[Artigo] Pudor: dez verdades principais

Pe. José Maria Iraburu

Autor: Pe. José Maria Iraburu
Fonte: Gloria.tv 
Tradução: Leandro S. Correia

[…] Continuam crescendo no mundo e na Igreja o impudor e a luxúria. E os pregadores continuam silenciando em larga escala o Evangelho do pudor e da castidade. Esta é a causa principal da degradação do mundo e de tantos cristãos em tão grave matéria.

Há alguns anos publiquei um Elogio del pudor (Fund. GRATIS DATE, Pamplona 2000). E em julho de 2009 dediquei ao pudor três artigos deste blog . Porém é óbvio que a situação do mundo e da Igreja faz necessário insistir na pregação desta virtude natural e cristã. Destaco desta vez, brevemente, dez verdades principais.

1. – O pudor está ordenado a favorecer a castidade (STh II-II, 151,4). E como a virtude da castidade é tão valiosa em todos os segmentos do povo cristão, por isso também é tão grave mal a perda do pudor. É difícil que se mantenha firme a castidade onde reina o impudor na maneira de se vestir, na maneira de falar, nos espetáculos e meios de comunicação. O ser humano, que está chamado a ser para seus próximos «imagem de Deus», se degrada pelo impudor, convertendo-se em instrumento do diabo.

2. – O mundo secular mal conhece hoje o valor do pudor, que é também desconhecido em grande parte do mundo antigo. E a situação atual do mundo no impudor e a luxúria são semelhantes às que a Igreja encontrou nos primeiros séculos, ou até pior:

«Se uma vez retirados da corrupção do mundo pelo conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo e de novo se enredam nela e se deixam vencer, sua vivência posterior se faz pior que a anterior… “O cão voltou ao seu vômito, e a porca, lavada, volta a revolver-se no lamaçal”» (2Pe 2-22). Os cristãos degradados se fizeram mundanos, e «tudo o que há no mundo – a concupiscência da carne, a cobiça dos olhos e a soberba da vida – não procede do Pai, mas do mundo» (1Jo 2,16).

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Deus infunde o pudor a Adão e Eva

3. – Deus infunde o pudor a Adão e Eva, após seu pecado. Assim como a pregação da Igreja [Cristo] afirmou a verdade original do matrimônio, livrando- o de muitas corrupções – «Jesus disse: É por causa da dureza de vosso coração que Moisés havia tolerado o repúdio das mulheres [divórcio]; mas ao princípio não foi assim.» (Mt 19,8) –, também revelou ao mundo com sua pregação que Deus mesmo, depois da caída do homem e da mulher, quis ao princípio livrá-los da vergonha que sentiram ao verem-se desnudos: «lhes fez umas roupas, e os vestiu» (Gên 3,21). As roupas são, pois, conaturais à natureza do homem caído; e a nudez é uma indecência e um perigo.

4. – O Evangelho do pudor foi uma grande novidade que a Igreja pregou ao mundo antigo com grande força. O testemunho do pudor nos primeiros séculos foi para a Igreja ocasião de muitas conversões, e também de muitos casos de martírio. E assim como o Ocidente cristão difundiu com a luz de Cristo por todo o mundo o pudor e a castidade, agora, caído na apostasia, [o mesmo Ocidente] é logicamente o maior difusor do impudor e da luxúria entre as nações. Corruptio optimi pessima [A corrupção dos bons é a mais prejudicial]. Por isso é evidente que um dos elementos da nova evangelização há de ser a pregação e o testemunho do Evangelho do pudor e da castidade, que é desconhecido, é algo novo para o mundo e para grande parte do povo cristão.

5. – O impudor é uma ocasião próxima de pecado. A vaidade e a sensualidade da mulher a levam ao impudor, e este desperta facilmente no homem a luxúria: «todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela em seu coração» (Mt 5,28). E o mesmo, mutatis mutandis, há de ser dito do homem em relação à mulher. Por isso todas as formas de impudor em roupas, palavras, costumes, espetáculos, livros, são um escândalo.

E «se alguém fizer cair em pecado um destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe atassem ao pescoço ao moedor de um moinho e o lançassem no fundo do mar. “Ai” do mundo por causa dos escândalos! Eles são inevitáveis, mas “ai” do homem que os causa!» (Mt 18,6-7).

6. – A graça de Cristo move ao recolhimento dos sentidos, por exemplo, o da visão, quando sobrevém a tentação do impudor. E leva também a evitar de frequentar aqueles lugares nos quais o pudor se vê agredido com tentações especialmente graves, como acontece em certas praias ou espetáculos. Se o cristão não se exercita com a graça de Cristo na mortificação habitual de seus sentidos, será para ele impossível evitar o pecado e mais impossível ainda ir adiante no caminho da santidade. Por isso dizia São João da Cruz:

«Oh, se os espirituais soubessem de quanto bem e abundância de espírito se privam por não quererem retirar o espírito de ninharias! Se as não quisessem saborear, receberiam o sabor de todas as coisas neste manjar simples do espírito!», etc. (1Subida 5,4-5). «Oh, se os homens soubessem de quanto bem de luz divina os priva esta cegueira que lhes causa suas afeições e apetites, e em quantos males e danos lhes fazem ir caindo a cada dia que não o smortificam! Porque não adianta confiar em vasto entendimento nem em dons que tenham recebido de Deus para pensar que, se há afeição ou apetite [desordenados], deixará-se cegar e obscurecer, e fazê-lo-á cair pouco a pouco no pior.» (ib.8,6-7).

7. – O mundo presente, sendo uma grande “Escola de Impudor”, é por isso mesmo uma grande escola para exercitar a virtude do pudor. O mundo trata de inculcar o impudor e a luxúria já desde a escola, e em todos os ambientes e ocasiões. E esta agressão só pode ser resistida com um exercício muito contínuo e enérgico das virtudes. Pois bem, como as pessoas crescem [espiritualmente, psicologicamente] precisamente com os atos intensos (STh I- II, 52,3; II-II, 24,6), se cada vez que os sentidos do cristão receberem uma incitação ao pecado ele repelir a tentação com a graça de Deus, crescerá muito no pudor e na castidade. E cresce ao mesmo tempo todas as virtudes morais, pois todas estão conexas e crescem juntamente, como os dedos de uma mão (I-II, 65,1). E queira Deus que neste santificante exercício o cristão, ao repelir a tentação, não se limite a realizar apenas atos negativos [fuga, repulsa] – que, na verdade, são positivos –, mas que sempre motive suas negações com atos positivos de amor e fidelidade a Cristo Esposo: «Senhor, atraia a ti meu coração pelo amor, e faça-lhe livre de toda criatura».

8. – A pregação insuficiente do Evangelho do pudor e da castidade é a causa principal da degradação crescente destas virtudes no mundo e na Igreja. Concretamente a Igreja vem sofrendo nestas matérias escândalos muito dolorosos. A causa principal disto não é a maldade do mundo circundante, mas o silenciamento da doutrina cristã sobre estas matérias, e inclusive uma aceitação ideológica do impudor como se fosse um progresso da consciência moral da humanidade moderna. Só a pregação do Evangelho, só a verdade, pode vencer os males do mundo ou ao menos fazer-nos livres deles.

9. – O pudor cristão não se limita a não escandalizar, mas pretende expressar a santidade de Cristo em formas novas que iluminem a escuridão do mundo com sua bondade e sua beleza. Nós cristãos não fomos enviados por Cristo ao mundo para não cometer males, mas para difundir e acrescentar, em toda classe de bens. Ou seja, para renovar o mundo à luz do Evangelho, criandonovas formas, modas e costumes. A melhor maneira – ou a única, às vezes – que o cristão tem para negar-se a participar dos males presentes é afirmando novos bens.

«Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.» (Rm 12,2). «Fazei todas as coisas sem murmurações nem críticas, a fim de serdes irrepreensíveis e inocentes, filhos de Deus íntegros no meio de uma sociedade depravada e maliciosa, onde brilhais como luzeiros no mundo, a levar a palavra da vida.» (Flp 2,14-16).

10. – Leigos, sacerdotes e religiosos, todos os cristãos somos chamados à santidade, também evidentemente no pudor e na castidade. Com referência ao vestir-se, por exemplo, tanto as religiosas como as seculares devem ser reflexo da santidade, pobreza e dignidade de Cristo. Mesmo que em modos diversos, segundo seus distintos estados, umas e outras devem vestir-se de forma absolutamente decente. De fato, una heterogeneidade extrema no vestir de religiosas e leigas é alheia à tradição católica, e somente pôde surgir em tempos de apostasia generalizada entre os batizados, e em clave de mundanização.

Que a Santíssima Virgem, Cheia de Graça, interceda por nós.

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Sermão para o Segundo Domingo da Quaresma
24 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santidade e honra.”

Nós, seres humanos, somos formados por corpo e alma. Estamos colocados entre os anjos, que são puro espírito e os seres puramente materiais. No homem, a alma e o corpo estão unidos, formando a própria essência dele. Evidentemente, essa união natural entre a alma e o corpo, querida por Deus, é algo bom. A alma precisa do corpo para realizar suas operações de maneira mais conveniente. A alma, para conhecer as coisas, precisa dos sentidos, da imaginação. São Tomás diz que nada está no nosso intelecto, a não ser que tenha passado antes pelos sentidos. Todo o nosso conhecimento vem pelos sentidos. O corpo é, portanto, um bem para a nossa alma, um bem para o ser humano. A alma separada age de modo menos perfeito do que quando se encontra unida ao corpo e, por isso, ela deseja a ressurreição do corpo, após a morte.

Todavia, é claro que a parte mais nobre do composto humano é a alma, parte espiritual, e que pode conhecer a verdade e amar o bem. É pela parte espiritual ou racional, quer dizer, pela inteligência e pela vontade, que nos distinguimos dos animais brutos. E no homem, como em todas as coisas, o inferior deve estar subordinado ao superior. Portanto, é a razão que deve dirigir as ações do nosso corpo, é a razão que, reconhecendo a nossa natureza e reconhecendo a natureza e a finalidade das nossas faculdades, deve ordenar todas as nossas ações. A ordenação dos nossos atos segundo a razão constitui a virtude. A virtude é, então, a ordenação dos nossos atos, de forma que eles sejam conformes à nossa natureza de animais racionais.

Entre esses atos que devem ser ordenados pela razão estão os atos exteriores: as palavras, os gestos e também o vestir. A razão nos mostra com relação ao vestir que ele tem uma finalidade básica e principal, que nos é dada pela própria Revelação. Essa finalidade é a decência.

Quando Deus criou Adão e Eva, os dois estavam em estado de graça e haviam recebido da bondade divina o dom da integridade. Isso significa que todas as suas paixões estavam plenamente subordinadas à razão. Não havia em Adão e Eva nenhuma desordem no campo da concupiscência e, por isso, não precisavam se vestir. A exposição do corpo entre eles, portanto, não era motivo para nenhum pensamento, desejo ou ato desordenado. Assim, a Sagrada Escritura diz que eles não se envergonhavam.

Deus fez, Ele mesmo, umas túnicas de pele e os vestiu.

Deus fez, Ele mesmo, umas túnicas de pele e os vestiu.

Todavia, nossos pais cometeram o pecado original, que foi um pecado de orgulho – que não teve nenhuma relação com o sexto mandamento, deixo claro. Ao cometerem o pecado original, a razão e a inteligência se revoltaram contra Deus e a faculdades inferiores e as paixões, que se encontravam plenamente submissas à razão, revoltaram-se contra ela. A Sagrada Escritura nos mostra claramente isso com relação ao corpo: os olhos de ambos se abriram e tendo conhecido que estavam nus, coseram folhas de figueira e fizeram para si cinturas. Todavia, essas poucas folhas de figueira não eram suficientes para evitar a desordem e Deus fez, Ele mesmo, umas túnicas de pele e os vestiu.

Então, caros católicos, o corpo é em si mesmo bom e é a obra material mais perfeita que saiu das mãos do criador. A Igreja Católica reconhece a excelência do corpo e é a maior defensora da honra e da dignidade do corpo, pois ela reconhece o devido lugar do corpo, subordinado à alma. A Igreja reconhece a excelência do corpo ao ponto de não favorecer a cremação do corpo. Quem odeia o corpo são aqueles que não reconhecem o seu devido lugar, subordinado à alma. Quem odeia o corpo são aqueles que o colocam acima da razão e submetem a razão às paixões e usam o corpo de forma indevida. Ao longo da história, vemos que os que mais permitem desordens com o corpo são os que o odeiam. Assim foi com os gnósticos e os cátaros, por exemplo. Essas heresias consideravam o corpo como intrinsecamente mau e, portanto, o entregavam a todo tipo de desordem, com a condição de que se impedisse a geração de uma nova vida, de um novo corpo.

Hoje, é exatamente o que vemos em nossa sociedade. Ela exalta tanto o corpo porque o odeia. Ela não reconhece o lugar do corpo. Ela permite tudo ao corpo e todas as desordens, desde que uma nova vida não seja gerada. As pessoas passam a vida inteira submetendo-se ao corpo para, no final, queimá-lo, cremando-o, com esse costume pagão que tem cada vez mais força entre nós. A Igreja respeita o corpo durante a vida da pessoa e reconhecendo a sua dignidade não vê com olhos favoráveis a cremação. Portanto, caros católicos, se alguém reconhece a bondade e a dignidade do corpo é a Igreja, que chega a proclamá-lo Templo do Espírito Santo, pois nossa alma, em que pode habitar o Espírito Santo, está unida ao corpo intimamente.

Depois do pecado original, apesar de nosso corpo ser em si bom, devemos nos vestir, devemos esconder algumas partes do nosso corpo, a fim de não provocar nos outros maus pensamentos, maus desejos, maus atos em virtude das paixões desordenadas. Depois do pecado original, o pudor e a modéstia são indispensáveis. O pudor consiste na vergonha salutar no que toca ao sexto mandamento e que leva as pessoas a cobrirem as partes de seu corpo que podem levar outras pessoas a caírem na impureza. Foi o que Deus fez com Adão e Eva, cobrindo-os com túnicas. A modéstia é a virtude que nos leva a ordenar nosso aparato exterior, em particular as vestes, a fim de que elas cumpram bem a finalidade delas: esconder certas partes do corpo. A primeira dessas finalidades é a decência.  Para que uma veste seja chamada decente, ela deve cobrir aquelas partes do corpo que induzem o homem de virtude média ao pecado. Essas partes que devem ser absolutamente cobertas são aquelas que se encontram entre os joelhos e os ombros, incluindo os dois. Portanto, a roupa deve cobrir o joelho em todas as posições, inclusive quando se está sentado com as pernas cruzadas. As roupas devem ter mangas também e não basta cobrir os ombros com o véu quando se vem comungar.

O Cardeal Vigário de Roma na época do Papa Pio XI diz que “um vestido não pode ser chamado de decente se é cortado mais que a largura de dois dedos sob a cova da garganta, se não cobre os braços pelo menos até os cotovelos, e se mal chega até um pouco abaixo dos joelhos. Além disso, os vestidos de materiais transparentes são impróprios…” A única coisa que se permite alterar aqui, e que é admitido por todos os sacerdotes de doutrina moral séria, são as mangas até os cotovelos, mas não se pode admitir a ausência completa de mangas.

E para que vestir-se de modo diferente do que diz o Cardeal Vigário? Para que mostrar o nosso corpo? Para que atrair os olhares dos outros sobre nosso corpo? Isso só é lícito entre marido e mulher, em vista da procriação. Para que se mostrar para os outros? O que se ganha a expor o corpo aos outros? Isso lhe fará ganhar o céu? Ao contrário. Para que ser ocasião de pecado para os outros? E não adianta dizer que, se o outro tem pensamentos ruins, a culpa é dele. Não. Nós somos responsáveis pela salvação das almas dos nossos irmãos. Ai daquele que é causa de escândalos, nos diz Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tudo isso aqui se aplica sobremaneira à mulher, pois a mulher tem uma inclinação natural a buscar agradar o homem pelo seu aspecto físico e o homem tem uma inclinação natural a deixar-se levar por isso. Vemos isso claramente no livro do Gênesis, em que Eva é apresentada a Adão, que encontra nela agrado. Se essa inclinação permanece sóbria e moderada, dentro da modéstia, ela é algo bom. Se ela se torna excessiva pela indecência, pelo excesso de ornato ou pelo luxo no ornato, ela se torna ruim. Desse modo, a modéstia não é sinônimo de deselegância. A modéstia não se opõe à elegância. A elegância é perfeitamente bem-vinda, desde que seja modesta e sem excessos, sem atrair para si os olhares.

Alguns pretendem dizer que a moda indecente já é tão comum que ela não provoca mais as paixões desordenadas. Isso é falso. A partir de certo ponto, dizem os moralistas, as vestes indecentes sempre trarão prejuízo para o pudor, para a pureza. Esse limite é justamente os ombros e os joelhos, que devem estar sempre cobertos. E ainda que as modas indecentes não conduzissem ao pecado contra o sexto mandamento, o cristão não deve se contentar com os padrões de uma sociedade decadente, corrompida e neo-pagã. Os jesuítas não se contentaram com a ausência de vestes dos índios, embora os índios estivessem habituados a isso. Eles mudaram a maneira de vestir dos indígenas.

Em virtude da união que existe entre a alma e o corpo que falamos mais acima, as vestes têm duas funções importantes. Primeiramente, a veste é reflexo da alma da pessoa. Portanto, se vestir mal reflete uma desordem espiritual, interior. Por outro lado, nossas ações exteriores e, consequentemente, nossas vestes têm uma influência em nossa alma. Assim, por exemplo, rezar de joelho ou rezar de pé criam disposições distintas em nossa alma. Roupas indecentes geram na alma consequências prejudiciais com relação à pureza e levará a um jeito de se comportar indecente: a um jeito de andar, de sentar, de falar que não convém. Por outro lado, roupas modestas levam a alma a se resguardar melhor contra os pecados opostos ao sexto mandamento. As roupas decentes criam na alma uma disposição que leva a pessoa a andar, a sentar, a falar de um modo que convém para cristãos.

Na segunda-feira de Carnaval falamos aqui da luxúria e de suas consequências graves para a sociedade. Em particular, vimos que a luxúria conduz ao amor de si mesmo, ao ódio a Deus. Vimos que a luxúria conduz ao apego à vida presente e ao desespero das coisas do alto. Vimos que a luxúria mata não só a alma daquele que a comete, mas destrói também a sociedade, como falamos na ocasião. Como chegamos nessa sociedade em que tudo, praticamente, se move pela luxúria? Uma das principais causas é a falta de modéstia no vestir. A modéstia é a guardiã da castidade. Sem a modéstia não há castidade. Sem castidade, não há amor a Deus. Por mais que a intenção da pessoa não seja ser objeto do olhar das outras pessoas, ela será e será ocasião de pecado, se ela se veste indecentemente. Uma boa intenção não é suficiente para tornar uma ação ruim, boa. Assim, vestir-se imodestamente por que está calor, por exemplo, não se justifica.

Portanto, caros católicos, é preciso usar vestes modestas. Espero que todos tenham entendido e comecem agora a seguir plenamente esses ditames. Se não compreenderam, passem a seguir por obediência ao sacerdote. A obediência também é uma virtude excelente. E, para deixar claro, as regras de modéstia não se resumem à Igreja. Essas regras de modéstia devem ser observadas sempre e em todo lugar. Repitamos: As vestes devem cobrir tudo o que está entre os joelhos e os ombros, incluindo joelhos e ombros, e em qualquer posição (de pé, sentado, ajoelhado). As vestes devem, portanto, possuir mangas e devem ser sem decotes. 2) As vestes não devem ser transparentes nem em tom de pele e 3) não devem ser apertadas ou coladas ao corpo. Será necessário um grande esforço, um grande desapego. Mas ele é necessário. E Deus nos dá as graças para fazê-lo. E será grande a recompensa de quem praticar a virtude do pudor e da modéstia, tão esquecidas, mas tão essenciais para uma vida católica. Aproveitemos o tempo da quaresma. Ele é muito propício aos esforços. Deus saberá recompensar esse ato de caridade da pessoa para consigo mesma e para com o próximo.

A modéstia é também vestir-se em conformidade com o próprio estado, com as circunstâncias, com o grau de formalidade do lugar, da atividade e levando em conta a dignidade da pessoa com quem se está. Assim um sacerdote que aparece em público sem a batina ou o hábito clerical – contrariando, aliás, o Direito Canônico – comete uma falta contra a modéstia, pois não se veste conforme ao seu estado. Em geral, como católicos, devemos nos vestir conforme ao nosso estado de católicos. Portanto, como pessoas que levam a vida à sério, buscando agradar a Deus.

Evitem-se, então, as roupas desleixadas, com símbolos pagãos, com inscrições contrárias à religião, etc. Sobretudo na Igreja é indispensável observar a modéstia também nesse ponto. A roupa deve ser adequada àquilo que há de mais importante na face da Terra: a Casa de Deus, sobretudo quando nela se realiza o Santo Sacrifício da Missa.  A pessoa deve, então, vestir-se com dignidade para ir à Missa, evitando vestes demasiado informais. Particularmente, sejam abolidas as vestes que contenham desenhos (de animais, de pessoas etc) ou alguma mensagem escrita, mesmo para as crianças. Também não sejam usadas roupas com personagens de desenho, com frases escritas, camisetas de times de futebol, calças rasgadas, bermudas, moleton, etc. Nada disso condiz com a santidade e a dignidade do lugar. Não se deve, porém, cair no erro oposto. Dignidade com simplicidade e sem exageros.

É próprio da virtude da modéstia também que homens e mulheres se vistam de forma a diferenciar o sexo de cada um e de forma a exprimir o papel de cada um na sociedade. As vestes semelhantes de homens e mulheres causam muitos danos às próprias pessoas e à sociedade. Como disse, as vestes exprimem uma disposição da alma e terminam também influenciando o nosso comportamento. Se homens e mulheres se vestem igualmente, haverá um grande problema. E esse problema nós vivemos hoje. Os homens são cada vez mais efeminados. As mulheres cada vez mais masculinizadas. O homossexualismo se difunde. Portanto, é preciso haver diferença na maneira de vestir do homem e da mulher e que essa maneira seja clara e modesta. E isso  não só na Igreja, mas em todos os lugares.

As veste imodestas ofendem ao Sagrado Coração de Jesus e por isso dizemos no Ato de Desagravo ao Sagrado Coração: “queremos nós hoje desagravar-vos, particularmente da licença dos costumes e imodéstias do vestido, de tantos laços de corrupção armados à inocência […]. Nossa Senhora de Fátima também insiste na Modéstia, ao ponto de a letra da música de Nossa Senhora de Fátima nos lembrar disso. Diz a letra: “Vesti com modéstia, com muito pudor, olhai como veste a Mãe do Senhor!” Eis o nosso modelo para a modéstia no vestir: Nossa Senhora, para as mulheres, e São José, para os homens.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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