Sermão para o 19º Domingo depois de Pentecostes (7 de outubro de 2012)
Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

A Batalha de Lepanto
Caros católicos, estamos hoje no 19º Domingo depois de Pentecostes, mas festejamos também a festa de Nossa Senhora do Rosário. A história da Festa de Nossa Senhora do Rosário é uma história de vitória. A origem da festa, antes chamada de Nossa Senhora da Vitória, está, justamente, na vitória dos católicos sobre os turcos na batalha naval de Lepanto em 1571, sob o Papa São Pio V. A vitória foi atribuída em grande parte às orações e procissões feitas pela Confraria do Rosário durante a batalha. Uma outra vitória dos católicos sobre os turcos, em 1716, na Hungria, permitiu que o Papa Clemente XI tornasse a festa, já chamada de Nossa Senhora do Rosário, uma festa para toda a Igreja. O Terço precede a Festa de Nossa Senhora do Rosário e se confunde com a própria história da Igreja, quando muitos que não podiam rezar o 150 Salmos o substituíam por 150 Pais-Nossos e Ave-Marias. Tal como o conhecemos hoje, o Rosário foi dado por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, fundador dos dominicanos, a fim de que o santo pudesse converter os hereges cátaros no sul da França por meio dessa oração, visto que todos os outros meios tinham sido inúteis. Esse fato – de que o terço foi dado por Nossa Senhora a São Domingos – é confirmado por pelo menos dezesseis Papas. Depois de começar a rezar o Rosário e ensiná-lo aos outros, o sucesso da pregação de São Domingos foi admirável. O Santo Rosário ou a terça parte dele, conhecida como Terço é, então, uma devoção que nos dá a vitória sobre os nossos inimigos, sobre nós mesmos, sobre o mundo e o demônio. O terço é, então, uma arma poderosíssima e nós não podemos negligenciá-la se nos preocupamos com a nossa salvação.
O Terço é tradicionalmente dividido em três mistérios – gozosos, dolorosos e gloriosos. Três mistérios a fim de honrar a Santíssima Trindade; três mistérios para honrar a vida, a morte e a glória de Cristo; três mistérios para nos dar abundância de graças durante a vida, paz na hora da morte e glória na eternidade. São 150 Ave-Marias como são 150 Salmos.
Mas por que o terço é tão eficaz na fuga do pecado e na busca da santidade? Como já mencionamos, ele nos foi dado por Nossa Senhora e recomendado inúmeras vezes por ela, bastando mencionarmos Lourdes e Fátima, aparições ampla e devidamente aprovadas pela Igreja. O Terço é a devoção mais recomendada pelos Papas.
O terço é também uma oração excelente em virtude das orações que compõem o seu corpo. O Credo, que é o resumo essencial das verdades em que devemos crer e que nos coloca na disposição correta para rezar. O Pai-Nosso, que é a oração mais perfeita que existe, pois foi composta e ensinada pelo próprio Verbo de Deus encarnado e que contém tudo aquilo que devemos pedir para nos salvar, começando pelos bem espirituais, mas sem esquecer os bens materiais necessários. A Ave-Maria, que é a saudação do Anjo a Nossa Senhora com as palavras de Santa Isabel também dirigidas à Mãe de Deus acrescidas da súplica da Igreja para que Maria Santíssima reze por nós agora e na hora de nossa morte, que são os dois momentos mais importantes de nossa vida. A Ave-Maria é a oração que mais agrada a Nossa Senhora, pois contém na primeira parte as palavras do próprio Deus e na segunda as palavras dos filho de Nossa senhora. Na Ave-Maria, os dois títulos principais de Nossa Senhora são invocados: a maternidade divina e a concepção sem pecado original. A Ave-Maria é o cântico novo anunciado no Antigo Testamento, nos Salmos em particular, é o cântico da nova e eterna aliança, que começa na Anunciação e se conclui no calvário. O Glória ao Pai recitado após cada dezena do terço expressa nossa submissão total à vontade de Deus, querendo aquilo que for para a sua maior glória, quer dizer, querendo aquilo que o torne mais conhecido, amado e servido pelos homens. Finalmente, podemos citar ainda a oração que foi ensinada por Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima e que implora a misericórdia divina. Disse Nossa Senhora: “Quando rezais o terço, dizei depois de cada mistério: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.”
Uma objeção comum ao Terço diz respeito à repetição das orações. Ora, a repetição não é algo ruim. Ao contrário. A repetição é ruim e entediante para os sentidos, que buscam sempre novidades. Mas para a inteligência, a repetição é indispensável. A repetição é a mãe do aprendizado e só podemos conhecer algo profundamente quando ele é repetido inúmeras vezes. Assim, as repetições no Terço, como na Missa, permitem que conheçamos o significado profundo das orações e permitem que possamos pedir com verdadeiro conhecimento de causa. Além disso, repetindo as orações, simplesmente imitamos NSJC, que, no momento de sua agonia repetia as mesmas palavras. Essa repetição mostra a profundidade e a intensidade da oração.
Eis, então, o corpo do Santo Terço: as orações que o compõem. Agora precisamos considerar a alma do Terço.
O Terço é uma oração extremamente eficaz também porque ela é ao mesmo tempo uma oração vocal e mental. Ele é uma oração vocal porque recitamos com a boca todas as orações que acabamos de mencionar. Mas o terço, para ser verdadeiramente tal e realmente eficaz, deve ser também uma meditação, uma oração mental. É essa a alma do terço. Isso quer dizer que durante o terço devemos também considerar as verdades eternas expressadas nele e tirar conclusões práticas para nossas vidas. Devemos, então, considerar os mistérios da vida, paixão, morte e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como considerar os mistérios da vida de Nossa Senhora contidos nos quinze mistérios do Terço, procurando imitar os exemplos dados por Cristo e Maria Santíssima.
Mas para obter todas as graças que derivam do terço precisamos rezá-lo bem. Primeiro, devemos estar em estado de graça ou ter o propósito de deixar o pecado mortal, ao menos, pedindo a Deus a nossa conversão. Segundo, devemos evitar distrações voluntárias; evitar todas as distrações involuntárias é praticamente impossível, mas devemos combatê-las e, mesmo se não conseguimos afastá-las de todo, nossa oração será agradável a Deus. Terceiro, é preciso ter atenção quando se reza e no que se reza, sem pular partes das orações e sem rezá-las com rapidez. Quarto, é preciso meditar nos mistérios do terço, considerando o exemplo de Jesus e Maria e tirando uma conclusão prática para nossas vidas. Finalmente, é preciso pedir sempre uma graça, pois só alcançamos aquilo que pedimos, só achamos aquilo que buscamos. Não devemos deixar o terço, caros católicos, para o último momento do dia, em que já estamos cansados e não conseguimos mais nos concentrar devidamente e corremos mesmo o risco de terminar o dia sem rezá-lo.
Parece bem complicado conseguir rezar o Terço, falando as orações e meditando os Mistérios. Há um método simples para unir a oração vocal e mental no terço. Em cada dezena, nas três primeiras Ave-Marias, devemos considerar as palavras das orações que estamos fazendo. Nas três Ave-Marias seguintes devemos considerar o Mistério em questão. Por exemplo, na encarnação, a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu amor por nós. Nas últimas quatro Ave-Marias, devemos inflamar nossa vontade e tirar uma pequena conclusão prática: por exemplo, reconhecendo que todo o bem nos vem de Deus – humildade – ou nos propondo a visitar o Santíssimo Sacramento para expressar nossa caridade para com Deus etc. Esse método pode parecer um pouco artificial no começo, mas se mostra depois muito eficaz contra as distrações e para o progresso da alma, conciliando bem a oração vocal e a meditação. As dificuldades para se rezar o terço e para rezá-lo bem são inúmeras e o inimigo tentará nos desencorajar ao máximo, sabendo o quanto o terço é essencial para a nossa santificação. Assim, é preciso perseverar apesar das distrações e das inúmeras dificuldades. Não devemos jamais abandonar o Santo Terço.
Aquele que reza o Terço diariamente com uma reta intenção, como Nossa Senhora pediu tantas vezes, há de se salvar, pois como acabamos de ver se trata de uma arma poderosíssima que nos foi dada por nossa Mãe. É preciso que, na medida do possível, se reze o Terço em família e que pouco a pouco as crianças se acostumem a rezar o Terço. A família que reza o Terço junta alcançará de Nossa Senhora graças abundantes para permanecer fiel a Deus nesses tempos de tormentas e para cumprir a finalidade do matrimônio, que é a santificação dos esposos e dos filhos.
O Terço é uma oração simples, perfeita, uma verdadeira síntese da Fé e um resumo do santo Evangelho. E essa oração simples e perfeita nos toma somente alguns minutos por dia. Assim como a rosa é a rainha das flores, o Terço é a melhor das devoções depois da santa Missa, claro. A devoção que mais agrada a Nossa Senhora é o Santo Terço. Se tivéssemos que escolher uma só devoção, excetuando a Missa, teríamos que escolher certamente o Terço. Devemos utilizar essa arma potentíssima para o bem da nossa alma, para o bem de nossa família e para o bem da sociedade. A guerra é tremenda, uma arma como o Terço é essencial. Arma que nos foi dada por Nossa senhora, que é recomendada por Ela e pelos Papas. Arma composta das orações mais perfeitas e mais agradáveis a Deus. Arma que nos faz considerar, pela meditação, os mistérios mais importantes da vida de Cristo e de sua Santíssima Mãe. Arma que nos faz imitar as virtudes de Nosso Salvador e de sua Mãe. Cabe somente a nós utilizar bem essa arma. Quem reza o terço com uma reta intenção, buscando agradar a Deus e se converter, se salvará certamente.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Nota do editor: destaques são nossos.