[Sermão] O Espírito Santo e a santificação das almas

Sermão para o Domingo de Pentecostes
08 de junho de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

ÁUDIO: Sermão para o Domingo de Pentecostes 08.06.2014

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Enviai o Vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra.”

Como Nosso Senhor havia prometido aos discípulos, Ele enviou, junto com o Pai, o Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora no Cenáculo em Jerusalém. Na continuação do texto dos Atos dos Apóstolos que acabamos de cantar, está dito que alguns zombavam dos apóstolos dizendo que eles estariam, na verdade, cheios de vinho. Claro que essa afirmação apenas poderia vir da má fé daqueles que ouviam os apóstolos, pois não pode estar cheio de vinho aquele que faz um discurso inteligível falando das maravilhas de Deus. Nesse verdadeiro dom de línguas que receberam os apóstolos no dia de Pentecostes, cada um entendia perfeitamente em sua própria língua o que eles falavam. Todavia, se consideramos o sentido espiritual, é preciso, realmente, dizer que os apóstolos estavam cheios de vinho. Eles estavam cheios do vinho da nova lei, que veio substituir a água da antiga lei. Eles, em Pentecostes, eram os recipientes em que Nosso Senhor transformou água em vinho, como em Pentecostes. Em suma, os apóstolos estavam repletos do Espírito Santo, repletos da graça divina, repletos do amor a Deus. E é essa a principal missão do Espírito Santo: a santificação das almas, a infusão da caridade nas nossas almas. Como dissemos há três domingos, o Espírito Santo vem para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Ele vem para ensinar toda a verdade, para nos consolar e nos fortalecer. Ele vem para glorificar Nosso Senhor. Ele vem para realizar também tudo o que está expresso nessa magnífica Sequência da Missa de hoje, que é o Veni Sancte Spiritus. Realizando tudo isso, o Espírito Santo vem, sobretudo, para nos dar o amor de Deus. Como diz São Paulo aos Romanos (V,5): “o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado.”

O Espírito Santo, como sabemos, é a terceira Pessoa da Santíssima Trindade. Se, de maneira simples, podemos dizer que o Filho é Deus que conhece a si mesmo desde toda a eternidade, podemos dizer que o Espírito Santo nada mais é do que o amor perfeito e eterno que existe entre o Pai e o Filho. Assim sendo, a obra de santificação, que é uma obra do amor de Deus para conosco, é atribuída ao Espírito Santo, embora seja realizada pelas três Pessoas da Santíssima Trindade. É, particularmente, ao Espírito Santo que pedimos que acenda em nossas almas o fogo do amor divino: “Vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor.” A principal missão do Espírito Santo é colocar em nossas almas a caridade. As próprias peças do gregoriano da Missa de hoje nos deixam isso claro: as melodias nos elevam de tal forma a alma que nos fazem reconhecer que nosso tesouro está nas coisas do alto e, consequentemente, nos fazem reconhecer que nosso amor deve estar nas coisas do alto, em Deus.  E é esse fogo do amor divino que devemos manter aceso em nossas vidas, em nosso dia-a-dia, em meio dos afazeres quotidianos, em meio das tribulações.

Todavia, esse fogo do amor divino não é necessariamente algo sensível. A caridade, o amor a Deus está na vontade, que é uma faculdade espiritual e não sensível. O amor a Deus – Nosso Senhor deixa claro nesse importantíssimo Evangelho de hoje – consiste em guardar as suas palavras, isto é, o amor a Deus consiste em aceitar o que Deus nos fala e em colocar isso em prática. O amor a Deus é baseado na verdade e na fé. O amor a Deus não é o palpitar do coração, não é o sentir-se bem, ou o aceitar o bem e o mal indistintamente. O amor a Deus é mais estável e mais perfeito do que isso.

Para amarmos a Deus, devemos reconhecê-lo como o Sumo Bem, como aquele que é infinitamente perfeito, que governa todas as coisas com sabedoria, mesmo quando permite o mal para que do mal venha um maior bem. Devemos ver a bondade de Deus ao longo da história da humanidade, desde o tempo de Adão e Eva, passando pelos patriarcas e pelos judeus no Antigo Testamento, até a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo para nos salvar por sua morte de cruz. Devemos ver a bondade de Deus ao institutir a Igreja, os sacramentos, o sacerdócio, ao elevar o matrimônio a sacramento. Devemos ver a bondade de Deus em nossas vidas, caros católicos, como Ele quer nos levar até Ele, nos converter. Devemos ver a bondade divina mesmo nas tribulações e provações, que Deus permite para que expiemos pelas nossas culpas, para que avancemos na virtude, para que nos tornemos semelhantes a Nosso Senhor Jesus Cristo crucificado. Devemos ver a bondade de Deus também em seus mandamentos. Os mandamentos são um grande bem, eles são o caminho que o Sumo Bem nos indica para chegarmos ao céu. Deus é o Sumo Bem, mas não é um Sumo Bem inalcançável e distante. Não, Deus veio até nós pela encarnação, Ele vem até nós pelo Espírito Santo. Deus nos ama verdadeiramente com um amor de amizade, que é o amor mais perfeito que existe, pois o verdadeiro amigo não poupa esforços para buscar o verdadeiro bem do amigo. Deus fez tudo para nos salvar, ao ponto de entregar seu próprio Filho e de enviar o Espírito Santo. Devemos amar a Deus porque é ele a nossa felicidade. A felicidade de cada ser está em agir em conformidade com a sua natureza. Nós somos seres racionais, dotados de inteligência e vontade. Nossa felicidade está em conhecer a verdade com a nossa inteligência e em amar o bem com a nossa vontade. Deus é A VERDADE e O BEM. Nossa felicidade é, então, conhecer Deus e amá-lo. E Deus, na sua bondade, nos eleva a uma felicidade muito superior à felicidade que, naturalmente, poderíamos desejar: Ele faz com que o conheçamos como Ele mesmo se conhece e Ele faz com que o amemos como filhos e como amigos. Ele quer, para nós, uma felicidade sobrenatural. Como não amar a Santíssima Trindade, caros católicos?

Muitas vezes, em nosso quotidiano, nos esquecemos de elevar os olhos ao céu e de considerar a bondade infinita de Deus e de renovar o nosso amor por Deus com um ato de caridade, com ato em que reafirmamos nosso firme propósito de amá-lo sobre todas as coisas, fazendo a vontade dEle e não a nossa. O Espírito Santo vem para acender em nossas almas esse amor, essa disposição inteira, sem reservas, de servir a Deus, de guardar as suas palavras, de fazer a vontade dEle. E é a caridade, entendida corretamente dessa forma, que vai renovar a face da terra. Ao renovar as almas pela caridade, e enterrando o velho homem pecador, é toda a face da terra que começa a ser renovada. No dia de Pentecostes, eram poucos os discípulos de Cristo. Mas era grande a caridade, que levou os apóstolos a propagarem a doutrina de Cristo até os confins da terra. Já no primeiro dia, três mil são batizados. Essa caridade dos primeiros discípulos vai tornar o mundo cristão, caros católicos, pelos martírios, pelo combate incessante contra as forças do demônio e do mundo, pela pregação fiel do ensinamento de Cristo, pela heroicidade de todas as virtudes.

O Espírito Santo não veio nos trazer, em primeiro lugar, dons extraordinários, como o dom de línguas, o dom de cura e outros. Tudo isso é bem secundário. Tudo isso não santifica a pessoa que os possui, mas se ordena para o bem do próximo.  Como dizem os autores espirituais clássicos. O Padre Royo Marín diz que “seria temerário desejar ou pedir a Deus essas graças gratis datae, uma vez que não são necessárias nem para a salvação nem para a santificação, e requerem – muitas delas ao menos – uma intervenção milagrosa de Deus. Vale mais um pequeno ato de amor a Deus que ressuscitar um morto.” (Royo Marín, Teologia de la Perfección Cristiana, p. 888). O Padre Jordan Aumann diz também que “uma pessoa pode ficar sob o poder do demônio em razão de um desejo descontrolado de experimentar fenômenos místicos extraordinários ou graças carismáticas.” (Jordan Aumann, Spiritual Theology, p. 411). Em outra ocasião trataremos mais propriamente da questão dos dons carismáticos e de como são muito mal compreendidos hoje pelos movimentos que pretendem possuí-los. Consideremos simplesmente o que foi dito: mais vale um pequeno ato de caridade do que ressuscitar um morto.

Nós devemos invocar com maior frequência, caros católicos, e de joelhos, como fizemos no Aleluia da Missa de hoje, o Espírito Santo. Muitas vezes, o Espírito Santo é o grande esquecido na nossa vida espiritual. Invocando o Espírito Santo, pedindo para que Ele acenda em nossas almas o amor divino e cooperando com as graças que Ele nos dá, poderemos avançar na caridade e, avançando na caridade, poderemos avançar em todas as outras virtudes, poderemos fazer com perfeição todas as tarefas mais ordinárias de nossas vidas, poderemos viver bem o nosso estado de vida, seja no matrimônio, seja no trabalho, em qualquer situação. Vale mais uma ação quotidiana feita com imensa caridade, quer dizer por amor profundo a Deus, do que uma grande ação feita com uma caridade morna. Sem a caridade, nada tem valor. Agora, não uma caridade vaga, mas uma caridade que supõe a fé e que supõe a obediência aos mandamentos divinos. Não esqueçamos que estamos aqui nessa terra para amar o Sumo Bem, guardando as suas palavras.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] Eucaristia: o Santíssimo Sacramento do Altar

Sermão para a Festa de Corpus Christi
30 de maio de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

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A minha carne é verdadeiramente alimento e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em Mim e Eu nele.

A Festa de Corpus Christi, prezados católicos, deve ser muito cara aos nossos corações. O que há de mais belo, de mais sublime, de mais divino do que a Santíssima Eucaristia? Nosso Senhor prometeu aos Apóstolos que estaria com eles todos os dias, até à consumação dos séculos. Nosso Senhor poderia ter se contentado em cumprir a sua promessa por sua presença espiritual, pelos auxílios da graça derivados de seus méritos infinitos obtidos, de modo particular, na cruz. Nosso Salvador quis, porém, permanecer entre nós em Corpo, Sangue, Alma e Divindade, sob as aparências do pão e do vinho. Após seu sacrifício na Cruz, não poderia haver modo mais eficaz, mais sublime de Nosso Senhor mostrar a sua caridade para conosco. A Eucaristia é o fruto do Sagrado Coração de Jesus que transborda de caridade para conosco.

Para que nós pudéssemos considerar em toda a sua plenitude essa caridade, foi instituída a festa de Corpus Christi. Na Quinta-Feira Santa, nós comemoramos e relembramos a instituição da Eucaristia, da Missa, do sacerdócio, mas nossa alma está muito ocupada com o pensamento da paixão e morte de Nosso Senhor. A Igreja quis, então, no séc. XIII, acrescentar um segundo dia em que festejamos e consideramos o triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Um segundo dia em que festejamos o triunfo da caridade de Nosso Senhor para conosco.

A Eucaristia é um Mistério de nossa Santa Religião e é um dogma, quer dizer, uma verdade em que somos obrigados a acreditar com toda certeza, pois Deus nos revelou e a Igreja nos ensina como tal. É somente pela fé que acreditamos que, após as palavras do sacerdote, encontram-se o Corpo e o Sangue de Cristo realmente e substancialmente presentes sob as aparências de pão e de vinho. Após as palavras da consagração, ocorre, portanto, a transubstanciação: toda a substância do pão e toda a substância do vinho se convertem no Corpo e no Sangue de Cristo. Ora, como o Corpo e o Sangue de Cristo estão unidos à sua Alma e à sua Divindade, temos sob as espécies do pão e do vinho, o Corpo, a Alma, o Sangue e a Divindade de Cristo. A visão, o tato, o paladar todos os sentidos nos dizem que estamos diante de um pouco de pão e de um pouco de vinho. Todavia, sabemos pela fé e com certeza absoluta que estamos diante do Corpo, Sangue, Alma e Divindade do Senhor. Cremos porque Nosso Senhor nos falou claramente: “a minha carne é verdadeiramente alimento e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em Mim e Eu nele.” (Jo 6, 56,57) Como o mistério da Santíssima Trindade de que tratamos domingo passado, só podemos reconhecer que Nosso Senhor está realmente presente na hóstia consagrada e no cálice consagrado pela fé. Fé que não contradiz a razão, mas a eleva.

A Eucaristia, instituída por Nosso Senhor, é ao mesmo tempo sacrifício e sacramento. A Eucaristia é um sacramento. A Eucaristia, como os outros seis sacramentos, foi instituída por Cristo para nos transmitir a graça de modo eficaz. Todavia, a Eucaristia não é simplesmente um sacramento, mas ela é o Santíssimo Sacramento. Ela é o Santíssimo Sacramento porque, além de transmitir a graça, como os outros sacramentos, ela contém o autor da graça, ela contém Nosso Senhor Jesus Cristo, homem e Deus. É o próprio Deus que se encontra na Eucaristia. É o próprio Deus que, no excesso de sua caridade, se entrega a nós como alimento na Eucaristia. Cristo se entrega a nós pela Eucaristia para que nos unamos intimamente a Ele, a fim de que sejamos transformados em outros Cristos, em almas que tenham as mesmas virtudes de Cristo. Esse pão vivo e celestial, esse pão dos anjos, conserva e aumenta a vida da alma, que é a graça. Ela obtém o perdão dos pecados veniais, se estamos arrependidos, e nos preserva dos mortais. Ela aumenta o fervor da caridade, nos dispondo a agir cada vez mais por amor a Deus.

A Eucaristia é também chamada de Santíssimo Sacramento do Altar. Do altar. O altar é o local onde se oferece o sacrifício. A Eucaristia é denominada Santíssimo Sacramento do Altar porque é pela Eucaristia, no momento da consagração, que se perpetua o Sacrifício de Cristo, oferecido no Calvário na Sexta-feira Santa. É a Missa o sacrifício da Nova Lei. As prefigurações e sombras do Antigo Testamento cedem lugar à realidade e à luz. O sacrifício de Melquisedeque, o sacrifício de Isaac, o sacrifício do cordeiro pascal, os sacrifícios do Templo anunciavam o sacrifício perfeito e imaculado de Cristo. Trata-se do único e mesmo sacrifício do Calvário que é renovado nos altares. É a mesma vítima: Cristo. É o mesmo sacerdote principal: Cristo, que na Missa age por meio do padre. Entre a Missa e o Calvário muda somente o modo em que o Corpo e o Sangue de Cristo são oferecidos à Santíssima Trindade. No Calvário, Cristo ofereceu sua humanidade derramando sangue, com sofrimento. No altar, ele se oferece, no momento da consagração, de modo incruento e sem sacramental, sem derramamento de sangue, sem sofrimento, sem morrer. Todas as graças que Cristo mereceu e adquiriu no Calvário são aplicadas pela Missa. É pela Missa que nos vêm todas graças. A Missa é um tesouro infinito. Nosso Senhor morreu na Cruz para nos salvar e instituiu a Missa como sacrifício perfeito da Nova Aliança, para renovar o sacrifício do seu Corpo e do seu Sangue, para aplicar seus méritos infinitos adquiridos no Calvário.

A Eucaristia, como falamos no início, é um Mistério da fé. Ela é também um Mistério da esperança. É Nosso Senhor que o diz: “o que come deste pão viverá eternamente”. Todavia, é preciso aproximar-se do Corpo de Cristo com as disposições corretas, pois quem come desse Pão ou bebe desse Cálice indignamente será réu do Corpo e do Sangue de Cristo, bebendo a própria condenação, como nos diz São Paulo. Devemos nos aproximar da comunhão com as disposições corretas, disposições de que tratamos não faz muito tempo (ver sermão sobre o milagre da multiplicação dos pães): necessidade de ser católico, batizado, estar em estado de graça, estar em jejum de pelo menos uma hora, aproximar-se da comunhão com devoção e vestido modestamente. Recebendo bem a Eucaristia, podemos esperar vencer nosso combate nesse vale de lágrimas e alcançar o céu. A Eucaristia nos dá forças para alcançar o céu como o maná deu força aos judeus para a travessia do deserto e como o pão que Deus deu a Santo Elias permitiu que o santo profeta andasse ainda mais 40 dias e 40 noites (I Reis, 5). A Eucaristia é um mistério de esperança.

A Eucaristia é também um mistério de caridade. Mistério da caridade porque nos é impossível compreender o amor infinito de Deus para com os homens. Não bastou à caridade de Nosso Senhor morrer na Cruz para nos salvar, pobres pecadores. Ele quis permanecer conosco e permanecer conosco real e substancialmente com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. De fato, Nosso Senhor nos amou e nos amou até o fim, quer dizer, ao máximo, buscando a nossa salvação. A Eucaristia é mistério da caridade porque, como nenhum outro sacramento, ela nos transmite a graça e aumenta o fervor da caridade. Nós cremos na presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo não somente porque Ele nos falou. Nós acreditamos na presença real porque nós cremos no amor de Deus (I Jo, 16) por nós. De fato, é preciso crer no amor infinito de Deus pelos homens para poder crer na Eucaristia. O que Deus não faz por nós, caros católicos? Não sejamos ingratos. Acreditemos no amor de Deus e deixemos que essa caridade guie as nossas vidas, para que façamos em todas as coisas a perfeita vontade divina.

Sendo o sacramento da Eucaristia um mistério de fé, de esperança e de caridade, ele é também o sacramento da nossa consolação. Diante da tristeza, quando nossa alma pergunta “por que, Deus, anda a minha alma triste, diante das aflições causadas pelo inimigo?” não deixemos nos abater. Podemos ficar triste diante de certos males, mas nunca abatidos, desesperados. Se a tristeza começa a crescer e a se apoderar de nosso coração, ela perturbará a nossa alma, perturbando o uso da razão, prejudicando a virtude. Diante da tristeza, olhemos para o Sacrário. Pensemos no amor divino. Busquemos consolo em Deus. Encontraremos consolos diante das misérias da vida na medida em que estivermos unidos a Deus. Nas criaturas, nos amigos, nas diversões lícitas, podemos até encontrar algum consolo, mas é passageiro. Deus deve ser nosso supremo e, na verdade, único consolo, pois é Ele o bem infinito. Por que está triste a minha alma, quando Deus fez tudo para me salvar? Enquanto sacrifício, a Eucaristia nos coloca diante dos olhos os sofrimentos de Cristo, para que possamos unir os nossos aos dEle, e somos consolados.  Enquanto sacramento, Nosso Senhor está conosco na Eucaristia como amigo, que quer o nosso bem disposto a nos ajudar a carregar o nosso jugo, para aliviá-lo, e, assim, somos consolados. Não deixemos a tristeza tomar conta de nossa alma. Dirijamos o nosso olhar e a nossa alma ao sacrário, onde Nosso Senhor quis ficar, humildemente e muitas vezes desprezado, para nos salvar e consolar.

A Festa de Corpus Christi é a festa do triunfo da fé e a festa do triunfo da caridade divina. Quão desprezado encontra-se Nosso Senhor na Eucaristia. Quanta irreverência na celebração das Missas, quantos sacrilégios cometidos naquilo que há de mais sagrado na face da terra. Quanta irreverência na recepção da Santa Eucaristia, quantos comungam sem pensar se estão em estado de graça ou não. Quantas partículas em que Nosso Senhor está realmente presente se perdem em comunhões feitas na mão. Quanta irreverência nos gestos e nos trajes diante do Altíssimo.   Devemos, então, com entusiasmo redobrado professar com muita solenidade a nossa fé na presença real e substancial de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Devemos confessar com muita solenidade a caridade divina para conosco e agradecer por todos os seus inumeráveis benefícios. Não bastam, porém, os ritos e solenidades exteriores, caros católicos. Devemos afirmar nossa fé e expressar o nosso amor e gratidão para com Deus interiormente, antes de tudo, convertendo-nos inteiramente a Ele, tomando a firme decisão de servi-lo. Façamos isso comungando com grande devoção e assistindo piedosamente à Santa Missa. Ofereçamos essa Missa e a nossa comunhão nesse dia, em reparação pelos nossos próprios pecados, pelos pecados públicos, pelos pecados de nossa nação e de todos os povos. Olhando para a Eucaristia, devemos crer no amor de Deus para conosco e devemos responder a tão insistentes chamados de Nosso Senhor para que nos convertamos. Que Cristo Eucarístico possa reinar em nossas almas e nas nações.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A Festa de Pentecostes

Sermão para o Domingo de Pentecostes
19 de maio de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

***

E ficaram todos cheios do Espírito Santo e falavam das grandezas de Deus (Communio).

Festejamos hoje, caros católicos, Pentecostes. Pentecostes é a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora no cenáculo em Jerusalém. A descida do Espírito Santo em Pentecostes é importantíssima. Ela é a festa da promulgação da Igreja e a festa da promulgação da nova lei.

No Antigo Testamento, a festa de pentecostes comemorava a promulgação da lei mosaica, dada por Deus a Moisés no Monte Sinai, e que constituiu perfeitamente os judeus como o povo eleito. Podemos dizer que Pentecostes que nós comemoramos hoje foi a promulgação da Nova Lei, a promulgação da Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo sobre a Cruz. Nosso Senhor começou a fundar a Igreja por sua pregação; Ele consumou a fundação quando estava pregado na Cruz e, finalmente, Ele promulgou a sua Igreja aos olhos de todos quando mandou o Espírito Santo aos apóstolos, para que anunciassem o Evangelho a toda a criatura. Portanto, Pentecostes é um acontecimento capital na vida da Igreja e um acontecimento único. Pentecostes é, praticamente, o começo da Igreja. Continuar lendo

[Música] Sequentia da Festa de Pentecostes: Veni Sancte Spiritus

 

(Português)

Vinde, Espírito Santo, / Emiti um raio / Da celeste luz.

Vinde, Pai dos pobres, / Doador das graças, / Luz dos corações.
Consolador nosso, / Hóspede da alma, / Doce refrigério. 
No labor, repouso, / Na aflição sois gozo, / No calor, aragem.
Ó luz abençoada, / O íntimo enchei / Dos vossos fiéis.
Sem a vossa força, / Não há nada no homem, / Nada de inocente.
Ao sujo lavai, / Ao seco regai, / Curai o doente.
Envergai o rígido, / Aquecei o frígido, / Conduzi o errante.
Dai a vossos filhos, / Que em Vós confiam, / Vossos sete dons.
Dai-lhes a virtude, / A imortal saúde, / O perene gáudio

(Latim)

VENI, SANCTE SPIRITUS, / ET EMITTE CAELITUS / LUCIS TUAE RADIUM.

VENI, PATER PAUPERUM, / VENI, DATOR MUNERUM, / VENI, LUMEN CORDIUM.

CONSOLATOR OPTIME, / DULCIS HOSPES ANIMAE, / DULCE REFRIGERIUM.

IN LABORE REQUIES, / IN AESTU TEMPERIES, / IN FLETU SOLATIUM.

O LUX BEATISSIMA, / REPLE CORDIS INTIMA / TUORUM FIDELIUM.

SINE TUO NUMINE, / NIHIL EST IN HOMINE, / NIHIL EST INNOXIUM.

LAVA QUOD EST SORDIDUM, / RIGA QUOD EST ARIDUM, / SANA QUOD EST SAUCIUM.

FLECTE QUOD EST RIGIDUM,/ FOVE QUOD EST FRIGIDUM, / REGE QUOD EST DEVIUM.

DA TUIS FIDELIBUS, / IN TE CONFIDENTIBUS, / SACRUM SEPTENARIUM.

DA VIRTUTIS MERITUM, / DA SALUTIS EXITUM, / DA PERENNE GAUDIUM.