[Sermão] O modernismo, a pior das heresias

Sermão para o XVI Domingo depois de Pentecostes
28 de setembro de 2014 – Padre Daniel Pinheiro

.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria.

Caros católicos, no último dia 3 de setembro, a Igreja comemorou a festa do Papa São Pio X. Giuseppe Sarto foi pároco de uma pequena cidade, Bispo de Mântua, cardeal Patriarca de Veneza e, finalmente, Papa, de 1903 a 1914. Nós estamos, então, no ano do centenário de seu falecimento. São Pio X foi um Papa Santo, que soube governar a Igreja com as virtudes de um verdadeiro chefe e pai. Dentre os melhores e mais importantes atos de São Pio X está o combate veemente que ele fez ao pernicioso erro do modernismo, que ele chamou de síntese de todas as heresias ou, segundo outras traduções, de esgoto coletor de todas as heresias. Esse erro que São Pio X combateu com tanta força resistiu ao tempo e triunfou mesmo no seio da Igreja, com tantos danos para as almas.

O modernismo, síntese de todas as heresias, destrói a religião católica, caros católicos. O modernismo se baseia em dois princípios da filosofia moderna: o agnosticismo e o imanentismo. O modernismo se baseia no agnosticismo. Isto significa que o modernismo nega que nós possamos conhecer a verdade objetiva tal como ela é. Não podemos conhecer as coisas tais como elas são, mas temos simplesmente impressões das coisas nos diz esse erro. Assim, também não podemos conhecer se Deus existe ou não. Deus não pode se revelar aos homens, nos dizendo verdades a crer ou coisas a fazer. Enfim, não temos acesso a Deus. Não podemos saber se Ele existe e Ele não pode se revelar a nós. Esse erro do agnosticismo é próprio da filosofia moderna, e tem seu início com Descartes, passando por Kant e outros filósofos modernos.

Essa impossibilidade de conhecer a realidade exterior – que a filosofia moderna afirma erroneamente – fecha o homem em si mesmo, no mundo das suas ideias. Assim, para o homem só tem valor o que sai dele mesmo, passa a ser verdade unicamente o que tem origem nele. Só serve para o homem o que emana dele mesmo. É o princípio da imanência. O modernismo nega, então, que a religião seja revelada por Deus aos homens e afirma que a religião vem do próprio homem, de um confuso sentimento religioso que está no homem. A religião não seria nada mais do que esse sentimento que está no homem. Os dogmas nada mais seriam do que a expressão imperfeita e sempre inadequada desse sentimento que está no homem. A doutrina católica nada mais seria do que uma invenção dos homens para satisfazer esse sentimento religioso. Mas, como o sentimento é algo que muda ao longo do tempo, seria preciso mudar também a doutrina católica, os dogmas, para adaptar tudo isso ao sentimento religioso que muda. Os dogmas devem evoluir. Se hoje, por exemplo, as pessoas já não aceitam mais a indissolubilidade do matrimônio, seria preciso mudar isso, para satisfazer o sentimento religioso das pessoas. Nós vemos, então, que o modernismo torna a religião algo puramente subjetivo, ao negar que nós podemos conhecer a existência de Deus, ao negar que Deus pode se revelar a nós e ao afirmar, em contrapartida, que só tem valor o que vem de nós. Cada um faz a sua própria religião, desde que se sinta bem na religião que fabricou ou escolheu. Assim, se a pessoa já não se sente bem na Igreja Católica porque ela quer se divorciar e casar novamente, ela passará para uma seita qualquer, onde pode fazer o que bem entende e se sentir bem com isso, achando que, se sentindo bem, estará em união com Deus. O homem toma o lugar de Deus e faz a sua própria religião, define as suas verdades. Tudo, no modernismo, deve ser voltado para o homem. A religião não é mais para aderir às verdades que Deus revelou e para amá-lo fazendo a vontade dEle. Não, a religião passa a ser simplesmente algo para satisfazer o homem, em função do homem. A religião passa a ser algo para fazer o homem se sentir bem e ela tem que se adaptar à mentalidade dos homens para que eles se sintam bem. É exatamente isso que nós vemos hoje em dia. Muitos querem adaptar a Igreja Católica à mentalidade moderna. Já não se aceita mais a noção de uma sociedade hierárquica: é preciso igualar sacerdotes e leigos. Esses últimos devem distribuir a comunhão, devem fazer as leituras, devem usar roupas de distinção, etc. Já não se aceita mais a diferença entre homem e mulher: é preciso que a mulher seja ordenada sacerdotisa. Já não se aceita mais a noção de sacrifício: é preciso tentar reduzir a Missa a uma mera ceia, a uma mera refeição. Já não se aceita mais o teocentrismo: é preciso colocar a liturgia em vernáculo, é preciso que o padre esteja virado para o povo. Já não se aceita mais a indissolubilidade do matrimônio: é preciso dar a comunhão aos católicos divorciados recasados. Já não se aceita mais a possibilidade do pecado: não é preciso mais confessar e o padre não deve falar sobre o pecado no sermão.  Já não se aceita mais a presença real de Cristo em corpo, sangue, alma e divindade nas espécies consagradas: é preciso dizer que se trata de uma presença simbólica. Já não se aceita mais um estado que confesse a religião católica: é preciso defender o estado laico. E assim por diante, caros católicos. Quantas consequências funestas do modernismo que nós vemos por toda parte mesmo nos meios católicos.

Além disso, caros católicos, é forçoso constatar que cada um tem um sentimento religioso distinto, de forma que alguns podem satisfazer esse sentimento religioso com o catolicismo, outros com o protestantismo, outros com o islamismo, outros com a umbanda, etc. E tudo o que satisfaz o sentimento religioso é verdadeiro. Consequentemente, todas essas religiões ou doutrinas são verdadeiras, na medida em que satisfazem o sentimento religioso de uma pessoa ou de um grupo. Esse entendimento da fé como sentimento, entendimento que é próprio do modernismo, leva à mais completa indiferença religiosa: todas as religiões passam a se equivaler, todas as religiões são boas, pois há pessoas que se sentem bem nelas. Quantas vezes ouvimos: o importante é a pessoa se sentir bem. O importante não é a pessoa se sentir bem. Se sentir bem ou mal não tem muita importância. O importante é a pessoa fazer o bem, seguindo a vontade de Deus, cumprindo os mandamentos. Nosso Senhor, no Jardim das Oliveiras, ao dizer que sua alma estava triste até à morte, não estava se sentindo bem, caros católicos. Mas fazia a vontade de Deus. Na cruz, Nosso Senhor, ao dizer “Meu Deus, Meu Deus por que me abandonaste?”, não estava se sentindo bem, mas estava fazendo um grande bem, Ele estava fazendo a vontade de Deus para nos redimir.

O quanto o modernismo e suas consequências são opostas à realidade das coisas deve estar muito claro para todos nós. O modernismo, baseando-se na filosofia moderna, destrói tudo. Não sobra pedra sobre pedra, como vimos. Vejamos a verdade das coisas, baseada na sã filosofia e na doutrina católica. Que Deus existe, caros católicos, nós podemos conhecer pela nossa razão. Aristóteles, filósofo pagão, já havia provado a existência de Deus. Do nada, nada se faz. Do caos ou do acaso não pode vir a ordem. Do menor ou do menos perfeito não pode vir o maior ou o mais perfeito. É preciso um ser que criou tudo o que existe e que não foi criado. Com coisas tão perfeitas na natureza e com tanta ordem, é preciso uma inteligência que pensou e executou tudo quanto existe. É irracional negar ou duvidar da existência de Deus. Como nos diz a Sagrada Escritura: dixit insipens in corde suo, non est Deus (disse o tolo em seu coração, Deus não existe). É preciso realmente ser tolo ou estar cego pelas paixões desordenadas para não chegar à conclusão de que Deus existe. Deus existe e sendo um ser inteligente e onipotente, Ele pode se comunicar a nós, Ele pode se revelar a nós. E nós, sendo também seres inteligentes, podemos receber a revelação divina e podemos ser elevados por ela. E nossa razão nos mostra que se Deus nos fala, devemos aderir de modo absoluto, com certeza absoluta e sem nenhuma dúvida, porque Deus não pode se enganar nem nos enganar. E Ele, de fato, se revelou a nós. Deus nos falou e enviou seu próprio Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, que nos mostra sua missão divina ao longo de todo o Evangelho, com obras divinas, com ensinamentos divinos. Nosso Senhor nos falou e Ele fundou sua Igreja, sobre Pedro, para perpetuar até a consumação dos séculos a sua obra redentora, para guardar intactos os seus ensinamentos. É a Igreja católica. Não somos nós, caros católicos, que criamos a religião, segundo nossos gostos. É Deus que no-la dá. Foi Deus que se dignou em obra de infinita misericórdia nos falar de si mesmo. A nós cabe agradecer a Deus tão imensa bondade e aderir de toda a nossa alma e de todo o nosso coração a Ele que é imutável e que nos comunicou verdades imutáveis. Não podemos mudar aquilo que nos foi dado por Cristo. Não podemos mudar o credo, não podemos mudar a doutrina da Igreja, a moral da Igreja, não podemos mudar a constituição da Igreja. Não podemos querer adaptar a Igreja ao mundo, mas devemos querer converter o mundo à Igreja.

O Papa São Pio X, de quem comemoramos o centenário de nascimento para o céu nesse ano de 2014, em sua Carta chamada Notre Charge Apostolique, dirigida aos Bispos franceses, a respeito de um movimento chamado Sillon afirmou: “os verdadeiros amigos do povo não são os revolucionários nem os inovadores, mas os tradicionalistas.”

Tradição não quer dizer, porém, imobilismo completo. A Tradição da Igreja compreende diferentes aspectos. Alguns podem mudar outros não. O depósito da fé, os ensinamentos infalíveis de fé e moral não podem ser mudados. Aquilo que foi revelado aos apóstolos por Cristo ou pelo Espírito Santo e que se transmite de geração em geração não pode ser mudado. Essa tradição chama-se tradição divina. Ela não pode ser mudada. Existe também a tradição eclesiástica, que são todas as coisas que não são intrínsecas ao depósito da fé, mas que são o patrimônio e a herança das gerações precedentes transmitidas para as gerações subsequentes pela Igreja. Na tradição eclesiástica pode haver certas mudanças. Não se exclui a aceitação de mudanças legítimas naquelas partes da tradição que podem mudar. Na medida em que uma mudança não é uma novidade, na medida em que a mudança é feita por quem tem autoridade para fazê-la, na medida em que não se rejeita a legitimidade do que veio antes e na medida em que a mudança é realmente necessária, a mudança pode ser possível e legítima. Em algumas coisas a tradição pode ser mudada em outras não. Nos aspectos em que a tradição eclesiástica pode ser mudada, a mudança deve ser baseada na própria natureza desse aspecto da tradição. Por exemplo, os ritos litúrgicos só podem ser mudados quando as mudanças são realmente orgânicas, sem rupturas, sem fabricações artificiais, e quando as mudanças servem para expressar mais perfeitamente a fé e quando a composição das orações expressa melhor a intenção da Igreja e quando as orações são tornadas, desse modo, mais eficazes (para estudo mais completo sobre o assunto, ver Topics on Tradition, do Padre Chad Ripperger). Assim, podemos citar como exemplo de mudança bem feita a introdução na idade média da elevação das espécies logo após a consagração, para expressar mais perfeitamente a fé na presença real e substancial de Cristo. Uma mudança na liturgia não pode destruir todo

o edifício litúrgico desenvolvido sabiamente ao longo dos séculos, nem amenizar a profissão de fé, diminuindo, por exemplo, os gestos que confessam a presença de Cristo na Eucaristia, diminuindo as genuflexões do padre, diminuindo o cuidado com as partículas consagradas, etc. Coisa que, infelizmente, aconteceu com a liturgia nos últimos 40 anos. Enfim, nenhuma parte da tradição deve ser mudada, exceto quando a mudança favorece realmente o crescimento na fé daqueles que são os destinatários da tradição e quando essa mudança está de acordo com a natureza daquilo que vai ser mudado. A fé é o princípio constante que deve sempre guiar qualquer mudança nesses aspectos passíveis de mudança na tradição. Se a mudança diminui a expressão da fé ou se ela diminui a fé dos membros da Igreja, não será uma mudança boa.

Diante de tal grave erro, que é o modernismo – a pior das heresias – devemos ter uma fé sólida, profunda, viva. Devemos com alegria aderir à revelação de Deus, que nos falou pelos profetas e por seu próprio Filho. Devemos ter uma fé viva, que age pela caridade, pelo amor a Deus e ao próximo. Para ter essa fé, devemos, antes de tudo, pedi-la a Deus. Devemos ter uma vida séria de oração e devemos buscar conhecer, segundo nosso estado e nossa condição, a doutrina da Igreja. Devemos também ter um amor profundo pela tradição eclesiástica, por essas coisas que se foram formando ao longo dos séculos a partir do conhecimento profundo que a Igreja tem de nossa natureza humana e da doutrina de Cristo. Como diz São Paulo: “que Cristo habite pela fé em nossos corações, para que, fundados na caridade possamos compreender a latitude e a longitude, a altura e a profundidade do amor de Cristo para conosco.”

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] Exortação às crianças que recebem a Primeira Comunhão

Sermão para o Terceiro Domingo depois de Pentecostes
09 de junho de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

***

Gostaria de lembrar que para comungar é preciso ser batizado, católico (e só católico, sem mistura de outras religiões ou doutrinas), não ter pecado grave na consciência (por exemplo, ter faltado à Missa aos Domingos por negligência, estar em situação matrimonial irregular ou usar método anticoncepcional), jejum de pelo menos uma hora antes da comunhão, estar vestido de maneira decente (quer dizer, cobertos os joelhos e os ombros inclusos e tudo o que se encontra entre os dois. A esse respeito ver a instrução no início do livreto da Missa).

***

 Antes de me dirigir às crianças e, por meio delas, a todos, gostaria de lembrar a doutrina da Igreja acerca da primeira comunhão das crianças feita na idade em que elas começam a ter o uso da razão, quer dizer, em torno dos sete anos. Relembrarei simplesmente as palavras de São Pio X em seu decreto Quam Singulari de 1910 – recomendo a todos que o leiam – em que esse Papa Santo dá o último golpe contra os erros nessa matéria, em particular contra o jansenismo que exigia um estado de perfeição para a recepção da Sagrada Comunhão e um alto nível de instrução das crianças, fazendo-as esperar até os 10, 12, 14 ou mais anos. Infelizmente, o erro que São Pio X combateu se encontra hoje – e já faz algumas décadas – novamente difundido: a primeira comunhão e a primeira confissão se fazem muito tarde.

Diz São Pio X:

“(…) Este costume [nota do pregador: de receber tardiamente a primeira comunhão] que, sob o pretexto de assegurar o respeito devido ao Augusto Sacramento, afasta dele os fiéis, foi causa de males sem conta. Sucedia, de fato, que a inocência da criança, arrancada aos afetos de Jesus Cristo, não se alimentava de nenhuma seiva de vida interior; e, consequentemente, a juventude, privada de socorro eficaz e cercada de tantas armadilhas, perdia o candor e caía no vício, antes de ter provado dos Santos Mistérios. E ainda que se preparasse a Primeira Comunhão por uma formação mais diligente e uma Confissão mais cuidadosa, o que, na verdade, não se faz em todo lugar, sempre há um prejuízo para a primeira inocência, prejuízo que talvez pudesse ser evitado, se a Eucaristia fosse recebida em idade mais tenra.

(…) Causaram esses danos os que insistem mais do que é justo em que preparações extraordinárias antecedam à Primeira Comunhão, talvez sem perceber que esse gênero de cuidado deriva dos erros jansenistas, que sustentam que a Santíssima Eucaristia é um prêmio, e não um remédio para a fragilidade humana. Muito oposto a isso era o espírito do Concilio Tridentino, que ensinou que a Eucaristia é “o antídoto por meio do qual somos liberados das culpas quotidianas e preservados dos pecados mortais.” (Sess. XIII, de Eucharistia)

(…) a idade de discrição para comungar é aquela em que a criança sabe distinguir o pão Eucarístico do pão comum e corporal, para poder se aproximar do altar devotamente. Assim, não se requer um conhecimento perfeito das verdades de Fé, pois o conhecimento de alguns elementos basta, e isso é ter um certo conhecimento; nem se requer o uso perfeito da razão, pois basta um uso incipiente, e isso é ter um certo uso da razão. Com tudo isso, adiar a Comunhão, e estabelecer idade mais madura para recebê-la, deve ser algo completamente reprovado. E a Sé Apostólica muitas vezes condenou isso.”

No final do decreto, o Papa estabelece normas com relação ao assunto:

“I. A idade da discrição tanto para a Confissão quanto para a Comunhão é aquela em que a criança começa a raciocinar, isto é, pelos sete anos, às vezes mais, às vezes menos. Nesse período, começa a obrigação de satisfazer aos dois preceitos da Confissão e da Comunhão.

II. Para a primeira Confissão e primeira Comunhão, não é necessário um pleno e perfeito conhecimento da doutrina cristã. A criança, porém, deverá aprender depois gradativamente todo o catecismo, em conformidade com sua inteligência.

III. O conhecimento da religião que se requer da criança para que ela se prepare convenientemente para a primeira Comunhão é que ela entenda, segundo a sua capacidade, os mistérios necessários por necessidade de meio (nota do pregador: Santíssima Trindade e Encarnação, além da existência de Deus e do fato de que Deus é remunerador na ordem sobrenatural) e diferencie o pão eucarístico do pão comum e corporal, para que se aproxime da Eucaristia com a devoção que sua idade comporta.

IV. A obrigação do preceito da Confissão e da Comunhão que concerne à criança recai principalmente sobre aqueles que devem cuidar dela, isto é, sobre os pais, sobre o confessor, sobre os mestres e sobre o pároco. Ao pai, porém, ou àqueles que estão em seu lugar, e ao confessor é que cabe admitir a criança à primeira Comunhão, segundo o Catecismo Romano.

VII. O costume de não admitir as crianças à Confissão ou de nunca lhes dar a absolvição, embora tenham atingido o uso da razão, deve ser completamente reprovado. Por isso, os Ordinários locais, empregando também os remédios do direito, cuidarão para que tal costume desapareça inteiramente.”

Até aqui o decreto do Papa. Podemos ver, então, que a comunhão quando a criança atinge o uso da razão – em torno dos sete anos – é de uma necessidade grande para que ela preserve a sua alma pura de todo pecado, para que ela adquira forças para não cair nas inúmeras ciladas do mundo e do demônio, sobretudo em nossa sociedade atual. O Concílio de Trento diz que “as crianças que não têm o uso da razão não são obrigadas à Comunhão Sacramental por nenhuma necessidade” “pois nessa idade não podem perder a graça de filhos de Deus que receberam”. A única razão, então, que dá o Concílio de Trento para justificar que as crianças não são obrigadas a comungar é o fato de não poderem pecar. Assim, a partir do momento em que podem pecar mortalmente, quer dizer, a partir dos sete anos maios ou menos, elas precisam se confessar e precisam receber a Santa Eucaristia, para evitar a queda, para se fortalecerem espiritualmente, a fim de guardarem a pureza batismal. A comunhão feita cedo é um bem enorme para a criança, para a Igreja, para a sociedade.

Gostaria de dirigir, agora, algumas palavras àqueles que vão receber o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo pela primeira vez.

João Vitor, Miguel, Mateus, Jonathan, Enzo, Catarina e Bárbara. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês, pois hoje é o próprio Jesus Cristo que vocês irão receber na hóstia consagrada. Nosso Senhor Jesus Cristo. Com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Vocês vão receber Nosso Senhor Jesus Cristo, que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Vocês vão receber Jesus Cristo, que passou a sua vida fazendo o bem. Vocês vão receber Nosso Senhor, que fez os mais sublimes milagres. Vocês vão receber Nosso Senhor, que nos ensinou a Verdade. Nosso Senhor, que veio ao mundo unicamente para nos salvar e obedecer assim a Deus Pai. Vocês vão receber Jesus, que nasceu de Maria Virgem, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado morto e sepultado para perdoar os pecados de vocês e para salvar a alma de vocês e de todas as pessoas. Vocês vão receber o próprio Deus, criador de todas as coisas, do céu e da terra, dos anjos, dos minerais, das plantas, dos animais, dos planetas, dos homens: criador de tudo o que existe. Que graça enorme e que bondade enorme a de Nosso Senhor Jesus Cristo: se entregar a nós na Eucaristia para que possamos nos salvar. Portanto, vocês sabem muito bem que aquilo que vocês vão receber parece pão, tem gosto de pão, mas que é, na verdade, o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês: é o dia em que o próprio Deus vai se entregar a vocês como alimento espiritual, para dar forças para que vocês sejam pessoas boas, quer dizer, pessoas que seguem aquilo que Cristo ensinou.

Hoje deve ser o dia mais alegre da vida de vocês, pois vão receber o maior bem e o maior tesouro que poderiam desejar. Não se trata de um brinquedo, de uma diversão de algo que passa e caba rapidamente. Não. É o próprio Deus que vocês vão receber. Deus, que é infinito, que é nossa felicidade e nossa alegria. Vocês receberão o próprio Deus na Eucaristia e o receberão bem preparados, com a alma pura, com o desejo de serem melhores cristãos: acreditando mais firmemente naquilo que Deus nos falou, praticando melhor os mandamentos, deixando de lado todo pecado, combatendo, com todas as forças de vocês, o pecado mortal e também o venial, que são os dois maiores males que existem. Se vocês receberem bem o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Cristo, e receberem com frequência, vocês irão ao céu, vocês serão eternamente felizes no céu e agradarão a Deus.

Lembrem-se de que vocês, como todas as outras pessoas, foram criados para conhecer, amar e servir a Deus aqui na terra, para poder ser eternamente feliz com Ele no céu. Fazer uma coisa que não nos leve a conhecer, amar ou servir a Deus é perder o nosso tempo. Lembrem-se, então, de que a primeira comunhão não é o fim, mas o começo.

[Às crianças que fazem a Primeira Comunhão]: “Façam o esforço para rezar o terço diariamente, imitando o exemplo da Jacinta e do Francisco, crianças que viram Nossa Senhora de Fátima. Eles rezavam o terço diariamente e tinham a idade de vocês.”

A partir de hoje, vocês terão que se esforçar ainda mais para fazer aquilo que Deus manda, pois fazer o que Deus manda agrada a Ele e faz bem para vocês. A partir de hoje, vocês terão que rezar ainda mais: ao acordar, antes de dormir, antes das refeições, e várias outras vezes durante o dia vocês devem dirigir palavras a Jesus Cristo e à sua Mãe, Maria. Façam o esforço para rezar o terço diariamente, imitando o exemplo da Jacinta e do Francisco, crianças que viram Nossa Senhora de Fátima. Eles rezavam o terço diariamente e tinham a idade de vocês, aproximadamente. A partir de hoje, vocês terão que procurar conhecer ainda melhor aquilo que Cristo ensinou,para poder amar mais a Cristo e colocar em prática tudo o que Ele nos falou. Leiam o catecismo, perguntem aos pais, que têm obrigação de ensinar a doutrina cristã aos filhos, perguntem ao Padre. A partir de hoje, vocês terão que praticar ainda melhor os mandamentos, evitando com todas as forças de vocês o pecado, pois o pecado ofende a Deus e prejudica a alma de vocês. A partir de hoje, vocês devem receber com frequência a confissão e a comunhão. Se caírem em pecado mortal, procurem confessar rapidamente, fazendo o exame de consciência, com arrependimento, com o propósito de não mais voltar a pecar, confessando sem medo todos os pecados e cumprindo a penitência dada pelo Padre.

A partir de hoje, vocês assistirão à Missa prestando atenção no que está acontecendo, sem se distrair, sem conversar, sem brincar com o irmão ou a irmã. Vocês assistirão à Santa Missa com devoção, entregando tudo o que vocês são e tudo o que vocês têm para Deus. Lembrem-se sempre de que a Missa é a renovação do sacrifício do Calvário, a renovação da crucificação de Cristo. A Missa é o que tem de mais importante na face da terra. Na Missa, vocês devem adorar a Deus, reconhecendo que ele é o Senhor e o Mestre de todas as coisas e se submetendo a Deus todo-poderoso. Na Missa, vocês devem pedir perdão a Deus por todos os pecados que vocês cometeram. Na Missa, vocês devem agradecer por todos os benefícios, por todas as graças que Deus deu a vocês: foi Ele que criou vocês, é pelo poder dEle que vocês continuam existindo, é pela bondade dEle que vocês vão receber a Sagrada Comunhão, é pela bondade dEle que vocês fazem coisas boas. Na Missa, vocês deverão pedir a Deus as graças, as ajudas que vocês precisam para praticar o bem e para não praticar o mal, que é o pecado.

Peçam, principalmente, a graça de serem fortes: a graça de continuarem fazendo sempre a vontade de Deus, sem dar atenção aos colegas que zombam de vocês porque vocês praticam a religião, sem dar atenção a outras dificuldades. Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu muito, até a morte e morte de Cruz, mas sempre continuou fazendo o bem, fazendo a vontade de Deus. Vocês devem imitar Nosso Senhor. Nunca deixar de fazer o bem, por mais difícil que seja. Assim, vocês serão verdadeiros heróis, vocês serão santos.

A partir de hoje, vocês deverão ter uma devoção muito grande a Nossa Senhora, Maria. Ela é a Mãe de vocês. Ela é uma boa Mãe que sempre nos ajuda. Nas dificuldades, nos sofrimentos, nas tristezas, mas também nas alegrias e em todas as situações, rezem para Nossa Senhora, rezem o Terço. Ela sempre nos leva para o Filho dela: Jesus Cristo.

Hoje e todos os dias, vocês devem receber a comunhão com muita devoção, sempre na boca, de joelhos, pedindo a Deus que Ele faça de vocês pessoas santas. Uma só comunhão basta para nos transformar, para nos fazer deixar os nossos erros e os nossos maus hábitos e costumes. Recebam a comunhão pedindo a Jesus Cristo a santidade, pedindo a Ele a graça de perseverar com a alma pura até o dia da morte de vocês, para que, nesse dia, vocês possam ir para o céu, para que possam ser eternamente e infinitamente felizes.

É o próprio Deus que vocês vão receber agora na alma de vocês. Façam para Deus uma morada, uma casa digna, com uma alma pura, uma alma que busca em todas as coisas agradar a Deus. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês. Vocês receberão o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.