[Republicação] Texto publicado originalmente em 30 de abril de 2010.
Nota: em tempos de padres excomungados… ainda melhor circunstância para a republicação.
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Hoje, segundo o calendário litúrgico do Missal Romano de 1962, celebra-se a festa de Santa Catarina de Sena, essa que foi uma santa admirável do séc. XIV, uma brava religiosa que teve influência fundamental para a resolução do Grande Cisma do Ocidente. Fazendo uma leitura de uma de suas cartas, que segue abaixo, achei que valeria a pena lembrar com que coragem e fervor agia essa eloquente santa em suas cartas, não hesitando em condenar e dizer poucas e boas àqueles que agiam mal, especialmente os próprios sacerdotes. Quanto ela não diria hoje a esse clero que causa tanto escândalo e humilhação à Santa Madre Igreja e ao Papa Bento XVI?.
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Os males do egoísmo
(Carta 2, para o padre André Vitroni)
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“(…) Ao contrário, o cristão que usa a razão torna-se um anjo na terra. Sobretudo os sacerdotes, que Deus chama de “ungidos”, devem ser anjos, não homens! E realmente o são, quando não recusam a iluminação divina. O sacerdote desempenha o ofício dos anjos! (…) Assim, os sacerdotes na hierarquia dão-nos o corpo e o sangue de Cristo crucificado, Deus e homem pela união da natureza divina com a humana; em Jesus a alma estava unida ao corpo; a alma e o corpo estavam unidos à divindade, em natureza igual à de Deus Pai. Mas o sangue e o corpo de Jesus devem ser ministrados por pessoas retamente iluminadas por Deus na ardente chama da caridade, para suas almas não serem devoradas pelo lobo infernal. Sacerdotes assim alimentam-se de virtudes, que depois são dadas às almas para a vida na graça, como frutos de uma caridade perfeita e verdadeira.
Como dissemos antes, agem diversamente os que cultivam na alma a árvore do egoísmo. Toda sua vida é corrompida, uma vez que corrompida está a raiz principal, a afeição da alma. (…) Tratando-se de religiosos ou sacerdotes, suas vidas não imitam a vida dos anjos, nem a dos homens, mas a dos animais, que rolam na lama. Às vezes são piores que leigos! De que ruína e castigo são dignos! A linguagem humana é incapaz de os descrever. No dia do juízo, a alma experimentará! Tais pessoas desempenham o papel dos demônios, que procuram afastar as almas de Deus para levá-las consigo ao falso descanso. Também eles abandonaram a vida reta e santa, perderam a iluminação divina, vivem na maldade.
Vós (padre André, a quem S. Catarina escreve) e os demais sacerdotes sabeis disso e o vedes! Há padres e religiosos cruéis consigo mesmos, amigos do demônio e companheiros dele antes da hora. São cruéis também com os outros, pois não amam o próximo na caridade. Não protegem as almas; devoram-nas. Põem-se a si mesmos nas mãos do lobo infernal. Ó homem infeliz! Quantas coisas te pedirá o supremo juiz e tu não as poderás dar. Por isso cairás na morte eterna. Não percebes o castigo futuro, porque estás sem a iluminação divina, não tens consciência da missão que Deus te deu.
Alguém assim não leva vida de religioso, porque tudo nele está desordenado. Nem leva a vida de clérigo, fiel ao Ofício Divino, como é seu dever, cuidando dos pobres, zelando pela Igreja. Ao contrário, tais pessoas vivem como senhores, no luxo e nos prazeres, com muitos ornatos, muita comida, muito orgulho e empáfia. Parecem insaciáveis. Se possuem um benefício, querem dois; se possuem dois, querem três. Jamais se dão por satisfeitos. No lugar da Ofício Divino – oxalá não fosse verdade! – põem prostitutas, armas e espadas, como para se defenderem de Deus contra quem estão em guerra. Mas como lhes será difícil, quando o Senhor estender para eles a vara da justiça divina. Com seus bens, tais infelizes alimentam filhos e outros demônios encarnados, amigos seus.