[Sermão] Nossa Senhora de Guadalupe: a mensagem contida na imagem

Sermão para a Festa de Nossa Senhora de Guadalupe
12 de dezembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

O ano é 1531. Os missionários espanhóis encontram bastante dificuldade para evangelizar o povo asteca que habitava a região onde hoje está o México. Podemos atribuir essa dificuldade à influência enorme do demônio nesse povo. Em 1487, por exemplo, em torno de quarenta anos antes da aparição de Nossa Senhora de Guadalupe, houve a consagração do principal templo pagão. Durante 4 dias, 80 mil pessoas foram sacrificadas, em ritos brutais e macabros. Ao longo de cada ano, com essa religião, 50 mil pessoas eram sacrificadas. Sacrifícios humanos. Era essa a cultura dos indígenas. Dado um culto tão profundamente demoníaco, era difícil converter as almas.

Para amolecer esses corações tão endurecidos, Nosso Senhor não teve alternativa. Permitiu que sua Mãe, nossa Mãe, Maria, aparecesse. E com essa aparição as almas finalmente se voltaram a Deus. No dia 9 de dezembro, primeiro dia da oitava da festa da Imaculada Conceição, aquele pobre índio, convertido a Jesus Cristo, atravessava a colina de Tepeyac às 5:30 da manhã, para assistir à Santa Missa para receber o catecismo e cuidar dos seus negócios. Era um índio convertido que ia à Missa, às 5:30 da manhã a pé, atravessando uma colina. Nessa colina, tinham existido anteriormente três templos dedicados à deusa Tonantzin, considerada pelos pagãos astecas mãe dos deuses e dos astecas. Os templos tinham sido demolidos por Cortés. Lá apareceu a verdadeira Mãe de Deus, do único Deus Uno e Trino, dizendo a Juan Diego que ela pedia ao Bispo a construção de uma igreja católica naquele lugar. O índio relata ao Bispo todo o ocorrido. O Bispo age com prudência, sem dar muito crédito, inicialmente.

BishopJuanDiego-370x300É somente com a quarta aparição no dia 12 de dezembro que o bispo se convence da veracidade das aparições. Juan Diego chega, nesse dia, ao palácio episcopal. Com ele, estão rosas de Castilha. Não era a época de rosas e não era um local onde podiam ser encontradas rosas, sobretudo essas rosas. Ele desdobra, então, o seu manto e, nesse manto, aparece a imagem de Nossa Senhora, que hoje chamamos de Guadalupe. O Bispo e os seus servidores se ajoelham e veneram a imagem. Não me prolongarei na história, que cada um pode procurar conhecer a partir de fontes confiáveis.

Gostaria de considerar, porém, a mensagem contida na imagem. A imagem se dirige ao Bispo e aos já católicos, mas ela se dirigia sobretudo aos pagãos astecas. Ela fala, então, a linguagem que eles conheciam muito bem.

Como já dissemos, Nossa Senhora aparece na colina onde estavam os templos pagãos dedicados à deusa pagã considerada a mãe de todos os deuses e dos astecas. Ao aparecer lá, Nossa Senhora diz que ela é a Mãe de Deus e a Mãe dos astecas e de todos os homens. Ela apareceu em um ano que para os astecas significava a plenitude e o nascimento do sol. Ela vai trazer a plenitude e o sol verdadeiros, Nosso Senhor Jesus Cristo. Atrás da imagem, os raios dourados. Daquela Virgem está saindo o sol, que representa Deus.

Eternal_father_painting_guadalupeO manto onde aparece a imagem é grosseiro, de textura imperfeita, impossível de pintar nele. O próprio tecido não costuma durar muito tempo. O que dizer de uma imagem em tal tecido? Mas lá está a imagem até hoje.

Os cabelos estão soltos, indicando sua condição de donzela virgem. As índias casadas levavam o cabelo amarrado em trança.

Nos olhos da Imagem da Santíssima Virgem estão refletidos os bispos e os outros presentes no momento em que se desdobrou o manto de Juan Diego. Ninguém, àquela época, e em tal tecido conseguiria fazer isso. Os indígenas da época também não puderam ver isso na imagem. Apenas recentemente e com a tecnologia moderna é que se tornou possível constatar esse fato estupendo. É uma mensagem para a nossa época moderna, tecnológica. Há quase 500 anos, Deus nos falava claramente.

O broche no pescoço de Maria também é importante. Um colar com um broche no pescoço significa, para os indígenas, submissão e consagração a um Deus. O broche tem uma cruz, espanhola, e mostra a importância de Jesus Cristo sobre Nossa Senhora e mostra a veracidade do Evangelho trazido pelos missionários espanhóis. O único sacrifício agradável a Deus é o de Cristo, na Cruz.

nossa_senhora_de_guadalupeAs mãos de Nossa Senhora, postas em oração, representam também a Igreja que deveria ser construída a mando dela naquela colina. Uma das mãos é mais branca, enquanto a outra mais morena: todos devem se submeter a Maria, para se submeter, assim, a Cristo. O mesmo se pode dizer do rosto da Virgem. Não é europeu nem indígena, mas mestiço.

O laço escuro acima do ventre deixa claro para os indígenas que se trata de uma mulher grávida. Colocavam o laço acima do ventre para permitir o natural crescimento do ventre durante a gestação. E o laço indica também que se trata de uma mulher nobre. Ela é uma donzela Virgem, com os cabelos soltos, mas grávida, com o laço negro acima do ventre.

Na altura do ventre de Nossa Senhora, há uma flor – a única na imagem – com quatro pétalas, que é um símbolo fortíssimo para os astecas. Essa flor indica os quatro movimentos do sol. Representa que Maria está grávida do Menino Sol, daquele que é a Luz do Mundo, o Menino Deus, Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nossa Senhora está sobre o centro da lua que na língua indígena se dizia praticamente México. O pé que aparece indica, para os indígenas, o movimento de oração. Nossa Senhora reza sobre o México, sobre a lua. O pé aparecendo é, na iconografia cristã, símbolo de que Nossa Senhora está grávida.

O anjo que sustenta o manto da Senhora tem as feições de um índio. É um jovem guerreiro do exército do sol, que agora deverá ser soldado de Cristo. Representa Juan Diego e nele todo o povo. O anjo tem asas de águia, animal que pode fitar o sol diretamente. O nome de Juan Diego na língua indígena fazia referência a uma águia.

Eis alguns símbolos contidos na imagem de Nossa Senhora de Guadalupe e que falaram claramente para os índios da época, trazendo-os a Cristo. No momento em que a Igreja perdia a metade de seus filhos na Europa em virtude da heresia e da revolta protestantes, Deus recebia em sua casa novos povos do novo mundo. Agradeçamos a Deus pela sua bondade infinita, pela sua inefável providência. Por nos ter permitido a chegada de colonizadores católicos em nossa pátria e em nosso continente, tirando-nos do tenebroso paganismo. Rezemos a Nossa Senhora de Guadalupe pelo Brasil, pelas Américas. O paganismo brutal que ela veio destruir com sua aparição na colina de Tepeyac está voltando, se é que já não voltou, sob nova forma. Os sacrifícios humanos estão voltando, no aborto, na eutanásia, no assassinato dos inocentes que vemos ocorrer no dia a dia de nossas cidades. Tudo isso fruto de uma sociedade sem s Cristo sem a Igreja.

Que Nossa Senhora nos traga novamente o Sol, que é Jesus Cristo.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão]: O Santo Rosário: arma espiritual para alma, a Igreja e a sociedade

Sermão para a Solenidade da Festa de Nossa Senhora do Rosário – 20º Domingo depois de Pentecostes

06.10.2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para o 20º Domingo depois de Pentecostes – N. Sra. do Rosário 6.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

 “Fazei-nos, Senhor, pelos mistérios do Sacratíssimo Rosário, meditar na vida, paixão e glória de Vosso Filho Unigênito, para que sejamos dignos das promessas d’Ele.” (Secreta da Festa de Nossa senhora do Rosário).

Como sabemos, caros católicos, a festa de Nossa Senhora do Rosário foi instituída pelo Papa São Pio V em 1571, após a vitória dos católicos na batalha naval de Lepanto, contra os mulçumanos turcos. O primeiro nome da festa foi o de Nossa Senhora da Vitória. Logo em seguida, o Papa Gregório XIII mandou que a festa fosse em honra de Nossa Senhora do Rosário. Provavelmente, o Papa Gregório XIII queria não somente lembrar a vitória alcançada por Nossa Senhora, mas também a principal arma empregada para que a vitória ocorresse: o Santo Rosário, pois o Papa São Pio V pedira a todos os católicos que rezassem o Terço, para que os católicos vencessem a batalha naval. Ao mesmo tempo, todos os que estavam a bordo das galés também levavam consigo o Rosário. E o estandarte da nau capitânia de Dom João de Áustria, o chefe dos cristãos, era Cristo crucificado. E, além da cruz, ele levava também uma cópia de uma misteriosa imagem de Nossa Senhora que havia aparecido no manto de um índio no México. A bordo da nau de Dom João de Áustria, estava, então, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Os Missionários, graças a Deus, nos trouxeram a verdadeira religião, nos trouxeram Jesus Cristo. O continente americano ajudava agora, com Nossa Senhora de Guadalupe, na preservação do Velho Continente, a Europa. A festa de Nossa Senhora do Rosário foi assim instituída, por gratidão a tão boa Mãe e para favorecer a prática dessa excelente devoção que é o Terço. Em Lepanto, a civilização cristã foi salva contra a barbárie dos turcos mulçumanos pelo Rosário.

Como sabemos também, caros católicos, o Santo Rosário foi a arma dada por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, para ele vencer a heresia albigense ou cátara, heresia descendente do maniqueísmo, e que atingia, particularmente, o sul da França. Tratava-se de uma heresia monstruosa, que considerava a matéria como um mal. Assim, havia a prática do suicídio, eles se opunham ao matrimônio, pois o matrimônio, pela procriação, geraria almas presas a corpos. Por outro lado, favoreciam qualquer outro ato de luxúria, desde que se evitasse a concepção, e não viam com maus olhos a união entre pessoas do mesmo sexo. Destruíam, portanto, a família e combatiam muitas outras instituições sociais: eram contra a pena de morte, contra qualquer tipo de guerra, ainda que defensivas. Era uma heresia que conduzia ao caos social. Eles negavam, evidentemente, a ressurreição da carne, mas acreditavam na reencarnação, negavam o livre-arbítrio, etc. Muitas coisas que vemos amplamente espalhadas em nossa sociedade, não por acaso. Tratava-se, então, de uma heresia que se opunha à fé e que trazia grandes prejuízos à sociedade civil. São Domingos com suas pregações, com suas virtudes, conseguiu pouca coisa diante desses hereges. Foi com o Rosário dado por Nossa Senhora que ele conseguiu tirar as almas desse erro tremendo. O Rosário, na forma em que o conhecemos hoje, foi dado por Nossa Senhora a São Domingos nessa ocasião. O Rosário é o protetor da civilização católica, como vimos na batalha de Lepanto. O Rosário é também arma contra as heresias, como visto no caso dos albigenses.

Caros católicos, se a oração do Rosário pode fazer tanto bem em coisas de tal importância, quanto bem ele não faz para a nossa alma? O terço é também oração eficaz, muito eficaz para a nossa santificação, para que nos convertamos inteiramente a Nosso Senhor Jesus Cristo. Se rezássemos bem o terço, a heresia do modernismo já teria desaparecido. Essa heresia que, simplificando e resumindo, consiste em afirmar que podemos acreditar no que quisermos e que podemos fazer o que quisermos, desde que nos sintamos bem, desprezando aquilo que nos foi dito por Deus. “Acredite no que quiser, siga a moral que quiser, o importante é você se sentir bem, pois se se sente bem está com Deus”, ouvimos com frequência. Se rezássemos bem o terço, nosso país não estaria se afastando cada vez mais das leis de Deus. Se rezássemos bem o terço, nos afastaríamos definitivamente dos pecados mortais e dos pecados veniais deliberados, nos tornaríamos santos.

Se rezássemos bem o Terço… Mas o que é rezar bem o Terço? Como rezá-lo bem? O Terço é uma oração vocal e mental, caros católicos. Isso significa que devemos rezá-lo com todas as condições necessárias para uma boa oração vocal: estar em estado de graça, ou, ao menos, desejar verdadeiramente sair do estado de pecado mortal, se nos encontramos nele. Em seguida, devemos pedir coisas úteis para a nossa salvação, bens espirituais, antes de tudo. Devemos rezar com recolhimento, com atenção, evitando as distrações voluntárias, combatendo as involuntárias. Devemos rezá-lo com humildade, sabendo que não somos dignos de sermos atendidos. Devemos rezar com resignação, aceitando a vontade de Deus, que conhece perfeitamente o que é o melhor para nós. Devemos rezar com perseverança e grande confiança de sermos atendidos, se pedimos o que é bom para nossa alma. Se deixarmos uma dessas coisas de lado, nosso Terço já não será muito eficaz, perderá muito de sua potência. Mas o Terço é também oração mental, caros católicos. Isso significa que, ao rezar o terço, devemos considerar os mistérios da vida de Cristo e de Nossa Senhora e devemos tirar frutos, resoluções práticas, para a nossa vida, para nos corrigirmos em tal erro, para progredirmos em tal virtude, etc. O Terço bem rezado supõe essa oração mental, essa consideração dos mistérios do Terço e a resolução prática para progredirmos na prática do bem. Nessa união de oração vocal e mental está a profunda riqueza do Terço. Ao rezarmos bem as mais excelentes e perfeitas orações – Pai Nosso e Ave Maria – e considerarmos os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos de Nosso Senhor e Nossa Senhora, nos fixaremos no bem, nos tornaremos santos, nos dirigiremos para o céu, trabalharemos para o bem da Igreja e da sociedade.

Não é, porém, tarefa fácil conciliar a oração vocal e mental no Santo Terço. Cada um pode procurar uma maneira de conjugar a oração vocal e mental no Terço. Todavia, o Padre Antonio Royo Marín nos indica um método eficaz e simples. Ele diz que devemos, nas três primeiras Ave Marias de uma dezena, prestar atenção nas palavras que estão sendo ditas. Aqui está a oração vocal. Nas três Ave Marias seguintes, ele diz que devemos considerar o mistério em questão: a encarnação, a agonia de Jesus, a coroação de Nossa senhora, etc. Nas quatro últimas Ave Marias, devemos fazer uma pequena resolução para nossa vida espiritual, de acordo com o mistério considerado. A humildade para a encarnação, por exemplo. No começo, talvez tenhamos dificuldade, mas o importante é não desistirmos nem desanimarmos, mas perseverarmos e avançarmos, ainda que lentamente.

Rezar bem o Terço é uma grande arma no combate espiritual. É uma arma tão importante que Nossa senhora veio até nós insistir para que o rezássemos todos os dias. Em Fátima, Nossa Senhora insiste para que se reze o terço todos os dias. Em cinco das seis aparições, ela pede para que as crianças rezem o terço diário, para que se alcance a paz e o fim da guerra, da 1ª Guerra Mundial, no caso. Se nós queremos a verdadeira paz, que é a paz da graça, a paz do verdadeiro amor a Deus, devemos rezar o terço. O Terço, quando bem rezado, opera grandes prodígios, caros católicos. O maior deles é a conversão de nossa alma. Quem reza bem o Terço vai deixar o pecado grave. O terço e o pecado não podem coexistir durante muito tempo. Ou se abandona um ou se abandona o outro. Aqueles que ainda não o rezam diariamente, aproveitem essa festa de Nossa Senhora do Rosário e o mês do Rosário – outubro – para tomar a resolução de rezá-lo diariamente. Isso é fundamental. Rezemos o Terço e façamos isso em família, caros católicos, na medida do possível. Infundam nos filhos um grande amor ao Terço. Comecem a rezar com eles pequenos, pouco a pouco, com uma dezena, depois duas, e assim por diante, na medida em que for possível para a criança. As crianças de Fátima eram justamente crianças e rezavam o Terço. Lúcia tinha 10 anos. Francisco, 9. Jacinta, 7. Se vocês ensinarem os filhos a rezar o Terço, estarão lhes dando um grande tesouro.

No Evangelho de São João, nos é narrado que, após a ressurreição de Cristo, houve mais uma pesca milagrosa em que os apóstolos pescaram 153 peixes, sem que a rede se rompesse. O Rosário completo é composto de 153 Ave Marias. O Rosário e a terça parte dele – o nosso Terço – é como uma rede que captura graças abundantes sem se romper. O Terço é a devoção que mais agrada a Nossa Senhora. Quantas graças para aqueles que praticam e amam essa devoção. Se rezássemos bem o terço, nossa alma seria outra, a situação da Igreja seria outra, a condição da sociedade seria outra. Ficar se lamentando e reclamando, não adianta nada. Tomemos nosso Terço e rezemos. Se queremos nos tornar santos, se queremos destruir a heresia, se queremos construir uma sociedade cristã, rezemos o Santo Terço.

[Sermão] A natureza do culto a Nossa Senhora: veneração, amor, gratidão, invocação, imitação.

Sermão para o 16º Domingo depois de Pentecostes

8 de setembro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para o 16º Domingo depois de Pentecostes Natividade N. Sra. A natureza do culto a Nossa Senhora veneração, amor, gratidão, invocação, imitação 8.09.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Avisos:

Hoje é dia 8 de setembro, dia da Natividade de Nossa Senhora. É também o dia da fundação do IBP (Instituto do Bom Pastor), em 2006. Peço a todos que rezem pelo Instituto, pelos seus membros, sobretudo por mim. O Instituto, como sabem, baseia seu apostolado na “fidelidade ao Magistério Infalível e no uso exclusivo da liturgia gregoriana na digna celebração dos santos mistérios” (Estatutos, Finalidade, 2).

Rezemos pela Síria e pelo nosso país.

Sermão

“Salve, ó Mãe Santíssima, que destes à luz o Rei que governa a terra e o Céu por todos os séculos.” (Introito da Missa da Natividade de Nossa Senhora).

No dia da Assunção de Nossa Senhora, falamos da necessidade da devoção a tão boa mãe para a nossa salvação. Aproveitemos que hoje é o dia da Natividade de Nossa Senhora para honrar Maria Santíssima e honrá-la tratando da natureza do culto que lhe deve ser tributado, para podermos ser bons e fiéis filhos dela. Trataremos, então, do tipo de culto que é devido a Nossa Senhora. Veremos que é um culto denominado de hiperdulia e que é um culto de veneração, de amor, de gratidão, de invocação, de imitação, de escravidão.

O culto, segundo a definição de São João Damasceno, é o reconhecimento da excelência de quem é cultuado, com a consequente submissão a ele. Nossa Senhora pode ser, então, cultuada religiosamente, pois possui grande excelência e nos é muito superior na ordem da graça. Cultuá-la, nada mais é do que reconhecer que Deus fez nela maravilhas, maravilhas que superam todas as maravilhas concedidas às criaturas.

A natureza do culto depende da natureza da excelência. Ora, Deus tem uma excelência infinita, Ele é o criador de todas as coisas, infinitamente perfeito. A Deus se deve o culto de latria, de adoração, de total submissão à sua onipotência. O culto de latria é exclusivo para Deus. Adorar uma criatura no sentido preciso da palavra é cometer um pecado de idolatria. Aos santos, consequentemente, é devido um culto de outra natureza, chamado culto de dulia, de veneração, em virtude da excelência sobrenatural que possuem, quer dizer, em virtude da santidade que possuem, da união profunda e definitiva que possuem com a Santíssima Trindade. Aos santos é devido tal culto pelo que possuem de Deus, pela graça que possuem, pelas virtudes que possuem, pela caridade que possuem. Com tal culto, não somente é lícito, mas é também muito útil e conveniente invocar e reverenciar os santos. Esse culto aos santos é doutrina de fé e mandado pela Igreja. Nossa Senhora tem, por um lado, uma excelência infinitamente inferior a Deus, a Nosso Senhor Jesus Cristo. Nossa Senhora é uma criatura, ainda que seja a criatura mais perfeita. A Nossa Senhora não se pode prestar, evidentemente, um culto de latria, de adoração. Fazê-lo seria uma desordem grave. Por outro lado, Nossa Senhora está muito acima dos outros santos e mesmo dos anjos. Sua excelência supera a excelência de todos os santos e anjos juntos. Portanto, a Maria Santíssima é devido um culto especial, particular, denominado de hiperdulia, que se distingue do culto de dulia aos santos pelo grau, em virtude da santidade e excelência particulares da Santíssima Virgem. Todavia, o culto a Nossa senhora é distinto do culto aos santos não somente em grau, mas também em sua natureza, pois a dignidade de Maria não é simplesmente a dignidade da santidade, mas é a dignidade de Mãe de Deus, o que a coloca na ordem da união hipostática, ainda que de modo relativo somente. Assim, o culto devido a Nossa Senhora é o culto de hiperdulia, um culto que é infinitamente inferior ao culto devido a Deus, mas que é muito superior ao simples culto de dulia devido aos santos. E isso em virtude da santidade extraordinária de Nossa Senhora e de sua Maternidade Divina. Nada mais falso, portanto, do que a acusação dos protestantes que dizem que os católicos adoram Nossa Senhora. Santo Epifânio já dizia: “Maria seja honrada. Deus, adorado.” (Adv. Haer., III, haer. 79, PG 42, 742)

Esse culto devido a Nossa Senhora deve se expressar com cinco atos principais: 1) atos de veneração, pela excelência e dignidade quase infinitas da Mãe de Deus; 2) atos de amor, porque, além de ser Mãe de Deus, é também nossa Mãe; 3) atos de gratidão, porque é nossa corredentora; 4) atos de invocação, porque ela é medianeira de todas as graças; 5) finalmente, o culto de Nossa Senhora deve incluir também a imitação, por causa da excelência de suas virtudes.  A esses cinco atos, devemos também a Nossa Senhora um singular culto de escravidão, pois ela é Rainha do Céu e da Terra. Desse culto de escravidão, porém, falaremos em outra oportunidade.

Com a veneração, reconhecemos a excelência e a superioridade de Nossa Senhora. Essa veneração deve ser interior, estimando as qualidades de Nossa senhora com a mente e honrando-a com a vontade, quer dizer, dando testemunho de sua excelência, como deve ser também exterior, com as práticas piedosas estabelecidas para esse fim, sejam elas públicas ou privadas, individuais ou sociais, litúrgicas ou extra-litúrgicas. Assim, poderemos nos associar à veneração manifestada pelo anjo Gabriel, por Santa Isabel, e a profecia feita por Nossa Senhora de que todas as gerações a chamariam bem aventurada se cumprirá. E sabemos bem que a honra do filho está em grande parte na mãe. Assim, quando veneramos Maria, seu Filho é também estimado e honrado.

Com o amor, retribuímos a Maria sua maternidade espiritual para conosco. Foi ela que nos trouxe ao mundo o princípio da graça, que é Nosso Senhor. O Espírito Santo usa Nossa Senhora como instrumento para nos transmitir as graças. Ela, portanto, nos gera para a graça, em certo sentido. Ela é realmente nossa Mãe. Ela também nos ajuda e nos conduz pelo bom caminho, como toda boa mãe. A Sagrada Escritura nos manda honrar pai e mãe naturais. Quanto mais honrada deve ser, então, nossa Mãe na ordem da graça. Devemos também reconhecer em Maria a mais santa das criaturas, e devemos amar em Maria esse bem imenso, essa grande santidade, essa profunda união com Nosso Senhor. O amor nos faz desejar o bem do amado. Ele nos manda fazer tudo o que agrada ao ser amado e nos proíbe tudo o que desagrada ao ser amado. Assim, esse amor filial profundo a Nossa Senhora deve traduzir-se em obras. A prova do amor são as obras, nos diz São Gregório Magno. Portanto, esse amor a Nossa Senhora deve nos levar à prática dos mandamentos, das virtudes e deve nos afastar de tudo o que ofende a Nossa Senhora, quer dizer, do pecado e daquilo que nos leva ao pecado. Amando assim Nossa Senhora, amaremos também Cristo, pois só é agradável a Nossa Senhora aquilo que é agradável ao seu Filho. Da mesma forma, tudo o que desagrada a Cristo, desagrada a Maria. Esse amor é o centro, o coração do culto a Nossa Senhora.

Com a gratidão, damos aquilo que é devido aos nossos benfeitores. A gratidão tem três graus. O primeiro é reconhecer o benefício recebido, o segundo é agradecer com palavras e o terceiro é retribuí-lo com obras. Depois da Santíssima Trindade, depois do Verbo Encarnado que nos redimiu, Maria Santíssima é a nossa maior benfeitora, a maior benfeitora do gênero humano, sobretudo por sua qualidade de corredentora ao pé da cruz. Quão grande deve ser nossa gratidão para com Maria, que ofereceu seu Divino Filho para o perdão de nossos pecados e que aceitou ter sua alma transpassada pela espada para que fôssemos redimidos. Com grande generosidade, Nossa Senhora nos entregou o maior bem que existe, ela nos entregou Nosso Senhor. Assim, devemos ser gratos a tão boa Mãe e Corredentora. Devemos ser gratos interiormente, considerando os incalculáveis benefícios que Maria nos fez e faz. Devemos ser gratos exteriormente com palavras, louvando-a, e agradecendo-lhe incessantemente, pois, dado o tamanho do benefício, nunca conseguiremos manifestar a nossa gratidão por completo. Devemos ser gratos externamente com as obras, retribuindo tantos benefícios e sacrifícios com alguns sacrifícios, sobretudo oferecendo a nós mesmos a Maria Santíssima, para que ela nos conduza com segurança até seu Filho. Devemos retribuir com uma vida de santidade. Muitas vezes nos esquecemos de agradecer devidamente a Maria por todos os benefícios que ela nos deu e dá.

Com a invocação, reconhecemos que Nossa Senhora é, por vontade divina, a medianeira de todas as graças. Assim, devemos a ela um culto de grande confiança, devemos recorrer a Maria e invocá-la em toda necessidade espiritual e material. E devemos recorrer a ela e invocá-la completamente seguros de que seremos sempre ouvidos, se a graça solicitada é necessária ou conveniente para nossa salvação. Devemos recorrer a ela sempre: nas dúvidas, para que nos esclareça; nos extravios, para que voltemos para o bom caminho; nas tentações, para que nos ajude; nas fraquezas, para que nos fortaleça; nas quedas, para que nos levante; nas desolações, para que nos anime; nas cruzes e trabalhos, para que nos console. Sempre e em todo lugar devemos recorrer a Maria, como à melhor das mães. Aquela que entregou seu próprio Filho para nos salvar não recusará interceder por nós. O Evangelho, nas Bodas de Caná, nos indica a confiança com que devemos nos dirigir a Maria. Ela intercede pelos noivos sem que eles tenham pedido, pois os noivos nem sabem que estava faltando vinho e não sabem que precisam daquela graça. Se Nossa Senhora nos ajuda quando não pedimos, imaginem o que faz quando recorremos a ela com grande confiança e humildade. Nossa Senhora conhece bem as nossas necessidades. Ela pode nos conceder sua ajuda e quer nos ajudar. Não precisamos de mais nada para correr a Nossa Senhora.

Com a imitação, reconhecemos na Mãe de Deus um modelo e exemplo perfeitíssimo de todas as virtudes. Para cultuar adequadamente Nossa Senhora devemos imitá-la, reproduzindo em nossa vida as virtudes de Maria no pensar, no falar, no agir, enfim, em todas as coisas. A imitação de uma pessoa é um verdadeiro culto a ela, porque a tomando como modelo reconhecemos sua excelência e superioridade moral e nossa submissão a ela. Toda a virtude de Maria está resumida naquela famosa frase: “fiat mihi secundum verbum tuum”. “Faça-se em mim segundo a vossa palavra.” A raiz das perfeições de Nossa senhora está na sua perfeita conformidade com a vontade de Deus. Devemos buscar essa conformidade total com a vontade divina. E Maria é um modelo sublime e acessível a todos, como diz Leão XIII. Diz o Papa (Enc. Magnae Dei Matris, 8 de setembro de 1892): “a bondade e a Providência divina nos deu em Maria um modelo de todas as virtudes, (um modelo) todo feito para nós. Porque, considerando-a e contemplando-a, as nossas almas já não ficam ofuscadas pelos fulgores da divindade, senão que, atraídas pelos vínculos íntimos de uma comum natureza, com maior confiança se esforçarão por imitá-la. Se, amparados pelo seu eficaz auxílio, nós nos dedicarmos com todas as nossas forças a esta obra (de imitá-la), certamente conseguiremos reproduzir em nós ao menos algum traço de tão grande virtude e santidade; e, depois de havermos imitado a sua admirável conformidade com as divinas vontades, poderemos juntar-nos a Ela no céu.” Assim, o culto perfeito a Nossa Senhora supõe o firme propósito de imitá-la.

A devoção a Maria deve ser, então, uma devoção de veneração, uma devoção de amor, uma devoção de gratidão, uma devoção de invocação, uma devoção de imitação. A devoção a Nossa Senhora nesses quatro atos e em todos os atos deve ser sempre uma devoção interior, quer dizer, que realmente brota do desejo de honrá-la, de reconhecer e de nos submeter à grandeza de Nossa Senhora. A devoção também deve ser terna, isto é, cheia de confiança, como uma criança confia em sua mãe. A devoção a Nossa Senhora deve ser uma devoção santa, que tem por objetivo evitar todo pecado e imitar as virtudes de Maria, principalmente sua humildade profunda, sua fé vivíssima, sua obediência; sua oração contínua, sua mortificação, sua pureza divina, sua esperança firmíssima, sua caridade ardente, sua paciência heroica, sua sabedoria celestial. A devoção a Nossa Senhora deve ser igualmente constante, quer dizer, deve ser uma devoção que consolida nossa alma no bem e que nos dá forças para não abandonarmos facilmente as práticas devocionais. Ela deve dar à alma a constância e o ânimo no combate contra o mundo, a carne, o demônio. A devoção a Nossa Senhora deve ser uma devoção desinteressada, tendo como principal motivo não os benefícios que recebemos, mas sim, as perfeições de Nossa Senhora, a excelência dela, a santidade dela, a sua profunda união com Cristo. O devoto de Maria deve amá-la e honrá-la sem buscar a si mesmo em primeiro lugar.

Portanto, caros católicos, já sabemos como praticar essa devoção a Nossa Senhora, devoção que é necessária para a nossa salvação. Devemos venerar Maria, amá-la profundamente, agradecer-lhe com imensa gratidão, invocá-la com grande confiança e imitá-la em todas as virtudes. E fica claro que se fizermos tudo isso, caminharemos rapidamente e com segurança para Nosso Senhor Jesus Cristo, para a união com Cristo, união que deve ser o fim de toda e qualquer devoção. Quem honra a Mãe, honra o Filho. Quem desagrada à Mãe e a ofende, desagrada ao Filho e o ofende. Quem agrada a Mãe, agrado o Filho. Quem ama a Mãe ama o Filho.

Em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A Mulher coroada de estrelas: a necessidade da devoção a Nossa Senhora para a alcançar a salvação

Sermão para a Festa da Assunção de Nossa Senhora
18 de agosto de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Apareceu um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Apoc. 12, 1)

A Assunção de Nossa Senhora significa que ela, depois de passar a sua vida aqui na terra, subiu aos céus em corpo e alma. A Assunção de Nossa Senhora sempre foi verdade ensinada pela Igreja, é verdade contida na doutrina dos Apóstolos. Todavia, foi em 1950, com o Papa Pio XII, que a Assunção de Nossa Senhora ao céu foi proclamada como dogma da fé, quer dizer, a Igreja afirmou infalivelmente que a Assunção é uma verdade revelada por Deus e que devemos acreditar nessa verdade, se queremos nos salvar. Assim, quem nega a Assunção de Nossa Senhora perde automaticamente a fé católica e desagrada a Deus, pois sem a fé é impossível agradar a Deus. Nossa Senhora foi a primeira redimida integralmente, ela foi aos céus em corpo e alma, ao contrário dos santos e de todos os que morrem em estado de graça, que devem esperar a ressurreição do corpo no fim dos tempos. Nossa Senhora é a primeira redimida integralmente porque ela é a corredentora. Convinha que, tendo sido associada tão intimamente à obra de redenção operada por NSJC, ela fosse também intimamente associada à glória d’Ele, pela Assunção em corpo e alma ao céu, e sem que seu corpo conhecesse a corrupção, pois foi esse corpo que deu ao Salvador a sua carne humana. Maria Santíssima, então, subiu aos céus em corpo e alma.

A Festa da Assunção de Nossa Senhora deve, assim, elevar a nossa alma para as coisas celestes, para a nossa verdadeira pátria, que é o céu. Como nos diz a coleta da Missa de hoje, devemos estar sempre inclinados para as coisas celestiais, a fim de podermos participar da glória celeste. Onde está nosso tesouro lá está o nosso coração. Se olhamos para as coisas desse mundo, se nos inclinamos às coisas desse mundo, é porque nosso tesouro está aqui nessa terra e, consequentemente, também o nosso coração, a nossa vontade está apegada às coisas desse mundo. Nossa Senhora, por sua Assunção, nos mostra que nosso tesouro é bem outro. Ela nos mostra que nosso tesouro é a Santíssima Trindade, ela nos mostra que nosso tesouro é seu Filho, Jesus Cristo, a Verdade, o Caminho, a Vida.

Maria Santíssima nos aponta o tesouro a ser buscado – o céu – mas, além disso, ela nos indica, igualmente, o caminho. Ela nos indica o caminho nessa passagem do Apocalipse que compõe o Introito da Missa de hoje: “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Apocalipse 12, 1) Nossa Senhora está revestida de sol, tendo a lua a seus pés e coroada com 12 estrelas.

1. N. Sra. está revestida de Sol. O sol representa Jesus Cristo, que é a luz do mundo e o Sol de Justiça. Como nos diz S. Paulo, nós devemos nos revestir de Cristo (Rom 13, 14), quer dizer, nós devemos nos revestir do homem novo, criado em justiça e santidade (Efésios 4, 24). Devemos nos revestir de Jesus Cristo para imitar as virtudes d’Ele, para fazer tudo por Ele, com Ele e n’Ele. Devemos nos revestir de Cristo para que os frutos de sua redenção possam nos ser aplicados.

2. Em seguida, Maria esmaga a lua com seus pés: a lua representa aqui o mundo e o seu príncipe, a serpente. A lua é mutável, instável, inconstante, ela tem várias fases. Também o mundo com seus tesouros passageiros, que são os pecados, é mutável. Nossa Senhora esmaga a lua, reduzindo-a ao nada, como Judith (Epístola de hoje) ao matar Holofernes reduziu ao nada os inimigos de Israel. Deus, ao contrário do mundo e do pecado, é eterno e imutável, caros católicos. Céus e terras passarão. A Palavra de Deus não passará. Devemos ser firmes e constantes no serviço de Deus, firmeza e constância que são verdadeira sabedoria. A Sagrada Escritura nos diz: Stultus ut luna mutatur; sapiens autem permanet ut sol. (Eclesiástico 27, 12) O insensato, o tolo é inconstante como a lua; o sábio, porém, é constante como o sol. Devemos esmagar a lua e sermos constantes como o sol, devemos esmagar o pecado, o demônio, o mundo, e devemos ser constantes como Cristo foi constante em fazer sempre a vontade de Deus.

3. Finalmente, Maria Santíssima está coroada de doze estrelas. O Patriarca José, filho de Jacó, teve um sonho em que onze estrelas se prostravam diante dele. Essas onze estrelas eram os irmãos de José, as tribos do povo hebreu, que lhe iriam implorar socorro quando chegasse o tempo das vacas magras.  Essa coroa de Nossa Senhora, com doze estrelas, representa toda a humanidade que deve prostrar-se diante dela, implorando-lhe as graças adquiridas por Cristo na cruz. Essa coroa significa a realeza e a soberania de Maria sobre toda a humanidade e nos mostra como devemos ter veneração e devoção, nesse vale de lágrimas, a tão soberana Rainha e Rainha de Misericórdia.

Assim, se quisermos alcançar o céu, devemos primeiramente olhar para o céu, desejá-lo. Em seguida, devemos nos revestir de Cristo, da sua graça, de suas virtudes. Devemos, igualmente, esmagar o pecado. Mas para fazer tudo isso, devemos ter devoção a Nossa Senhora. Esse último ponto é indispensável, caros católicos. A devoção a N. Sra. é necessária para a nossa salvação.

A devoção a Nossa Senhora é indispensável para a salvação porque para nos salvarmos devemos praticar as virtudes. Para praticar as virtudes, precisamos da graça de Deus. Para alcançar a graça de Deus, necessitamos recorrer a Maria. Necessitamos de Maria para alcançar a graça porque Deus quis que fosse assim. Ele poderia ter feito de outro modo, não há dúvida. Deus não era obrigado a usar uma mera criatura para transmitir as suas graças. Todavia, na sua sabedoria, quis que fosse assim. 1) Devemos ter devoção a N. Sra. porque Deus a escolheu como tesoureira, administradora e dispensadora de todas as sua graças, de sorte que todas passam por suas mãos. Ela é a medianeira de todas as graças. 2) Assim como na ordem da natureza temos necessariamente um pai e uma mãe, também na ordem da graça devemos ter Maria por Mãe, se queremos ter Deus por Pai. 3) A devoção a Maria é necessária porque tendo ela formado a Cabeça do corpo místico – que é Cristo – cooperando com o Espírito Santo, ela forma, também com o Espírito Santo, os membros desse corpo, dessa cabeça, que somos nós os cristãos. Quem quer ser membro de Cristo deve se deixar formar por Maria e pelo Espírito Santo. 4) A devoção a Maria é necessária porque foi no ventre dela que o Espírito Santo formou Cristo, Homem e Deus. Assim, Nossa Senhora possui o molde para formar, pela graça divina, Cristo em nossas almas. E com Maria, Cristo pode ser formado em nossas almas, pela graça, de modo rápido, fácil e suave. Sem a devoção a Nossa Senhora é impossível salvar-se, como de modo semelhante não é possível salvar-se fora da Igreja Católica. Aquele que conhece Nossa Senhora ou tem a possibilidade de conhecê-la e se dá conta ou poderia se dar conta de seu papel fundamental para a salvação, mas deixa de honrá-la e de recorrer a ela, certamente se perderá. É claro e evidente que esse papel fundamental de Nossa Senhora é completamente subordinado a NSJC e dependente d’Ele.

As citações dos Padres da Igreja e dos santos no sentido da necessidade da devoção a Nossa Senhora para alcançar a salvação são abundantes. Por exemplo, São Cirilo de Alexandria, (séc. V, P.G. 77, 1031-1034): “Oh Maria, Mãe de Deus, salve! Por ti encontram a salvação todas as almas fiéis.” São Germano de Constantinopla (séc. VIII, P.G. 98, 350): “Ninguém se salva a não ser por teu auxílio, oh Mãe de Deus! Ninguém fica livre dos perigos a não ser por meio de ti, oh Virgem fecunda!” Santo Idelfonso (séc. VII, P.L. 96, 69, De Virginit. Perp. S. M., c. 4): “Vinde comigo a esta Virgem, se tendes medo de ir, sem ela, ao inferno. Vinde, e escondamo-nos debaixo de seu manto para não nos cobrirmos, um dia, de confusão.” São Bernardo (séc. XII, II Hom. Super Missus est): “Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria… Seguindo-a não errarás, rogando-a não terás motivo para desesperar, pensando nela não cairás no erro. Se Maria te socorre, não cairás. Se Maria te protege, não temerás. Se ela te acompanha, não te cansarás. Se ela te for favorável, chegarás ao porto da salvação.” São Boaventura (séc. XIII, Comment. In Luc., c. 1, n. 70): “Quem a honra dignamente, será justificado, mas quem a esquece morrerá em seus pecados. Sim, oh doce Senhora, estão longe da salvação os que não te conhecem; mas quem persevera no tributo de honrá-la, não deve temer a perdição.” Poderíamos ainda citar São Tomás, São Bernardino de Siena e tantos outros, caros católicos. Recomendo fortemente a leitura dos livros Tratado da Verdadeira Devoção a Maria e Segredo de Maria, de São Luís de Montfort, em que ele afirma claramente a necessidade da devoção a Nossa Senhora e o modo de praticá-la. Recomendo o livro Glórias de Maria, de Santo Afonso de Ligório. Mas para concluir essas citações de santos, vejamos o que diz São Leonardo de Porto Maurício, nos seus pequenos discursos para a honra de Maria. Diz o santo: “é impossível que se salve quem não é devoto de Maria.” (Discorssetti ad onore di Maria disc. 7, n.1); e em outro lugar (disc. 16, n. 4) diz: “portanto, sede devotos de Maria, e eu vos asseguro que sereis salvos.” Assim, não há dúvida de que o ensinamento dos santos afirma a necessidade da devoção de Nossa Senhora para a salvação.

E nós podemos concluir a mesma coisa a partir da Sagrada Escritura. Já citamos a realeza de Nossa Senhora, coroada de estrelas no Apocalipse. Vemos no Santo Evangelho que o primeiro a cultuar Nossa Senhora é o Arcanjo Gabriel, ao saudá-la como faz um inferior ao superior: “Ave, gratia plena”, diz o Arcanjo. Vemos Maria honrada por Santa Isabel: “bendita tu entre as mulheres e bendito o fruto do teu ventre”, diz a prima de Nossa Senhora. Vemos Maria honrada por uma mulher do povo que sem medo clama para Cristo diante da multidão: “bem aventurados os seios que te amamentaram e bem aventurado o útero que te portou.” É relevante o número de vezes que N. Sra. é cultuada nos Evangelhos. Finalmente, NS diz: “discípulo eis aqui a tua mãe”. Ele não diz “João, eis aqui a tua Mãe”, mas “discípulo, eis aqui a tua mãe”. Todo discípulo de Cristo deve ter Maria por mãe e deve recebê-la em sua casa, em seu coração. E deve honrá-la e respeitá-la como mãe e deve carinhosamente recorrer a tão boa mãe para obter dela o alimento espiritual, que é a graça. Todo discípulo de Cristo tem necessariamente N. Sra. por mãe e a honra e recorre a ela como a uma boa mãe, Mãe doce e misericordiosa. E NS nos entrega Maria por mãe quando já está pregado na cruz, quer dizer, no momento mais capital da história da salvação. Precisamos honrar Maria, ter verdadeira devoção a ela!

É evidente, caros católicos, que a finalidade da devoção a Nossa Senhora, como de qualquer devoção, é a união a Cristo, é a devoção a Cristo. O anjo a saúda porque ela vai se tornar Mãe de Deus. Santa Isabel a saúda porque ela já Mãe de Deus. A mulher do povo honra Nossa Senhora porque ela carregou Deus em seu ventre e o nutriu. A devoção a Nossa Senhora nos é necessária para sermos devotos de Cristo porque Cristo quis assim, como já dissemos. Ele quis que fôssemos até Ele pelo mesmo caminho que Ele utilizou para vir até nós. Nossa Senhora direciona e apresenta a Deus toda a honra que recebe de nós e alcança para nós as graças que precisamos. Quando Santa Isabel honra Maria, N. Sra. imediatamente honra Deus recitando o Magnificat, louva a Deus reconhecendo que é Ele a fonte de todo o bem, e que ela é uma pobre escrava do Altíssimo: “Minha alma engradece o Senhor, (…) pois olhou para a humildade de sua serva e fez em mim maravilhas.” Honrar Nossa Senhora é, portanto, honrar Cristo, honrar a Santíssima Trindade. Onde está Maria, lá está Cristo. Onde está Cristo, lá está Maria! Quem honra a Mãe, honra o Filho.

É evidente que a devoção a Nossa Senhora deve ser sólida e verdadeira, sincera. A devoção não é simplesmente usar algumas medalhas ou escapulários, ou dizer algumas orações. Tudo isso é bom, excelente, necessário, mas a verdadeira devoção consiste em recorrer a Maria para que ela nos converta, para que mudemos de vida. A verdadeira devoção consiste em buscar imitar as virtudes de Nossa Senhora.

Alegremo-nos, caros católicos, pois Cristo nos deu na devoção a Maria o caminho mais fácil, curto, perfeito e seguro para nos unir a Ele, união a Cristo que é a finalidade de nossas vidas. É um caminho também necessário para nos unir a Cristo. Maria é, diante de Deus e de seu Filho, uma criatura, infinitamente inferior. Mas para nós, ela é a criatura escolhida por Deus para nos levar a Cristo, para que possamos conhecê-lo e servi-lo melhor. Ela é o caminho para que os frutos da redenção operada por Cristo nos sejam aplicados. Ela nos dirige para Cristo dizendo o que disse aos servos nas bodas de Caná: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. A devoção a Maria é ir a Jesus por Maria: ad Iesum, per Mariam. Recorramos a Nossa Senhora sempre, em todas as nossas necessidades. Recorramos a ela, para que, por ela, cheguemos a Cristo: ad Iesum, per Mariam. Maria, Mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa. Para chegar ao céu, precisamos nos vestir do sol, que é Cristo, devemos esmagar a lua que é o pecado e devemos ser devotos de Nossa Senhora, nossa Rainha e nossa mãe dulcíssima.

Em nome do pai, e do Filho, e do espírito Santo. Amém.

[Sermão/Carnaval] As ofensas ao Imaculado Coração de Maria

Sermão na Festa dos Sete Fundadores dos Servitas de Maria
11 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

A providência quis que passássemos esse Carnaval na companhia de Nossa Senhora. Ontem tivemos a festa de Lourdes, hoje temos a festa dos sete fundadores da ordem dos Servos de Maria, ordem que possui especial devoção a Nossa Senhora das Dores. Essas duas lembranças marianas durante esse período do carnaval são bem importantes. Consideremos ambas brevemente.

Nossa Senhora de Lourdes, como Nossa Senhora de Fátima depois dela, nos exorta à penitência. Lembro que devemos considerar com seriedade essas aparições aprovadas pela Igreja, ainda que não sejam matéria de fé e que, ao contrário, para o bem da nossa alma, devemos nos afastar de aparições não aprovadas, como todas as atuais. Nossa Senhora de Lourdes nos exorta, então, à penitência, como dizíamos. Essa penitência tem aqui dois sentidos, como já dissemos no advento, se vocês se lembram bem.  O primeiro e mais importante sentido é o de arrependimento pelos pecados, com verdadeira dor espiritual e o firme propósito de não mais voltar a pecar. Essa penitência leva a uma boa confissão. A irmã Lúcia, vidente de Fátima, escreveu: “muitos colocam o sentido da palavra penitência nas grandes austeridades… desanimando”. O principal sentido de penitência que Nossa Senhora quer e que Deus quer, e que devemos buscar,  nesse período de carnaval e na Quaresma que iniciará em breve, é a detestação dos nossos próprios pecados, com o propósito de não mais cometê-los.

Todavia, esse sentido de penitência não exclui a penitência no sentido de mortificação exterior, como satisfação pelos nossos próprios pecados e pelos pecados dos outros. Aliás, ao contrário, pois um verdadeiro arrependimento leva ao desejo de satisfação. É preciso que ofereçamos a Deus algo que possa ser agradável a Ele mais do que o pecado o ofendeu. Um dos meios de fazer isso são as mortificações exteriores unidas necessariamente ao sacrifício de Cristo, claro. Elas são necessárias para satisfazer pelo pecado, mas também para obter graças, vencer-se a si mesmo e para nos incorporar a Cristo, que é Cristo crucificado. E essas obras satisfatórias e meritórias nós podemos aplicá-las aos outros, em virtude do dogma da comunhão dos santos.

Consideremos brevemente, agora, Nossa Senhora das Dores. As sete espadas que transpassam o coração de Nossa Senhora das Dores remetem aos maiores sofrimentos dela durante sua vida, mas indicam também que ela foi, depois de seu Filho, a pessoa que mais sofreu nesse mundo, pois o número sete representa a plenitude. Nossa Senhora sofreu com os sofrimentos de seu Filho. Ela sofreu porque seu Coração é praticamente um só com o de seu Filho. Eles amam a mesma coisa: a glória de Deus. Eles repudiam a mesma coisa: o pecado. Assim, Nossa Senhora, ao ver seu Filho inocente sofrer pelo pecado, sofria junto com Ele, pela maldade dos homens. Quando se ofende o Filho, também a Mãe é ofendida. Portanto, pelos pecados do Carnaval, são os Corações de Jesus e Maria que são desprezados e ofendidos. Como se não bastasse ofender o Coração Amantíssimo de Nosso Salvador, também se ofende o Coração de Maria, nossa Mãe. Pois mãe é aquela que gera e, sem dúvida, é pela mediação de Nossa Senhora que somos gerados para a vida da graça. É por Ela que Cristo veio ao mundo, é por Ela que todas as graças passam, vindas do Sagrado Coração de Jesus. A graça é como a água. O Sagrado Coração de Jesus é a fonte. O Imaculado Coração de Maria é o aqueduto. Que tristeza: ofender o Coração de nossa Mãe, aquela que quer unicamente o nosso bem, a nossa salvação. Quanta ingratidão.

Sigamos o conselho de Nossa Senhora de Lourdes. Penitência como arrependimento e penitência como satisfação. Apliquemo-nos a não acrescentar mais espadas no Coração de Maria. E busquemos fazer nosso coração um só coração com o de Nossa Senhora e o de Nosso Senhor. É nisso que consiste nossa verdadeira felicidade.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Notícia] “Procissão das Velas” em Brasília

No último sábado, dia 02 de fevereiro, celebrou-se a Festa da Purificação da Bem-Aventurada Virgem Maria, uma das mais antigas (séc. IV) comemorações litúrgicas do cristianismo. Tradicionalmente, a celebração da Santa Missa é precedida da Benção e Procissão das Velas; entretanto, esses belíssimos rituais têm sido cada vez mais esquecidos – praticamente abolidos – sobretudo após a reforma litúrgica de Paulo VI, que implicou também na alteração do nome da festa para “Apresentação do Senhor”.

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Em Brasília tivemos a grande graça de apreciar imenso tesouro litúrgico neste ano – provavelmente depois de décadas sem a chamada Procissão das Velas na cidade, ao menos no que se refere ao rito segundo o Missal de 1962.

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O celebrante foi o Pe. Daniel Pinheiro (Instituto do Bom Pastor), que celebrou a Santa Missa na Paróquia Santo Cura d’Ars (na Quadra 914, Asa Sul) e conduziu a procissão com aproximadamente uma centena de fiéis nos arredores da igreja – cada um carregando sua vela abençoada anteriormente em rito específico – numa verdadeira profissão pública de fé.

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Durante o trajeto, pessoas nas ruas olhavam interessadas. As procissões católicas – embora cada vez mais escassas – não são de todo uma raridade, ainda hoje. Mas talvez o canto em latim, os paramentos do sacerdote, os véus das mulheres, a quantidade de crianças, e o desconhecimento do caráter comemorativo da data, talvez tudo isso despertasse especial interesse ali. Nos comércios ou de dentro dos seus carros, católicos faziam o sinal da cruz ao ver passar o padre e, logo a frente, o cruciferário com a Cruz de Nosso Senhor erguida e triunfante.

Cantavam as antífonas Adórna thálamum tuum Respónsum accépit Símeon e o Responsório Obtulerunt pro ei Domino, textos litúrgicos previstos no missal; o salmo Lauda Jerusalem; Ave Maria; e o glorioso hino Christus Vincit. De peculiar interesse foi ouvir o povo católico – em procissão em honra pública à Santíssima Virgem – entoando repetidas vezes “Christus vincit, Christus regnat, Christus imperat” logo em frente à sede brasileira da maçonaria…

Purificação de Nossa Senhora 20

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De volta à igreja, teve início a Santa Missa, toda cantada. O sermão do Pe. Daniel sobre a Purificação de Nossa Senhora encontra-se publicado neste link.

[Sermão] A Purificação de Nossa Senhora

Sermão para a Festa da Purificação de Nossa Senhora
02 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Luz para iluminar as nações.”

Celebramos hoje uma grande festa. A festa da Purificação de Nossa Senhora, festa também conhecida como Nossa Senhora da Candelária ou das Candeias, justamente pela procissão com velas que se realiza durante esse dia. Nesse dia, celebramos a purificação de Nossa Senhora no Templo e a Apresentação do Menino Jesus no Templo, em cumprimento da Lei Mosaica. Segundo a Lei, a mulher que tinha dado à luz contraía uma impureza legal, que deveria ser tirada com a oferta de um sacrifício no Templo. Segundo a Lei, o primogênito deveria ser apresentado no Templo, e consagrado inteiramente ao serviço de Deus, para demonstrar o soberano domínio de Deus sobre os homens e também em ação de graças pelos primogênitos judeus poupados, quando os primogênitos dos egípcios foram exterminados, a fim de que o povo judeu pudesse se livrar da escravidão. Todavia, depois que a tribo de Levi foi designada para servir no culto divino, os primogênitos deviam ser resgatados pelo valor simbólico de 5 ciclos.

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[Sermão] O Menino Jesus nos ensina pelo presépio de Belém

Sermão para a Solenidade do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
25 de dezembro de 2012 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Deus tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos  profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho (Heb. I, 1,2)

Hoje, no dia do nascimento do Menino Jesus, no dia do nascimento do Verbo de Deus, no dia do nascimento da Palavra Eterna de Deus no tempo, não convém que o sacerdote faça uso de suas próprias e pobres palavras. Convém que o Menino Jesus, o Verbo humanado, pregue hoje o sermão. E como não podia ser diferente, seus ensinamentos são a verdade e estão expressos no presépio em Belém, nas circunstâncias de seu nascimento. Ele não fala uma palavra, sendo um recém-nascido, mas aquilo que Ele nos diz é sublime.

Escutemos atentamente e com devoção o que o Menino Jesus tem para nos falar, poie é simples, mas extremamente profundo e necessário para o bem de nossa alma.

O Menino Jesus nos ensina por meio da noite. Ele nasceu em uma das noites mais longas do ano e à meia-noite. Ele fez isso para que seu nascimento fosse conhecido de um pequeno número, nos ensinando a humildade, mas também para nos ensinar que Ele é a luz do mundo, que vem a esse mundo para iluminar a todos os homens, que jaziam nas trevas do pecado.

O Menino Jesus nos fala por meio do feno, do frio, dos panos que o envolvem. Com todas essas coisas, Ele nos ensina a mortificação, sem a qual pouco podemos fazer no caminho da salvação.

O Menino Jesus nos fala por meio do boi e do burro ali presentes. Isaías havia dito: o boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono. Aí no boi e no asno estão significados os judeus e os pagãos. No asno, os pagãos porque eles, em particular, não compreenderam, antes da vinda de Cristo, a honra a que tinham sido elevados por Deus e haviam se tornado como asnos por causa de seus pecados e falsas religiões (referência ao Salmo 48, 13 e 21). Nada mais natural, em um estábulo, que a presença de um boi e de um burro, sobretudo em tempo de censo, no qual havia muitos viajantes que usavam bois e burros para se deslocarem a suas cidades de origem. Com a presença deles, a Divina Criança mostra que veio salvar a todos, judeus e gentios.

O Menino Jesus nos fala por meio da manjedoura. A manjedoura é o local em que os animais do estábulo se alimentam. A Divina Criança nos ensina que será para a nossa alma verdadeiro alimento. “Eu sou o Pão Vivo que desceu dos céus”, dirá Ele mais tarde.

O Menino Jesus nos fala por meio do estábulo. Toda a Terra e tudo o que ela contém pertence a essa criança. Ao querer nascer no estábulo, então, a Divina Criança nos ensina o desapego dos bens desse mundo… Ele nos ensina a usar dos bens que possuímos, sejam grandes ou pequenos, para servi-lo, unicamente. Ele nos ensina a pobreza de espírito, que faz de Deus o nosso verdadeiro tesouro. Sem esse desapego dos bens terrenos ninguém pode salvar-se.

O Menino Jesus nos fala por meio da cidade em que nasceu. Belém é a cidade de Davi. Nascendo em Belém, Ele nos ensina que é o filho de Davi, o Messias prometido desde a queda de Adão. E Belém significa casa do Pão. O Menino Deus nos ensina, insistindo, que Ele vai se tornar o alimento de nossas almas pela Santa Eucaristia.

O Menino nos fala por meio do censo estabelecido pelo Imperador e nos mostra que Ele é o Senhor da história e que mesmo os mais poderosos desse mundo estão sob seu domínio, pois Ele quis que o Imperador fizesse o censo para poder nascer em Belém e cumprir as profecias.

O Menino Jesus nos fala por meio dos pastores. São eles os primeiros homens a serem avisados da boa-nova. Por que são pobres? Sim, mas pobres de espírito. São os primeiro sorque são judeus e judeus que vigiavam o rebanho, trabalhando mesmo durante a madrugada. Com a presença desses pastores, o Menino Deus nos ensina que devemos vigiar e orar sempre, para podermos alcançar a verdadeira alegria.

O Menino Jesus fala por meio do Anjo. O anjo, provavelmente São Gabriel, se alegra com o nascimento de Jesus e o anuncia aos pastores e junto com grande multidão de anjos canta a Glória de Deus e sua infinita bondade. O anjo se alegra e se rejubila, pois com o nascimento do Menino Jesus, Deus será mais amado, em pouco tempo, do que o foi durante os milhares de anos que precederam o nascimento de Jesus. Com a presença do Anjo, a Divina Criança nos ensina a alegria de exercer o apostolado, de ajudar os outros a conhecer, amar e servir a Deus. Ele nos ensina a alegria que é a salvação.

O Menino Jesus fala por meio de São José. É um carpinteiro o responsável pela Santa Família. Com a presença de São José no estábulo, a divina criança nos ensina a servir e defender prontamente a Cristo e a Nossa Senhora. Ele nos ensina a defender a Igreja e a servi-la com extrema fidelidade e bravura, pois nesse momento poderíamos dizer que a Igreja se resumia aos três.

O Menino Jesus fala por meio de Maria Santíssima. É uma Virgem que se torna Mãe de Deus. Com a presença de Nossa Senhora no estábulo, Ele nos ensina que a castidade, a pureza, a submissão completa à vontade de Deus traz grandes frutos. É a virtude que traz grandes frutos e frutos de vida eterna. A santidade de Nossa Senhora trouxe a salvação, que é Cristo, não só para ela, mas para todos os homens.

O Menino Jesus escolheu todas essas circunstâncias para nos ensinar que Ele é verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus: esse Menino  é o Senhor dos anjos e dos homens, das cidades, dos astros do céus, dos animais, de todos os elementos da natureza. O Menino Jesus escolheu todas essas circunstâncias para que reconheçamos nEle o nosso Salvador.

Se o Menino Deus nos ensina tantas coisas e sofre tanto por nós, Ele nos pede uma só: que o amemos em troca, praticando o que nos ensina.  E Ele pede que o amemos profundamente. O Verbo se fez carne. Deixemos, então, o nosso coração de pedra, insubmisso a Deus. O Menino Jesus nasceu para que possamos amar a Deus sobre todas as coisas, retribuindo seu amor infinito.

Grande alegria, caros católicos! Um pequenino nos nasceu o Filho de Deus nos foi dado.

Puer natus est nobis et Filius datus est nobis.

Feliz e Santo Natal a todos.

Após a Missa haverá a adoração do Menino Jesus, feita no banco de comunhão. Terminada a adoração, todas as crianças estão convocadas a vir na sacristia com seus pais para receberem uma lembrancinha de natal preparada por uma fiel.

[Sermão] A Imaculada Conceição de Maria Santíssima

Sermão para a Solene Festa da Imaculada Conceição de Maria Santíssima
8 de dezembro de 2012 – Padre Daniel Pinheiro

 

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Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

Hoje é um dia de imensa alegria, caros católicos, dia de imensa alegria espiritual. Gaudens gaudebo. É com essas palavras de grande júbilo que a Santa Igreja começa a Missa de hoje. O Intróito da Missa sempre nos indica o estado de alma particular que devemos ter para assistir à Missa do dia. As primeiras palavras são as mais importantes. Gaudens gaudebo in Domino. Alegrando-me alegrar-me-ei no Senhor. A causa dessa imensa alegria espiritual é múltipla.

Nossa Senhora, concebida sem pecado, é a Estrela da manhã, nos diz a Ladainha da Santíssima Virgem. A estrela da manhã é mensageira infalível da aurora, da vinda do sol e indica o fim da noite. Quando a estrela da manhã se levanta no horizonte e sua luz brilha, já sabemos que o dia se aproxima.

É hoje o dia em que a estrela da manhã se levanta no horizonte.

É hoje, com a Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

Hoje, Maria Santíssima foi formada no ventre de Santa Ana, preservada do pecado original. A Imaculada Conceição anuncia a vinda próxima do Salvador.

O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo Bem-Aventurado Papa Pio IX em 1854. Eis as palavras do Santo Padre:

A Encíclica Ineffabilis Deus, do Papa Pio IX, definiu o dogma.

Pio IX definiu o dogma na Encíclica Ineffabilis Deus.

“[…] Com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, foi revelada por Deus, e, por isso, deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.”

Assim, trata-se de uma verdade revelada proposta como tal pela Santa Igreja. Aquele que a nega, duvida ou a questiona naufraga na fé e já não pode agradar a Deus, pois sem fé é impossível agradar a Deus, como nos diz São Paulo (Heb XI, 6).

Como todos sabemos, a Imaculada Conceição não é invenção do séc. XIX. Basta conhecer um pouco de história para ver quantas imagens da Imaculada Conceição anteriores a esse século existem. Mas muito mais do que isso.

A Imaculada Conceição está na profecia do Gênesis, que nos diz que uma mulher e sua raça será inimiga da serpente. Essa inimizade é tal que Nossa Senhora nunca esteve sob o domínio da serpente pelo pecado. E com sua descendência a mulher esmagará a cabeça da serpente.

A Imaculada Conceição está no Véu ou Velo de Gedeão: quando tudo ao redor recebeu o orvalho, o véu permaneceu seco. Quando tudo ao redor ficou seco, Nossa Senhora recebeu o orvalho.

A Imaculada Conceição está em Ester, dispensada da lei que mandava matar toda pessoa que aparecesse na presença do Rei sem ser anunciada. Ester apareceu diante do rei sem ser anunciada e não foi punida. Nossa senhora apareceu no mundo e não foi punida pelo pecado original.

A Imaculada Conceição está no anúncio do Anjo: Ave, CHEIA de graça.

A Imaculada Conceição está na “Mulher”, do décimo segundo capítulo do Apocalipse; revestida de sol, com doze estrelas ao redor, com a lua aos seus pés, vitoriosa sobre o dragão.

Poderíamos citar ainda outras passagens…

Vale destacar, porém, como o faz Pio IX, que a Imaculada Conceição não exclui Nossa Senhora da obra da redenção realizada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Só nEle pode ser encontrada a salvação. Maria Santíssima, como filha de Adão, deveria ter sido concebida com o pecado original. E se Ela foi preservada, foi preservada em virtude dos méritos futuros de Cristo. Nossa Senhora é, portanto, redimida, mas redimida de uma forma mais perfeita que os outros homens. Ela é redimida de uma maneira que convém à Mãe de Deus.

É possível salvar alguém da lama de uma poça de duas formas: ou impedindo que a pessoa caia na poça ou lavando a pessoa depois de ela ter caído na poça e se enlameado. Deus pode salvar da lama do pecado dessas duas formas. Claro que salvar uma alma preservando-a da lama do pecado é muito mais perfeito e melhor. Esse modo perfeito e mais pleno de redenção convinha unicamente à Mãe de Deus.

A Imaculada Conceição convém unicamente à Maria Santíssima e a mais ninguém. A Imaculada conceição é tão própria a Nossa Senhora que se tornou nome próprio. Nossa Senhora em Lourdes se apresenta à Santa Bernadette dizendo: Eu sou a Imaculada Conceição. Os pastores e os fiéis já muito antes de Lourdes chamavam Nossa Senhora de “a Imaculada Conceição”, ou simplesmente, “Imaculada”.

Dizíamos que hoje é um dia de júbilo por inúmeras razões.

É um dia de grande alegria porque toda a Santíssima Trindade é glorificada por sua obra-prima, aquela obra que estava na inteligência divina desde toda a eternidade, sempre associada ao Verbo de Deus Encarnado. A perfeição de Maria, a ausência de pecado e a sublimidade de suas virtudes nos permite ter um espelho da justiça divina, nos permite ver um reflexo da santidade divina e amar mais profundamente a Deus. Eis porque Maria é chamada “Espelho de Justiça”.

É um dia de grande alegria porque Nosso Senhor Jesus Cristo é honrado. Ora, parte da honra dos filhos está nos pais. O fato de Nossa Senhora nunca ter estado sob o mínimo domínio do pecado é uma grande honra para seu Filho, Cristo. O contrário, quer dizer, se Nossa Senhora tivesse conhecido o pecado, seria certa desonra para Nosso Senhor. Ora, em Cristo não há nenhuma desonra; é preciso, então, que Nossa Senhora seja concebida sem pecado.

Hoje é um dia de grande alegria porque honramos também a Nossa Senhora, quer dizer, damos testemunho de sua excelência. Pois isso é honrar: dar testemunho da excelência de alguém. Nós reconhecemos que ela nunca esteve sob o domínio do pecado.

A Imaculada Conceição, como todo privilégio dado à Maria, é uma preparação ou uma consequência da Maternidade Divina. Ora, para ser digna Mãe de Deus não convinha que Maria estivesse submetida ao pecado, não só no momento de sua concepção, mas durante toda a sua vida. Aquela que tanto cooperou na nossa Salvação não pode jamais ter estado sob o domínio do pecado e do demônio. Maria Santíssima foi concebida sem pecado e permaneceu pura de todo pecado e até mesmo de qualquer inclinação ao pecado durante toda sua vida. Em Maria, as paixões ou os sentimentos eram sempre ordenados pela razão e a razão inteiramente ordenada pela fé.

Todavia, a ausência de pecado em sua concepção e em toda a sua vida são simplesmente o aspecto negativo da Imaculada Conceição. Devemos, para testemunhar devidamente as excelências de Maria no Mistério da Imaculada Conceição, considerar também o aspecto positivo desse Mistério.

O primeiro ponto é que onde não há pecado, há, necessariamente, a graça, a amizade com Deus. Nossa Senhora foi, portanto, concebida em estado de graça. Mas não uma graça qualquer. A graça de Maria no momento de sua concepção é uma graça maior que a graça de todos os santos e anjos no céu. Repito: a graça de Maria no momento de sua concepção é maior que a graça de todos os santos e anjos no céu. Assim o dizem os mariólogos. E isso porque a preparação, ainda que distante, para se tornar Mãe de Deus exige uma graça superior a todas as outras graças juntas. A cada dignidade corresponde uma graça proporcional. A cada missão a graça necessária para cumprir bem essa função. A dignidade e a função de Mãe de Deus é imensamente superior a qualquer outra. Portanto, mesmo a preparação para essa dignidade exige uma graça imensamente superior a todas as outras, mesmo juntas.

Além disso, quanto mais algo está perto da causa, mais ela sofre o efeito. Quanto mais algo está perto de fogo, mais ele é esquentado. Maria Santíssima, pela Maternidade Divina, está o mais perto possível de Cristo, fonte da graça. Essa proximidade tem como efeito uma graça que não podemos calcular. E essa graça de Nossa Senhora foi crescendo ao longo de toda a sua vida, pois cada ato seu era feito com uma caridade mais intensa que o ato anterior. A graça em Nossa Senhora progredia em movimento acelerado, dada a sua fidelidade perfeita às inspirações divinas. Se já em sua Conceição Imaculada sua graça era superior a de todos os santos e anjos juntos, podemos imaginar quão ardente era sua caridade no final da vida.

Diga-se, de passagem, que toda essa plenitude de graça de Maria é um pálido reflexo da graça de Cristo. A graça de Cristo era tão grande, desde o momento de sua concepção, que não podia haver maior, de tal sorte que a graça de Cristo não podia nem mesmo crescer durante a sua vida. E, claro, junto com essa plenitude de graça em Maria Santíssima estavam também todas as outras virtudes em grau imenso: a fé, a esperança, a caridade, a prudência, a justiça, temperança, a fortaleza, a humildade, a modéstia, a paciência, a obediência e todas as outras.

Devemos, então, nesse 8 de dezembro, nos alegrar com tamanha excelência de Nossa senhora, com tamanha caridade, com tamanha fidelidade à graça, com tamanha adesão a Deus. Devemos, contudo, ter sempre em mente que Nossa Senhora guardou em cada momento de sua vida a liberdade, embora Deus a tenha assistido de modo particular.

Louvemos, portanto, à Maria, cantando suas excelências.

E o último motivo de alegria para nós é o bem de nossa própria alma. O dia da Imaculada Conceição deve favorecer em nós a devoção à Maria Santíssima, devoção que devemos ter, pois Deus quis que nos dirigíssemos ao Céu pelo mesmo caminho que Ele usou para vir até nós. Devemos ser devotos de Maria, pois Cristo nos entregou a ela como filhos. A devoção consiste na prontidão da vontade em se entregar às coisas que pertencem ao serviço de Deus. A devoção é, portanto, algo que está na vontade e não no sentimento. Ser devoto de Maria é estar sempre pronto para servi-la, a fim de poder melhor servir a Deus. Trata-se de melhor servir a Deus servindo a Maria, como fizeram os empregados nas bodas de Caná, obedecendo à Maria, a fim de obedecer a Cristo.

Todavia, essa prontidão no serviço a Maria para melhor servir a Cristo não brotará espontaneamente em nossas almas. A devoção tem duas causas: a primeira é Deus, a segunda é a meditação. Assim, se queremos ser verdadeiros devotos de Maria, servindo-a pela imitação de suas virtudes – que vimos são sublimes – devemos, primeiramente, pedir essa graça a Deus e a ela mesma. Devemos, ao mesmo tempo, considerar as virtudes de Maria Santíssima, pois dessa consideração nascerá o desejo de imitar essas virtudes, imitação que é a verdadeira devoção a Maria Santíssima.

Portanto, grande alegria nesse dia de hoje. Alegria porque com a Imaculada Conceição a Santíssima Trindade é glorificada ao mostrar ao mundo a sua obra-prima. Alegria porque Nosso Senhor Jesus Cristo é honrado, pois a honra dos filhos depende em parte da perfeição dos pais. Alegria porque Nossa Senhora é honrada, e isso não só pela ausência do pecado, mas pela presença sublime de todas as virtudes. Alegria porque a admiração e a consideração dessas virtudes são o primeiro passo para imitá-las. Alegria porque Nossa Senhora nos mostra o caminho da salvação. Ela nos mostra e nos transmite, qual um aqueduto, as graças que precisamos para chegar à salvação. Ela é a estrela da manhã que anuncia o sol. E onde há sol, já não pode haver trevas. Por sua Imaculada Conceição ela nos ensina o ódio ao pecado e o amor a Deus.

Um parêntese. Alegria também porque essa Virgem Imaculada, Mãe de Deus, está nos  céus e intercede por nós, por cada um de nós, e esmaga todas as heresias. Nesse tempo de apostasia generalizada, especialmente a partir do anos 60, recorramos à Imaculada Conceição. E confiança. Nossa Senhora manteve a fé, não se escandalizou. Alegria, Nossa senhora esmaga todas as heresias.

Ó Maria concebida sem pecado…

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] “É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo”

Sermão para a Solene Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (12 de outubro de 2012)

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

“Tu, Virgem Maria, és a glória de Jerusalém, a alegria de Israel, a honra do nosso povo” Judith 15, 10

Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição

Em 1717, três pescadores buscavam peixes no Rio Paraíba, próximo de Guaratinguetá, interior de São Paulo. Era em torno do dia 12 de outubro, e a câmara da vila havia pedido aos pescadores da região que apresentassem todos os peixes que pudessem conseguir ao novo governador da capitania que estava de passagem pela localidade. Os três pescadores percorreram grande distância entre dois portos sem conseguir pegar peixe algum. Eis, então, que lançando a rede mais uma vez pescaram o corpo da Senhora, sem a cabeça. Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, da Imaculada Conceição. Continuando a pescaria depois de tal descoberta, conseguiram pescar tantos e tantos peixes que tiveram de parar, receosos de que as canoas naufragassem por causa da abundante pesca. Eram certamente extraordinários esses fatos: o encontro da imagem, o encontro da cabeça que naturalmente deveria ter sido arrastada mais longe pela correnteza da água, além de ser dificilmente colhida por uma rede de pescador, dada a sua dimensão. Extraordinária também a pesca abundante que seguiu o encontro da imagem. A devoção a Nossa Senhora Aparecida começou, então, no oratório dos pescadores e graças foram obtidas e milagres realizados, notadamente as velas que se apagavam e se reacendiam sozinhas por diversas vezes. A devoção foi tanta, que, hoje, Aparecida é o maior Santuário Mariano no mundo. Em 1930, o Santo Padre, o Papa Pio XI, na plenitude de seu poder apostólico, constituiu e declararou a mui Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de “Aparecida”,a Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. No ano seguinte, 1931, no dia 31 de maio, em presença do Sr. Presidente da república, de altas autoridades civis e militares, de numerosas divisões das Forças Armadas, do Episcopado Brasileiro e de enorme multidão de fiéis, o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro proferiu o ato de consagração de todo o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, recomendando à Excelsa Padroeira todos os interesses e as necessidades da pátria. Nossa Senhora da Conceição era já a padroeira do Brasil por provisão do Rei de Portugal em 1646 e por declaração de D. Pedro I quando da independência. Simplesmente, ajuntou-se nesse momento o título de Aparecida por causa dos milagres ocorridos, das graças alcançadas e da devoção do povo.

Todos esses fatos nos permitem tecer algumas considerações interessantes. Antes de tudo, a importância de Nossa Senhora na obra da redenção. Nas duas pescas milagrosas no Evangelho, Nosso Senhor quer mostrar aos apóstolos que sem Ele, os únicos frutos que realmente nos interessam, que são os frutos de vida eterna, são inexistentes, apesar de nossos trabalhos e esforços nessa terra. Com Cristo, porém, e seguindo a sua palavra os frutos para a vida eterna são abundantes. Ora, a origem da devoção a Nossa Senhora Aparecida nos mostra algo parecido em relação a Nossa Senhora. A devoção a Nossa Senhora é necessária para que possamos chegar ao Filho e assim nos salvarmos, com frutos abundantes. Enquanto a imagem estava no fundo do rio, esquecida e quebrada, a pesca foi inútil. Depois de encontrarem a imagem e tratarem-na com o devido respeito, a pesca foi abundante. Nossa Senhora, na sua extrema delicadeza, permitiu aos pescadores que apresentassem o fruto de seus trabalhos ao governador da capitania. Nós, nós devemos apresentar os frutos de nossas obras a Nosso Senhor Jesus Cristo, justo juiz, governador do mundo. Sem o auxílio Maria Santíssima não teremos obras dignas de serem apresentadas a nosso Deus, porque Deus quis, não por necessidade, claro, mas por livre vontade que os homens passassem por Maria e quis salvar o homem de forma semelhante como esse havia pecado. No paraíso havia um homem, personagem principal e havia uma mulher que cooperou no seu pecado. Na Redenção há um homem, Cristo, que é também Deus e há uma mulher que coopera na obra infinitamente perfeita de Cristo, Maria.

Dissemos, então, que o Brasil foi consagrado a Nossa Senhora no dia 31 de Maio, data que se tornou depois a data da festa de Nossa Senhora Rainha. Pela consagração de nosso país a Nossa Senhora Aparecida nós reconhecemos e declaramos explicitamente e justamente um fato que já existe. Nossa Senhora é Rainha por sua maternidade divina, aliás, celebrada ontem, mas também por direito de conquista adquirido por sua participação única na obra da redenção de seu Filho. Nossa Senhora é Rainha dos Céus e da terra. Nossa Senhora é, portanto, Rainha do Brasil. Consagrando o Brasil a ela, dizemos que queremos nos submeter a ela espontaneamente, seguindo o seu exemplo e suas ordens, como fizeram os servos em Caná quando do primeiro milagre de NSJC. A devoção a Nossa Senhora consiste em servi-la e imitá-la para poder melhor servir e imitar Nosso Senhor Jesus Cristo.

Hoje, infelizmente, o Brasil, por meio de suas autoridades não quer mais honrar publicamente e se submeter a Nossa Senhora e, por meio dela, honrar e se submeter a Nosso Senhor Jesus Cristo. Claro, existem ainda pessoas devotas de Nossa Senhora Aparecida, mas é preciso que o país também o seja. Se o país por meio de seus governantes pode reconhecer a importância de tal ou tal obra pública, pode também reconhecer que Deus existe, que Cristo é Deus, que a religião católica é a verdadeira, e que devemos voltar a Deus pelo mesmo caminho pelo qual Ele veio até nós: por Maria. Infelizmente, hoje, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, embora colocada no maior Santuário mariano do mundo é desprezada pelo nosso país e muitas vezes mesmo por aqueles que mais deveriam zelar pela honra de Nossa Senhora. É como se a imagem se encontrasse no fundo do rio e quebrada. É preciso, então, fazer como os pescadores. É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo. É por meio de Nossa Senhora que Cristo quer distribuir as infinitas graças que mereceu em estrita justiça durante a sua vida, paixão e morte. O bem de um país não é somente o bem econômico ou um bem social material, mas inclui necessariamente o bem espiritual, bem espiritual que só pode vir de Cristo por Maria. Cristo veio ao mundo por Maria. Ele concede as suas graças por Maria. O bem de nosso país, o verdadeiro bem de nosso país, que consiste, antes de tudo, no favorecimento da prática das virtudes, da única verdadeira religião, passa necessariamente por Nossa Senhora. O bem de nosso país não virá da política ou de uma ideologia. O bem do nosso país deve vir da restauração de tudo em Cristo. Enquanto o Brasil persistir em deixar Nossa Senhora no fundo das águas, nosso país não avançará realmente. Não avançará naquilo que realmente importa: o trabalho pelo bem das almas que só se pode fazer em união com a Santa Igreja. Enquanto Nossa senhora está no fundo das águas, o país caminha para o abismo, rejeitando todos os bens que lhe tinham sido concedidos por Deus. Quantas das supostas leis de nosso país hoje ofendem a Nosso Senhor e quantas outras não estão a caminho de serem aprovadas? O divórcio, que tem destruído a sociedade brasileira e a sociedade no mundo inteiro junto com a anticoncepção. Tantas liberdades absolutas que são liberdades para o erro e para propagá-lo… Uniões homossexuais reconhecidas pelo Estado. Aborto, eutanásia. Quantas liberdades garantidas por lei que são no fundo libertinagem… O projeto de novo código penal está repleto dessas leis ofensivas a Deus e, portanto, prejudiciais ao homem: aborto, eutanásia, suicídio assistido, assassinato de crianças indígenas, se isso é conforme ao costume de uma dada tribo, punição dos que se opõem às uniões homossexuais, descriminalização do uso de drogas, prostituição infantil, terrorismo etc. Claro que tudo isso aparece no texto do projeto com outras palavras que chocam menos o povo brasileiro, que, em sua maioria, se opõe a tudo isso. Nem o argumento da democracia numérica justifica o que querem fazer. Chegamos ao ponto em que os animais são mais importantes que os homens, segundo esse mesmo projeto de Código Penal em trâmite no Congresso: não socorrer um homem é pena de uma a seis meses, enquanto não socorrer um animal é pena de 1 a 4 anos.  Inversão absurda, mas se se considera que o homem é mais importante que Deus por que não considerar que os animais são mais importantes que o homem? Aquele que nega Deus é capaz dos maiores absurdos. É isso que estamos vendo em nosso país. Nossa Senhora está no fundo das águas, esquecida e desprezada por nossa pátria.

Somos nós, então, que devemos pescar a imagem de Nossa Senhora no fundo das águas, a fim de que Ela proteja nosso país e faça com que o Brasil respeite os direitos de Deus, realizando assim a sua finalidade que é o bem de seus cidadãos. Somos nós que devemos ter uma devoção pessoal e verdadeira por Nossa Senhora, imitando as suas virtudes e pedindo que Ela seja reconhecida como a soberana suprema desse país. Devemos, por dever de justiça, de piedade filial, rezar e confiar nosso país a Nossa Senhora, a fim de que ele a reconheça como Mãe e Rainha e se submeta plenamente à vontade de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. E devemos incutir isso em nossas crianças. Por uma grande coincidência, não é?, dessas que não costumam ocorrer jamais, por um grande acaso, hoje é também o dia das crianças. Por que? Para fazer esquecer aos brasileiros e, sobretudo, àqueles que são o futuro de nossa sociedade, a soberania de Maria Santíssima e por meio dela a soberania de Seu Filho. Para fazer crer que o feriado é para as crianças se divertirem.

Devemos deixar claro para as crianças que o fundamental nesse dia 12 de outubro é Nossa Senhora e que foi ela quem nos trouxe o maior presente: o Menino Jesus. E se hoje é feriado, o objetivo não é outro: honrar Nossa Senhora e fazê-lo publicamente, confiando o nosso país a Ela e agradecendo todo o bem que Nossa Senhora já fez pelo nosso país.

Desde o começo de sua história, o Brasil se destacou por sua devoção à Imaculada Conceição. É preciso que isso continue.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, salvai o Brasil!

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Nota do editor: destaques são nossos.