[Sermão] Os deveres dos brasileiros na devoção à Nossa Senhora Aparecida

Sermão para a Festa de Nossa Senhora Aparecida
12 de outubro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

ND-Aparecida-patrona-BrasiliaeCaros católicos, desde o seu descobrimento pelos portugueses, Maria, Mãe de Deus e nossa, é venerada no Brasil. Quis, porém, a divina providência, que dispõe todas as coisas com suavidade e força, segundo a sua sabedoria, que um episódio no Rio Paraíba, no interior do estado de São Paulo, incrementasse ainda mais essa devoção filial dos brasileiros por Nossa Senhora. Em 1717, três pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, pescavam, sem sucesso, havia longas horas. Eis, então, que João Alves lançou mais uma vez a rede e colheu, do fundo do Paraíba, o corpo de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Em seguida, lançando mais abaixo novamente a rede, colhe a cabeça dessa mesma imagem de Nossa Senhora da Conceição. Tendo guardado as duas partes da imagem com cuidado, continuaram a pesca, com grande sucesso, ao ponto de terem que parar para não naufragarem, tal a quantidade de peixes. Que esteja aí o dedo de Deus, não há muita dúvida. Maria Santíssima, por meio da veneração dessa imagem encontrada decapitada no fundo de um Rio, começou a conceder favores, graças, milagres aos que vinham venerá-la. Construiu-se um oratório. A devoção foi se espalhando na região e em todo o país. Cada vez mais pessoas recebiam os favores de Nossa Senhora da Conceição, que recebeu o nome de Aparecida, Nossa Senhora da Conceição Aparecida. No ano de 1900 tiveram início as peregrinações diocesanas ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida. No dia 8 de setembro de 1904 a imagem veneranda foi coroada por ordem do Santo Padre, que era São Pio X. Estavam aí os representantes do clero, um grande número de fiéis e mesmo o presidente da república estava representado.  Foi, porém, somente em 1930, em 16 de julho, Festa de Nossa Senhora do Carmo, que o Papa Pio XI decretou Nossa Senhora Aparecida como padroeira principal de todo Brasil. Pouco tempo depois, em 31 de maio de 1931, O cardeal Leme consagrou o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, com as mesmas palavras que iremos utilizar após a Missa para entregar o Brasil nas mãos de Maria.

Nossa Senhora, sob o título de Aparecida, é, então, padroeira de nossa pátria. E, como padroeira, Maria Santíssima tem, se podemos assim dizer, certas obrigações para conosco. E nós temos nossas obrigações para com ela. Maria, como Padroeira do Brasil, intercede por ele, nos alcança graças, vigia sobre nosso povo, nossas famílias. Todavia, Nossa Senhora, não pode nos ajudar mais do que queremos ser ajudados. Precisamos, então, nós cumprir os nossos deveres de súditos de Maria Santíssima, para que ela possa nos procurar maiores favores, maiores graças, e a restauração de nosso país como uma sociedade católica, como é a sua vocação desde a providencial colonização portuguesa. Se em nosso país a derrocada ainda não foi completa (por exemplo, com a instauração de uma ditadura anticristã, ou com a aprovação plena do aborto), é unicamente em virtude da mão protetora de Nossa Senhora Aparecida. Apesar da infidelidade nossa, apesar da infidelidade da maior parte de nós brasileiros e dos nossos chefes, Nossa Senhora ainda tem nos preservado de males maiores. Nossa Senhora não deixa de cumprir, como Padroeira, aquilo que é o seu dever. Precisamos, também nós, caros católicos, cumprir nossos deveres para com a nossa padroeira. Se cumprirmos nossos deveres para com Maria, ela poderá nos ajudar realmente como quer, como deseja, nos conduzindo à santidade e ao céu.

Precisamos fazer a nossa parte, precisamos reconhecer Maria como padroeira da nossa pátria não somente em teoria, mas também na prática. Nosso primeiro dever é recorrer a ela, rezar a Nossa Senhora Aparecida, para que ela proteja o Brasil e para que faça que nosso caro país se submeta às leis de Cristo e da sua Igreja. Rezar, invocar Nossa Senhora Aparecida pelo país, mas também pelas famílias, pois um país não é um ente abstrato, mas é formado pelas famílias que o compõem, por nossas famílias. Peçamos a Nossa Senhora Aparecida, então, pelas famílias, pelas nossas famílias em primeiro lugar, e peçamos que ela reine sobre as famílias, juntamente com o Sagrado Coração de Jesus. Rezar pelas famílias, mas também pelos governantes. Não se enganar nem ofender a Deus, pensando que nem adianta rezar por tal ou tal governante. Não tenham dúvida, caros católicos, adianta e muito rezar pelos governantes, ainda que sejam os mais iníquos. Deus, se Ele quiser, pode amolecer qualquer coração, por mais endurecido que seja. É preciso também rezar pelo clero brasileiro, para que possa ensinar realmente a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que possa santificar as almas, para que posa governar o povo, dirigindo-o a Deus. Rezar pelo clero, pelas famílias, pelos governantes, pelo povo todo.

Nosso segundo dever, depois da oração, é procurar viver como dignos filhos de Maria Santíssima. Seremos dignos filhos dela se nos assemelharmos a ela, procurando imitar as suas virtudes no nosso estado de vida. Seremos dignos filhos de Maria se nos assemelharmos a Nosso Senhor Jesus Cristo. Devemos, então, procurar honrar nossa padroeira e a mãe do Brasil, nos comportando em dignos filhos dela.

Nosso terceiro dever, caros católicos, é reconhecer, com grande gratidão, todos os bens que ela nos deu. Pela intercessão dela, temos recebido todos os bens das mãos de Deus. Todo bem que recebeu e recebe o Brasil vem por meio de Nossa Senhora.

Assim dispostos, quer dizer, invocando-a, procurando imitá-la e gratos, Maria Santíssima poderá nos ajudar com abundância ainda maior e livrar nosso país dos mais terríveis erros, que rejeitam Deus e suas leis santas. Procuremos ter uma verdadeira devoção a Nossa Senhora Aparecida, caros católicos.

Na hora em que começarmos a cair no desânimo ou na desesperança, recorramos a Nossa Senhora. Também os pescadores já estavam desanimados na sua longa e estéril pesca… até encontrar Maria. Devemos ir a Maria.

Glória a vós, Maria, que esmagais as heresias e o demônio: sede nossa bondosa guia. Glória a vós, refúgio dos pecadores, intercedei por nós junto ao Senhor. Glória a vós, Maria, Senhora do Brasil sob o Título de Nossa Senhora Aparecida, tende piedade de nós e conduzi esse vosso povo ao vosso Filho, Jesus Cristo.

É preciso rezar o Terço, caros católicos. Ele é a arma da nossa esperança.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] O Santo Rosário: arma de nossa esperança

Sermão para a Solenidade da Festa do Santo Rosário
5 de outubro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

“Que, meditando nos mistérios do Sacratíssimo Rosário da Santíssima Virgem, aprendamos a viver as lições que eles encerram, para alcançarmos as graças que prometem.” (Coleta da Missa)

Caros católicos, os tempos não são fáceis. Diante de tantas dificuldades e diante dos maiores absurdos contra a lei divina, natural e revelada, diante das afrontas a Nosso Senhor Jesus Cristo e a sua Igreja, diante dos ataques constantes à família e às verdadeiras virtudes individuais e sociais, existe uma grande tentação de desespero ou de profundo desânimo da parte da alma católica. Dirigindo-se a Deus em um lamento, essa alma pode chegar ao excesso de dizer: “Meu Deus, é impossível ser um bom católico nesse mundo atual, é impossível educar bem, para a virtude, para o céu, os nossos filhos.” Diante de tantos males, essa é uma grande tentação.

Todavia, caros católicos, face a essa situação quase incompreensível para quem guarda um pouco de bom senso, é preciso manter a esperança. A esperança é uma das três virtudes teologais, ao lado da fé e da caridade. São chamadas de virtudes teologais porque se referem diretamente a Deus. A fé se refere a Deus enquanto Ele é a verdade primeira, que não se engana nem nos engana, e à qual devemos aderir. A caridade se refere a Deus enquanto Ele é o Sumo Bem, que deve ser por nós amado em si mesmo. A esperança se refere a Deus enquanto Ele é a nossa bem-aventurança eterna. A esperança é a virtude sobrenatural infundida por Deus em nossas almas pela qual esperamos com confiança firmíssima que Deus nos dará a bem-aventurança eterna e os meios necessários para alcançá-la. Essa esperança é fundada na onipotência e na misericórdia divinas. E, claro, precisamos nós fazer a nossa parte, sendo fiéis às graças que Deus nos dá e procurando sermos católicos fiéis. Sem a esperança, ficaremos paralisados diante do triunfo aparente do mal.

Podemos e devemos, então, caros católicos, ter essa confiança firmíssima de que Deus nos dá os meios para alcançarmos o céu. Mesmo nas circunstâncias mais difíceis, mesmo nesse estado atual da sociedade, Deus nos dá os meios e meios abundantes para nos convertermos, para perseverarmos na graça. Podemos ter essa esperança firme porque Deus é onipotente e misericordioso. Se Ele é onipotente, Ele tem, efetivamente, os meios para nos ajudar. Se Ele é misericordioso, Ele quer realmente nos ajudar, nos tirando de nossas misérias. Não poderíamos esperar em alguém que pode nos ajudar, mas que não quer nos ajudar, assim como não podemos esperar em quem quer nos ajudar, mas que não tem os meios para isso. Mas devemos esperar em Deus que é onipotente e misericordioso. Ele pode e quer nos ajudar.

Deus Nosso Senhor quis que vivêssemos nessas circunstâncias em que nos encontramos atualmente. E mesmo nessas circunstâncias, Ele não nos abandona, Ele nos dá os meios para sermos bons católicos, para educarmos as crianças. Do contrário, precisaríamos afirmar que Deus é um Deus cruel, que nos colocou em situação na qual é impossível nos salvarmos. Um Deus que exige que sejamos santos, mas não nos dá os meios para tanto, seria um Deus cruel. Deus nos dá, mesmo nessa sociedade corrompida nos seus mais profundos fundamentos, meios abundantes para nossa santificação. Não devemos ceder ao desânimo, nem nos desesperar, nem nos exasperar. Devemos, isso sim, manter essa esperança sobrenatural e fazer a nossa parte, esforçando-nos para vivermos como bons católicos.

Para preservar essa esperança, é preciso, primeiramente, ter uma fé viva. A esperança é esperar da onipotência divina e da sua misericórdia o céu e os meios para alcançá-los. Para ter esperança em alguém, eu preciso, antes, acreditar nesse alguém. Antes de ter esperança, preciso ter uma fé viva. Uma fé viva não é um sentimento. Uma fé viva é aquela que, pela adesão às verdades reveladas, nos possibilita realmente ter uma visão sobrenatural das coisas, enxergá-las sempre a partir da eternidade. Não devemos reduzir – e seria erro grave fazê-lo – nossa vida a algo puramente natural, como se não contássemos com a ajuda de Deus ou como se nossa vida se limitasse a esse mundo. Devemos ver as coisas com espírito de fé, com espírito sobrenatural, sabendo que Deus governa todas as coisas, permitindo os males como castigo e para tirar deles um maior bem. É Deus quem governa todas as coisas, mesmo quando tudo parece perdido. Na Cruz, quando tudo parecia perdido, na visão ainda muito terrena dos apóstolos e da maioria dos discípulos, Nosso Senhor triunfava. Devemos saber que estamos nesse mundo para alcançar a vida eterna. Portanto, espírito de fé e visão sobrenatural das coisas. Não olhar as coisas com uma lupa e com uma visão humana, mas olhá-las a partir da visão divina, o que nos é possível pela fé e pela esperança.

Além da fé viva e da consequente visão sobrenatural das coisas, é preciso, para ter uma esperança sobrenatural, que procuremos, seriamente, exercer as virtudes, que procuremos seriamente amar a Deus, praticando os seus mandamentos. Não podemos esperar realmente de Deus se não fizermos a nossa parte. E, claro, é preciso oração. É preciso rezar sempre, nos diz Nosso Senhor.

Os meios de se preservar a esperança estão contidos no Santo Rosário, caros católicos. Os remédios para vencermos esses nossos tempos difíceis estão resumidos no Santo Rosário. O Papa Leão XIII, pontífice durante longos anos no final do século XIX e bem no início do século XX, costumava escrever no mês de outubro uma Encíclica sobre o Rosário. Ele o fazia porque entendia que era o Rosário remédio muito eficaz contra os males do tempo. E quais eram os males do tempo de Leão XIII? Exatamente os mesmos males que nós temos hoje. A diferença é que naquela época os males ainda estavam nas sementes, nos princípios. Hoje, nós vemos esses males nas suas consequências concretas e claras: o indiferentismo religioso, a Igreja em pé de igualdade com outras religiões, o relativismo moral, o laicismo. E não há dúvida, caros católicos, ao lado do Santo Sacrifício da Missa, ao lado dos sacramentos, a nossa grande arma é o Santo Rosário. O Santo Rosário é a arma da nossa esperança.

O Santo Rosário é a arma da nossa esperança, antes de tudo, porque ele é uma oração excelente. Excelente porque é composta das mais perfeitas orações, que são o Pai-Nosso, a Ave-Maria e o Credo. Excelente na sua origem porque nos foi dado por Nossa Senhora, há vários séculos, por meio de São Domingos, cuja relíquia está sobre o altar.

O Santo Rosário é a arma da Nossa Esperança porque ele nos traz uma fé viva e uma visão sobrenatural das coisas a partir da consideração dos mistérios da vida de Nosso Senhor e de Nossa Senhora.

O Santo Rosário é a arma da nossa esperança porque ele nos incita à virtude, nos fazendo meditar o exemplo perfeito de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, contido nos mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos.

O Santo Rosário é a arma da nossa esperança porque a história mostra a sua eficácia. Foi por ele que são Domingos converteu os hereges cátaros. Foi por ele que os católicos venceram, na batalha de Lepanto, o flagelo maometano, que ameaçava a cristandade.

O Santo Rosário é a arma de nossa esperança porque é a oração mais agradável a Nossa Senhora, nossa medianeira e nossa Mãe. Nossa Senhora não ficará surda ao terço bem rezado. E Nossa Senhora esmaga todas as heresias e todos os erros. Ela há de esmagar também os erros dos nossos tempos, se recorrermos a Ela pelo Santo Terço. Ela há de esmagar o modernismo, ela há de esmagar o laicismo, ela há de esmagar o relativismo.

É urgente, caros católicos, pegarmos esse objeto simples, de 59 contas e um crucifixo, e começarmos a rezar com confiança em Nossa Senhora e em Deus. É urgente e obrigação nossa rezar o Terço diariamente. Não adianta lamentar os males de nossa época, se não recitamos essa oração simples, mas eficaz, que é o Santo Terço. É urgente e necessário recitar o Terço diário, caros católicos, e procurar rezá-lo em família. Pai, mãe e filhos. Não é exortação piedosa piegas, caros católicos. É meio para se guardar a fé, a esperança e a caridade. É meio de perseverarmos no bem nesses tempos de calamidade religiosa e moral.

Aqueles que ainda não rezam o Santo Terço diariamente, aproveitem o mês de outubro, mês do rosário, instituído como tal justamente por Leão XIII, para tomar a resolução de recitar o Terço diariamente. Aqueles que já o rezam diariamente poderiam tentar, com generosidade, rezar o Rosário, que, tradicionalmente, são três Terços.

É preciso rezar o Terço, caros católicos. Ele é a arma da nossa esperança.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Oração] Meditações para a Via Sacra

Prezados leitores, salve Maria! A pedido do Pe. Daniel publicamos abaixo (e disponibilizamos para download) as meditações da Sexta-Feira Santa (2014) para a Via Sacra .

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1ª Estação

Jesus é condenado à morte

Nosso Senhor está no Pretório de Pilatos. Eis o Homem. Ecce homo. Eis aqui o homem por excelência, o Homem em quem Deus colocou todas as suas complacências. Mas ele é o homem por excelência porque ele é também Deus. E essa a causa de seus sofrimentos: Ele afirmou a verdade de sua divindade, mas os seus não o receberam. Vós sois, meu Jesus, o verbo de Deus feito carne, vindo para satisfazer perfeitamente a Deus por nossos pecados, ofensas infinitas feitas a Deus. Vós viestes para satisfazer, é evidente, mas sobretudo para nos mostrar Vosso amor, capaz de suportar os maiores sofrimentos, físicos e morais, e de suportá-los para o nosso bem, para nossa salvação. Deus amou tanto o mundo que nos deu seu próprio Filho, nos diz São João. Percorramos, então, o caminho da Cruz de Jesus Cristo, mas não o percorramos como os fariseus ou os chefes dos sacerdotes, com verdadeira malícia. Não sigamos o exemplo de Pôncio Pilatos, que por fraqueza e frouxidão entregou Cristo a seus carrascos. E se nós não podemos seguir o exemplo da Imaculada Virgem Maria, que se uniu perfeitamente aos sofrimentos de seu Filho, tornando-se corredentora, sigamos o exemplo do bom ladrão e das santas mulheres, que reconhecendo seus pecados e a bondade e misericórdia divinas, converteram-se inteiramente a NS. Dai-nos, Senhor, a verdadeira detestação de nossos pecados e uma grande dor por tê-los cometido. Dai-nos, Senhor, o firme propósito de evitar de agora em diante todo pecado. Dai-nos a graça de vos amar de toda a nossa alma, com todas as nossas forças.

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2ª Estação

Jesus levando a cruz às costas

Ah, meu Jesus, vós transmitistes vossa doutrina celestial não só pelas palavras, mas também pelo exemplo. Vós dissestes: “se alguém quer vir após mim, que ele renuncie a si mesmo, que ele carregue a sua cruz e que me siga.” E sois vós o primeiro a carregar a Cruz, a Cruz mais pesada que pode existir.

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Novena em honra de Nossa Senhora das Dores: do dia 2 ao dia 10 de abril

Abaixo, o Sermão para o Domingo Laetare: O católico e as diversões

Nossa Senhora das Dores Novena para a Comemoração de Nossa Senhora das Dores

 (Dia 11 de abril, sexta-feira depois do 1º Domingo da Paixão)

Do dia 2 de abril ao dia 10 de abril

 

“ Jesus prometeu graças extraordinárias aos devotos das dores de Maria.”

Santo Afonso Maria de Ligório, Glórias de Maria, p. 367. Continuar lendo

[Oração] Novena a São Geraldo Majela e Oração para Nossa Senhora do Parto para as grávidas.

                 É muito eficaz a novena a São Geraldo Majela, para obter a proteção divina durante a gestação, para mãe e bebê.

             Novena a São Geraldo Majela

Deus Todo-Poderoso e Eterno, que, pela operação do Espírito Santo, preparou o corpo e a alma da gloriosa Virgem Maria, Mãe de Deus, para ser uma morada digna de vosso Filho e que, pelo mesmo Espírito Santo, santificou São João Batista antes de seu nascimento, recebei a oração de vossa humilde serva que vos suplica, pela intercessão de São Geraldo, vosso fidelíssimo servo, a proteção nos perigos da maternidade e a defesa, contra o espírito maligno, do fruto que dignastes dar-lhe, a fim de que por vossa mão que socorre e salva, ele possa receber o santo batismo.

Fazei também que a mãe e a criança possam, depois de uma vida cristã, chegar ambos à vida eterna. Amém.

Pai Nosso, Ave-Maria, Glória.

Nossa Senhora do Parto 2

Oração para Nossa Senhora do Parto, presente na Basílica de Santo Agostinho, em Roma.

Santa Mãe de Deus, Virgem do Divino Parto, colocamo-nos aos vossos pés para cantar os vossos louvores. Vós sois a filha predileta do Pai, a Mãe do Verbo Encarnado, o Templo do Espírito Santo. Vós sois a Virgem escolhida desde toda a eternidade para cooperar com a obra da nossa salvação: alcançai para nós, de Vosso Filho, Jesus, uma fé forte, uma esperança sólida e uma caridade generosa.

Virgem Mãe, nós vos confiamos todas as mães que vos suplicam pela integridade de seus filhos e por um parto feliz, a fim de que a vida que portam em seu seio seja preservada de todo perigo. Concedei-lhes a graça de voltar aos vossos pés com a criança, para agradecer ao Senhor, que faz maravilhas aos que se entregam a Ele com confiança.

Ó, Virgem do Parto, guardai e defendei, todas as crianças com o vosso amor, para que, regeneradas do pecado pela água do batismo e inseridas na Santa Madre Igreja, cresçam serenamente, cheias de virtude, a fim de se tornarem testemunhas corajosas de vosso Filho, Jesus, e de perseverarem no caminho da santidade pela graça do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Virgem do Divino Parto, rogai por nós.

Meditações de Santo Afonso de Ligório para a Novena de Natal – 3º Dia

Meditações de Santo Afonso de Ligório para a Novena de Natal (iii)

3º Dia – 18 de dezembro

Parvulus natus est nobis, et Filius datus est nobis.

Nasceu-nos um Menino e foi-nos dado um Filho (Is 9,3).

                         Image

Considera que após tantos séculos, após tantos suspiros e preces, o divino Messias, que os patriarcas e os profetas não tiveram a felicidade de ver, o Desejado das nações, o Desejo das colinas eternas, numa palavra, nosso Salvador veio enfim, nasceu, e deu-se todo a nós: Nasceu-nos um Menino, foi-nos dado um Filho…

O Filho de Deus se fez pequeno para nos fazer grandes; deu-se a nós, a fim de que nos demos a Ele; veio mostrar-nos seu amor a fim de que o correspondamos com o nosso. Rece­bamo-lo pois com afeto, amemo-lo e recorramos a Ele em to­das as nossas necessidades.

As crianças, diz S. Bernardo, dão facilmente o que se lhes pede. Jesus veio sob a forma duma criança para manifestar a sua disposição de comunicar-nos seus bens. Ora, nele estão todos os tesouros. Seu Pai celeste colocou tudo em suas mãos. Desejamos luzes? Ele veio precisamente para iluminar-nos. Desejamos mais força para resistir aos inimigos? Ele veio para fortalecer-nos. Desejamos o perdão das nossas faltas e a salvação? Ele veio para perdoar-nos e salvar-nos. Enfim dese­jamos o soberano dom do amor divino? Ele veio justamente para inflamar nossos corações, e para isso é que ele se fez Menino: se ele quis mostrar-se aos nossos olhos num estado tão pobre e tão humilde, e por isso mesmo mais amável, foi para tirar-nos todo o temor e ganhar o nosso amor. Além disso, Jesus quis nascer como criança para que o amemos não so­mente sobre tudo, mas também com amor terno. Todas as cri­anças sabem conquistar a afeição terna de quem as vê; ora, quem não amará com toda a ternura a um Deus, vendo-o feito Menino, necessitado de leite, tremendo de frio, pobre, desprezado e abandonado, que chora sobre a palha numa manjedoura? Por Isso S. Francisco inflamado de amor exclamava: Ame­mos o Menino de Belém, amemos o Menino de Belém. Vinde , ó almas, vinde e amai o meu Deus feito Menino, feito pobre; que é tão amável e que desceu do céu para dar-se todo a vós.

Afetos e Súplicas

Ó meu amável Jesus, por mim tão desprezado, descestes do céu para resgatar-me do inferno e dar-vos todo a mim, e como pude desprezar-vos tantas vezes e voltar-vos as costas? Ó Deus, os homens são tão gratos às criaturas; se alguém lhes faz algum benefício, se de longe lhes fazem uma visita, se lhes mostram sinal de afeto, não podem esquecer-se disso e sen­tem-se obrigados a pagar-lhes. E são tão ingratos para convosco, que sois o seu Deus cheio de amabilidade, e que por amor deles não recusastes dar o sangue e a vida. — Mas ah! eu tenho sido pior do que todos, pois que, apesar de me terdes amado, eu vos tenho sido mais ingrato. Ah! se tivésseis concedido a um herege, a um idolatra, as graças com que me favoreceste, ele se teria santificado; e eu, eu vos ofendi! Se­nhor, dignai-vos esquecer as injúrias que vos fiz. Vós dissestes que, quando um pecador se arrepende, esqueceis todos os ultrajes que dele recebestes. Se no passado eu vos não amei, no futuro não quero fazer outra coisa senão amar-vos. Vós vos destes todo a mim; eu vos consagro toda a minha vontade, e assim vos amo, vos amo, vos amo, e quero repetir sem cessar; amo-vos, amo-vos; e quero dizer sempre a mesma coisa en­quanto viver, e quero exalar o último suspiro tendo nos lábios a doce palavra:- Meu Deus, eu vos amo! — para começar depois, ao entrar na outra vida, a amar-vos sem interrupção, com um amor sem fim, com amor eterno. Aguardando essa ventura, ó meu Deus, meu único Bem, meu único Amor, estou resolvido a preferir a vossa vontade a todas as minhas satisfações. Venha o mundo inteiro, eu o repilo; não quero cessar de amar Aquele que tanto me amou; já não quero desgostar Aquele que merece amor infinito. Meu Jesus, secundai o meu desejo e a minha resolução com a vossa graça.

Maria, minha Rainha, reconheço que por vossa intercessão tenho recebido todas as graças que Deus me tem concedi­do; não cesseis de interceder por mim; obtende-me a perseverança, vós que sois a Mãe da perseverança

Meditações de Santo Afonso de Ligório para a Novena de Natal – 2º Dia

Meditações de Santo Afonso de Ligório para a Novena de Natal (II)

2º Dia – 17 de dezembro

Seria conveniente fazer a meditação em família e rezar o Santo Terço em seguida.

 Hostiam et oblationem noluisti; corpus autem aptasti mihi.

Não quisestes hóstia nem oblação, mas me formastes um corpo (Hb 10,5). Continuar lendo

[Sermão] Dia de Finados

Sermão para o dia de Finados

02.11.2013 – Padre Daniel Pinheiro

Sermão de Finados de 2012: Rezar pelos fiéis defuntos e converter-nos a Cristo

Morte

Cripta de ossos dos capuchinhos em Roma

AUDIO: Sermão para a Missa de Finados – COmemoração de Todos os fiéis defuntos 2.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

“Requiem aeternam dona eis, Domine, et lux perpetua luceat eis.”

Nesse dia da comemoração dos fiéis defuntos, a Igreja quer que nos voltemos para a as almas do purgatório, para que possamos, por meio de nossas súplicas, aliviar essas almas que sofrem enormemente pelo adiamento da visão beatífica. As almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram completamente sobre a terra a pena devida por seus pecados já perdoados, encontram-se em grande sofrimento no purgatório. No pecado, há a culpa e a pena. A culpa é perdoada na confissão, se se trata de um pecado mortal, ou também fora da confissão, se se trata de um pecado venial. Mas, além da culpa, há a pena pelo pecado. Mesmo depois de perdoado o pecado, é preciso expiar por ele, satisfazer pelo pecado, para que a ordem lesada pelo pecado seja restabelecida. No purgatório, encontram-se, então, as almas que morreram em pecado venial ou que não expiaram inteiramente as suas penas.  O sofrimento no purgatório advém primeiramente do adiamento da visão beatífica, como dissemos. As almas do purgatório sabem que ainda não vêem Deus face a face somente por culpa delas, pela negligência em se desapegar dos pecados veniais quando estavam aqui na terra, pela negligência em reparar pelos pecados de que já tinham sido perdoadas. Sofrem também com uma pena sensível, com um fogo semelhante ao do inferno. A diferença com o inferno é justamente que essas penas são passageiras e a alma que está no purgatório sabe disso. Ao mesmo tempo, então, que é grande o seu sofrimento, grande é o seu consolo, pela certeza de poder chegar ao céu. O purgatório é fruto da justiça divina que exige satisfação pelos nossos pecados. Mas o purgatório é também fruto da misericórdia divina, pois sem essa purificação não poderíamos ver Deus face a face, já que Ele não pode admitir diante de si uma alma que tenha relíquias do pecado. Portanto, só podemos ser admitidos diante de Deus depois de expiar todas as penas devidas pelas nossas faltas. Sem o purgatório só iriam ao céu os que morreram sem nenhum pecado venial e que expiaram, aqui na terra, por todas as suas culpas, o que é raro. Assim, o purgatório é fruto também da misericórdia divina.

É um dever do cristão ajudar essas almas na medida do possível. Esse dever pode ser um dever de justiça, se alguém se encontra no purgatório por nossa culpa, por exemplo, devido aos nossos escândalos ou à nossa cooperação em um pecado. Ele é um dever de piedade filial quando se trata de parentes. Pode ser um dever de gratidão quando se trata de alguém que nos fez bem. Ou pode ser um dever de caridade, que nos faz desejar e agir para o bem do nosso próximo. Portanto, devemos rezar constantemente pelas almas dos fiéis defuntos, em particular pelos nossos parentes já falecidos e por aqueles que, eventualmente, lá estão por nossa culpa. E, claro, o melhor meio de fazê-lo é encomendando Missas e aplicando-lhes as indulgências que podem ser aplicadas a eles. Uma indulgência plenária aplicada a uma alma do purgatório a leva diretamente ao céu, pois a indulgência plenária serve justamente como satisfação de todas as penas. Ao se fazer a obra prescrita na indulgência, nas condições prescritas, os méritos de Cristo, de Nossa Senhora e dos Santos são aplicados à alma, satisfazendo pela sua pena. Nas indulgências, a Igreja aplica os tesouros que lhe pertencem para satisfazer a pena pelos pecados já perdoados. A indulgência não perdoa um pecado, ela não perdoa a culpa do pecado. Isso só com o arrependimento e, se for pecado mortal, é preciso também a confissão. A indulgência paga a pena. Portanto, para lucrar uma indulgência, é preciso já ter os pecados perdoados. Não se trata de comprar o céu, mas de chegar mais rapidamente a ele, pela prática de uma boa obra, como visitar uma Igreja, um cemitério, fazer certas orações, etc. Muito importante, então, ajudar as almas do purgatório, pelas Missas, pelas indulgências, mas também pelas orações no dia-a-dia, etc…

A Igreja, na Missa de Requiem , na Missa de Defuntos, nos dá algumas lições para esse dia de finados. Nas cerimônias das Missas de Defuntos, ela está mais preocupada com as almas dos fiéis defuntos do que com os vivos. Assim, o salmo 42, recitado ao pé do altar é omitido. Esse salmo diz que nossa alma não deve estar triste. Todavia, como na Missa de Defuntos temos razão de possuir uma certa tristeza, a Igreja omite esse salmo. Em seguida, quando o Padre recita o Introito na Missa de Réquiem, ele faz o sinal da cruz sobre o Missal e não sobre si mesmo, como que abençoando os fiéis defuntos, para o alívio deles. A Igreja omite também o Gloria Patri no Intróito e no lavabo. Também o Gloria in Excelsis Deo é omitido, bem como o aleluia. Antes do Evangelho o Padre não recita a oração que pede para si mesmo a bênção, pois a leitura do Evangelho, que é um sacramental que nos perdoa as faltas veniais, se estamos arrependidos, e pode nos perdoar também as penas, deve beneficiar aqui somente aos fiéis defuntos. Pela mesma razão, ao fim do Evangelho, o Padre não beija o livro e não pede que nossas faltas sejam perdoadas. Não o faz porque tudo isso deve ser aplicado em benefício das almas do purgatório. Na hora do ofertório, o Padre não faz o sinal da cruz para abençoar a água, pois a água aqui significa os fiéis vivos, sobre quem a Igreja ainda tem jurisdição. E como a Missa está sendo oferecida pelo repouso das almas dos fiéis defuntos, ela omite essa bênção da água. No Agnus Dei, não pedimos a misericórdia e a paz para nós, para pedirmos o descanso para as almas do purgatório. A primeira oração depois do Agnus Dei, que é também um pedido de paz, é omitida nas Missas de Réquiem, pois pedimos a paz para eles e não para nós. No final, não se diz o Ite Missa est, mas Requiescant in Pace, outro um pedido para que os fiéis defuntos descansem em paz. Não há a bênção final, pois, assim como no Introito, a bênção, na Missa de Réquiem, deve ser para eles e não para nós. E hoje, depois da Missa, faremos a benção sobre a essa, essa espécie de caixão vazio e que representa todos os fiéis defuntos. E durante a Missa, quantas vezes a Igreja clama: réquiem aeternam dona eis domine. Dai-lhes senhor, o descanso eterno.

Imitemos a Santa Igreja e, no dia de hoje e na próxima semana, reforcemos as nossas orações pelos fiéis defuntos, sobretudo nossos familiares.

Se podemos fazer bem aos fiéis defuntos, eles também podem nos fazer algum bem. Em particular, eles nos ajudam lembrando-nos o fim de todos nós nessa vida, que é a morte. Do túmulo eles nos dizem: hodie mihi, cras vobis. Hoje, a morte é para mim. Amanhã, será para vocês. Eles nos lembram que a morte há de chegar, e por mais que ela tarde, ela chega rapidamente, em 70, 80, 90 anos. Eles nos alertam também ao dizer: hic iacet pulvis, cinis, nihil, aqui jaz pó, cinza, nada. É tudo o que temos nesse mundo: pó, cinza, nada.

Tumba de Antônio Barberini na Igreja dos Capuchinhos em Roma

Tumba de Antônio Barberini na Igreja dos Capuchinhos em Roma

A única coisa que não passa é a morte em estado de graça ou em pecado mortal. Todo o resto será devorado pelo tempo. Portanto, ao rezar pelos mortos, lembremo-nos de que nós também vamos morrer e que não sabemos o dia de nossa morte. Precisamos sempre estar preparados. Não deixar nossa conversão para mais tarde em nossas vidas, não deixar para o ano que vem ou para o mês que vem ou para amanhã. Não, precisamos estar preparados agora. São dois os momentos mais importantes da nossa vida, em que pedimos para que Nossa Senhora reze por nós: agora e na hora de nossa morte. É preciso que a gente considere sempre que o agora pode ser a hora de nossa morte.

Nesse dia, devemos fazer o bem às almas dos fiéis defuntos e convertermo-nos a Deus.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] O culto dos santos, das relíquias e imagens

Sermão para a Solenidade Externa da Festa de Todos os Santos

3.11.2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para a Solenidade de Todos os Santos 3.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Fazemos hoje a Solenidade externa da Festa de Todos os Santos, celebrada no dia 1º de novembro.

Altar das Relíquias

Altar das Relíquias

“Laudate Dominum in sanctis ejus.” Louvai o Senhor em seus santos, nos diz o Salmo 150 na Vulgata. Esse versículo da Sagrada Escritura descreve com precisão a natureza da veneração prestada aos santos pelos católicos, desde os primeiros séculos. Ao venerar os santos glorificamos a Deus, louvamos a Deus em seus santos. Veremos porque é possível cultuar os santos, os benefícios que derivam do culto dos santos, de suas imagens e relíquias.

É bem conhecida a objeção dos protestantes ao culto prestado aos santos. E, em geral, quanto mais ignorante um protestante, mais virulento será seu ataque ao culto dos santos. A heresia protestante diz que o culto dos santos não pode se realizar em virtude de três objeções, basicamente. A primeira delas consiste em afirmar que o culto dos santos se contrapõe ao fato de que NSJC é o único mediador. São Paulo na sua 1ª Epístola a Timóteo afirma: “há um só Deus e só há um mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, que se deu a si mesmo para redenção de todos.” Não resta dúvida de que São Paulo estabelece NS como o único mediador. Ele faz isso nos versículos 5 e 6 do capítulo 2. Nos versículos precedentes, ele escreve a Timóteo: “Eu te rogo, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, petições, ações de graças por todos os homens.” Em seguida, diz: “Isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e que cheguem a ter o conhecimento da verdade.” São Paulo recomenda a Timóteo que interceda por todos e diz que isso é agradável diante de Deus. Estaria São Paulo em contradição, ordenando a Timóteo que reze pelos outros ao mesmo tempo em que diz que só há um mediador. É claro que não. Nosso Senhor é o único mediador de redenção, Ele é o único que nos redime e nos salva. Isso não impede que haja mediadores de intercessão, que com suas orações pedem para que Cristo nos aplique a sua redenção. Portanto, NS é o único mediador de redenção, mas ele estabeleceu mediadores de intercessão subordinados a Ele.

É possível, então, haver mediadores de intercessão sem que NS deixe de ser o único mediador de redenção. Mas os protestantes dizem – e é a segunda objeção – que os santos no céu não tomam conhecimento de nossas orações, não podendo, assim, nos ajudar. Isso é falso. É claro que os santos conhecem as nossas orações, pois podem ver tudo em Deus, no Verbo de Deus, ainda que nossas orações sejam meramente internas, sem nada exterior. Os santos no céu têm uma caridade perfeita, inflamada, um amor perfeito por Deus e pelo próximo. Eles querem o bem do próximo e querem agir para o bem do próximo. Seria um contrassenso se no momento em que mais são movidos pela caridade, se no momento em que mais querem e podem ajudar o próximo, os santos não pudessem auxiliar aqueles que mais precisam, que somos nós. Portanto, os santos no céu, ao verem Deus face a face, conhecem também os nossos pedidos e nos ajudam, movidos pela caridade perfeita que possuem.

Finalmente, dizem os protestantes que Deus é tão bom que não precisa de intercessores para nos dar o que necessitamos. Estritamente falando, é óbvio que não haveria necessidade absoluta de intercessores. Todavia, Deus é tão bom que quis que tivéssemos intercessores e modelos, para o nosso próprio bem, para que pudéssemos pedir as coisas com maior confiança, sabendo que somos representados por pessoas que agradam mais a Deus do que nós, pobres pecadores. Diz Santo Agostinho que Deus deixa de conceder muitas coisas, se não houver a intervenção de um mediador e advogado digno. Vemos isso na Sagrada Escritura com os amigos de Jó (Jó XLII, 8) e com Abimelec (XX, 17). Deus só perdoou os pecados dos primeiros pela intercessão de Jó e só perdoou a Abimelec pela intercessão de Abraão. Vale também destacar que Cristo enalteceu a fé do centurião com grandes elogios, apesar de o homem ter enviado ao Salvador os anciãos dos Judeus, em vez de ir pessoalmente, para que pedissem ao Senhor a cura de um servo doente (Lc VII, 2-10). E fez isso por acreditar que o pedido vindo dos anciãos dos Judeus seria mais agradável do que o seu pedido feito diretamente. Recorrer aos santos não é falta de fé. Deus é tão bom que faz os santos cooperarem de modo especial na salvação das almas pela intercessão deles. Assim, a intercessão dos santos em nada diminui a bondade divina, mas a manifesta ainda mais perfeitamente.

A invocação dos santos é lícita e boa. Ela está incluída no culto de dulia que é devido aos santos e que consiste em reconhecer internamente e externamente a excelência dos santos com relação às virtudes sobrenaturais, com relação à união íntima deles com Deus. Esse reconhecimento vai acompanhado de certa submissão a eles. Não se trata, portanto, de culto de latria, que é devido somente a Deus. Ao venerarmos os santos, louvamos e veneramos a obra de Deus neles, louvamos a graça divina que atuou de modo particular e excelente neles. Ao elogiar a obra de um artista, elogiamos também e principalmente o artista que é causa da obra. Ao venerar os santos, louvamos verdadeiramente a Deus em seus santos, como nos diz o salmo.

Veneramos os santos louvando suas excelências, celebrando as festas deles, fazendo obras de caridade ou de mortificação em honra deles, expondo e venerando as imagens e relíquias deles. Veneramos os santos também imitando os exemplos deles. E como eles são imitadores de Cristo, ao imitar os santos, imitamos Cristo. É o que diz são Paulo (1 Cor XI, 1): “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.” Mas para imitá-los é preciso ler as vidas de santos. O exemplo deles nos faz muito bem, pois são, de fato, o Evangelho colocado em prática por pessoas como nós. A vida dos santos não é só para ser admirada, mas para ser imitada. Não imitada naquilo que tem de extraordinário, milagres, etc., mas no essencial, na conversão a Deus. E veneramos os santos recorrendo à intercessão deles.

Vimos que entre os meios de honrar os santos está a veneração de imagens e relíquias. Relíquia quer dizer resto. As relíquias são, então, um pedaço do corpo de um santo (relíquia de primeira classe) ou algum objeto que lhe pertenceu (relíquia de segunda classe) ou ainda alguma coisa que tocou uma relíquia de primeira classe (e teremos uma relíquia de terceira classe). Ao venerar as relíquias de um santo veneramos, antes de tudo, a pessoa do santo e também aquele corpo que foi templo do Espírito Santo e membro vivo de Cristo, o corpo que junto com a alma praticou tantas virtudes, o corpo que vai ressurgir glorioso um dia. Vemos na Sagrada Escritura como a fímbria do vestido de NS opera prodígios (Mc VI, 54-56), vemos a sombra de São Pedro curar os doentes (At V, 12-16) e vemos lenços e aventais tocados por São Paulo afugentar os espíritos malignos e curar doenças (At XIX, 11 e 12) . Grande deve ser a nossa veneração pelas relíquias dos santos, imitadores de NS, relíquias que nos remetem aos santos e que são também sacramentais.

As imagens dos santos também podem e devem ser veneradas. “As imagens de Cristo, da Santíssima Virgem e de outros Santos, se devem ter e conservar especialmente nos templos e se lhes deve tributar a devida honra e veneração, não porque se creia que há nelas alguma divindade ou virtude pelas quais devam ser honradas, nem porque se lhes deva pedir alguma coisa ou depositar nelas alguma confiança, como outrora os gentios, que punham suas esperanças nos ídolos (cfr. Sl 134, 15 ss), mas porque a veneração tributada às Imagens se refere aos protótipos que elas representam, de sorte que nas Imagens que osculamos, e diante das quais nos descobrimos e ajoelhamos, adoremos a Cristo e veneremos os Santos, representados nas Imagens.” Assim ensina o Concílio de Trento. A proibição de fazer imagens no AT não é mais válida, pois o risco de idolatria que existia para os judeus, rodeados de pagãos idólatras, adoradores de imagens, já não existe. E mesmo no Antigo Testamento, vemos Deus abrir algumas exceções para a proibição das imagens, pois ele ordena que se façam querubins na arca da aliança e manda que Moisés faça uma serpente de bronze, prefiguração de Cristo crucificado, para que os judeus não perecem pelas picadas das serpentes no deserto. Portanto o culto às imagens se dirige ao original.

O culto aos santos, às relíquias e imagens está de pleno acordo com a obra da salvação e com nossa natureza humana. Nós vivemos em sociedade, a Igreja é uma sociedade instituída por Cristo. Nada mais natural que uns membros da sociedade prestem auxílio a outros, nada mais natural que os membros da Igreja triunfante, no céu, socorram os membros da Igreja militante, que somos nós. Nada mais natural que peçamos a ajuda deles. Pela nossa natureza, somos corpo e alma. Nós precisamos de coisas sensíveis que ajudem a nossa inteligência e a nossa vontade a se elevarem às coisas espirituais. Assim, os sacramentos são sinais sensíveis da graça, as cerimônias da Igreja são sensíveis, a Igreja é uma sociedade visível com um chefe visível, etc. As imagens e relíquias nos ajudam muitíssimo a manter a nossa concentração, a considerar o exemplo e as virtudes de Cristo, de Nossa Senhora, dos Santos. Tirar as imagens das igrejas prejudica a vida de oração, diminui o apelo aos santos, nos privando de muitas graças. Dessa forma, a vaga iconoclasta que atingiu muitas das nossas igrejas nas últimas décadas, prejudica a oração do povo. O que corrobora tudo isso é o fato de o próprio Deus ter se encarnado. Nossa religião não é uma religião de anjos, mas uma religião fundada por Deus para nós homens, feitos de corpo e alma. As duas coisas devem estar unidas e devidamente ordenadas, sendo a alma a principal parte de nosso ser.

 O culto aos santos, de tradição apostólica, nos faz venerar os santos como amigos de Deus, nos faz venerar os santos pelos dons que receberam de Deus. O culto dos santos nos traz grandes benefícios, pois nos ajudam a obter graças que sozinhos não conseguiríamos e nos dão um exemplo e vida em conformidade com Cristo. Grandes benefícios nos trazem também o culto das relíquias e das imagens.

Recorramos aos santos e peçamos a eles que nos ajudem a alcançar o céu onde já se encontram. Laudate Dominum in sanctis eius. Louvai o Senhor em seus santos.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A importância das rubricas na liturgia

Missal Rubricas

Sermão para o 21º Domingo depois de Pentecostes

13.10.2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para o 21º Domingo depois de Pentecostes Importância das Rubricas 13.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

“Todas as coisas dependem, Senhor, da vossa vontade e nada há que possa lhe resistir.” (Intróito)

Já tratamos, caros católicos, de alguns aspectos da Missa no Rito Romano Tradicional. Já tratamos do latim na liturgia, já tratamos da orientação do Padre, voltado para Deus e não para o povo, já tratamos do silêncio. E vimos a importância fundamental de todas essas coisas. Consideraremos, hoje, os benefícios, para nós e para a Igreja, que advêm das rubricas precisas e bem determinadas do Rito Romano Tradicional.

Antes de tudo, precisamos compreender o que são as rubricas. Nos livros litúrgicos nós encontramos textos em duas cores. Existem textos em preto e textos em vermelho. Os textos em preto são aquelas coisas que o sacerdote deve falar – em voz alta ou baixa, mas que deve falar. Os textos em vermelho descrevem e explicam o que o Padre deve fazer. As coisas em vermelho são as regras litúrgicas. Da cor vermelha vem o nome de rubrica, que vem de rubro, vermelho. No Rito Tradicional, as rubricas são bem precisas, bem determinadas. São raríssimas as opções no Rito Romano Tradicional. Portanto, a Igreja, assistida pelo Espírito Santo e, sobretudo, por meio de Papas santos – como São Leão Magno, São Gregório Magno, São Pio V – estabeleceu, ao longo dos séculos e baseada no que recebeu de NS e dos apóstolos, com precisão como deveria ser o Rito da Missa. Os senhores, frequentando a Missa Tradicional há um certo tempo, já perceberam que variações são praticamente inexistentes.

É comum ouvirmos críticas com relação à liturgia tradicional afirmando que se trata de uma liturgia engessada, sem espontaneidade, sempre a mesma coisa… Essa determinação precisa dos ritos e cerimônias, caros católicos, é, ao contrário, fundamental e é um grande bem. Primeiramente, as rubricas precisas formadas ao longo dos séculos pelo Espírito Santo, como falamos, deixam claro que é Deus que determina como ele deve ser cultuado. Não somos nós que decidimos como Deus deve ser cultuado, não somos nós que decidimos em um escritório como deve ser o rito da Missa ou que decidimos pelo improviso como Deus deve ser cultuado. Se nós consideramos a Sagrada Escritura, no livro do Levítico nós vemos as inúmeras e precisas regras estabelecidas por Deus de como ele deveria ser cultuado. Ora, se Deus fez isso com os sacrifícios e ritos que eram mera prefiguração do sacrifício perfeito de Nosso Senhor Jesus Cristo, convinha muitíssimo que Ele estabelecesse regras precisas de como deve ser cultuado na nova e eterna aliança. Deus, infinitamente sábio, conhece a fraqueza humana e sabe que, deixando o culto ao arbítrio do homem, grandes abominações serão feitas. Portanto, as rubricas bem determinadas nos dizem que é Deus que estabelece como Ele deve ser cultuado, é Ele que determina o que o agrada. Não somos nós que determinamos como Deus deve ser cultuado.

Em seguida, as rubricas precisas, como consequência óbvia do que acabamos de dizer, deixam claro que a liturgia é teocêntrica, o centro é Deus e não nós, os homens. As rubricas bem determinadas manifestam que a liturgia é algo voltado para Deus e não para o homem. Se pudéssemos determinar como Deus deve ser cultuado, no fundo seríamos nós o centro da liturgia, pois escolheríamos o modo de cultuar Deus que mais nos agrada. A liturgia se tornaria algo para nos agradar e não para agradar a Deus. Assim, as rubricas bem precisas nos mostram que é Deus que determina como Ele deve ser cultuado e nos mostra que o centro da liturgia é Deus, que a finalidade da liturgia é agradar a Deus e não a nós mesmos. Se queremos chegar ao céu, devemos agradar a Deus e não a nós mesmos. O rito bem determinado, com rubricas precisas, nos dá essa grande lição. Achar que estamos agradando a Deus, quando agradamos a nós mesmos, é um dos grandes erros dos nossos tempos.

As rubricas bem determinadas tiram, então, a liturgia do nosso controle e domínio. Não somos nós que determinamos como deve ser a liturgia, mas Deus. O fato de não termos controle e domínio sobre a liturgia nos mostra que ela está acima de nós, que é algo sagrado. Aquilo sobre o que eu tenho controle e domínio é inferior a mim. Ao contrário, aquilo que é determinado independentemente da minha vontade por Deus, é superior a mim, é sagrado. As rubricas bem determinadas nos inspiram, portanto, grande respeito e veneração pela liturgia, porque nos fazem compreender que a liturgia é algo sagrado. E diante do sagrado, do mistério, nossa inteligência não se cansa, apesar da repetição. Ao contrário, a repetição que surge das rubricas bem determinadas e da falta de opções nos permite compreender cada vez mais profundamente o mistério e nos unir melhor a NSJC. Se a cada Missa houver uma novidade, nossa atenção vai se voltar para essa novidade e não para o essencial do que está ocorrendo e nossa compreensão do mistério permanecerá sempre superficial. Procuraremos a novidade que agrada aos sentidos e não a profundidade que nos une a Deus. Ao mesmo tempo, essa repetição dos ritos permite ao sacerdote se concentrar cada vez mais no mistério que ele realiza e, portanto, permite ao sacerdote rezar a Missa cada vez com maior devoção, gerando mais frutos para as almas. A repetição é um grande bem na liturgia.

As rubricas precisas trazem consigo outros grandes benefícios espirituais. O primeiro benefício espiritual é uma grande paz. Uma grande paz para o sacerdote e uma grande paz para os fiéis. Só estamos verdadeiramente em paz, quando sabemos que estamos fazendo a vontade de Deus. A paz não é um sentimento, mas é a consequência de sabermos que estamos fazendo a vontade de Deus, que estamos fazendo aquilo que agrada ao Senhor, ainda que em meio aos maiores tormentos e combates. Ora, com o rito bem determinado pela Igreja ao longo dos séculos, sem as inúmeras opções, estamos certos de estarmos fazendo a vontade de Deus, de estarmos agradando a Deus, cultuando-o conforme Ele quer. Isso deve nos trazer uma grande paz. Com as rubricas precisas, estamos seguros de que fazemos a vontade de Deus. Isso traz uma grande paz para o Padre, em particular, porque ele não tem que se preocupar com o que ele vai escolher para agradar mais aos fiéis, ou para adaptar melhor a liturgia. O Padre não tem que se preocupar em escolher o rito penitencial 1, 2 ou 3. O Padre não tem que se preocupar em escolher tal ou tal prefácio. O Padre não tem que se preocupar em escolher tal ou tal Oração Eucarística. Não, tudo já está determinado, ele pode ficar absolutamente tranquilo de estar agradando a Deus e fazendo o bem para os fiéis. Isso dá na verdade uma grande liberdade ao Padre, pois não fica preso ao seu gosto, ao gosto dos fiéis, ao gosto da pastoral disso ou daquilo. Despreocupado de escolher entre as diversas opções, o Padre pode esquecer a si mesmo, para agir como outro Cristo realmente, e isso traz grandes benefícios para ele e para os fiéis.

As rubricas bem determinadas são também uma mortificação, uma negação de si mesmo, pois nos impedem de controlar a liturgia e nos ensinam a conformidade com a vontade de Deus. Quando controlamos algo tiramos disso uma satisfação. Controlar a liturgia ou determiná-la conforme a nossa preferência nos daria uma satisfação desordenada, pois estaríamos submetendo um bem espiritual aos nossos sentimentos. As rubricas bem determinadas impedem que um grupo imponha a sua espiritualidade ou falta de espiritualidade aos outros fiéis. As rubricas impedem as Missas carismáticas, as Missas das crianças, a Missa disso e daquilo. As rubricas deixam claro também que a liturgia não deve ser basear na personalidade do sacerdote. Hoje é muito comum ouvirmos: gosto da Missa do Padre tal, gosto da Missa daquele outro Padre. Isso é um sinal de que os Padres fazem a Missa corresponder à vontade deles. Tem algo gravemente errado nisso. A Missa é da Igreja e não do Padre tal ou tal.

Colocando Deus no centro, fazendo-nos cumprir a vontade de Deus, fazendo com que neguemos a nós mesmos, as rubricas precisas favorecem também a virtude da obediência. Ora, se na Missa, na liturgia, que é o que há de mais importante, eu posso fazer as coisas conforme a minha vontade, porque terei que obedecer em outras coisas menos importantes? As rubricas são indispensáveis para que haja a virtude da obediência, a prontidão em se obedecer às legítimas ordens dos superiores.

São inúmeros, caros católicos, os benefícios trazidos pelas rubricas precisas do Rito Romano Tradicional. Digo do Rito Romano Tradicional porque, infelizmente, a liturgia reformada em 1969 possui rubricas, sim, mas são tantas as opções permitidas pelas rubricas, que, no fim das contas, o princípio por trás das novas rubricas é praticamente faça como quiser. Pode-se escolher entre tantos ritos iniciais, posso escolher entre tantos ritos penitenciais, posso escolher entre tantas orações universais, posso escolher entre tantas orações eucarísticas… No fundo, é praticamente como se fosse dito, faça como quiser. E a psicologia humana funciona dessa forma. Acostumados a fazermos sempre as nossas vontades nas coisas lícitas, passaremos facilmente a fazer as coisas ilícitas. É regra de ouro na vida espiritual mortificar-se mesmo nas coisas lícitas para evitar mais facilmente as ilícitas. Quem faz sempre a própria vontade nas coisas lícitas, passará facilmente às ilícitas. Assim, das inúmeras opções permitidas pelas rubricas se passou rapidamente aos abusos, pois as inúmeras opções favorecem a nossa vontade própria e dão a impressão de que a liturgia é obra nossa e não de Deus, colocando-nos no centro. Além disso, tantas opções tiram a paz do sacerdote e dos fiéis, tiram o foco do sacrifício que se oferece no altar para nos focar nas opções, nas novidades. Daí, dessa grande liberdade nas rubricas, entre outras razões, o caos litúrgico que vivemos hoje, com tantos e tantos abusos, muitos deles graves.

O Livro dos Reis nos relata um exemplo interessante de abuso litúrgico. Heli era o sumo sacerdote naqueles tempos e ele tinha dois filhos que a Sagrada Escritura chama de filhos de Belial, dada a impiedade deles nos sacrifícios. Esses filhos de Heli pegavam indevidamente para si parte dos sacrifícios que os israelitas ofereciam, pegavam para si indevidamente a carnes dos animais oferecidos. Ou seja, colocavam-se no centro, no lugar de Deus. Grandes foram as consequências desses abusos dos filhos de Heli. A primeira dessas consequências que o povo se afastou dos sacrifícios, a segunda foi a morte dos filhos de Heli e a terceira foi a derrota de Israel para os filisteus e a conquista da Arca da Aliança pelos filisteus. E tão graves consequências por abusos nos sacrifícios que eram tão somente prefigurações do sacrifício imaculado de Cristo. Os abusos litúrgicos na Missa têm consequências semelhantes, caros católicos: eles afastam o povo devoto do sacrifício (até porque ninguém é obrigado a assistir a uma Missa em que ocorrem abusos litúrgicos sérios), fazendo que o povo perca o respeito pelo sacrifício, pelo que há de mais sagrado. Em seguida, os abusos litúrgicos prejudicam gravemente o povo, matando muitas almas espiritualmente, a começar pela alma do próprio sacerdote que o comete conscientemente. Finalmente, os abusos litúrgicos abrem largamente o flanco para que os inimigos da Igreja alcancem vitórias sobre ela e a humilhem. A negligência no que há de mais sagrado tem consequências gravíssimas e prejudica a salvação das almas. Tendo isso em vista, a Igreja sempre considerou que o sacerdote que não cumpre voluntariamente uma rubrica comete um pecado. Um pecado venial, se é uma rubrica sem maior importância, ou um pecado mortal, se é uma rubrica importante.

As rubricas bem precisas e bem determinadas da liturgia tradicional são um grande bem e um grande auxílio para a nossa vida espiritual e para a Santa Igreja. Elas são como as muralhas de um castelo, defendendo o tesouro da liturgia, do nosso maior tesouro.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.