Sermões sobre a Liturgia

1. [Sermão] A oração pública da Igreja e a oração privada

2. [Sermão] O Ano Litúrgico e a sociedade

3. [Sermão] Arquitetura sacra católica tradicional

4. [Sermão] Sobre o uso do latim na Liturgia

5. [Sermão] A orientação do sacerdote e o silêncio na Missa

6. [Sermão] A importância das rubricas na liturgia

7. [Sermão] O culto cristocêntrico

8. [Sermão] Verdadeira beleza da Missa Tridentina (Rito Romano Tradicional)

9. [Sermão] Cerimônias da Santa Missa – razões e valor

10. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 1: Os Paramentos

11. [Sermão] Sentido espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 2: Da Aspersão à subida ao Altar

12. [Sermão] Sentido espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 3: Da Incensação ao Kyrie

13. [Sermão] Sentido espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 4: Do Gloria à Epístola

14. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 5: Do Gradual ao Sermão

15. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 6: Ofertório (até o Deus qui humanae substantiae)

16. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 7: Ofertório (até a Secreta)

17. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 8: Prefácio

18. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 9: O Cânon Romano I

19. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 10: O Cânon Romano II – Te igitur, Memento Vivorum

20. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 11: O Cânon Romano III – Communicantes, Hanc igitur e Quam oblationem

21. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 12: O Cânon Romano IV – Consagração da Hóstia

22. [Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 12: O Cânon Romano IV – Consagração do Cálice

21. [Sermão] O rito de benção de uma igreja

 

[Sermão] Sentido Espiritual das Cerimônias da Missa – Parte 7: Ofertório (até a Secreta)

Sermão para o Domingo da Sexagésima
08 de fevereiro de 2015 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

Continuemos o nosso caminho pelas maravilhas das cerimônias da Missa no Rito Romano Tradicional. Tínhamos começado o Ofertório indo até o momento em que o padre mistura uma gota de água ao vinho dizendo a oração Deus qui humanae substantiae. Depois disso, o sacerdote, no meio do altar, erguendo o cálice na altura de seu olhos e olhando para a cruz, recita a oração do ofertório do cálice: Offerimus tibi Domine. Na Missa Solene, o diácono segura o cálice junto com o padre e também reza a oração junto com o padre. Como no ofertório da hóstia, o cálice já é aqui tratado como se contivesse o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, como sendo já o cálice da salvação que contém o Sangue de Cristo. Continuar lendo

[Sermão] A Circuncisão e o mistério da Encarnação

Sermão para a Festa da Circuncisão de Nosso Senhor 
1º de janeiro de 2015 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

O Verbo se fez carne. Ele se fez carne para nos salvar. Na presente ordem de coisas, a finalidade da encarnação do Verbo é a nossa redenção. A Sagrada Escritura nos deixa isso claro. Em São Mateus (20, 28) está dito que o Filho do Homem veio para servir e dar a sua vida em redenção de muitos. Em São Lucas (19, 10), está dito que o Filho do Homem veio salvar o que estava perdido. Na sua Epístola aos Gálatas, São Paulo diz claramente que, ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, para redimir os que estavam sob a lei. Para Timóteo, São Paulo escreve que Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores. Na sua primeira Epístola São João diz que Deus nos amou e enviou seu próprio Filho, vítima expiatória de nossos pecados. A Revelação é clara, então, quanto ao motivo da encarnação. Deus Filho se fez homem, para nos redimir, para nos salvar.

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[Sermão] As provações e as graças no ano de 2014

Sermão para a Festa de São Silvestre
31 de dezembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

Estamos no último dia do ano de 2014. Foi um ano de provações. Provações em nosso país com as eleições, sem muita alternativa para um candidato realmente bom e com a vitória da pior dentre os que tinham chances. Maiores dificuldades e restrições impostas pelo governo à prática de nossa religião podem estar à vista. Uma oposição cada vez mais ferrenha à lei natural e à lei divina também. Precisamos rezar pelo nosso país e fazer a nossa parte, começando por nós mesmos e pelas nossas famílias. As dificuldades, as provações são também meios que Deus nos dá para exercer a virtude, para suportar os males com paciência, para vencê-los com a virtude contrária.

Turbulência também na Santa Igreja Católica, em particular com o Sínodo dos Bispos. Que Bispos da Santa Igreja Católica cogitem reconhecer atos e uniões contra a natureza era inimaginável há alguns anos. Que se pudesse admitir à comunhão quem se encontra objetivamente em estado de pecado mortal, idem. Confundir misericórdia com abandono da lei de Cristo e da Igreja, igualmente. Mas, aí também, vimos prelados fiéis a Cristo se levantarem contra a demolição da moral natural e cristã. Em 2015, teremos nova etapa do Sínodo sobre a família. Mais uma vez, precisamos rezar, para que Deus desfaça os planos dos ímpios, como disse Dom Athanasius Schneider. Devemos cuidar das nossas famílias, combater o bom combate e guardar a fé e a caridade. De pouco adianta ser um paladino da Missa Tradicional e da moral católica, se com os nossos pecados mortais não combatidos seriamente cooperamos para o reino do demônio. Não é suficiente louvar a Cristo com a boca, se o crucificamos com nossos pecados. É preciso amar e defender e propagar a liturgia tradicional, bem como defender a moral católica, sobretudo sendo fiel aos mandamentos de Cristo. Devemos nutrir a nossa fé e a nossa alma não com facebook ou fotos de internet ou com um site qualquer, mas com os tesouros da espiritualidade e da fé católicas: os bons livros, que são nossos melhores amigos.

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[Sermão] Nossa Senhora de Guadalupe: a mensagem contida na imagem

Sermão para a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe
12 de dezembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

O ano é 1531. Os missionários espanhóis encontram bastante dificuldade para evangelizar o povo asteca que habitava a região onde hoje está o México. Podemos atribuir essa dificuldade à influência enorme do demônio nesse povo. Em 1487, por exemplo, em torno de quarenta anos antes da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, houve a consagração do principal templo pagão. Durante 4 dias, 80 mil pessoas foram sacrificadas, em ritos brutais e macabros. Ao longo de cada ano, com essa religião, 50 mil pessoas eram sacrificadas. Sacrifícios humanos. Era essa a cultura dos indígenas. Dado um culto tão profundamente demoníaco, era difícil converter as almas.

Para amolecer esses corações tão endurecidos, Nosso Senhor não teve alternativa. Permitiu que sua Mãe, nossa Mãe, Maria, aparecesse. E com essa aparição as almas finalmente se voltaram a Deus. No dia 9 de dezembro, primeiro dia da oitava da festa da Imaculada Conceição, aquele pobre índio, convertido a Jesus Cristo, atravessava a colina de Tepeyac às 5:30 da manhã, para assistir à Santa Missa para receber o catecismo e cuidar dos seus negócios. Era um índio convertido que ia à Missa, às 5:30 da manhã a pé, atravessando uma colina. Nessa colina, tinham existido anteriormente três templos dedicados à deusa Tonantzin, considerada pelos pagãos astecas mãe dos deuses e dos astecas. Os templos tinham sido demolidos por Cortés. Lá apareceu a verdadeira Mãe de Deus, do único Deus Uno e Trino, dizendo a Juan Diego que ela pedia ao Bispo a construção de uma igreja católica naquele lugar. O índio relata ao Bispo todo o ocorrido. O Bispo age com prudência, sem dar muito crédito, inicialmente.

BishopJuanDiego-370x300É somente com a quarta aparição no dia 12 de dezembro que o bispo se convence da veracidade das aparições. Juan Diego chega, nesse dia, ao palácio episcopal. Com ele, estão rosas de Castilha. Não era a época de rosas e não era um local onde podiam ser encontradas rosas, sobretudo essas rosas. Ele desdobra, então, o seu manto e, nesse manto, aparece a imagem de Nossa Senhora, que hoje chamamos de Guadalupe. O Bispo e os seus servidores se ajoelham e veneram a imagem. Não me prolongarei na história, que cada um pode procurar conhecer a partir de fontes confiáveis.

Gostaria de considerar, porém, a mensagem contida na imagem. A imagem se dirige ao Bispo e aos já católicos, mas ela se dirigia sobretudo aos pagãos astecas. Ela fala, então, a linguagem que eles conheciam muito bem.

Como já dissemos, Nossa Senhora aparece na colina onde estavam os templos pagãos dedicados à deusa pagã considerada a mãe de todos os deuses e dos astecas. Ao aparecer lá, Nossa Senhora diz que ela é a Mãe de Deus e a Mãe dos astecas e de todos os homens. Ela apareceu em um ano que para os astecas significava a plenitude e o nascimento do sol. Ela vai trazer a plenitude e o sol verdadeiros, Nosso Senhor Jesus Cristo. Atrás da imagem, os raios dourados. Daquela Virgem está saindo o sol, que representa Deus.

Eternal_father_painting_guadalupeO manto onde aparece a imagem é grosseiro, de textura imperfeita, impossível de pintar nele. O próprio tecido não costuma durar muito tempo. O que dizer de uma imagem em tal tecido? Mas lá está a imagem até hoje.

Os cabelos estão soltos, indicando sua condição de donzela virgem. As índias casadas levavam o cabelo amarrado em trança.

Nos olhos da Imagem da Santíssima Virgem estão refletidos os bispos e os outros presentes no momento em que se desdobrou o manto de Juan Diego. Ninguém, àquela época, e em tal tecido conseguiria fazer isso. Os indígenas da época também não puderam ver isso na imagem. Apenas recentemente e com a tecnologia moderna é que se tornou possível constatar esse fato estupendo. É uma mensagem para a nossa época moderna, tecnológica. Há quase 500 anos, Deus nos falava claramente.

O broche no pescoço de Maria também é importante. Um colar com um broche no pescoço significa, para os indígenas, submissão e consagração a um Deus. O broche tem uma cruz, espanhola, e mostra a importância de Jesus Cristo sobre Nossa Senhora e mostra a veracidade do Evangelho trazido pelos missionários espanhóis. O único sacrifício agradável a Deus é o de Cristo, na Cruz.

nossa_senhora_de_guadalupeAs mãos de Nossa Senhora, postas em oração, representam também a Igreja que deveria ser construída a mando dela naquela colina. Uma das mãos é mais branca, enquanto a outra mais morena: todos devem se submeter a Maria, para se submeter, assim, a Cristo. O mesmo se pode dizer do rosto da Virgem. Não é europeu nem indígena, mas mestiço.

O laço escuro acima do ventre deixa claro para os indígenas que se trata de uma mulher grávida. Colocavam o laço acima do ventre para permitir o natural crescimento do ventre durante a gestação. E o laço indica também que se trata de uma mulher nobre. Ela é uma donzela Virgem, com os cabelos soltos, mas grávida, com o laço negro acima do ventre.

Na altura do ventre de Nossa Senhora, há uma flor – a única na imagem – com quatro pétalas, que é um símbolo fortíssimo para os astecas. Essa flor indica os quatro movimentos do sol. Representa que Maria está grávida do Menino Sol, daquele que é a Luz do Mundo, o Menino Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nossa Senhora está sobre o centro da lua que na língua indígena se dizia praticamente México. O pé que aparece indica, para os indígenas, o movimento de oração. Nossa Senhora reza sobre o México, sobre a lua. O pé aparecendo é, na iconografia cristã, símbolo de que Nossa Senhora está grávida.

O anjo que sustenta o manto da Senhora tem as feições de um índio. É um jovem guerreiro do exército do sol, que agora deverá ser soldado de Cristo. Representa Juan Diego e nele todo o povo. O anjo tem asas de águia, animal que pode fitar o sol diretamente. O nome de Juan Diego na língua indígena fazia referência a uma águia.

Eis alguns símbolos contidos na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe e que falaram claramente para os índios da época, trazendo-os a Cristo. No momento em que a Igreja perdia a metade de seus filhos na Europa em virtude da heresia e da revolta protestantes, Deus recebia em sua casa novos povos do novo mundo. Agradeçamos a Deus pela sua bondade infinita, pela sua inefável providência. Por nos ter permitido a chegada de colonizadores católicos em nossa pátria e em nosso continente, tirando-nos do tenebroso paganismo. Rezemos a Nossa Senhora de Guadalupe pelo Brasil, pelas Américas. O paganismo brutal que ela veio destruir com sua aparição na colina de Tepeyac está voltando, se é que já não voltou, sob nova forma. Os sacrifícios humanos estão voltando, no aborto, na eutanásia, no assassinato dos inocentes que vemos ocorrer no dia a dia de nossas cidades. Tudo isso fruto de uma sociedade sem s Cristo sem a Igreja.

Que Nossa Senhora nos traga novamente o Sol, que é Jesus Cristo.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] Os deveres dos brasileiros na devoção à Nossa Senhora Aparecida

Sermão para a Festa de Nossa Senhora Aparecida
12 de outubro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

ND-Aparecida-patrona-BrasiliaeCaros católicos, desde o seu descobrimento pelos portugueses, Maria, Mãe de Deus e nossa, é venerada no Brasil. Quis, porém, a divina providência, que dispõe todas as coisas com suavidade e força, segundo a sua sabedoria, que um episódio no Rio Paraíba, no interior do estado de São Paulo, incrementasse ainda mais essa devoção filial dos brasileiros por Nossa Senhora. Em 1717, três pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, pescavam, sem sucesso, havia longas horas. Eis, então, que João Alves lançou mais uma vez a rede e colheu, do fundo do Paraíba, o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em seguida, lançando mais abaixo novamente a rede, colhe a cabeça dessa mesma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Tendo guardado as duas partes da imagem com cuidado, continuaram a pesca, com grande sucesso, ao ponto de terem que parar para não naufragarem, tal a quantidade de peixes. Que esteja aí o dedo de Deus, não há muita dúvida. Maria Santíssima, por meio da veneração dessa imagem encontrada decapitada no fundo de um Rio, começou a conceder favores, graças, milagres aos que vinham venerá-la. Construiu-se um oratório. A devoção foi se espalhando na região e em todo o país. Cada vez mais pessoas recebiam os favores de Nossa Senhora da Conceição, que recebeu o nome de Aparecida, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. No ano de 1900 tiveram início as peregrinações diocesanas ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia 8 de setembro de 1904 a imagem veneranda foi coroada por ordem do Santo Padre, que era São Pio X. Estavam aí os representantes do clero, um grande número de fiéis e mesmo o presidente da república estava representado.  Foi, porém, somente em 1930, em 16 de julho, Festa de Nossa Senhora do Carmo, que o Papa Pio XI decretou Nossa Senhora Aparecida como padroeira principal de todo Brasil. Pouco tempo depois, em 31 de maio de 1931, O cardeal Leme consagrou o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, com as mesmas palavras que iremos utilizar após a Missa para entregar o Brasil nas mãos de Maria.

Nossa Senhora, sob o título de Aparecida, é, então, padroeira de nossa pátria. E, como padroeira, Maria Santíssima tem, se podemos assim dizer, certas obrigações para conosco. E nós temos nossas obrigações para com ela. Maria, como Padroeira do Brasil, intercede por ele, nos alcança graças, vigia sobre nosso povo, nossas famílias. Todavia, Nossa Senhora, não pode nos ajudar mais do que queremos ser ajudados. Precisamos, então, nós cumprir os nossos deveres de súditos de Maria Santíssima, para que ela possa nos procurar maiores favores, maiores graças, e a restauração de nosso país como uma sociedade católica, como é a sua vocação desde a providencial colonização portuguesa. Se em nosso país a derrocada ainda não foi completa (por exemplo, com a instauração de uma ditadura anticristã, ou com a aprovação plena do aborto), é unicamente em virtude da mão protetora de Nossa Senhora Aparecida. Apesar da infidelidade nossa, apesar da infidelidade da maior parte de nós brasileiros e dos nossos chefes, Nossa Senhora ainda tem nos preservado de males maiores. Nossa Senhora não deixa de cumprir, como Padroeira, aquilo que é o seu dever. Precisamos, também nós, caros católicos, cumprir nossos deveres para com a nossa padroeira. Se cumprirmos nossos deveres para com Maria, ela poderá nos ajudar realmente como quer, como deseja, nos conduzindo à santidade e ao céu.

Precisamos fazer a nossa parte, precisamos reconhecer Maria como padroeira da nossa pátria não somente em teoria, mas também na prática. Nosso primeiro dever é recorrer a ela, rezar a Nossa Senhora Aparecida, para que ela proteja o Brasil e para que faça que nosso caro país se submeta às leis de Cristo e da sua Igreja. Rezar, invocar Nossa Senhora Aparecida pelo país, mas também pelas famílias, pois um país não é um ente abstrato, mas é formado pelas famílias que o compõem, por nossas famílias. Peçamos a Nossa Senhora Aparecida, então, pelas famílias, pelas nossas famílias em primeiro lugar, e peçamos que ela reine sobre as famílias, juntamente com o Sagrado Coração de Jesus. Rezar pelas famílias, mas também pelos governantes. Não se enganar nem ofender a Deus, pensando que nem adianta rezar por tal ou tal governante. Não tenham dúvida, caros católicos, adianta e muito rezar pelos governantes, ainda que sejam os mais iníquos. Deus, se Ele quiser, pode amolecer qualquer coração, por mais endurecido que seja. É preciso também rezar pelo clero brasileiro, para que possa ensinar realmente a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que possa santificar as almas, para que posa governar o povo, dirigindo-o a Deus. Rezar pelo clero, pelas famílias, pelos governantes, pelo povo todo.

Nosso segundo dever, depois da oração, é procurar viver como dignos filhos de Maria Santíssima. Seremos dignos filhos dela se nos assemelharmos a ela, procurando imitar as suas virtudes no nosso estado de vida. Seremos dignos filhos de Maria se nos assemelharmos a Nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos, então, procurar honrar nossa padroeira e a mãe do Brasil, nos comportando em dignos filhos dela.

Nosso terceiro dever, caros católicos, é reconhecer, com grande gratidão, todos os bens que ela nos deu. Pela intercessão dela, temos recebido todos os bens das mãos de Deus. Todo bem que recebeu e recebe o Brasil vem por meio de Nossa Senhora.

Assim dispostos, quer dizer, invocando-a, procurando imitá-la e gratos, Maria Santíssima poderá nos ajudar com abundância ainda maior e livrar nosso país dos mais terríveis erros, que rejeitam Deus e suas leis santas. Procuremos ter uma verdadeira devoção a Nossa Senhora Aparecida, caros católicos.

Na hora em que começarmos a cair no desânimo ou na desesperança, recorramos a Nossa Senhora. Também os pescadores já estavam desanimados na sua longa e estéril pesca… até encontrar Maria. Devemos ir a Maria.

Glória a vós, Maria, que esmagais as heresias e o demônio: sede nossa bondosa guia. Glória a vós, refúgio dos pecadores, intercedei por nós junto ao Senhor. Glória a vós, Maria, Senhora do Brasil sob o Título de Nossa Senhora Aparecida, tende piedade de nós e conduzi esse vosso povo ao vosso Filho, Jesus Cristo.

É preciso rezar o Terço, caros católicos. Ele é a arma da nossa esperança.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] O Santo Rosário: arma de nossa esperança

Sermão para a Solenidade da Festa do Santo Rosário
5 de outubro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

“Que, meditando nos mistérios do Sacratíssimo Rosário da Santíssima Virgem, aprendamos a viver as lições que eles encerram, para alcançarmos as graças que prometem.” (Coleta da Missa)

Caros católicos, os tempos não são fáceis. Diante de tantas dificuldades e diante dos maiores absurdos contra a lei divina, natural e revelada, diante das afrontas a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Igreja, diante dos ataques constantes à família e às verdadeiras virtudes individuais e sociais, existe uma grande tentação de desespero ou de profundo desânimo da parte da alma católica. Dirigindo-se a Deus em um lamento, essa alma pode chegar ao excesso de dizer: “Meu Deus, é impossível ser um bom católico nesse mundo atual, é impossível educar bem, para a virtude, para o céu, os nossos filhos.” Diante de tantos males, essa é uma grande tentação.

Todavia, caros católicos, face a essa situação quase incompreensível para quem guarda um pouco de bom senso, é preciso manter a esperança. A esperança é uma das três virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade. São chamadas de virtudes teologais porque se referem diretamente a Deus. A fé se refere a Deus enquanto Ele é a verdade primeira, que não se engana nem nos engana, e à qual devemos aderir. A caridade se refere a Deus enquanto Ele é o Sumo Bem, que deve ser por nós amado em si mesmo. A esperança se refere a Deus enquanto Ele é a nossa bem-aventurança eterna. A esperança é a virtude sobrenatural infundida por Deus em nossas almas pela qual esperamos com confiança firmíssima que Deus nos dará a bem-aventurança eterna e os meios necessários para alcançá-la. Essa esperança é fundada na onipotência e na misericórdia divinas. E, claro, precisamos nós fazer a nossa parte, sendo fiéis às graças que Deus nos dá e procurando sermos católicos fiéis. Sem a esperança, ficaremos paralisados diante do triunfo aparente do mal.

Podemos e devemos, então, caros católicos, ter essa confiança firmíssima de que Deus nos dá os meios para alcançarmos o céu. Mesmo nas circunstâncias mais difíceis, mesmo nesse estado atual da sociedade, Deus nos dá os meios e meios abundantes para nos convertermos, para perseverarmos na graça. Podemos ter essa esperança firme porque Deus é onipotente e misericordioso. Se Ele é onipotente, Ele tem, efetivamente, os meios para nos ajudar. Se Ele é misericordioso, Ele quer realmente nos ajudar, nos tirando de nossas misérias. Não poderíamos esperar em alguém que pode nos ajudar, mas que não quer nos ajudar, assim como não podemos esperar em quem quer nos ajudar, mas que não tem os meios para isso. Mas devemos esperar em Deus que é onipotente e misericordioso. Ele pode e quer nos ajudar.

Deus Nosso Senhor quis que vivêssemos nessas circunstâncias em que nos encontramos atualmente. E mesmo nessas circunstâncias, Ele não nos abandona, Ele nos dá os meios para sermos bons católicos, para educarmos as crianças. Do contrário, precisaríamos afirmar que Deus é um Deus cruel, que nos colocou em situação na qual é impossível nos salvarmos. Um Deus que exige que sejamos santos, mas não nos dá os meios para tanto, seria um Deus cruel. Deus nos dá, mesmo nessa sociedade corrompida nos seus mais profundos fundamentos, meios abundantes para nossa santificação. Não devemos ceder ao desânimo, nem nos desesperar, nem nos exasperar. Devemos, isso sim, manter essa esperança sobrenatural e fazer a nossa parte, esforçando-nos para vivermos como bons católicos.

Para preservar essa esperança, é preciso, primeiramente, ter uma fé viva. A esperança é esperar da onipotência divina e da sua misericórdia o céu e os meios para alcançá-los. Para ter esperança em alguém, eu preciso, antes, acreditar nesse alguém. Antes de ter esperança, preciso ter uma fé viva. Uma fé viva não é um sentimento. Uma fé viva é aquela que, pela adesão às verdades reveladas, nos possibilita realmente ter uma visão sobrenatural das coisas, enxergá-las sempre a partir da eternidade. Não devemos reduzir – e seria erro grave fazê-lo – nossa vida a algo puramente natural, como se não contássemos com a ajuda de Deus ou como se nossa vida se limitasse a esse mundo. Devemos ver as coisas com espírito de fé, com espírito sobrenatural, sabendo que Deus governa todas as coisas, permitindo os males como castigo e para tirar deles um maior bem. É Deus quem governa todas as coisas, mesmo quando tudo parece perdido. Na Cruz, quando tudo parecia perdido, na visão ainda muito terrena dos apóstolos e da maioria dos discípulos, Nosso Senhor triunfava. Devemos saber que estamos nesse mundo para alcançar a vida eterna. Portanto, espírito de fé e visão sobrenatural das coisas. Não olhar as coisas com uma lupa e com uma visão humana, mas olhá-las a partir da visão divina, o que nos é possível pela fé e pela esperança.

Além da fé viva e da consequente visão sobrenatural das coisas, é preciso, para ter uma esperança sobrenatural, que procuremos, seriamente, exercer as virtudes, que procuremos seriamente amar a Deus, praticando os seus mandamentos. Não podemos esperar realmente de Deus se não fizermos a nossa parte. E, claro, é preciso oração. É preciso rezar sempre, nos diz Nosso Senhor.

Os meios de se preservar a esperança estão contidos no Santo Rosário, caros católicos. Os remédios para vencermos esses nossos tempos difíceis estão resumidos no Santo Rosário. O Papa Leão XIII, pontífice durante longos anos no final do século XIX e bem no início do século XX, costumava escrever no mês de outubro uma Encíclica sobre o Rosário. Ele o fazia porque entendia que era o Rosário remédio muito eficaz contra os males do tempo. E quais eram os males do tempo de Leão XIII? Exatamente os mesmos males que nós temos hoje. A diferença é que naquela época os males ainda estavam nas sementes, nos princípios. Hoje, nós vemos esses males nas suas consequências concretas e claras: o indiferentismo religioso, a Igreja em pé de igualdade com outras religiões, o relativismo moral, o laicismo. E não há dúvida, caros católicos, ao lado do Santo Sacrifício da Missa, ao lado dos sacramentos, a nossa grande arma é o Santo Rosário. O Santo Rosário é a arma da nossa esperança.

O Santo Rosário é a arma da nossa esperança, antes de tudo, porque ele é uma oração excelente. Excelente porque é composta das mais perfeitas orações, que são o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Credo. Excelente na sua origem porque nos foi dado por Nossa Senhora, há vários séculos, por meio de São Domingos, cuja relíquia está sobre o altar.

O Santo Rosário é a arma da Nossa Esperança porque ele nos traz uma fé viva e uma visão sobrenatural das coisas a partir da consideração dos mistérios da vida de Nosso Senhor e de Nossa Senhora.

O Santo Rosário é a arma da nossa esperança porque ele nos incita à virtude, nos fazendo meditar o exemplo perfeito de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, contido nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos.

O Santo Rosário é a arma da nossa esperança porque a história mostra a sua eficácia. Foi por ele que são Domingos converteu os hereges cátaros. Foi por ele que os católicos venceram, na batalha de Lepanto, o flagelo maometano, que ameaçava a cristandade.

O Santo Rosário é a arma de nossa esperança porque é a oração mais agradável a Nossa Senhora, nossa medianeira e nossa Mãe. Nossa Senhora não ficará surda ao terço bem rezado. E Nossa Senhora esmaga todas as heresias e todos os erros. Ela há de esmagar também os erros dos nossos tempos, se recorrermos a Ela pelo Santo Terço. Ela há de esmagar o modernismo, ela há de esmagar o laicismo, ela há de esmagar o relativismo.

É urgente, caros católicos, pegarmos esse objeto simples, de 59 contas e um crucifixo, e começarmos a rezar com confiança em Nossa Senhora e em Deus. É urgente e obrigação nossa rezar o Terço diariamente. Não adianta lamentar os males de nossa época, se não recitamos essa oração simples, mas eficaz, que é o Santo Terço. É urgente e necessário recitar o Terço diário, caros católicos, e procurar rezá-lo em família. Pai, mãe e filhos. Não é exortação piedosa piegas, caros católicos. É meio para se guardar a fé, a esperança e a caridade. É meio de perseverarmos no bem nesses tempos de calamidade religiosa e moral.

Aqueles que ainda não rezam o Santo Terço diariamente, aproveitem o mês de outubro, mês do rosário, instituído como tal justamente por Leão XIII, para tomar a resolução de recitar o Terço diariamente. Aqueles que já o rezam diariamente poderiam tentar, com generosidade, rezar o Rosário, que, tradicionalmente, são três Terços.

É preciso rezar o Terço, caros católicos. Ele é a arma da nossa esperança.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] O modernismo, a pior das heresias

Sermão para o XVI Domingo depois de Pentecostes
28 de setembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

Caros católicos, no último dia 3 de setembro, a Igreja comemorou a festa do Papa São Pio X. Giuseppe Sarto foi pároco de uma pequena cidade, Bispo de Mântua, cardeal Patriarca de Veneza e, finalmente, Papa, de 1903 a 1914. Nós estamos, então, no ano do centenário de seu falecimento. São Pio X foi um Papa Santo, que soube governar a Igreja com as virtudes de um verdadeiro chefe e pai. Dentre os melhores e mais importantes atos de São Pio X está o combate veemente que ele fez ao pernicioso erro do modernismo, que ele chamou de síntese de todas as heresias ou, segundo outras traduções, de esgoto coletor de todas as heresias. Esse erro que São Pio X combateu com tanta força resistiu ao tempo e triunfou mesmo no seio da Igreja, com tantos danos para as almas.

O modernismo, síntese de todas as heresias, destrói a religião católica, caros católicos. O modernismo se baseia em dois princípios da filosofia moderna: o agnosticismo e o imanentismo. O modernismo se baseia no agnosticismo. Isto significa que o modernismo nega que nós possamos conhecer a verdade objetiva tal como ela é. Não podemos conhecer as coisas tais como elas são, mas temos simplesmente impressões das coisas nos diz esse erro. Assim, também não podemos conhecer se Deus existe ou não. Deus não pode se revelar aos homens, nos dizendo verdades a crer ou coisas a fazer. Enfim, não temos acesso a Deus. Não podemos saber se Ele existe e Ele não pode se revelar a nós. Esse erro do agnosticismo é próprio da filosofia moderna, e tem seu início com Descartes, passando por Kant e outros filósofos modernos.

Essa impossibilidade de conhecer a realidade exterior – que a filosofia moderna afirma erroneamente – fecha o homem em si mesmo, no mundo das suas ideias. Assim, para o homem só tem valor o que sai dele mesmo, passa a ser verdade unicamente o que tem origem nele. Só serve para o homem o que emana dele mesmo. É o princípio da imanência. O modernismo nega, então, que a religião seja revelada por Deus aos homens e afirma que a religião vem do próprio homem, de um confuso sentimento religioso que está no homem. A religião não seria nada mais do que esse sentimento que está no homem. Os dogmas nada mais seriam do que a expressão imperfeita e sempre inadequada desse sentimento que está no homem. A doutrina católica nada mais seria do que uma invenção dos homens para satisfazer esse sentimento religioso. Mas, como o sentimento é algo que muda ao longo do tempo, seria preciso mudar também a doutrina católica, os dogmas, para adaptar tudo isso ao sentimento religioso que muda. Os dogmas devem evoluir. Se hoje, por exemplo, as pessoas já não aceitam mais a indissolubilidade do matrimônio, seria preciso mudar isso, para satisfazer o sentimento religioso das pessoas. Nós vemos, então, que o modernismo torna a religião algo puramente subjetivo, ao negar que nós podemos conhecer a existência de Deus, ao negar que Deus pode se revelar a nós e ao afirmar, em contrapartida, que só tem valor o que vem de nós. Cada um faz a sua própria religião, desde que se sinta bem na religião que fabricou ou escolheu. Assim, se a pessoa já não se sente bem na Igreja Católica porque ela quer se divorciar e casar novamente, ela passará para uma seita qualquer, onde pode fazer o que bem entende e se sentir bem com isso, achando que, se sentindo bem, estará em união com Deus. O homem toma o lugar de Deus e faz a sua própria religião, define as suas verdades. Tudo, no modernismo, deve ser voltado para o homem. A religião não é mais para aderir às verdades que Deus revelou e para amá-lo fazendo a vontade dEle. Não, a religião passa a ser simplesmente algo para satisfazer o homem, em função do homem. A religião passa a ser algo para fazer o homem se sentir bem e ela tem que se adaptar à mentalidade dos homens para que eles se sintam bem. É exatamente isso que nós vemos hoje em dia. Muitos querem adaptar a Igreja Católica à mentalidade moderna. Já não se aceita mais a noção de uma sociedade hierárquica: é preciso igualar sacerdotes e leigos. Esses últimos devem distribuir a comunhão, devem fazer as leituras, devem usar roupas de distinção, etc. Já não se aceita mais a diferença entre homem e mulher: é preciso que a mulher seja ordenada sacerdotisa. Já não se aceita mais a noção de sacrifício: é preciso tentar reduzir a Missa a uma mera ceia, a uma mera refeição. Já não se aceita mais o teocentrismo: é preciso colocar a liturgia em vernáculo, é preciso que o padre esteja virado para o povo. Já não se aceita mais a indissolubilidade do matrimônio: é preciso dar a comunhão aos católicos divorciados recasados. Já não se aceita mais a possibilidade do pecado: não é preciso mais confessar e o padre não deve falar sobre o pecado no sermão.  Já não se aceita mais a presença real de Cristo em corpo, sangue, alma e divindade nas espécies consagradas: é preciso dizer que se trata de uma presença simbólica. Já não se aceita mais um estado que confesse a religião católica: é preciso defender o estado laico. E assim por diante, caros católicos. Quantas consequências funestas do modernismo que nós vemos por toda parte mesmo nos meios católicos.

Além disso, caros católicos, é forçoso constatar que cada um tem um sentimento religioso distinto, de forma que alguns podem satisfazer esse sentimento religioso com o catolicismo, outros com o protestantismo, outros com o islamismo, outros com a umbanda, etc. E tudo o que satisfaz o sentimento religioso é verdadeiro. Consequentemente, todas essas religiões ou doutrinas são verdadeiras, na medida em que satisfazem o sentimento religioso de uma pessoa ou de um grupo. Esse entendimento da fé como sentimento, entendimento que é próprio do modernismo, leva à mais completa indiferença religiosa: todas as religiões passam a se equivaler, todas as religiões são boas, pois há pessoas que se sentem bem nelas. Quantas vezes ouvimos: o importante é a pessoa se sentir bem. O importante não é a pessoa se sentir bem. Se sentir bem ou mal não tem muita importância. O importante é a pessoa fazer o bem, seguindo a vontade de Deus, cumprindo os mandamentos. Nosso Senhor, no Jardim das Oliveiras, ao dizer que sua alma estava triste até à morte, não estava se sentindo bem, caros católicos. Mas fazia a vontade de Deus. Na cruz, Nosso Senhor, ao dizer “Meu Deus, Meu Deus por que me abandonaste?”, não estava se sentindo bem, mas estava fazendo um grande bem, Ele estava fazendo a vontade de Deus para nos redimir.

O quanto o modernismo e suas consequências são opostas à realidade das coisas deve estar muito claro para todos nós. O modernismo, baseando-se na filosofia moderna, destrói tudo. Não sobra pedra sobre pedra, como vimos. Vejamos a verdade das coisas, baseada na sã filosofia e na doutrina católica. Que Deus existe, caros católicos, nós podemos conhecer pela nossa razão. Aristóteles, filósofo pagão, já havia provado a existência de Deus. Do nada, nada se faz. Do caos ou do acaso não pode vir a ordem. Do menor ou do menos perfeito não pode vir o maior ou o mais perfeito. É preciso um ser que criou tudo o que existe e que não foi criado. Com coisas tão perfeitas na natureza e com tanta ordem, é preciso uma inteligência que pensou e executou tudo quanto existe. É irracional negar ou duvidar da existência de Deus. Como nos diz a Sagrada Escritura: dixit insipens in corde suo, non est Deus (disse o tolo em seu coração, Deus não existe). É preciso realmente ser tolo ou estar cego pelas paixões desordenadas para não chegar à conclusão de que Deus existe. Deus existe e sendo um ser inteligente e onipotente, Ele pode se comunicar a nós, Ele pode se revelar a nós. E nós, sendo também seres inteligentes, podemos receber a revelação divina e podemos ser elevados por ela. E nossa razão nos mostra que se Deus nos fala, devemos aderir de modo absoluto, com certeza absoluta e sem nenhuma dúvida, porque Deus não pode se enganar nem nos enganar. E Ele, de fato, se revelou a nós. Deus nos falou e enviou seu próprio Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos mostra sua missão divina ao longo de todo o Evangelho, com obras divinas, com ensinamentos divinos. Nosso Senhor nos falou e Ele fundou sua Igreja, sobre Pedro, para perpetuar até a consumação dos séculos a sua obra redentora, para guardar intactos os seus ensinamentos. É a Igreja católica. Não somos nós, caros católicos, que criamos a religião, segundo nossos gostos. É Deus que no-la dá. Foi Deus que se dignou em obra de infinita misericórdia nos falar de si mesmo. A nós cabe agradecer a Deus tão imensa bondade e aderir de toda a nossa alma e de todo o nosso coração a Ele que é imutável e que nos comunicou verdades imutáveis. Não podemos mudar aquilo que nos foi dado por Cristo. Não podemos mudar o credo, não podemos mudar a doutrina da Igreja, a moral da Igreja, não podemos mudar a constituição da Igreja. Não podemos querer adaptar a Igreja ao mundo, mas devemos querer converter o mundo à Igreja.

O Papa São Pio X, de quem comemoramos o centenário de nascimento para o céu nesse ano de 2014, em sua Carta chamada Notre Charge Apostolique, dirigida aos Bispos franceses, a respeito de um movimento chamado Sillon afirmou: “os verdadeiros amigos do povo não são os revolucionários nem os inovadores, mas os tradicionalistas.”

Tradição não quer dizer, porém, imobilismo completo. A Tradição da Igreja compreende diferentes aspectos. Alguns podem mudar outros não. O depósito da fé, os ensinamentos infalíveis de fé e moral não podem ser mudados. Aquilo que foi revelado aos apóstolos por Cristo ou pelo Espírito Santo e que se transmite de geração em geração não pode ser mudado. Essa tradição chama-se tradição divina. Ela não pode ser mudada. Existe também a tradição eclesiástica, que são todas as coisas que não são intrínsecas ao depósito da fé, mas que são o patrimônio e a herança das gerações precedentes transmitidas para as gerações subsequentes pela Igreja. Na tradição eclesiástica pode haver certas mudanças. Não se exclui a aceitação de mudanças legítimas naquelas partes da tradição que podem mudar. Na medida em que uma mudança não é uma novidade, na medida em que a mudança é feita por quem tem autoridade para fazê-la, na medida em que não se rejeita a legitimidade do que veio antes e na medida em que a mudança é realmente necessária, a mudança pode ser possível e legítima. Em algumas coisas a tradição pode ser mudada em outras não. Nos aspectos em que a tradição eclesiástica pode ser mudada, a mudança deve ser baseada na própria natureza desse aspecto da tradição. Por exemplo, os ritos litúrgicos só podem ser mudados quando as mudanças são realmente orgânicas, sem rupturas, sem fabricações artificiais, e quando as mudanças servem para expressar mais perfeitamente a fé e quando a composição das orações expressa melhor a intenção da Igreja e quando as orações são tornadas, desse modo, mais eficazes (para estudo mais completo sobre o assunto, ver Topics on Tradition, do Padre Chad Ripperger). Assim, podemos citar como exemplo de mudança bem feita a introdução na idade média da elevação das espécies logo após a consagração, para expressar mais perfeitamente a fé na presença real e substancial de Cristo. Uma mudança na liturgia não pode destruir todo

o edifício litúrgico desenvolvido sabiamente ao longo dos séculos, nem amenizar a profissão de fé, diminuindo, por exemplo, os gestos que confessam a presença de Cristo na Eucaristia, diminuindo as genuflexões do padre, diminuindo o cuidado com as partículas consagradas, etc. Coisa que, infelizmente, aconteceu com a liturgia nos últimos 40 anos. Enfim, nenhuma parte da tradição deve ser mudada, exceto quando a mudança favorece realmente o crescimento na fé daqueles que são os destinatários da tradição e quando essa mudança está de acordo com a natureza daquilo que vai ser mudado. A fé é o princípio constante que deve sempre guiar qualquer mudança nesses aspectos passíveis de mudança na tradição. Se a mudança diminui a expressão da fé ou se ela diminui a fé dos membros da Igreja, não será uma mudança boa.

Diante de tal grave erro, que é o modernismo – a pior das heresias – devemos ter uma fé sólida, profunda, viva. Devemos com alegria aderir à revelação de Deus, que nos falou pelos profetas e por seu próprio Filho. Devemos ter uma fé viva, que age pela caridade, pelo amor a Deus e ao próximo. Para ter essa fé, devemos, antes de tudo, pedi-la a Deus. Devemos ter uma vida séria de oração e devemos buscar conhecer, segundo nosso estado e nossa condição, a doutrina da Igreja. Devemos também ter um amor profundo pela tradição eclesiástica, por essas coisas que se foram formando ao longo dos séculos a partir do conhecimento profundo que a Igreja tem de nossa natureza humana e da doutrina de Cristo. Como diz São Paulo: “que Cristo habite pela fé em nossos corações, para que, fundados na caridade possamos compreender a latitude e a longitude, a altura e a profundidade do amor de Cristo para conosco.”

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Aviso] Missa nessa segunda-feira: Dedicação de São Miguel Arcanjo, Festa de 1ª Classe

 


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FESTA DA DEDICAÇÃO DE SÃO MIGUEL ARCANJO

Missa Cantata

29 de setembro de 2014, às 19h30,

na Capela Nossa Senhora das Dores


“A Festa que nós celebramos hoje não é simplesmente a Festa de São Miguel Arcanjo, mas é a Festa da Dedicação de São Miguel Arcanjo. Que dedicação é essa? Originalmente, se trata, provavelmente, da dedicação a São Miguel Arcanjo, feita nos primeiros séculos, nos subúrbios de Roma, de uma Igreja que ficava próxima à Via Salaria. Esse é, talvez, o significado original da Festa. Todavia, ela significa, hoje, a dedicação da Igreja Católica a São Miguel Arcanjo, que é, então, defensor da Santa Igreja. (…) São Miguel é como o anjo da guarda da Santa Madre Igreja, como o foi do povo judeu. E como anjo da guarda ele defende a Igreja constantemente dos males e perigos. Ele combate os demônios para que não façam tanto dano quanto gostariam de fazer. Ele favorece e inspira boas decisões aos membros da hierarquia. Ele oferece a Deus nossas orações: no momento da incensação no ofertório se invoca especificamente a intercessão de São Miguel Arcanjo.” Sermão do Pe. Daniel na festa da dedicação de São Miguel, 2013)

[Sermão] A correção fraterna e os erros opostos

Sermão para o XV Domingo depois de Pentecostes
21 de setembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

“Irmãos, se algum homem for surpreendido em algum delito, vós, que sois espirituais, admoestai-o com espírito de mansidão e considerando a si mesmo, para que não caia também em tentação.”

Na Epístola de hoje, caros católicos, São Paulo nos fala da correção fraterna. A correção fraterna é obra de misericórdia espiritual, é ato de caridade. Como sabemos, a caridade não é amar o outro de maneira sentimental ou simplesmente concordar com tudo o que a outra pessoa faz porque ela se sente bem ao fazê-lo. Continuar lendo