menos o sofrimento. E, com razão, se perdeu em nossa sociedade o sentido do sofrimento, porque nós só podemos compreender o sentido pleno do sofrimento ao considerar os sofrimentos de Cristo. É somente com o exemplo de Cristo, com sua doutrina e com as graças que Ele nos dá que poderemos sofrer bem. Precisamos recuperar a noção de sacrifício em nossas vidas, em união com o sacrifício de Cristo.

Precisamos compreender que devemos deixar de lado nossa vontade própria, nossas más inclinações, nossos caprichos, para fazer a vontade de Deus. Devemos compreender que é preciso renunciar a muitas coisas para cumprir bem os deveres de estado. Precisaremos suportar a zombaria do mundo ou suas perseguições, ou a sua indiferença. Precisaremos suportar a eventual perda de amizades quando começamos a praticar mais seriamente a vontade de Deus. Precisaremos suportar eventualmente a perda da estima do mundo, quando nos convertemos a Cristo. A vida conjugal é uma vida de sacrifícios, a vida sacerdotal é uma vida de sacrifícios. Em todo estado de vida nós deveremos oferecer nossos pequenos sacrifícios do dia-a-dia, suportando com paciência as contrariedades e as provações. Nada impede que procuremos corrigir e melhorar as coisas, mas será preciso fazê-lo sempre com caridade.

O horror ao sofrimento é um dos maiores impedimentos contra a santificação. Nós precisamos deixar esse horror de lado. É preciso compreender que o sofrimento é necessário para reparar pelo pecado. O pecado que nos leva a uma satisfação ilícita deve ser reparado com uma pena. Ele é necessário para a santificação da alma. Se a santidade é se assemelhar a Cristo, devemos lembrar que Cristo é Cristo crucificado para depois ressuscitar. Santificação é igual a cristificação. Cristificação é igual a sacrificação, se assim podemos dizer. Não há outro caminho para chegar ao céu, a não ser pela cruz.

Nós sofremos todos, em maior ou menor grau, conforme à disposição divina, que dispõe tudo com sabedoria e caridade. O importante é sofrer bem, sem murmurar, sem revolta, mas com paciência e mansidão, procurando melhorar as coisas, mas sempre se submetendo à vontade de Deus. Se sofremos murmurando ou com impaciências, acrescentaremos um segundo mal ao primeiro e esse segundo mal será pior porque será um mal maior. Devemos sofrer bem. Sofrer passa, mas sofrer bem não passa nunca. O sofrimento cristãmente suportado expia nossos pecados, submete a carne ao espírito, nos desprende das coisas da terra, nos purifica e embeleza a nossa alma porque tira dela as desordens. Pelo sofrimento bem suportado e oferecido a Deus poderemos alcançar tudo dele. O sofrimento faz de nós também apóstolos. Quantas graças podemos alcançar para os outros por meio de nossos sofrimentos. Os sofrimentos nos assemelham a Nosso Senhor e a Nossa Senhora.

Precisamos, caros católicos, retomar o verdadeiro sentido do sofrimento, e saber que podemos tirar dele um grande bem. Essa noção de sacrifício, de oferecer nossos pequenos sacrifícios no dia-a-dia em união com Cristo precisa ser retomada por nós católicos. Precisamos exaltar a cruz de Cristo e nos unir a Ele.

O Papa bento XVI escolheu a Festa da exaltação da Santa Cruz para a entrada em vigor do Motu Proprio Summorum Pontificum, que confirmou para todos os fiéis o direito de assistir à Missa no Rito Romano Tradicional, como a celebramos aqui. O objetivo do Papa é que essa Missa seja conhecida por todos, como tesouro espiritual e monumento da fé católica que é. Ele associou a Missa Tradicional à Cruz. Ele fez isso porque nesse Rito Tradiional, na Missa Tridentina, a cruz de Cristo se renova de maneira clara. O caráter sacrificial da Missa está perfeitamente expresso na liturgia tradicional, sem receio, sem atenuações, sem respeito humano. Se queremos resgatar a noção de sacrifício entre os católicos e na sociedade, noção própria da doutrina de Cristo, é necessária uma liturgia que exprima claramente o sacrifício de Cristo.

Saibamos sofrer, caros católicos, inspirando-nos no sacrifício de Cristo no Calvário, sacrifício renovado no altar. Saibamos sofrer unidos ao sacrifício de Cristo.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] Arquitetura sacra católica tradicional

Sermão para o VI Domingo depois de Pentecostes
20 de julho de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

 

ÁUDIO: Sermão para o 6º Domingo depois de Pentecostes 20.07.2014

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Se morrermos com Cristo, cremos que viveremos também juntamente com Cristo.”

A Epístola de São Paulo de hoje nos mostra, caros católicos, mais uma vez como Cristo é o centro de tudo. É somente com ele que podemos e devemos morrer para o pecado. É somente com Ele que podemos viver para a vida eterna. No centro de tudo, está Cristo. Nós saímos de Deus, a partir do nada, pela criação. E voltamos para Deus por Jesus Cristo (se cooperamos com a sua graça) que nos alcançou o perdão de nossos pecados pela sua vida na terra, em particular por sua morte de Cruz. Nossa vida nada mais é do que uma saída de Deus pela criação e um afastamento dEle pelo pecado original e por nossos pecados atuais,  e uma volta a Deus por Cristo, pela cruz de Cristo. Só podemos chegar ao céu, por Cristo. E tudo na Igreja sempre demonstrou claramente e sem ambiguidades essa centralidade e essa necessidade de Cristo crucificado na sua doutrina perene e na sua liturgia tradicional. Todavia, a expressão límpida dessa centralidade não se restringia a isso. Essa centralidade transbordava para todos os aspectos da vida cristã. Um desses aspectos é o da arquitetura sacra. A arquitetura sacra tradicional da Igreja Católica demonstra a centralidade e a necessidade de Cristo, bem como mostra a centralidade e a necessidade da própria Igreja para a salvação. Aproveitando que ainda estamos sob a graça da bênção da Capela, gostaria de considerar alguns poucos aspectos relevantes da arquitetura sacra católica tradicional, para nossa edificação, para podermos melhor rezar e aderir ao que a Igreja ensina de maneira tão sublime e suave, mas também com precisão e firmeza.

Antes de tudo, é preciso que conheçamos alguns termos de arquitetura sacra. Continuar lendo

[Sermão] O rito de benção de uma igreja

Sermão para a Benção da Capela Nossa Senhora das Dores
13 de julho de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

 

ÁUDIO: Sermão para a Bênção da Capela Nossa Senhora das Dores 13.07.2014

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

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Alguns avisos:

Gostaria de agradecer a Deus pela bênção dessa Capela de Nossa Senhora das Dores. Gostaria, também, de agradecer a Dom José Aparecido, pela bondade em realizar essa cerimônia e em toda a ajuda que nos presta com muita caridade. Agradecer igualmente a Dom Sérgio da Rocha, nosso Arcebispo, pela grande benevolência, desde o primeiro momento, e ao Cardeal Dom José Falcão pelo apoio e amizade. Agradeço ao Padre Godwin, administrador paroquial da Paróquia Santa Clara e São Francisco, e responsável do setor pela solicitude. E também ao Padre João Batista, da Diocese de Anápolis pela presença e amizade. Mais uma vez, não podemos também deixar de agradecer as Irmãs de Santa Marcelina, pela grande generosidade em nos ceder a Capela durante quase dois anos.

Lembro a todos que hoje, por feliz disposição da providência, é também o primeiro aniversário de episcopado de Dom José. Gostaria de lhe assegurar, Excelência, das orações de todos nós pelo seu episcopado.

Para festejar esse aniversário e a bênção da Capela, teremos uma confraternização após a Santa Missa.

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Caros irmãos, a bênção de uma Igreja, embora não seja tão exaustiva quanto a dedicação e consagração de uma Igreja, é uma cerimônia profunda, e que separa o edifício inteiramente do uso profano e faz dele verdadeiramente a Casa de Deus e Porta do Céu. É uma edificação voltada, após a Bênção, para a glória de Deus e para o bem daqueles que nela ingressarem com a intenção de louvar a Santíssima Trindade e de se voltarem para o Altíssimo.

É o Pontífice quem procede à cerimônia de Bênção da Igreja. O Pontífice representa Cristo, que orna a Igreja, sua esposa, e que a prepara para que os frutos dela sejam imaculados, para que sejam frutos de santidade. Queremos que dessa Capela saiam verdadeiramente frutos de santidade, famílias santas, vocações santas.

Consideremos um pouco, caros católicos, as cerimônias desse rito de bênção de uma igreja.

São recorrentes, na cerimônia, sobretudo nos riquíssimos Salmos, os termos de “casa do Senhor”, de “Jerusalém”, de “átrio”, de “Templo de Deus”. Continuar lendo

[Sermão] Todo bem vem pelos sacerdotes: a solução para a crise

Sermão para o Segundo Domingo depois da Páscoa
04 de maio de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para o Domingo do Bom Pastor (2º Domingo depois da Páscoa)

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.”

Caros Católicos, no Evangelho de hoje, Nosso Senhor se dá o título de Pastor e de Bom Pastor. Nosso Senhor é o pastor que conhece perfeitamente suas ovelhas, que guia seu rebanho, que vai à frente de suas ovelhas, que guarda e defende suas ovelhas, que as alimenta e que dá a vida por elas. Onde já se ouviu falar do pastor que dá a vida pelas suas pobres ovelhas? Somente Nosso Senhor Jesus Cristo é tão bom Pastor ao ponto de dar a vida pelas suas ovelhas, pecadoras. Que grande a bondade e a misericórdia divinas ao nos dar um Pastor como Nosso Senhor. E Nosso Senhor foi venerado como o Bom Pastor desde o início, desde o tempo dos primeiros cristãos. Já São Pedro, no final da Epístola de hoje, menciona Cristo como Pastor. Nas catacumbas em Roma, onde os cristãos muitas vezes se reuniam para o culto e para venerar os mártires lá sepultadosdos, encontramos pinturas de Jesus, o Bom Pastor.

Nosso Senhor, o nosso pastor eterno, subiu aos céus, que é o seu lugar próprio após a ressurreição, com seu corpo glorioso. Antes de subir aos céus, porém, na Quinta-Feira Santa, durante a Última Ceia – a primeira Missa -, Nosso Senhor nos deixou pastores, seus representantes na terra, para guiarem os homens ao pasto eterno do céu. Ele instituiu o sacerdócio. Nosso Senhor fundou a sua Igreja, a Igreja Católica Apostólica Romana, como uma sociedade hierárquica, com o Papa como chefe supremo, com os bispos, responsáveis por uma parte do rebanho, sempre em dependência do papa, e com os padres, que cooperam com os bispos. Nosso Senhor, na sua bondade infinita, instituiu o sacerdócio, Ele instituiu o sacramento da ordem, Ele instituiu pastores para as suas ovelhas.

São Bernardo nos diz que todas as graças nos vem pelas mãos de Maria. E não só ele, mas vários santos e a própria Igreja. Podemos dizer também, repetindo as palavras do Santo Cura d’Ars, que tudo nos vem também pelas mãos do sacerdote. Todas as graças, todos os dons celestiais. É muito conhecida a passagem da Sagrada Escritura em que o profeta diz que todos os males vêm dos maus sacerdotes. Mas o contrário também é verdade: todos os bens vêm pelas mãos dos sacerdotes. É pelas mãos do padre que o sacrifício de Cristo na Cruz é renovado sobre os altares durante a Missa. E é pela Missa que os méritos de Cristo nos são aplicados. É pelas mãos do padre que Nosso Senhor desce do céu em corpo, sangue, alma e divindade sob as aparências do pão e do vinho. Nem Nossa Senhora nem os anjos podem fazer tal coisa. Quem deu a vida da graça para a nossa alma pelo batismo, tirando-a do pecado original? Ordinariamente, o Padre. Quem purifica a nossa alma dos seus pecados atuais? O Padre, pela confissão. Quem alimenta nossa alma, dando-lhe o Corpo de Cristo? O padre. Quem prepara a nossa alma para a morte pela extrema-unção, fortalecendo-nos para o último combate no momento da morte? O Padre. Quem nos presta o auxílio das bênçãos e dos sacramentais, para podermos viver bem em bons cristãos? O Padre. Quem tem o dever de nos instruir naquilo que Nosso Senhor veio nos transmitir e nos revelar? O Padre. Em última instância, caros católicos, como nos diz o Santo Cura d’Ars, todas as graças vêm ao mundo pelo sacerdote.

O padre se torna tal ao receber o sacramento da ordem. O sacramento da ordem, como o próprio nome sugere, ordena o padre inteiramente para o próximo e para Deus. O sacerdote não é sacerdote para si mesmo, mas para os outros e para Deus. O sacerdote não pode confessar a si mesmo, ele não pode administrar a si mesmo os sacramentos, com exceção da eucaristia. O sacerdócio é inteiramente para Deus e para o bem das almas. Que grande graça Nosso Senhor nos deu com o sacerdócio. O sacerdócio católico é participação no sacerdócio de Cristo. E o que Nosso Salvador veio fazer no mundo? Dar testemunho do pai e nos salvar. O mesmo deve fazer o sacerdote: fazer que Deus seja mais conhecido, amado e servido, e deve trabalhar para a salvação as almas.

Se é tão grande e importante o sacerdócio, é imperioso que haja padres e bom padres. Ainda para citar São João Maria Vianney, se uma região é deixada 20 anos sem padre, as pessoas irão adorar os animais. O mesmo se pode dizer no caso em que o pastor, em vez de ser um bom pastor, é um mercenário, preocupado com seu próprio bem e conforto, preocupado em propagar suas próprias ideias ou em agradar ao mundo, em vez de se preocupar coma a glória de Deus e com a salvação das almas. O mesmo santo nos diz que quando se quer destruir a religião, se começa por atacar o sacerdote, pois sem o sacerdote não há mais sacrifício e, se não tem mais sacrifício, não tem mais religião. Ataca-se o sacerdócio porque é dele que vem todo o bem, pelo sacrifício, pelos sacramentos, pela recitação do ofício divino e por tantos outros meios. O demônio, porém, sabe que não pode destruir o sacerdócio católico, pois Nosso Senhor nos assegurou que as portas do inferno não haveriam de prevalecer. Sabendo que não pode destruir o sacerdócio católico enquanto tal, o inimigo tenta desvirtuar o exercício desse sacerdócio, de forma que o sacerdote já não seja mais o homem do sacrifício da Missa e do culto a Deus, de forma que o sacerdote se preocupe mais com os aspectos sociais do que com o bem das almas, de forma que o sacerdote se torne um filantropo mais do que um pastor, de forma que o sacerdote busque os seus interesses e não os de Deus e o da salvação das almas. Infelizmente, esse desvirtuamento do sacerdócio católico está bem presente atualmente. Se nossa sociedade vive na grande confusão atual, é, em grandíssima parte, devido à crise que há no sacerdócio. Ainda não chegamos talvez a adorar os animais, todavia, já temos o aborto e a união homossexual e tantas outras coisas que destroem o próprio fundamento da sociedade. O sacerdote tem que ser o homem da Missa, o homem do Sacrifício, o homem da eucaristia. Ele tem que ser o homem da fidelidade aos ensinamentos de Cristo. Ele tem que ser o pastor que aponta e denuncia o lobo. Ele tem que ser o homem que aponta para o céu, que nos faz lembrar que fomos criados para o céu, para a vida eterna para Deus. Ele tem que ser o homem que reflete a caridade do Coração de Jesus, conduzindo com bondade e firmeza as pessoas para a glória eterna.

É dever de todos nós, caros católicos, contido no 4º mandamento, rezar pelos pastores da Igreja. Rezemos a Deus pelo Papa, pelos Bispos, pelos sacerdotes. Peçamos a Deus pelas vocações sacerdotais e para que Ele nos dê sacerdotes santos. Não há outra solução para a crise a não ser famílias santas, para que dessas famílias possam sair sacerdotes santos, para que possam converter as almas. Façamos, então, a nossa parte, sendo bons cristãos, pois Deus dá ao povo os pastores que o povo merece. Nosso Senhor é o Bom Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas. Se rezarmos, pedindo-Lhe que nos dê pastores segundo o seu Coração e nos esforçamos para viver em bons cristãos, Ele há de ouvir as nossas preces.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] Qual é a paz de Cristo?

Sermão para o Domingo da Oitava de Páscoa
28 de abril de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

 

ÁUDIO: Sermão para o Domingo in Albis

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Veio Jesus, estando as portas fechadas, e pôs-se no meio e disse: a paz seja convosco.”

Caros católicos, três vezes no Evangelho de hoje Nosso Senhor deseja a paz aos discípulos. É bem sabido que os judeus se saudavam desejando a paz uns aos outro. Todavia, o desejo de paz de Jesus não se reduz aqui a uma mera saudação de formalidade. As palavras de Jesus são um desejo de verdadeira paz, verdadeira paz que só é possível porque Ele ressuscitou dos mortos ao terceiro dia após a sua morte. Nosso Senhor é o Príncipe da paz.

Entre as profecias do Antigo Testamento sobre o Salvador, um dos nomes dados pelo profeta Isaías a Nosso Senhor é justamente o de Príncipe da Paz. E o profeta continua dizendo: “seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino.” (Isaías IX,7). Zacarias, pai de São João Batista, diz no canto do Benedictus que Nosso Senhor “há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e que Ele há de dirigir os nossos passos no caminho da paz.” (Luacs I, 79) Assim que Nosso Senhor nasce, os anjos entoam as palavras: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade. (Lucas II, 14). E São Paulo diz que Cristo veio para anunciar a paz aos que estavam longe, e a paz também àqueles que estavam perto, ou seja, aos pagãos e aos judeus. O mesmo apóstolo diz que Cristo é a nossa paz. (Efésios II, 14 e 17). Ainda São Paulo nos diz que Cristo restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus ao preço do próprio sangue na cruz. (Colossenses I, 20). E durante a sua vida pública Nosso Senhor também nos fala da paz muitas vezes. Ele envia os apóstolos dizendo que ao entrar em uma casa devem desejar a ela paz (Mateus X, 12). À mulher curada do fluxo de sangue, Nosso Senhor diz: “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e sê curada do teu mal.” (Marcos V, 34). Ao contemplar Jerusalém e a sua incredulidade, Cristo lamenta: “Oh! Se também tu, ao menos neste dia que te é dado, conhecesses o que te pode trazer a paz!” (Lucas XIX, 42). Aos díscipulos, na última ceia, o Salvador diz: “falo-vos essas coisas para que tenhais a paz em mim.” (João XVI, 33) E temos ainda os três desejos de paz que o Santo Evangelho de hoje menciona. Não há dúvida, caros católicos: Nosso Senhor é o Príncipe da Paz.

Todavia, Jesus Cristo diz também: “Não julgueis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada.” (Mateus X, 34) Ou ainda, conforme São Lucas: Julgais que vim trazer paz à terra? Não, mas a separação.” Haveria, então, contradição nas palavras de Nosso Senhor? Ele veio trazer a paz ou a espada e a separação? É claro que não pode haver contradição nas palavras de Nosso Senhor, sendo Ele a própria Verdade, sendo Ele Deus. O próprio Cristo nos explica, quando na última ceia diz aos discípulos: “deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vô-la dou como o mundo a dá.” (João XIV, 27) Portanto, caros católicos, Nosso Senhor veio trazer a paz ao mundo, mas essa paz não é a paz como o mundo a entende. Qual é, então, a paz de Cristo?

A paz que nos trouxe Cristo é, antes de tudo, a paz com Deus. Com sua paixão e morte de cruz, pela nossa redenção, operada com seu sangue, Nosso Senhor nos traz a reconciliação com Deus, com a Santíssima Trindade. Com o seu sacrifício na Cruz, Cristo restabelece entre Deus e os homens a paz. Deus é aplacado pela caridade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo. A justiça divina é satisfeita pelos sofrimentos de Cristo suportados com tamanha caridade. O Homem-Deus estabelece a paz. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela fé, acreditando e aderindo incondicionalmente aos seus ensinamentos. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela caridade, praticando os seus mandamentos. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela fidelidade à Igreja e à sua doutrina perene. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam viver em união com Ele, pela frequência aos sacramentos da confissão e da eucaristia. Ele estabelece a paz para aqueles que desejam se arrepender de seus pecados e que desejam se voltar para Deus. Tudo isso nos ordena a Deus. E a estabilidade, a tranquilidade nessa ordenação a Deus é justamente a paz. A verdadeira paz está fundada em Cristo. Nosso Senhor não veio trazer a paz no mundo, nem a paz do mundo. Ele veio trazer a paz entre Deus e os homens. Ele insiste, sobretudo, depois da sua ressurreição, mostrando que a plenitude dessa paz será alcançada com a vida eterna.

Além da paz entre Deus e os homens, a paz de Cristo é também uma paz do homem consigo mesmo. Aquele que adere aos ensinamentos de Cristo e pratica seus mandamentos, estabelece a devida ordem em sua vida. Essa ordem estável é a paz. Aquele que vive em estado de graça ordena e submete a inteligência e a vontade a Deus. Aquele que vive em estado de graça ordena os sentimentos, as emoções, as paixões, à inteligência e à vontade. Aquele que vive em estado de graça ordena os bens materiais para o bem da sua alma. Cristo, pelos seus méritos, nos dá a graça de ter uma vida ordenada, ordenada a Deus: bens materiais ordenados à alma, sentimentos ordenados à inteligência e à vontade, inteligência e vontade ordenadas a Deus.

Além da paz entre Deus e os homens, além da paz do homem consigo mesmo, Nosso Senhor traz também a paz entre os homens. Essa paz, no entanto, só será verdadeira quando for fundada na fé e na caridade, isto é, na adesão aos ensinamentos de Cristo e na prática da sua lei. Nunca se falou tanto em paz e nunca se viu tanta desordem. Isso ocorre porque se busca uma paz sem o Príncipe da Paz, que é Cristo. A verdadeira paz entre os homens existe quando eles cooperam mutuamente para ordenar a sociedade, para ordenar uns aos outros a Cristo. Muitos acham que a paz de Cristo é simplesmente unir as pessoas, um viver junto, evitando problemas, aceitando tudo o que o outro faz, mesmo os pecados. Muitos acham que a paz de Cristo é achar que todas as religiões são boas. Muitos acham que a paz de Cristo é evitar todo conflito. Muitos acham que a paz de Cristo é a união a qualquer custo. Essa é a paz do mundo, uma falsa paz. Não é a paz de Cristo. A paz de Cristo, baseada na fé e nos mandamentos, termina gerando, como Ele mesmo disse, a separação, porque nem todos desejam a verdadeira paz, mas se contentam com uma paz aparente e superficial. A paz de Cristo, nesse mundo que se opõe a Ele, é também uma espada de combate. A paz não é a mera ausência de conflitos, não é o políticamente correto, não é o simples bom mocismo. A paz não é a indiferença diante dos acontecimentos de nossa vida. Muita gente associa a paz hoje a um estado em que a alma já não deseja nada ou em que a alma não se preocupa com nada, procurando evitar assim todo sofrimento. Essa paz é própria de religiões esotéricas ou orientais. É uma paz pagã, ilusória, uma paz contrária à natureza humana e que causa enormes sofrimentos. É uma paz que destrói a nossa alma, alma que é feita justamente para amar o bem e sofrer pelo bem aqui nesse mundo. A paz do catolicismo é amar a Deus, o Bem, a Verdade e sofrer por Deus, pelo Bem, pela Verdade. A paz de Cristo é uma paz heróica. A paz é a tranquilidade, a estabilidade na ordem, na ordem a Deus. Portanto, a verdadeira paz entre os homens, na medida em que ela pode existir entre os homens, só pode ser uma paz fundada na fé e na caridade. A paz entre os povos e nações só será verdadeiramente uma paz quando povos e nações se subemterem a Cristo, Príncipe da Paz.

Para alcançar, então, a paz nesses três níveis, com Deus, consigo mesmo, com o próximo, é necessário combater. Conforme o antigo ditado latino: si vis pacem, para bellum, se queres a paz, prepara a guerra. Para alcançar a paz da graça será preciso separar-se do demônio, do pecado, do mundo. Para alcançar a paz será preciso separar-se das nossas paixões desordenadas. Para alcançar a paz será preciso, com frequência, desagradar às pessoas, pois é preciso agradar a Deus antes que aos homens. Cristo ressussistado passou antes pela cruz. Nesse mundo, a paz vai acompanhada da Cruz, do combate, da separação. A paz de Cristo é a vida da graça, a vida de união com a Santíssima Trindade.

Na Santa Missa, o padre saúda inúmeras vezes os fiéis com a saudação Dominus Vobiscum, o Senhor esteja convosco. O Bispo, nas Missas festivas, ao se dirigir aos fiéis pela primeira vez diz Pax vobis, a paz esteja convosco. As duas saudações, Dominus Vobiscum e Pax Vobis, têm o mesmo significado: que os fiéis estejam na graça de Deus, que ordenem as suas vidas a Deus. E os fiéis desejam a mesma coisa para o sacerdote: et cum spiritu tuo, e com o teu espírito, isto é, que a tua alma também esteja na graça do Senhor. Contemplemos Nosso Senhor Jesus Cristo ressuscitado e aceitemos a paz que ele nos dá. Paz que começa nesse mundo acompanhada da cruz e que será plena no céu.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Fotos da Festa da Imaculada Conceição – 2013

Galeria

Esta galeria contém 30 imagens.

A coisa mais bonita deste lado do céu – a Liturgia Tradicional – para aquela que é inteiramente bela, sem a mácula do pecado original, Nossa Senhora: Tota pulchra es, Maria, et macula originalis non est in te.

[Sermão] Dia de Finados

Sermão para o dia de Finados

02.11.2013 – Padre Daniel Pinheiro

Sermão de Finados de 2012: Rezar pelos fiéis defuntos e converter-nos a Cristo

Morte

Cripta de ossos dos capuchinhos em Roma

AUDIO: Sermão para a Missa de Finados – COmemoração de Todos os fiéis defuntos 2.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

“Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.”

Nesse dia da comemoração dos fiéis defuntos, a Igreja quer que nos voltemos para a as almas do purgatório, para que possamos, por meio de nossas súplicas, aliviar essas almas que sofrem enormemente pelo adiamento da visão beatífica. As almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram completamente sobre a terra a pena devida por seus pecados já perdoados, encontram-se em grande sofrimento no purgatório. No pecado, há a culpa e a pena. A culpa é perdoada na confissão, se se trata de um pecado mortal, ou também fora da confissão, se se trata de um pecado venial. Mas, além da culpa, há a pena pelo pecado. Mesmo depois de perdoado o pecado, é preciso expiar por ele, satisfazer pelo pecado, para que a ordem lesada pelo pecado seja restabelecida. No purgatório, encontram-se, então, as almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram inteiramente as suas penas.  O sofrimento no purgatório advém primeiramente do adiamento da visão beatífica, como dissemos. As almas do purgatório sabem que ainda não vêem Deus face a face somente por culpa delas, pela negligência em se desapegar dos pecados veniais quando estavam aqui na terra, pela negligência em reparar pelos pecados de que já tinham sido perdoadas. Sofrem também com uma pena sensível, com um fogo semelhante ao do inferno. A diferença com o inferno é justamente que essas penas são passageiras e a alma que está no purgatório sabe disso. Ao mesmo tempo, então, que é grande o seu sofrimento, grande é o seu consolo, pela certeza de poder chegar ao céu. O purgatório é fruto da justiça divina que exige satisfação pelos nossos pecados. Mas o purgatório é também fruto da misericórdia divina, pois sem essa purificação não poderíamos ver Deus face a face, já que Ele não pode admitir diante de si uma alma que tenha relíquias do pecado. Portanto, só podemos ser admitidos diante de Deus depois de expiar todas as penas devidas pelas nossas faltas. Sem o purgatório só iriam ao céu os que morreram sem nenhum pecado venial e que expiaram, aqui na terra, por todas as suas culpas, o que é raro. Assim, o purgatório é fruto também da misericórdia divina.

É um dever do cristão ajudar essas almas na medida do possível. Esse dever pode ser um dever de justiça, se alguém se encontra no purgatório por nossa culpa, por exemplo, devido aos nossos escândalos ou à nossa cooperação em um pecado. Ele é um dever de piedade filial quando se trata de parentes. Pode ser um dever de gratidão quando se trata de alguém que nos fez bem. Ou pode ser um dever de caridade, que nos faz desejar e agir para o bem do nosso próximo. Portanto, devemos rezar constantemente pelas almas dos fiéis defuntos, em particular pelos nossos parentes já falecidos e por aqueles que, eventualmente, lá estão por nossa culpa. E, claro, o melhor meio de fazê-lo é encomendando Missas e aplicando-lhes as indulgências que podem ser aplicadas a eles. Uma indulgência plenária aplicada a uma alma do purgatório a leva diretamente ao céu, pois a indulgência plenária serve justamente como satisfação de todas as penas. Ao se fazer a obra prescrita na indulgência, nas condições prescritas, os méritos de Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos são aplicados à alma, satisfazendo pela sua pena. Nas indulgências, a Igreja aplica os tesouros que lhe pertencem para satisfazer a pena pelos pecados já perdoados. A indulgência não perdoa um pecado, ela não perdoa a culpa do pecado. Isso só com o arrependimento e, se for pecado mortal, é preciso também a confissão. A indulgência paga a pena. Portanto, para lucrar uma indulgência, é preciso já ter os pecados perdoados. Não se trata de comprar o céu, mas de chegar mais rapidamente a ele, pela prática de uma boa obra, como visitar uma Igreja, um cemitério, fazer certas orações, etc. Muito importante, então, ajudar as almas do purgatório, pelas Missas, pelas indulgências, mas também pelas orações no dia-a-dia, etc…

A Igreja, na Missa de Requiem , na Missa de Defuntos, nos dá algumas lições para esse dia de finados. Nas cerimônias das Missas de Defuntos, ela está mais preocupada com as almas dos fiéis defuntos do que com os vivos. Assim, o salmo 42, recitado ao pé do altar é omitido. Esse salmo diz que nossa alma não deve estar triste. Todavia, como na Missa de Defuntos temos razão de possuir uma certa tristeza, a Igreja omite esse salmo. Em seguida, quando o Padre recita o Introito na Missa de Réquiem, ele faz o sinal da cruz sobre o Missal e não sobre si mesmo, como que abençoando os fiéis defuntos, para o alívio deles. A Igreja omite também o Gloria Patri no Intróito e no lavabo. Também o Gloria in Excelsis Deo é omitido, bem como o aleluia. Antes do Evangelho o Padre não recita a oração que pede para si mesmo a bênção, pois a leitura do Evangelho, que é um sacramental que nos perdoa as faltas veniais, se estamos arrependidos, e pode nos perdoar também as penas, deve beneficiar aqui somente aos fiéis defuntos. Pela mesma razão, ao fim do Evangelho, o Padre não beija o livro e não pede que nossas faltas sejam perdoadas. Não o faz porque tudo isso deve ser aplicado em benefício das almas do purgatório. Na hora do ofertório, o Padre não faz o sinal da cruz para abençoar a água, pois a água aqui significa os fiéis vivos, sobre quem a Igreja ainda tem jurisdição. E como a Missa está sendo oferecida pelo repouso das almas dos fiéis defuntos, ela omite essa bênção da água. No Agnus Dei, não pedimos a misericórdia e a paz para nós, para pedirmos o descanso para as almas do purgatório. A primeira oração depois do Agnus Dei, que é também um pedido de paz, é omitida nas Missas de Réquiem, pois pedimos a paz para eles e não para nós. No final, não se diz o Ite Missa est, mas Requiescant in Pace, outro um pedido para que os fiéis defuntos descansem em paz. Não há a bênção final, pois, assim como no Introito, a bênção, na Missa de Réquiem, deve ser para eles e não para nós. E hoje, depois da Missa, faremos a benção sobre a essa, essa espécie de caixão vazio e que representa todos os fiéis defuntos. E durante a Missa, quantas vezes a Igreja clama: réquiem aeternam dona eis domine. Dai-lhes senhor, o descanso eterno.

Imitemos a Santa Igreja e, no dia de hoje e na próxima semana, reforcemos as nossas orações pelos fiéis defuntos, sobretudo nossos familiares.

Se podemos fazer bem aos fiéis defuntos, eles também podem nos fazer algum bem. Em particular, eles nos ajudam lembrando-nos o fim de todos nós nessa vida, que é a morte. Do túmulo eles nos dizem: hodie mihi, cras vobis. Hoje, a morte é para mim. Amanhã, será para vocês. Eles nos lembram que a morte há de chegar, e por mais que ela tarde, ela chega rapidamente, em 70, 80, 90 anos. Eles nos alertam também ao dizer: hic iacet pulvis, cinis, nihil, aqui jaz pó, cinza, nada. É tudo o que temos nesse mundo: pó, cinza, nada.

Tumba de Antônio Barberini na Igreja dos Capuchinhos em Roma

Tumba de Antônio Barberini na Igreja dos Capuchinhos em Roma

A única coisa que não passa é a morte em estado de graça ou em pecado mortal. Todo o resto será devorado pelo tempo. Portanto, ao rezar pelos mortos, lembremo-nos de que nós também vamos morrer e que não sabemos o dia de nossa morte. Precisamos sempre estar preparados. Não deixar nossa conversão para mais tarde em nossas vidas, não deixar para o ano que vem ou para o mês que vem ou para amanhã. Não, precisamos estar preparados agora. São dois os momentos mais importantes da nossa vida, em que pedimos para que Nossa Senhora reze por nós: agora e na hora de nossa morte. É preciso que a gente considere sempre que o agora pode ser a hora de nossa morte.

Nesse dia, devemos fazer o bem às almas dos fiéis defuntos e convertermo-nos a Deus.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] O culto dos santos, das relíquias e imagens

Sermão para a Solenidade Externa da Festa de Todos os Santos

3.11.2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para a Solenidade de Todos os Santos 3.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Fazemos hoje a Solenidade externa da Festa de Todos os Santos, celebrada no dia 1º de novembro.

Altar das Relíquias

Altar das Relíquias

“Laudate Dominum in sanctis ejus.” Louvai o Senhor em seus santos, nos diz o Salmo 150 na Vulgata. Esse versículo da Sagrada Escritura descreve com precisão a natureza da veneração prestada aos santos pelos católicos, desde os primeiros séculos. Ao venerar os santos glorificamos a Deus, louvamos a Deus em seus santos. Veremos porque é possível cultuar os santos, os benefícios que derivam do culto dos santos, de suas imagens e relíquias.

É bem conhecida a objeção dos protestantes ao culto prestado aos santos. E, em geral, quanto mais ignorante um protestante, mais virulento será seu ataque ao culto dos santos. A heresia protestante diz que o culto dos santos não pode se realizar em virtude de três objeções, basicamente. A primeira delas consiste em afirmar que o culto dos santos se contrapõe ao fato de que NSJC é o único mediador. São Paulo na sua 1ª Epístola a Timóteo afirma: “há um só Deus e só há um mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, que se deu a si mesmo para redenção de todos.” Não resta dúvida de que São Paulo estabelece NS como o único mediador. Ele faz isso nos versículos 5 e 6 do capítulo 2. Nos versículos precedentes, ele escreve a Timóteo: “Eu te rogo, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, petições, ações de graças por todos os homens.” Em seguida, diz: “Isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e que cheguem a ter o conhecimento da verdade.” São Paulo recomenda a Timóteo que interceda por todos e diz que isso é agradável diante de Deus. Estaria São Paulo em contradição, ordenando a Timóteo que reze pelos outros ao mesmo tempo em que diz que só há um mediador. É claro que não. Nosso Senhor é o único mediador de redenção, Ele é o único que nos redime e nos salva. Isso não impede que haja mediadores de intercessão, que com suas orações pedem para que Cristo nos aplique a sua redenção. Portanto, NS é o único mediador de redenção, mas ele estabeleceu mediadores de intercessão subordinados a Ele.

É possível, então, haver mediadores de intercessão sem que NS deixe de ser o único mediador de redenção. Mas os protestantes dizem – e é a segunda objeção – que os santos no céu não tomam conhecimento de nossas orações, não podendo, assim, nos ajudar. Isso é falso. É claro que os santos conhecem as nossas orações, pois podem ver tudo em Deus, no Verbo de Deus, ainda que nossas orações sejam meramente internas, sem nada exterior. Os santos no céu têm uma caridade perfeita, inflamada, um amor perfeito por Deus e pelo próximo. Eles querem o bem do próximo e querem agir para o bem do próximo. Seria um contrassenso se no momento em que mais são movidos pela caridade, se no momento em que mais querem e podem ajudar o próximo, os santos não pudessem auxiliar aqueles que mais precisam, que somos nós. Portanto, os santos no céu, ao verem Deus face a face, conhecem também os nossos pedidos e nos ajudam, movidos pela caridade perfeita que possuem.

Finalmente, dizem os protestantes que Deus é tão bom que não precisa de intercessores para nos dar o que necessitamos. Estritamente falando, é óbvio que não haveria necessidade absoluta de intercessores. Todavia, Deus é tão bom que quis que tivéssemos intercessores e modelos, para o nosso próprio bem, para que pudéssemos pedir as coisas com maior confiança, sabendo que somos representados por pessoas que agradam mais a Deus do que nós, pobres pecadores. Diz Santo Agostinho que Deus deixa de conceder muitas coisas, se não houver a intervenção de um mediador e advogado digno. Vemos isso na Sagrada Escritura com os amigos de Jó (Jó XLII, 8) e com Abimelec (XX, 17). Deus só perdoou os pecados dos primeiros pela intercessão de Jó e só perdoou a Abimelec pela intercessão de Abraão. Vale também destacar que Cristo enalteceu a fé do centurião com grandes elogios, apesar de o homem ter enviado ao Salvador os anciãos dos Judeus, em vez de ir pessoalmente, para que pedissem ao Senhor a cura de um servo doente (Lc VII, 2-10). E fez isso por acreditar que o pedido vindo dos anciãos dos Judeus seria mais agradável do que o seu pedido feito diretamente. Recorrer aos santos não é falta de fé. Deus é tão bom que faz os santos cooperarem de modo especial na salvação das almas pela intercessão deles. Assim, a intercessão dos santos em nada diminui a bondade divina, mas a manifesta ainda mais perfeitamente.

A invocação dos santos é lícita e boa. Ela está incluída no culto de dulia que é devido aos santos e que consiste em reconhecer internamente e externamente a excelência dos santos com relação às virtudes sobrenaturais, com relação à união íntima deles com Deus. Esse reconhecimento vai acompanhado de certa submissão a eles. Não se trata, portanto, de culto de latria, que é devido somente a Deus. Ao venerarmos os santos, louvamos e veneramos a obra de Deus neles, louvamos a graça divina que atuou de modo particular e excelente neles. Ao elogiar a obra de um artista, elogiamos também e principalmente o artista que é causa da obra. Ao venerar os santos, louvamos verdadeiramente a Deus em seus santos, como nos diz o salmo.

Veneramos os santos louvando suas excelências, celebrando as festas deles, fazendo obras de caridade ou de mortificação em honra deles, expondo e venerando as imagens e relíquias deles. Veneramos os santos também imitando os exemplos deles. E como eles são imitadores de Cristo, ao imitar os santos, imitamos Cristo. É o que diz são Paulo (1 Cor XI, 1): “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.” Mas para imitá-los é preciso ler as vidas de santos. O exemplo deles nos faz muito bem, pois são, de fato, o Evangelho colocado em prática por pessoas como nós. A vida dos santos não é só para ser admirada, mas para ser imitada. Não imitada naquilo que tem de extraordinário, milagres, etc., mas no essencial, na conversão a Deus. E veneramos os santos recorrendo à intercessão deles.

Vimos que entre os meios de honrar os santos está a veneração de imagens e relíquias. Relíquia quer dizer resto. As relíquias são, então, um pedaço do corpo de um santo (relíquia de primeira classe) ou algum objeto que lhe pertenceu (relíquia de segunda classe) ou ainda alguma coisa que tocou uma relíquia de primeira classe (e teremos uma relíquia de terceira classe). Ao venerar as relíquias de um santo veneramos, antes de tudo, a pessoa do santo e também aquele corpo que foi templo do Espírito Santo e membro vivo de Cristo, o corpo que junto com a alma praticou tantas virtudes, o corpo que vai ressurgir glorioso um dia. Vemos na Sagrada Escritura como a fímbria do vestido de NS opera prodígios (Mc VI, 54-56), vemos a sombra de São Pedro curar os doentes (At V, 12-16) e vemos lenços e aventais tocados por São Paulo afugentar os espíritos malignos e curar doenças (At XIX, 11 e 12) . Grande deve ser a nossa veneração pelas relíquias dos santos, imitadores de NS, relíquias que nos remetem aos santos e que são também sacramentais.

As imagens dos santos também podem e devem ser veneradas. “As imagens de Cristo, da Santíssima Virgem e de outros Santos, se devem ter e conservar especialmente nos templos e se lhes deve tributar a devida honra e veneração, não porque se creia que há nelas alguma divindade ou virtude pelas quais devam ser honradas, nem porque se lhes deva pedir alguma coisa ou depositar nelas alguma confiança, como outrora os gentios, que punham suas esperanças nos ídolos (cfr. Sl 134, 15 ss), mas porque a veneração tributada às Imagens se refere aos protótipos que elas representam, de sorte que nas Imagens que osculamos, e diante das quais nos descobrimos e ajoelhamos, adoremos a Cristo e veneremos os Santos, representados nas Imagens.” Assim ensina o Concílio de Trento. A proibição de fazer imagens no AT não é mais válida, pois o risco de idolatria que existia para os judeus, rodeados de pagãos idólatras, adoradores de imagens, já não existe. E mesmo no Antigo Testamento, vemos Deus abrir algumas exceções para a proibição das imagens, pois ele ordena que se façam querubins na arca da aliança e manda que Moisés faça uma serpente de bronze, prefiguração de Cristo crucificado, para que os judeus não perecem pelas picadas das serpentes no deserto. Portanto o culto às imagens se dirige ao original.

O culto aos santos, às relíquias e imagens está de pleno acordo com a obra da salvação e com nossa natureza humana. Nós vivemos em sociedade, a Igreja é uma sociedade instituída por Cristo. Nada mais natural que uns membros da sociedade prestem auxílio a outros, nada mais natural que os membros da Igreja triunfante, no céu, socorram os membros da Igreja militante, que somos nós. Nada mais natural que peçamos a ajuda deles. Pela nossa natureza, somos corpo e alma. Nós precisamos de coisas sensíveis que ajudem a nossa inteligência e a nossa vontade a se elevarem às coisas espirituais. Assim, os sacramentos são sinais sensíveis da graça, as cerimônias da Igreja são sensíveis, a Igreja é uma sociedade visível com um chefe visível, etc. As imagens e relíquias nos ajudam muitíssimo a manter a nossa concentração, a considerar o exemplo e as virtudes de Cristo, de Nossa Senhora, dos Santos. Tirar as imagens das igrejas prejudica a vida de oração, diminui o apelo aos santos, nos privando de muitas graças. Dessa forma, a vaga iconoclasta que atingiu muitas das nossas igrejas nas últimas décadas, prejudica a oração do povo. O que corrobora tudo isso é o fato de o próprio Deus ter se encarnado. Nossa religião não é uma religião de anjos, mas uma religião fundada por Deus para nós homens, feitos de corpo e alma. As duas coisas devem estar unidas e devidamente ordenadas, sendo a alma a principal parte de nosso ser.

 O culto aos santos, de tradição apostólica, nos faz venerar os santos como amigos de Deus, nos faz venerar os santos pelos dons que receberam de Deus. O culto dos santos nos traz grandes benefícios, pois nos ajudam a obter graças que sozinhos não conseguiríamos e nos dão um exemplo e vida em conformidade com Cristo. Grandes benefícios nos trazem também o culto das relíquias e das imagens.

Recorramos aos santos e peçamos a eles que nos ajudem a alcançar o céu onde já se encontram. Laudate Dominum in sanctis eius. Louvai o Senhor em seus santos.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A importância das rubricas na liturgia

Missal Rubricas

Sermão para o 21º Domingo depois de Pentecostes

13.10.2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para o 21º Domingo depois de Pentecostes Importância das Rubricas 13.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

“Todas as coisas dependem, Senhor, da vossa vontade e nada há que possa lhe resistir.” (Intróito)

Já tratamos, caros católicos, de alguns aspectos da Missa no Rito Romano Tradicional. Já tratamos do latim na liturgia, já tratamos da orientação do Padre, voltado para Deus e não para o povo, já tratamos do silêncio. E vimos a importância fundamental de todas essas coisas. Consideraremos, hoje, os benefícios, para nós e para a Igreja, que advêm das rubricas precisas e bem determinadas do Rito Romano Tradicional.

Antes de tudo, precisamos compreender o que são as rubricas. Nos livros litúrgicos nós encontramos textos em duas cores. Existem textos em preto e textos em vermelho. Os textos em preto são aquelas coisas que o sacerdote deve falar – em voz alta ou baixa, mas que deve falar. Os textos em vermelho descrevem e explicam o que o Padre deve fazer. As coisas em vermelho são as regras litúrgicas. Da cor vermelha vem o nome de rubrica, que vem de rubro, vermelho. No Rito Tradicional, as rubricas são bem precisas, bem determinadas. São raríssimas as opções no Rito Romano Tradicional. Portanto, a Igreja, assistida pelo Espírito Santo e, sobretudo, por meio de Papas santos – como São Leão Magno, São Gregório Magno, São Pio V – estabeleceu, ao longo dos séculos e baseada no que recebeu de NS e dos apóstolos, com precisão como deveria ser o Rito da Missa. Os senhores, frequentando a Missa Tradicional há um certo tempo, já perceberam que variações são praticamente inexistentes.

É comum ouvirmos críticas com relação à liturgia tradicional afirmando que se trata de uma liturgia engessada, sem espontaneidade, sempre a mesma coisa… Essa determinação precisa dos ritos e cerimônias, caros católicos, é, ao contrário, fundamental e é um grande bem. Primeiramente, as rubricas precisas formadas ao longo dos séculos pelo Espírito Santo, como falamos, deixam claro que é Deus que determina como ele deve ser cultuado. Não somos nós que decidimos como Deus deve ser cultuado, não somos nós que decidimos em um escritório como deve ser o rito da Missa ou que decidimos pelo improviso como Deus deve ser cultuado. Se nós consideramos a Sagrada Escritura, no livro do Levítico nós vemos as inúmeras e precisas regras estabelecidas por Deus de como ele deveria ser cultuado. Ora, se Deus fez isso com os sacrifícios e ritos que eram mera prefiguração do sacrifício perfeito de Nosso Senhor Jesus Cristo, convinha muitíssimo que Ele estabelecesse regras precisas de como deve ser cultuado na nova e eterna aliança. Deus, infinitamente sábio, conhece a fraqueza humana e sabe que, deixando o culto ao arbítrio do homem, grandes abominações serão feitas. Portanto, as rubricas bem determinadas nos dizem que é Deus que estabelece como Ele deve ser cultuado, é Ele que determina o que o agrada. Não somos nós que determinamos como Deus deve ser cultuado.

Em seguida, as rubricas precisas, como consequência óbvia do que acabamos de dizer, deixam claro que a liturgia é teocêntrica, o centro é Deus e não nós, os homens. As rubricas bem determinadas manifestam que a liturgia é algo voltado para Deus e não para o homem. Se pudéssemos determinar como Deus deve ser cultuado, no fundo seríamos nós o centro da liturgia, pois escolheríamos o modo de cultuar Deus que mais nos agrada. A liturgia se tornaria algo para nos agradar e não para agradar a Deus. Assim, as rubricas bem precisas nos mostram que é Deus que determina como Ele deve ser cultuado e nos mostra que o centro da liturgia é Deus, que a finalidade da liturgia é agradar a Deus e não a nós mesmos. Se queremos chegar ao céu, devemos agradar a Deus e não a nós mesmos. O rito bem determinado, com rubricas precisas, nos dá essa grande lição. Achar que estamos agradando a Deus, quando agradamos a nós mesmos, é um dos grandes erros dos nossos tempos.

As rubricas bem determinadas tiram, então, a liturgia do nosso controle e domínio. Não somos nós que determinamos como deve ser a liturgia, mas Deus. O fato de não termos controle e domínio sobre a liturgia nos mostra que ela está acima de nós, que é algo sagrado. Aquilo sobre o que eu tenho controle e domínio é inferior a mim. Ao contrário, aquilo que é determinado independentemente da minha vontade por Deus, é superior a mim, é sagrado. As rubricas bem determinadas nos inspiram, portanto, grande respeito e veneração pela liturgia, porque nos fazem compreender que a liturgia é algo sagrado. E diante do sagrado, do mistério, nossa inteligência não se cansa, apesar da repetição. Ao contrário, a repetição que surge das rubricas bem determinadas e da falta de opções nos permite compreender cada vez mais profundamente o mistério e nos unir melhor a NSJC. Se a cada Missa houver uma novidade, nossa atenção vai se voltar para essa novidade e não para o essencial do que está ocorrendo e nossa compreensão do mistério permanecerá sempre superficial. Procuraremos a novidade que agrada aos sentidos e não a profundidade que nos une a Deus. Ao mesmo tempo, essa repetição dos ritos permite ao sacerdote se concentrar cada vez mais no mistério que ele realiza e, portanto, permite ao sacerdote rezar a Missa cada vez com maior devoção, gerando mais frutos para as almas. A repetição é um grande bem na liturgia.

As rubricas precisas trazem consigo outros grandes benefícios espirituais. O primeiro benefício espiritual é uma grande paz. Uma grande paz para o sacerdote e uma grande paz para os fiéis. Só estamos verdadeiramente em paz, quando sabemos que estamos fazendo a vontade de Deus. A paz não é um sentimento, mas é a consequência de sabermos que estamos fazendo a vontade de Deus, que estamos fazendo aquilo que agrada ao Senhor, ainda que em meio aos maiores tormentos e combates. Ora, com o rito bem determinado pela Igreja ao longo dos séculos, sem as inúmeras opções, estamos certos de estarmos fazendo a vontade de Deus, de estarmos agradando a Deus, cultuando-o conforme Ele quer. Isso deve nos trazer uma grande paz. Com as rubricas precisas, estamos seguros de que fazemos a vontade de Deus. Isso traz uma grande paz para o Padre, em particular, porque ele não tem que se preocupar com o que ele vai escolher para agradar mais aos fiéis, ou para adaptar melhor a liturgia. O Padre não tem que se preocupar em escolher o rito penitencial 1, 2 ou 3. O Padre não tem que se preocupar em escolher tal ou tal prefácio. O Padre não tem que se preocupar em escolher tal ou tal Oração Eucarística. Não, tudo já está determinado, ele pode ficar absolutamente tranquilo de estar agradando a Deus e fazendo o bem para os fiéis. Isso dá na verdade uma grande liberdade ao Padre, pois não fica preso ao seu gosto, ao gosto dos fiéis, ao gosto da pastoral disso ou daquilo. Despreocupado de escolher entre as diversas opções, o Padre pode esquecer a si mesmo, para agir como outro Cristo realmente, e isso traz grandes benefícios para ele e para os fiéis.

As rubricas bem determinadas são também uma mortificação, uma negação de si mesmo, pois nos impedem de controlar a liturgia e nos ensinam a conformidade com a vontade de Deus. Quando controlamos algo tiramos disso uma satisfação. Controlar a liturgia ou determiná-la conforme a nossa preferência nos daria uma satisfação desordenada, pois estaríamos submetendo um bem espiritual aos nossos sentimentos. As rubricas bem determinadas impedem que um grupo imponha a sua espiritualidade ou falta de espiritualidade aos outros fiéis. As rubricas impedem as Missas carismáticas, as Missas das crianças, a Missa disso e daquilo. As rubricas deixam claro também que a liturgia não deve ser basear na personalidade do sacerdote. Hoje é muito comum ouvirmos: gosto da Missa do Padre tal, gosto da Missa daquele outro Padre. Isso é um sinal de que os Padres fazem a Missa corresponder à vontade deles. Tem algo gravemente errado nisso. A Missa é da Igreja e não do Padre tal ou tal.

Colocando Deus no centro, fazendo-nos cumprir a vontade de Deus, fazendo com que neguemos a nós mesmos, as rubricas precisas favorecem também a virtude da obediência. Ora, se na Missa, na liturgia, que é o que há de mais importante, eu posso fazer as coisas conforme a minha vontade, porque terei que obedecer em outras coisas menos importantes? As rubricas são indispensáveis para que haja a virtude da obediência, a prontidão em se obedecer às legítimas ordens dos superiores.

São inúmeros, caros católicos, os benefícios trazidos pelas rubricas precisas do Rito Romano Tradicional. Digo do Rito Romano Tradicional porque, infelizmente, a liturgia reformada em 1969 possui rubricas, sim, mas são tantas as opções permitidas pelas rubricas, que, no fim das contas, o princípio por trás das novas rubricas é praticamente faça como quiser. Pode-se escolher entre tantos ritos iniciais, posso escolher entre tantos ritos penitenciais, posso escolher entre tantas orações universais, posso escolher entre tantas orações eucarísticas… No fundo, é praticamente como se fosse dito, faça como quiser. E a psicologia humana funciona dessa forma. Acostumados a fazermos sempre as nossas vontades nas coisas lícitas, passaremos facilmente a fazer as coisas ilícitas. É regra de ouro na vida espiritual mortificar-se mesmo nas coisas lícitas para evitar mais facilmente as ilícitas. Quem faz sempre a própria vontade nas coisas lícitas, passará facilmente às ilícitas. Assim, das inúmeras opções permitidas pelas rubricas se passou rapidamente aos abusos, pois as inúmeras opções favorecem a nossa vontade própria e dão a impressão de que a liturgia é obra nossa e não de Deus, colocando-nos no centro. Além disso, tantas opções tiram a paz do sacerdote e dos fiéis, tiram o foco do sacrifício que se oferece no altar para nos focar nas opções, nas novidades. Daí, dessa grande liberdade nas rubricas, entre outras razões, o caos litúrgico que vivemos hoje, com tantos e tantos abusos, muitos deles graves.

O Livro dos Reis nos relata um exemplo interessante de abuso litúrgico. Heli era o sumo sacerdote naqueles tempos e ele tinha dois filhos que a Sagrada Escritura chama de filhos de Belial, dada a impiedade deles nos sacrifícios. Esses filhos de Heli pegavam indevidamente para si parte dos sacrifícios que os israelitas ofereciam, pegavam para si indevidamente a carnes dos animais oferecidos. Ou seja, colocavam-se no centro, no lugar de Deus. Grandes foram as consequências desses abusos dos filhos de Heli. A primeira dessas consequências que o povo se afastou dos sacrifícios, a segunda foi a morte dos filhos de Heli e a terceira foi a derrota de Israel para os filisteus e a conquista da Arca da Aliança pelos filisteus. E tão graves consequências por abusos nos sacrifícios que eram tão somente prefigurações do sacrifício imaculado de Cristo. Os abusos litúrgicos na Missa têm consequências semelhantes, caros católicos: eles afastam o povo devoto do sacrifício (até porque ninguém é obrigado a assistir a uma Missa em que ocorrem abusos litúrgicos sérios), fazendo que o povo perca o respeito pelo sacrifício, pelo que há de mais sagrado. Em seguida, os abusos litúrgicos prejudicam gravemente o povo, matando muitas almas espiritualmente, a começar pela alma do próprio sacerdote que o comete conscientemente. Finalmente, os abusos litúrgicos abrem largamente o flanco para que os inimigos da Igreja alcancem vitórias sobre ela e a humilhem. A negligência no que há de mais sagrado tem consequências gravíssimas e prejudica a salvação das almas. Tendo isso em vista, a Igreja sempre considerou que o sacerdote que não cumpre voluntariamente uma rubrica comete um pecado. Um pecado venial, se é uma rubrica sem maior importância, ou um pecado mortal, se é uma rubrica importante.

As rubricas bem precisas e bem determinadas da liturgia tradicional são um grande bem e um grande auxílio para a nossa vida espiritual e para a Santa Igreja. Elas são como as muralhas de um castelo, defendendo o tesouro da liturgia, do nosso maior tesouro.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.