[Sermão] A árvore boa e a árvore má

Sermão para o Sétimo Domingo depois de Pentecostes
07 de julho de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Assim, toda árvore boa dá bons frutos e toda árvore má dá maus frutos.”

Desde o começo do mundo havia duas árvores, desde a criação de Adão e Eva havia duas árvores. No paraíso terrestre, havia várias árvores, mas havia duas árvores principais. A árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal. A primeira, a árvore da vida, dava bons frutos: ela conservava a vida do homem e cooperava, por virtude divina, para a imortalidade de nossos primeiros pais, imortalidade que era dom puramente gratuito de Deus. A segunda árvore dava maus frutos, era a árvore da ciência do bem e do mal, e seu fruto era a morte. Deus mandou nossos primeiros pais comerem da primeira – da árvore da vida – e de todas as árvores do paraíso, mas os proibiu de comerem da segunda – da árvore da ciência do bem e do mal – para que assim reconhecessem o domínio soberano de Deus sobre todas as coisas e sobre eles mesmos em particular.

Ora, o fruto da primeira árvore é a vida da graça, a justiça, a santidade, a vida de união e amizade com Deus e, finalmente, a vida eterna. É a árvore da vida. O fruto da segunda é o pecado mortal, o orgulho, a desobediência a Deus e a seus preceitos, a inimizade com Deus e, finalmente, a morte eterna no inferno. Essas duas árvores existem, de certo modo, ao longo de toda a história.

A árvore boa é constituída por Cristo e por seus membros: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”, nos diz Nosso Senhor (Jo XV). A árvore boa é aquela que ilumina as inteligências com o ensinamento de Cristo. A árvore boa é aquela que transmite aos homens a graça por meio dos sacramentos para que esses possam observar – e observar com a alegria – a vontade de Deus. A árvore boa é aquela que santifica os homens com a fé, a esperança, a caridade. Com a humildade, a paciência, a fortaleza, a justiça, a pureza. A árvore boa é aquela que fomenta a verdadeira paz, verdadeira paz que só existe na ordem, que por sua vez só existe quando todas as coisas estão ordenadas, voltadas para o Deus Uno e Trino. A árvore boa é aquela que defende a verdadeira dignidade do homem, dignidade que se mede por sua união com Deus. A árvore boa é aquela que defende e favorece a verdadeira liberdade, verdadeira liberdade que não consiste em poder fazer o bem ou o mal indiferentemente, mas que consiste em escolher os meios bons para se fazer unicamente o bem. A árvore boa é aquela que nos dá a verdadeira alegria, pois ela nos dá a posse do verdadeiro bem, que é Deus. A árvore boa é aquela que ama verdadeiramente os homens, pois quer o bem deles, isto é, sua salvação. Para tanto, essa árvore, como uma boa mãe, não poupa esforços, admoestações, conselhos, preceitos e às vezes castigos, necessários para o bem dos filhos. É essa a árvore boa, nascida da árvore plantada no Cálvário, quer dizer, nascida da Cruz de Cristo. É essa a árvore boa, que dá bons frutos para a vida eterna: ela gera a santidade individual, o bem da sociedade e a glória de Deus. Não há dúvidas, a árvore boa é a Igreja Católica, o Corpo Místico de Cristo, da qual devemos ser ramos e ramos vivos pela fé, esperança e caridade.

A árvore má, por outro lado, é aquela que o inimigo do genêro humano – o demônio – utiliza como seu instrumento para perder as almas. Ele mente e é o o pai da mentira, desde o princípio. Para Eva, ele prometeu sorrateiramente: se comeres da árvore que está no meio do paraíso, sereis como Deuses. Ainda hoje, esse inimigo nos promete, fraudulentamente, a felicidade pela desobediência aos mandamentos de Deus. Ele faz de nós os ramos de sua árvore pelo pecado mortal, esse pecado que nos separa de Deus e é a antecâmara do suplício eterno. Os frutos dessa árvore são, como nos diz São Paulo, a fornicação, a impureza, a luxúria, idolatria, feitiçaria, ódio, discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão, seitas, inveja, bebedeira, orgias e outras coisas semelhantes (Gal V, 19-21). E o santo Apóstolo completa: “Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as praticarem não herdarão o Reino de Deus!” (Gal V, 21) E depois continua: Não vos enganeis: nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os difamadores, nem os assaltantes hão de possuir o Reino de Deus” (I Cor VI, 10). Eis os frutos dessa árvore má. São também frutos dessa árvore má as falsas religiões, as seitas, a maçonaria, a teosofia, e outras sociedades do mesmo tipo, bem como o esoterismo, tão em voga em nossos tempos.

Existem duas árvores, como existem duas filiações. Existem os filhos da mulher, Nossa Senhora, e os filhos da serpente, como está dito no Livro do Gênesis. Existem duas bandeiras, como nos diz Santo Inácio: a do demônio e a de Cristo. O demônio quer que nos coloquemos sob a sua bandeira pelo desejo das riquezas, pelo amor da glória desse mundo, pelo orgulho desenfreado, pelo pecado. Nosso Senhor, animado por caridade infinita para com o Deus e para conosco, quer que o sigamos com a pobreza de espírito, quer dizer, pelo desapego dos bens desse mundo, que são meros instrumentos. Ele quer que o sigamos pelo desejo dos opróbios e menosprezos, contra a vanglória desse mundo. Ele quer que o sigamos pela humildade, oposta ao orgulho. Ele quer que o sigamos pela virtude. Coloquemo-nos sob a bandeira de Cristo, sob o estandarte da Cruz. Escolhamos a Cristo por chefe e senhor, fazendo o que ele nos ensinou, praticando a virtude. Escolhamos servir o exército da Igreja de Cristo. Quando pelo pecado começarmos a nos afastar da bandeira de Cristo para servir ao demônio, busquemos confiadamente a confissão, o perdão de nossos pecados e busquemos servir ainda mais e melhor a Nosso Salvador e à sua Igreja.

Mas tenhamos sempre em mente que essa árvore má produz maus frutos unicamente na medida em que Deus o permite, para tirar deles um bem maior. E Deus mostra sua onipotência e sabedoria justamente tirando do mal um bem infinitamente superior. Do pecado original de Adão e Eva, enganados pelo demônio, Deus tirou a Encarnação de seu Filho Único. Seu Filho que vence o demônio na árvore da Cruz, Cruz que, por sua vez, gerou a árvore da Igreja. Não se trata, portanto, de equiparar as duas árvores, as duas filiações, os dois exércitos. Um vem de Deus que é infinitamente poderoso e infinitamente bom. O outro vem do demônio, uma criatura muito capaz, mas uma pobre criatura que renegou o criador e que tenta imitá-lo, mas para o mal. Uma pobre criatura que só age na medida em que Deus permite, e isso para tirar dos males um bem maior.

Se pertencemos outrora aos ramos da árvore má, e servimos à iniquidade como escravos do pecado, devemos agora ser ramos de Cristo, filhos da Igreja Católica, e devemos servir à justiça para chegarmos à santificação e à verdadeira liberdade, liberdade de filhos de Deus, uma liberdade que exclui o mal. Sejamos ramos de Cristo, do seu Corpo Místico que é a Igreja, e sejamos ramos vivos. Nosso Salvador nos disse (Jo XV): “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará; permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á.”

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] São Paulo, modelo de fidelidade, caridade e humildade

Sermão para a Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
[Domingo,] 30 de junho de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

***

Caros católicos, falamos ontem de São Pedro Apóstolo, da função que recebeu de NS: função de pedra fundamental da Igreja, de chefe supremo da Igreja. Falamos do sucessor de São Pedro, o Papa, e falamos da veneração que devemos ter por ele. A festa, porém, é também de São Paulo Apóstolo. Na liturgia, São Pedro e São Paulo estão sempre juntos. Quando se comemora a festa da conversão de São Paulo (25 de janeiro), faz-se memória de São Pedro. Quando se comemora a festa da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro), faz-se memória de São Paulo. No dia 29 de junho, a festa é de ambos, mas como em geral a ênfase é dada a São Pedro, foi instituída em 30 de junho a comemoração de São Paulo, com memória de São Pedro. Ontem no dia da festa de São Pedro e São Paulo, falamos de Pedro e do Papa. Hoje, na solenidade dessa mesma festa, falaremos do Apóstolo Paulo. Os dois estão assim tão unidos porque São Paulo cooperou, com São Pedro, de maneira eminente para a edificação da Igreja de Roma. São eles as duas colunas da Igreja Romana. Na frente da Basílica de São Pedro no Vaticano, vemos a imagem dos dois apóstolos. São Pedro, pastor supremo com as chaves do reino dos céus de um lado, e São Paulo, apóstolo com zelo extremado pela glória de Deus e pela salvação das almas do outro lado, com a espada, instrumento do seu martírio, mas também a espada da Palavra de Deus, que ele tão bem manuseou para a conversão das pessoas. Os dois estão unidos igualmente pelo martírio, pois foram para Deus no mesmo dia, 29 de junho. São Pedro crucificado, mas de cabeça para baixo, pois não se considerou digno de morrer como o Divino Mestre. São Paulo morreu decapitado, pois era cidadão romano e ao cidadão romano era reservada pena menos cruel e menos vergonhosa. Do Apóstolo São Paulo, podemos destacar a fidelidade à Palavra de Deus, a caridade e a humildade.

Continuar lendo

[Sermão] São Pedro e o Papa

Sermão para a Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
29 de junhode 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

***

Peço que rezem por sua Eminência, o Cardeal Dom José Freire Falcão, que foi criado Cardeal no dia 28 de junho de 1988, completando ontem 25 anos de cardinalato. Sua Eminência, tem nos ajudado muito nesse Apostolado. Rezemos por ele também em agradecimento.

***

“Tu és Pedro e sobre esta Pedra edificarei a minha Igreja.” Mt. 16, 16.

O Evangelho de S. Mateus de hoje é fundamental. Trata-se de uma das passagens mais importantes da Sagrada Escritura. Neste Evangelho está contido e afirmado o Primado de São Pedro e de seus sucessores, primado que faz parte da constituição da Igreja tal qual instituída por Deus, por NSJC.

Jesus dirigia-se, então, com seus discípulos à cidade de Cesaréia de Felipe, cidade pagã dedicada ao Imperador Romano e onde o culto aos ídolos era extremo. Convinha que Jesus Cristo estabelecesse aqui o chefe de sua futura Igreja: i) para mostrar que, em matéria religiosa ou em matéria conexa a ela, o Papa está acima do Imperador e de qualquer poder civil, e ii) para mostrar que a Igreja deve se estender não somente aos judeus, mas também aos pagãos, para que todos sigam a Cristo.

Continuar lendo

[Escritos dos Santos] Carta de Santo Afonso sobre a escolha do Papa

Fonte: http://padrepauloricardo.org

Escreve o Padre Tannoia, o primeiro biógrafo e contemporâneo de Santo Afonso: “O Cardeal Castelli, conhecedor do grande crédito de que Afonso gozava junto a todos pelo espírito de Deus que o animava e o peso que a sua autoridade tinha junto aos Cardeais, – sendo iminente o tempo em que eles deviam encerrar-se no Conclave – quis que ele, como se respondesse a uma pessoa zelosa e amiga que lhe tivesse pedido, indicasse em uma carta os principais abusos que deviam ser extirpados da Igreja e da hierarquia eclesiástica, e outras coisas que se deviam levar em consideração na eleição do novo Papa.

Assim pediu o Cardeal, querendo fazer presente a carta no Conclave, para que se elegesse um papa adequado às circunstâncias. Afonso, diante desta ordem, enrubesceu. Todavia, tanto pelo zelo pela glória divina, como para obedecer a um eminentíssimo cardeal que ele tanto estimava, recomendou-se antes a Deus, e assim lhe respondeu no dia 23 de outubro de 1774″ (Tannoia, Da vida e instituto do Ven. Servo de Deus Afonso Maria de Ligório, Napoles 1798-1802, lib. III, cap. 55)

Carta 773. A Padre Traiano Trabisonda

Viva Jesus, Maria e José!
Arienzo, 24 de outubro de 1774

Ilustríssimo Senhor meu estimadíssimo,

Meu amigo e senhor, acerca do sentimento que se me pede sobre os assuntos atuais da Igreja e a eleição do Papa, que pensamento posso apresentar, eu um miserável ignorante e de tão pouco espírito, como sou?

Digo apenas que são necessárias orações e grandes orações; já que, para levantar a Igreja do estado de relaxamento e de confusão em que se encontram universalmente todos os níveis, nem toda a ciência e prudência humana conseguem remediar, mas é preciso o braço onipotente de Deus. Continuar lendo

[Sermão] Rezar pela eleição de um Papa santo

Sermão para o Terceiro Domingo da Quaresma
03 de março de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Sede imitadores de Deus, como filhos amados e andai no amor, como também Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós a Deus, como oferenda e hóstia de suave odor.

Como todos sabem, a Sé de Pedro está vacante. A cátedra do Apóstolo São Pedro, sobre o qual Cristo edificou a sua Igreja, a sua única Igreja, está vazia. O momento da eleição de um futuro Papa é sempre muito importante para a Igreja, mas no contexto da crise atual em que vivemos, o momento se torna crucial. Bento XVI, alguns dias antes de deixar o Pontificado, assinalou alguns dos elementos dessa crise quando se dirigiu ao clero de Roma: seminários fechados, conventos fechados, liturgia banalizada…

800px-COA_sede_vacante_San_Giovanni_in_Laterano_2006-09-07Eu digo que esse momento se torna crucial porque o Papa é a autoridade suprema dessa sociedade divina e humana que é a Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo. A autoridade suprema de uma sociedade é a causa formal de uma sociedade. Isso significa que a sociedade é tal sociedade ou tal outra sociedade, com tais ou tais características, em virtude da autoridade suprema. Vemos isso claramente em um governo civil. Evidentemente, haverá uma sociedade distinta se há um governante católico ou se há um governante comunista, por exemplo. Claro, a Igreja, ao contrário da sociedade civil, não pode deixar de ser a Igreja. A Igreja não pode mudar a constituição divina que lhe foi dada por Cristo. A Igreja não pode errar em matéria de fé ou moral. A Igreja não pode deixar de existir até o final dos tempos. Tudo isso porque Cristo falou que as portas do inferno não prevaleceriam – e não prevalecerão – contra ela. Tudo isso porque a autoridade suprema invisível da Igreja é Nosso Senhor. Porém, é evidente a importância que tem o Santo Padre, autoridade visível suprema na Igreja. Nosso Senhor disse a São Pedro e a seus sucessores: “tudo o que ligares na terra será ligado no céu e tudo o que desligares na terra será ligado no céu”. Ao ofício de Pedro está, consequentemente, intimamente atrelada a salvação das almas.

Foi publicada, nesses dias e em várias línguas, a carta de Santo Afonso Maria de Ligório endereçada ao conclave do ano de 1775. Recomendo a todos que leiam essa carta excelente desse grande santo. (Nota do Editor: por exemplo, neste link do site do Pe. Paulo Ricardo; em inglês, neste link; em italiano neste link.)

Santo Afonso: o Papa deve ser dotado, antes de tudo, de espírito e de zelo pela honra de Deus.

Santo Afonso: o Papa deve ser dotado, antes de tudo, de espírito e de zelo pela honra de Deus.

O Santo descreve, então, as virtudes que deve ter o sucessor de Pedro. Tratemos somente da primeira delas, que inclui todas as outras. Ele diz que o Papa deve ser dotado, antes de tudo, de espírito e de zelo pela honra de Deus. Ter, antes de tudo, zelo pela honra de Deus, significa que o Papa deve ter uma caridade perfeita, pois o zelo é decorrência do amor, da caridade. Isso significa que o Papa deve ser santo. A única preocupação do Papa deve ser agradar a Deus pela salvação das almas.  Isso é ter zelo pela honra de Deus. É para isso que eu conclamo todos a rezarem: para que Deus, Nosso Senhor, nos dê um Papa santo. A oração é, nesse caso, a única arma que possuímos. É preciso rezar e rezar muito, diz Santo Afonso.

Creio que está suficientemente claro, para qualquer católico minimamente sério, que nós não precisamos de um Papa de tal ou tal continente. Que nós não precisamos de um Papa de tal ou tal cor de pele, etc. Nós precisamos de um Papa santo. A santidade consiste na perfeição da caridade. Quem possui uma caridade perfeita possui também as outras virtudes em grau perfeito, necessariamente. As virtudes estão intimamente ligadas, elas crescem proporcionalmente, como os dedos da mão. Portanto, um Papa Santo possuirá todas as outras virtudes necessárias para conduzir as almas ao céu. Um Papa Santo terá uma fé firmíssima, confessando-a até o martírio, se necessário for. Ele terá uma fé firmíssima para combater todo risco de indiferentismo religioso. Ele terá uma esperança inabalável em Deus, fundada na bondade e na onipotência divinas, sabendo que pode contar com o auxílio divino, apesar das adversidades postas pelo mundo. Ele terá a prudência celestial – virtude do chefe – necessária para governar, para tomar as melhores decisões em vista do fim a ser atingido: fim que é a maior glória de Deus e o bem das almas. Ele não terá a prudência da carne. Ele terá a justiça para dar a cada um o que lhe é devido, premiando os bons, promovendo os dignos e punindo os maus. Ele terá a temperança necessária para exercer seu ofício buscando não a glória desse mundo, mas a glória eterna. Ele terá a fortaleza, a fim de poder colocar em prática tudo isso, vencendo todos os obstáculos, todo respeito humano, vencendo o mundo, e tendo em vista somente o zelo pela honra de Deus. Ele terá a virtude de religião, para favorecer uma liturgia que tenha Deus no centro e que corresponda perfeitamente à doutrina católica. Enfim, ele terá todas as virtudes em grau perfeito, se ele for verdadeiramente santo, para governar a Barca de Pedro, conduzindo as almas que estão na Barca única e exclusivamente a Cristo.

Devemos rezar nesses dias para que tenhamos um Papa Santo. Para Deus, nada é impossível. “Pedi e vos será dado. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.” Há certas coisas que Deus quer nos dar, mas que Ele condiciona às nossas orações. É preciso rezar. É preciso rezar muito, como diz Santo Afonso.

Conta-se a história de uma religiosa italiana que há alguns séculos teve uma visão de três cardeais que participavam do conclave naquela época. Havia um ruim. Havia um bom. Havia um excelente. Na visão, foi-lhe dito que seria eleito o primeiro, o ruim. A irmã não se conformou e passou a rezar e fazer penitência pela eleição do cardeal excelente. Em visão posterior, foi-lhe dito que, em virtude de suas orações e mortificações, foi eleito o cardeal bom, que aparentemente foi beatificado posteriormente. Não posso garantir a veracidade da história, mas ela é perfeitamente verossímil. Nossas orações e nossos sacrifícios, unidos à oração de Cristo e aos sacrifícios dele, têm verdadeiro valor diante de Deus. Fazer uma boa confissão também ajudará nas nossas súplicas. Peçamos a eleição de um Papa Santo. E, depois de eleito, continuemos a pedir pela santificação do Santo Padre. É preciso que façamos a nossa parte, pois, como diz Santo Afonso, se, por acaso e para nossa desgraça, for eleito um Papa que não tem somente a glória de Deus diante dos olhos, o Senhor pouco vai ajudá-lo, e as coisas como estão nas circunstâncias atuais irão de mal a pior. Quem diz isso é um Santo e Doutor da Igreja. Podemos aplicar suas palavras perfeitamente aos nossos tempos. É preciso rezar. É preciso rezar muito. Devemos ter grande confiança e esperança, caros católicos. “Pedi e vos será dado. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto.” E aconteça o que acontecer, ter sempre presente em nosso espírito que a Igreja é divina. Que a Igreja é indefectível. Que a Igreja é infalível. Que as portas do inferno não prevalecerão. Devemos ter a certeza absoluta de que a vitória é da Igreja e de seus filhos fieis. Rezemos pela eleição do futuro Papa.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Publicações relacionadas:

Orações para o tempo de Sé Vacante

Oração para a eleição do Soberano Pontífice

(tirada da Missa Votiva Pro Eligendo Summo Pontífice )

Com toda a humildade imploramos, Senhor, de vossa grande misericórdia, para a Santa Igreja Romana, um Pontífice tal que sempre Vos agrade por seu zelo piedoso, e atraia a veneração contínua do Vosso povo por seu sábio governo. Por Cristo Nosso Senhor.

Oração pela Santa Igreja

(tirada da Missa Votiva Contra Persecutores Ecclesiae)

Acolhei, Senhor, aplacado as preces da Vossa Igreja, a fim de que, destruídos todos os erros e as adversidades, ela possa Vos servir em segura liberdade. Por Cristo Nosso Senhor.
 
Lorenzo Veneziano (1369)

Lorenzo Veneziano (1369)

[Sermão] A Imaculada Conceição de Maria Santíssima

Sermão para a Solene Festa da Imaculada Conceição de Maria Santíssima
8 de dezembro de 2012 – Padre Daniel Pinheiro

 

45147_363043163791767_1968554295_n

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

Hoje é um dia de imensa alegria, caros católicos, dia de imensa alegria espiritual. Gaudens gaudebo. É com essas palavras de grande júbilo que a Santa Igreja começa a Missa de hoje. O Intróito da Missa sempre nos indica o estado de alma particular que devemos ter para assistir à Missa do dia. As primeiras palavras são as mais importantes. Gaudens gaudebo in Domino. Alegrando-me alegrar-me-ei no Senhor. A causa dessa imensa alegria espiritual é múltipla.

Nossa Senhora, concebida sem pecado, é a Estrela da manhã, nos diz a Ladainha da Santíssima Virgem. A estrela da manhã é mensageira infalível da aurora, da vinda do sol e indica o fim da noite. Quando a estrela da manhã se levanta no horizonte e sua luz brilha, já sabemos que o dia se aproxima.

É hoje o dia em que a estrela da manhã se levanta no horizonte.

É hoje, com a Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

Hoje, Maria Santíssima foi formada no ventre de Santa Ana, preservada do pecado original. A Imaculada Conceição anuncia a vinda próxima do Salvador.

O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo Bem-Aventurado Papa Pio IX em 1854. Eis as palavras do Santo Padre:

A Encíclica Ineffabilis Deus, do Papa Pio IX, definiu o dogma.

Pio IX definiu o dogma na Encíclica Ineffabilis Deus.

“[…] Com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, foi revelada por Deus, e, por isso, deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.”

Assim, trata-se de uma verdade revelada proposta como tal pela Santa Igreja. Aquele que a nega, duvida ou a questiona naufraga na fé e já não pode agradar a Deus, pois sem fé é impossível agradar a Deus, como nos diz São Paulo (Heb XI, 6).

Como todos sabemos, a Imaculada Conceição não é invenção do séc. XIX. Basta conhecer um pouco de história para ver quantas imagens da Imaculada Conceição anteriores a esse século existem. Mas muito mais do que isso.

A Imaculada Conceição está na profecia do Gênesis, que nos diz que uma mulher e sua raça será inimiga da serpente. Essa inimizade é tal que Nossa Senhora nunca esteve sob o domínio da serpente pelo pecado. E com sua descendência a mulher esmagará a cabeça da serpente.

A Imaculada Conceição está no Véu ou Velo de Gedeão: quando tudo ao redor recebeu o orvalho, o véu permaneceu seco. Quando tudo ao redor ficou seco, Nossa Senhora recebeu o orvalho.

A Imaculada Conceição está em Ester, dispensada da lei que mandava matar toda pessoa que aparecesse na presença do Rei sem ser anunciada. Ester apareceu diante do rei sem ser anunciada e não foi punida. Nossa senhora apareceu no mundo e não foi punida pelo pecado original.

A Imaculada Conceição está no anúncio do Anjo: Ave, CHEIA de graça.

A Imaculada Conceição está na “Mulher”, do décimo segundo capítulo do Apocalipse; revestida de sol, com doze estrelas ao redor, com a lua aos seus pés, vitoriosa sobre o dragão.

Poderíamos citar ainda outras passagens…

Vale destacar, porém, como o faz Pio IX, que a Imaculada Conceição não exclui Nossa Senhora da obra da redenção realizada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Só nEle pode ser encontrada a salvação. Maria Santíssima, como filha de Adão, deveria ter sido concebida com o pecado original. E se Ela foi preservada, foi preservada em virtude dos méritos futuros de Cristo. Nossa Senhora é, portanto, redimida, mas redimida de uma forma mais perfeita que os outros homens. Ela é redimida de uma maneira que convém à Mãe de Deus.

É possível salvar alguém da lama de uma poça de duas formas: ou impedindo que a pessoa caia na poça ou lavando a pessoa depois de ela ter caído na poça e se enlameado. Deus pode salvar da lama do pecado dessas duas formas. Claro que salvar uma alma preservando-a da lama do pecado é muito mais perfeito e melhor. Esse modo perfeito e mais pleno de redenção convinha unicamente à Mãe de Deus.

A Imaculada Conceição convém unicamente à Maria Santíssima e a mais ninguém. A Imaculada conceição é tão própria a Nossa Senhora que se tornou nome próprio. Nossa Senhora em Lourdes se apresenta à Santa Bernadette dizendo: Eu sou a Imaculada Conceição. Os pastores e os fiéis já muito antes de Lourdes chamavam Nossa Senhora de “a Imaculada Conceição”, ou simplesmente, “Imaculada”.

Dizíamos que hoje é um dia de júbilo por inúmeras razões.

É um dia de grande alegria porque toda a Santíssima Trindade é glorificada por sua obra-prima, aquela obra que estava na inteligência divina desde toda a eternidade, sempre associada ao Verbo de Deus Encarnado. A perfeição de Maria, a ausência de pecado e a sublimidade de suas virtudes nos permite ter um espelho da justiça divina, nos permite ver um reflexo da santidade divina e amar mais profundamente a Deus. Eis porque Maria é chamada “Espelho de Justiça”.

É um dia de grande alegria porque Nosso Senhor Jesus Cristo é honrado. Ora, parte da honra dos filhos está nos pais. O fato de Nossa Senhora nunca ter estado sob o mínimo domínio do pecado é uma grande honra para seu Filho, Cristo. O contrário, quer dizer, se Nossa Senhora tivesse conhecido o pecado, seria certa desonra para Nosso Senhor. Ora, em Cristo não há nenhuma desonra; é preciso, então, que Nossa Senhora seja concebida sem pecado.

Hoje é um dia de grande alegria porque honramos também a Nossa Senhora, quer dizer, damos testemunho de sua excelência. Pois isso é honrar: dar testemunho da excelência de alguém. Nós reconhecemos que ela nunca esteve sob o domínio do pecado.

A Imaculada Conceição, como todo privilégio dado à Maria, é uma preparação ou uma consequência da Maternidade Divina. Ora, para ser digna Mãe de Deus não convinha que Maria estivesse submetida ao pecado, não só no momento de sua concepção, mas durante toda a sua vida. Aquela que tanto cooperou na nossa Salvação não pode jamais ter estado sob o domínio do pecado e do demônio. Maria Santíssima foi concebida sem pecado e permaneceu pura de todo pecado e até mesmo de qualquer inclinação ao pecado durante toda sua vida. Em Maria, as paixões ou os sentimentos eram sempre ordenados pela razão e a razão inteiramente ordenada pela fé.

Todavia, a ausência de pecado em sua concepção e em toda a sua vida são simplesmente o aspecto negativo da Imaculada Conceição. Devemos, para testemunhar devidamente as excelências de Maria no Mistério da Imaculada Conceição, considerar também o aspecto positivo desse Mistério.

O primeiro ponto é que onde não há pecado, há, necessariamente, a graça, a amizade com Deus. Nossa Senhora foi, portanto, concebida em estado de graça. Mas não uma graça qualquer. A graça de Maria no momento de sua concepção é uma graça maior que a graça de todos os santos e anjos no céu. Repito: a graça de Maria no momento de sua concepção é maior que a graça de todos os santos e anjos no céu. Assim o dizem os mariólogos. E isso porque a preparação, ainda que distante, para se tornar Mãe de Deus exige uma graça superior a todas as outras graças juntas. A cada dignidade corresponde uma graça proporcional. A cada missão a graça necessária para cumprir bem essa função. A dignidade e a função de Mãe de Deus é imensamente superior a qualquer outra. Portanto, mesmo a preparação para essa dignidade exige uma graça imensamente superior a todas as outras, mesmo juntas.

Além disso, quanto mais algo está perto da causa, mais ela sofre o efeito. Quanto mais algo está perto de fogo, mais ele é esquentado. Maria Santíssima, pela Maternidade Divina, está o mais perto possível de Cristo, fonte da graça. Essa proximidade tem como efeito uma graça que não podemos calcular. E essa graça de Nossa Senhora foi crescendo ao longo de toda a sua vida, pois cada ato seu era feito com uma caridade mais intensa que o ato anterior. A graça em Nossa Senhora progredia em movimento acelerado, dada a sua fidelidade perfeita às inspirações divinas. Se já em sua Conceição Imaculada sua graça era superior a de todos os santos e anjos juntos, podemos imaginar quão ardente era sua caridade no final da vida.

Diga-se, de passagem, que toda essa plenitude de graça de Maria é um pálido reflexo da graça de Cristo. A graça de Cristo era tão grande, desde o momento de sua concepção, que não podia haver maior, de tal sorte que a graça de Cristo não podia nem mesmo crescer durante a sua vida. E, claro, junto com essa plenitude de graça em Maria Santíssima estavam também todas as outras virtudes em grau imenso: a fé, a esperança, a caridade, a prudência, a justiça, temperança, a fortaleza, a humildade, a modéstia, a paciência, a obediência e todas as outras.

Devemos, então, nesse 8 de dezembro, nos alegrar com tamanha excelência de Nossa senhora, com tamanha caridade, com tamanha fidelidade à graça, com tamanha adesão a Deus. Devemos, contudo, ter sempre em mente que Nossa Senhora guardou em cada momento de sua vida a liberdade, embora Deus a tenha assistido de modo particular.

Louvemos, portanto, à Maria, cantando suas excelências.

E o último motivo de alegria para nós é o bem de nossa própria alma. O dia da Imaculada Conceição deve favorecer em nós a devoção à Maria Santíssima, devoção que devemos ter, pois Deus quis que nos dirigíssemos ao Céu pelo mesmo caminho que Ele usou para vir até nós. Devemos ser devotos de Maria, pois Cristo nos entregou a ela como filhos. A devoção consiste na prontidão da vontade em se entregar às coisas que pertencem ao serviço de Deus. A devoção é, portanto, algo que está na vontade e não no sentimento. Ser devoto de Maria é estar sempre pronto para servi-la, a fim de poder melhor servir a Deus. Trata-se de melhor servir a Deus servindo a Maria, como fizeram os empregados nas bodas de Caná, obedecendo à Maria, a fim de obedecer a Cristo.

Todavia, essa prontidão no serviço a Maria para melhor servir a Cristo não brotará espontaneamente em nossas almas. A devoção tem duas causas: a primeira é Deus, a segunda é a meditação. Assim, se queremos ser verdadeiros devotos de Maria, servindo-a pela imitação de suas virtudes – que vimos são sublimes – devemos, primeiramente, pedir essa graça a Deus e a ela mesma. Devemos, ao mesmo tempo, considerar as virtudes de Maria Santíssima, pois dessa consideração nascerá o desejo de imitar essas virtudes, imitação que é a verdadeira devoção a Maria Santíssima.

Portanto, grande alegria nesse dia de hoje. Alegria porque com a Imaculada Conceição a Santíssima Trindade é glorificada ao mostrar ao mundo a sua obra-prima. Alegria porque Nosso Senhor Jesus Cristo é honrado, pois a honra dos filhos depende em parte da perfeição dos pais. Alegria porque Nossa Senhora é honrada, e isso não só pela ausência do pecado, mas pela presença sublime de todas as virtudes. Alegria porque a admiração e a consideração dessas virtudes são o primeiro passo para imitá-las. Alegria porque Nossa Senhora nos mostra o caminho da salvação. Ela nos mostra e nos transmite, qual um aqueduto, as graças que precisamos para chegar à salvação. Ela é a estrela da manhã que anuncia o sol. E onde há sol, já não pode haver trevas. Por sua Imaculada Conceição ela nos ensina o ódio ao pecado e o amor a Deus.

Um parêntese. Alegria também porque essa Virgem Imaculada, Mãe de Deus, está nos  céus e intercede por nós, por cada um de nós, e esmaga todas as heresias. Nesse tempo de apostasia generalizada, especialmente a partir do anos 60, recorramos à Imaculada Conceição. E confiança. Nossa Senhora manteve a fé, não se escandalizou. Alegria, Nossa senhora esmaga todas as heresias.

Ó Maria concebida sem pecado…

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Liturgia: Cátedra de São Pedro, Apóstolo

22 de fevereiro

CÁTEDRA DE SÃO PEDRO (II classe, Branco)

Esta festa foi instituída em Roma para substituir uma festa pagã, que era celebrada em honra de todos os defuntos de cada família. Ela tem uma única finalidade: venerar o primado apostólico de Roma.

Uma corrente ininterrupta de testemunhos atestam a vinda de Pedro a Roma para pregar o Evangelho, depois de havê-lo pregado em Antioquia. Nós, cristãos, celebramos hoje a lembrança deste acontecimento histórico, tão decisivo para o futuro da Igreja (…).

Fazei, Senhor, que a intercessão do Apóstolo São Pedro vos recomende as súplicas e os pedidos de vossa Igreja, e que este sacrifício, celebrado por sua glória nos obtenha o perdão. Por N. S. (Oração Secreta dessa missa).

*** MISSA DIA 22/02/2010, ÀS 19H30, na Capela do Instituto Bíblico