[Sermão] O Brasil escravo de Nossa Senhora Aparecida

Sermão para a Festa de Nossa Senhora Aparecida

12.10.2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para a Festa de Nossa Senhora Aparecida – O Brasil escravo de Maria 12.10.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito santo. Amém.

Ave Maria…

***

Hoje, Festa de Nossa Senhora Aparecida. Lembro aos pais que devem explicar aos filhos que a importância do dia de hoje é devida a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, e não porque é o dia das crianças. O feriado foi instituído e existe em honra de Nossa Senhora Aparecida.

***

Caros católicos, quando falamos da natureza do culto devido a Nossa senhora dissemos que, além da veneração, da invocação, do amor, da gratidão e da imitação, era devido a Maria Santíssima também um culto de escravidão. A Nossa Senhora como Rainha do céu e da terra, de tudo e de todos, se deve uma verdadeira escravidão. Uma escravidão por amor. E essa escravidão sintetiza perfeitamente todos os outros atos pertencentes ao culto de Maria. O escravo fiel a sua Rainha, a venera, reconhecendo sua singular excelência. O escravo ama a Rainha que o governa tão bem, e ele procura, consequentemente, agradar em todas as coisas à Rainha. O escravo tem gratidão por uma Senhora e Rainha que fez e faz por ele tantos favores e obtém tantas graças. O escravo invoca e recorre com grande confiança a uma Rainha que conhece suas necessidades, e que pode, e quer socorrê-lo em suas dificuldades. O escravo fiel, por último, trata de imitar a Rainha, já que reconhece nela o modelo de todas as virtudes.

Que Nossa Senhora seja Rainha, caros católicos, é inegável. Ela é Rainha porque é a Mãe do Rei, ela é a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor é Rei mesmo enquanto homem porque está unido com o Verbo ao ponto de formar com Ele uma só pessoa, uma pessoa divina. Nosso Senhor é Rei porque nos redimiu na cruz, quer dizer, Ele é Rei por direito de conquista. Nossa Senhora, por sua vez, é Rainha porque é a Mãe de Deus, o que a faz ter uma relação única com Nosso Senhor Jesus Cristo, com o Verbo. Nossa Senhora é Rainha também porque é corredentora, porque participou de forma singular em nossa redenção, adquirindo sobre nós a realeza. Ela é Rainha porque sua santidade é maior que a de todas as outras criaturas, incluindo os anjos. Vemos isso claramente na Ladainha de Nossa Senhora. Mais especificamente, ela é Rainha dos Anjos porque conhece mais profundamente que eles os mistérios divinos. Rainha dos patriarcas porque supera todos eles em heroísmo e em piedade. Rainha dos profetas porque os supera no dom da profecia. Rainha dos apóstolos porque os supera no zelo pela glória de Deus e salvação das almas. Rainha dos mártires porque supera todos eles na virtude da fortaleza. Rainha dos confessores porque sua fé aqui na terra era imensamente superior à fé dos confessores. Rainha das virgens porque supera todas elas com sua pureza imaculada. Enfim, Rainha de todos os santos.  É óbvio que a realeza de Maria é uma realeza dependente e subordinada à realeza de Jesus Cristo. Não são, portanto, dois reinados absolutos e independentes. O reinado de Nossa senhora depende e está subordinado ao de NS. E Maria, como dispensadora de todas as graças adquiridas por Cristo, participa de modo sublime no governo de seu Filho, ajudando-nos a viver em conformidade com a lei da graça.

Nossa Senhora é, portanto, verdadeiramente Rainha, quer queiramos ou não. A nós cabe reconhecer a realeza dessa Rainha que é também nossa Mãe e nos submeter plenamente, entregando a ela tudo o que temos, tudo o que somos, todas as nossas ações passadas, presentes e futuras. Nós já sabemos que o melhor meio para chegar a Nosso Senhor é por Maria, é pela devoção a Maria. E a melhor devoção a Maria é a consagração total a ela como escravos dela, reconhecendo que pertencemos a ela, que somos propriedade dela e entregando tudo a ela, para que ela disponha disso da melhor maneira possível com o objetivo de dar maior glória a Deus e de salvar as almas. Pela consagração total a Maria, nós entregamos tudo a Nossa Senhora: corpo, alma, os bens exteriores, como casa, família, riquezas, e os bens interiores, como méritos, graças, virtudes, satisfações. Nós nos imolamos inteiramente a Jesus nos consagrando totalmente a Maria, e sabendo que, apresentados pelas mãos de Nossa Senhora, esses bens terão muito mais valor aos olhos de Deus e serão aproveitados de forma muito mais perfeita. Além de nos entregarmos inteiramente a Maria, a total consagração a ela consiste também em fazer todas as coisas por Maria, com Maria, em Maria e para Maria. Não basta fazer o ato de consagração e renová-lo com regularidade, se não se vive realmente uma vida espelhada em Maria. É preciso fazer todas as coisas com Maria, quer dizer, tomando-a como modelo de santidade. Fazer todas as coisas em Maria, quer dizer, em união com ela. Fazer todas as coisas por Maria, sempre por meio dela e por sua intercessão, ainda que implicitamente, sem precisar dizer a cada vez que estamos pedindo sua intercessão. Fazer todas as coisas para Maria, para agradar-lhe e poder, assim, agradar a Nosso Senhor Jesus Cristo e à Santíssima Trindade. Fazer tudo com Maria, em Maria, por Maria e para Maria, como diz São Luís de Montfort, para podermos fazer da melhor maneira possível tudo com Jesus, em Jesus, por Jesus e para Jesus. A total consagração a Maria, nunca é demais repetir, é a mais perfeita consagração a Jesus, pois Maria nos conduz a Ele com suavidade, com firmeza e rapidez.

São inúmeros os benefícios dessa total consagração a Jesus por meio da escravidão a Nossa Senhora. Ela nos consagra inteiramente ao serviço de Deus, entregando a Jesus por Maria tudo o que somos e temos. Com essa consagração, imitamos Nosso Senhor Jesus Cristo, que se submeteu a Nossa Senhora durante grande parte de sua vida e ainda hoje atende a todos os seus pedidos. Ela nos traz grandes benefícios porque atrai o amor de Nossa Senhora e seus auxílios especiais. Maria Santíssima, ao ver que alguém se despoja de tudo para honrá-la e servi-la, não poupará esforços para ajudá-lo no caminho para o céu. Com essa consagração, nossas boas obras são purificadas. A melhor de nossas obras sempre é feita com certo amor próprio, em virtude de nossas fraquezas. Quando as entregamos a Maria, ela purifica nossas boas obras dessas pequenas manchas. Com essa consagração, nossas obras se tornam mais belas diante de Deus. Se oferecêssemos uma simples maçã ao Rei, como diz São Luís de Montfort, nosso oferecimento talvez não fosse tão agradável. Mas quando entregamos essa maçã para a Rainha, ela a coloca em uma bela bandeja de ouro e apresenta essa simples homenagem ao Rei, que ficará muito benévolo em virtude da intermediária e em virtude do modo pelo qual chegou até Ele a homenagem. Essa devoção é também boa para o nosso próximo, pois Nossa Senhora saberá aproveitar plenamente nossas boas obras para o bem dos outros. Enfim, essa consagração é a melhor coisa que podemos fazer se queremos realmente nos converter, caros católicos. Uma explicação tão breve dá somente uma pálida ideia do que é essa escravidão por amor, do que é essa consagração total a Jesus por Maria. Recomendo que leiam o Livro de São Luís de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção a Maria, se quiserem entender bem esse tesouro inesgotável e tendo-o lido, que procedam à consagração, se ainda não a fizeram Que procedam a essa consagração com a real intenção de conversão, de servir Nossa Senhora e Nosso senhor Jesus Cristo. Lembro a todos que a devoção a Nossa Senhora não é uma devoção sentimental ou açucarada. A devoção a Nossa senhora deve nos preparar para a batalha. Para os homens e rapazes, em particular, a devoção a Nossa Senhora deve favorecer a virilidade, tornando-nos capaz de controlar nossas paixões e de nos dispor ao combate espiritual.

Tudo isso que falamos se aplica no plano pessoal, caros católicos. Todavia, se aplica também no plano social. Toda sociedade é também uma criatura e, como tal, deve reconhecer e se submeter à Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo e à realeza de Nossa Senhora. O Brasil tem por Rainha Nossa Senhora da Imaculada Conceição sob o título de Aparecida. Se o Brasil quer realmente viver na ordem, é preciso que seja escravo de Nossa Senhora. O Brasil precisa venerá-la, invocá-la, amá-la, agradecer-lhe, imitá-la, submeter-se a ela. Somente assim haverá a verdadeira ordem, que não pode ser outra do que a ordenação de tudo a Nosso Senhor Jesus Cristo. Somente reconhecendo a realeza e a soberania de Nossa Senhora o país poderá ter um verdadeiro progresso, que não é simplesmente um progresso econômico-social, mas que é um progresso das virtudes no povo, das virtudes naturais e sobrenaturais. Ao desprezar Maria Santíssima com tantas leis iníquas (indiferentismo religioso, aborto em alguns casos, uniões homossexuais e tantas outras coisas); ao desprezar Maria por um sistema político completamente esquecido de seu Filho e de sua Igreja; ao desprezar Maria por uma sociedade cada vez mais hostil à religião católica; ao desprezar Maria pela falta de culto público tributado a ela; ao desprezar Nossa Senhora de tantas formas, o Brasil caminha para o abismo. É nosso dever de piedade filial rezar pelo Brasil, recorrer a Nossa Senhora, pedindo pelo Brasil. E, ao pedirmos pela Brasil, devemos pedir não somente pelos governantes, mas também pelo clero, pelos bispos, pelos sacerdotes, para que sejam fiéis e santos.

Claro, devemos batalhar na esfera pública pela realeza de Nossa Senhora, mas devemos começar reconhecendo a realeza dela sobre a nossa alma. Uma ação individual tem um efeito sobre toda a sociedade, inevitavelmente. Assim, um pecado individual, ainda que praticado sozinho, sem o conhecimento dos outros, traz um prejuízo para a sociedade, porque esse pecado prejudicou ao menos um membro da sociedade e, ao prejudicar um membro, é toda a sociedade que é prejudicada. De forma semelhante, mas ainda mais intensa, uma ação meritória traz um benefício para toda a sociedade ainda que seja uma ação desconhecida das outras pessoas, pois essa ação fez um bem ao menos para um membro da sociedade, e, ao beneficiar um membro da sociedade, toda a sociedade é beneficiada. Portanto, caros católicos, podemos imaginar o bem que traz para a sociedade a alma que se consagra totalmente a Nossa Senhora e vive realmente essa consagração. Se queremos mudar a sociedade, devemos primeiro mudar a nós mesmos.

Roguemos a Maria Santíssima para que alcance de seu divino Filho misericórdia para nosso país tão ingrato com os benefícios divinos, benefícios naturais e sobrenaturais. Em particular, o benefício de ter dado ao nosso país, por meio dos missionários portugueses, a fé. A fé católica, que cada vez mais se enfraquece em nossa sociedade, nos fazendo voltar a viver como pagãos. Roguemos a Maria para que tenha piedade de nosso país, que está em ruínas espiritualmente falando. E quando uma sociedade está em ruína espiritualmente, todo o resto termina também desmoronando. Nós repetiremos, após a Missa, a oração e a consagração a Nossa senhora Aparecida feita pelos bispos do Brasil diante das autoridades civis em 1931. Faremos a nossa parte para que o Brasil reconheça a sua rainha e a sirva dignamente, para assim servir ao Rei dos reis, NSJC. Faremos a nossa parte para honrar publicamente a Nossa Senhora Aparecida. Se Nossa senhora for devidamente honrada publicamente nos dará abundantes graças, como ao ser encontrada nas águas do Rio Paraíba fez com que a pesca fosse abundante. Sem Maria, não há peixes. Com Maria, eles são abundantes.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A Imaculada Conceição de Maria Santíssima

Sermão para a Solene Festa da Imaculada Conceição de Maria Santíssima
8 de dezembro de 2012 – Padre Daniel Pinheiro

 

45147_363043163791767_1968554295_n

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria. […]

Hoje é um dia de imensa alegria, caros católicos, dia de imensa alegria espiritual. Gaudens gaudebo. É com essas palavras de grande júbilo que a Santa Igreja começa a Missa de hoje. O Intróito da Missa sempre nos indica o estado de alma particular que devemos ter para assistir à Missa do dia. As primeiras palavras são as mais importantes. Gaudens gaudebo in Domino. Alegrando-me alegrar-me-ei no Senhor. A causa dessa imensa alegria espiritual é múltipla.

Nossa Senhora, concebida sem pecado, é a Estrela da manhã, nos diz a Ladainha da Santíssima Virgem. A estrela da manhã é mensageira infalível da aurora, da vinda do sol e indica o fim da noite. Quando a estrela da manhã se levanta no horizonte e sua luz brilha, já sabemos que o dia se aproxima.

É hoje o dia em que a estrela da manhã se levanta no horizonte.

É hoje, com a Imaculada Conceição de Nossa Senhora.

Hoje, Maria Santíssima foi formada no ventre de Santa Ana, preservada do pecado original. A Imaculada Conceição anuncia a vinda próxima do Salvador.

O Dogma da Imaculada Conceição foi proclamado pelo Bem-Aventurado Papa Pio IX em 1854. Eis as palavras do Santo Padre:

A Encíclica Ineffabilis Deus, do Papa Pio IX, definiu o dogma.

Pio IX definiu o dogma na Encíclica Ineffabilis Deus.

“[…] Com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos que a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, foi revelada por Deus, e, por isso, deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis.”

Assim, trata-se de uma verdade revelada proposta como tal pela Santa Igreja. Aquele que a nega, duvida ou a questiona naufraga na fé e já não pode agradar a Deus, pois sem fé é impossível agradar a Deus, como nos diz São Paulo (Heb XI, 6).

Como todos sabemos, a Imaculada Conceição não é invenção do séc. XIX. Basta conhecer um pouco de história para ver quantas imagens da Imaculada Conceição anteriores a esse século existem. Mas muito mais do que isso.

A Imaculada Conceição está na profecia do Gênesis, que nos diz que uma mulher e sua raça será inimiga da serpente. Essa inimizade é tal que Nossa Senhora nunca esteve sob o domínio da serpente pelo pecado. E com sua descendência a mulher esmagará a cabeça da serpente.

A Imaculada Conceição está no Véu ou Velo de Gedeão: quando tudo ao redor recebeu o orvalho, o véu permaneceu seco. Quando tudo ao redor ficou seco, Nossa Senhora recebeu o orvalho.

A Imaculada Conceição está em Ester, dispensada da lei que mandava matar toda pessoa que aparecesse na presença do Rei sem ser anunciada. Ester apareceu diante do rei sem ser anunciada e não foi punida. Nossa senhora apareceu no mundo e não foi punida pelo pecado original.

A Imaculada Conceição está no anúncio do Anjo: Ave, CHEIA de graça.

A Imaculada Conceição está na “Mulher”, do décimo segundo capítulo do Apocalipse; revestida de sol, com doze estrelas ao redor, com a lua aos seus pés, vitoriosa sobre o dragão.

Poderíamos citar ainda outras passagens…

Vale destacar, porém, como o faz Pio IX, que a Imaculada Conceição não exclui Nossa Senhora da obra da redenção realizada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Só nEle pode ser encontrada a salvação. Maria Santíssima, como filha de Adão, deveria ter sido concebida com o pecado original. E se Ela foi preservada, foi preservada em virtude dos méritos futuros de Cristo. Nossa Senhora é, portanto, redimida, mas redimida de uma forma mais perfeita que os outros homens. Ela é redimida de uma maneira que convém à Mãe de Deus.

É possível salvar alguém da lama de uma poça de duas formas: ou impedindo que a pessoa caia na poça ou lavando a pessoa depois de ela ter caído na poça e se enlameado. Deus pode salvar da lama do pecado dessas duas formas. Claro que salvar uma alma preservando-a da lama do pecado é muito mais perfeito e melhor. Esse modo perfeito e mais pleno de redenção convinha unicamente à Mãe de Deus.

A Imaculada Conceição convém unicamente à Maria Santíssima e a mais ninguém. A Imaculada conceição é tão própria a Nossa Senhora que se tornou nome próprio. Nossa Senhora em Lourdes se apresenta à Santa Bernadette dizendo: Eu sou a Imaculada Conceição. Os pastores e os fiéis já muito antes de Lourdes chamavam Nossa Senhora de “a Imaculada Conceição”, ou simplesmente, “Imaculada”.

Dizíamos que hoje é um dia de júbilo por inúmeras razões.

É um dia de grande alegria porque toda a Santíssima Trindade é glorificada por sua obra-prima, aquela obra que estava na inteligência divina desde toda a eternidade, sempre associada ao Verbo de Deus Encarnado. A perfeição de Maria, a ausência de pecado e a sublimidade de suas virtudes nos permite ter um espelho da justiça divina, nos permite ver um reflexo da santidade divina e amar mais profundamente a Deus. Eis porque Maria é chamada “Espelho de Justiça”.

É um dia de grande alegria porque Nosso Senhor Jesus Cristo é honrado. Ora, parte da honra dos filhos está nos pais. O fato de Nossa Senhora nunca ter estado sob o mínimo domínio do pecado é uma grande honra para seu Filho, Cristo. O contrário, quer dizer, se Nossa Senhora tivesse conhecido o pecado, seria certa desonra para Nosso Senhor. Ora, em Cristo não há nenhuma desonra; é preciso, então, que Nossa Senhora seja concebida sem pecado.

Hoje é um dia de grande alegria porque honramos também a Nossa Senhora, quer dizer, damos testemunho de sua excelência. Pois isso é honrar: dar testemunho da excelência de alguém. Nós reconhecemos que ela nunca esteve sob o domínio do pecado.

A Imaculada Conceição, como todo privilégio dado à Maria, é uma preparação ou uma consequência da Maternidade Divina. Ora, para ser digna Mãe de Deus não convinha que Maria estivesse submetida ao pecado, não só no momento de sua concepção, mas durante toda a sua vida. Aquela que tanto cooperou na nossa Salvação não pode jamais ter estado sob o domínio do pecado e do demônio. Maria Santíssima foi concebida sem pecado e permaneceu pura de todo pecado e até mesmo de qualquer inclinação ao pecado durante toda sua vida. Em Maria, as paixões ou os sentimentos eram sempre ordenados pela razão e a razão inteiramente ordenada pela fé.

Todavia, a ausência de pecado em sua concepção e em toda a sua vida são simplesmente o aspecto negativo da Imaculada Conceição. Devemos, para testemunhar devidamente as excelências de Maria no Mistério da Imaculada Conceição, considerar também o aspecto positivo desse Mistério.

O primeiro ponto é que onde não há pecado, há, necessariamente, a graça, a amizade com Deus. Nossa Senhora foi, portanto, concebida em estado de graça. Mas não uma graça qualquer. A graça de Maria no momento de sua concepção é uma graça maior que a graça de todos os santos e anjos no céu. Repito: a graça de Maria no momento de sua concepção é maior que a graça de todos os santos e anjos no céu. Assim o dizem os mariólogos. E isso porque a preparação, ainda que distante, para se tornar Mãe de Deus exige uma graça superior a todas as outras graças juntas. A cada dignidade corresponde uma graça proporcional. A cada missão a graça necessária para cumprir bem essa função. A dignidade e a função de Mãe de Deus é imensamente superior a qualquer outra. Portanto, mesmo a preparação para essa dignidade exige uma graça imensamente superior a todas as outras, mesmo juntas.

Além disso, quanto mais algo está perto da causa, mais ela sofre o efeito. Quanto mais algo está perto de fogo, mais ele é esquentado. Maria Santíssima, pela Maternidade Divina, está o mais perto possível de Cristo, fonte da graça. Essa proximidade tem como efeito uma graça que não podemos calcular. E essa graça de Nossa Senhora foi crescendo ao longo de toda a sua vida, pois cada ato seu era feito com uma caridade mais intensa que o ato anterior. A graça em Nossa Senhora progredia em movimento acelerado, dada a sua fidelidade perfeita às inspirações divinas. Se já em sua Conceição Imaculada sua graça era superior a de todos os santos e anjos juntos, podemos imaginar quão ardente era sua caridade no final da vida.

Diga-se, de passagem, que toda essa plenitude de graça de Maria é um pálido reflexo da graça de Cristo. A graça de Cristo era tão grande, desde o momento de sua concepção, que não podia haver maior, de tal sorte que a graça de Cristo não podia nem mesmo crescer durante a sua vida. E, claro, junto com essa plenitude de graça em Maria Santíssima estavam também todas as outras virtudes em grau imenso: a fé, a esperança, a caridade, a prudência, a justiça, temperança, a fortaleza, a humildade, a modéstia, a paciência, a obediência e todas as outras.

Devemos, então, nesse 8 de dezembro, nos alegrar com tamanha excelência de Nossa senhora, com tamanha caridade, com tamanha fidelidade à graça, com tamanha adesão a Deus. Devemos, contudo, ter sempre em mente que Nossa Senhora guardou em cada momento de sua vida a liberdade, embora Deus a tenha assistido de modo particular.

Louvemos, portanto, à Maria, cantando suas excelências.

E o último motivo de alegria para nós é o bem de nossa própria alma. O dia da Imaculada Conceição deve favorecer em nós a devoção à Maria Santíssima, devoção que devemos ter, pois Deus quis que nos dirigíssemos ao Céu pelo mesmo caminho que Ele usou para vir até nós. Devemos ser devotos de Maria, pois Cristo nos entregou a ela como filhos. A devoção consiste na prontidão da vontade em se entregar às coisas que pertencem ao serviço de Deus. A devoção é, portanto, algo que está na vontade e não no sentimento. Ser devoto de Maria é estar sempre pronto para servi-la, a fim de poder melhor servir a Deus. Trata-se de melhor servir a Deus servindo a Maria, como fizeram os empregados nas bodas de Caná, obedecendo à Maria, a fim de obedecer a Cristo.

Todavia, essa prontidão no serviço a Maria para melhor servir a Cristo não brotará espontaneamente em nossas almas. A devoção tem duas causas: a primeira é Deus, a segunda é a meditação. Assim, se queremos ser verdadeiros devotos de Maria, servindo-a pela imitação de suas virtudes – que vimos são sublimes – devemos, primeiramente, pedir essa graça a Deus e a ela mesma. Devemos, ao mesmo tempo, considerar as virtudes de Maria Santíssima, pois dessa consideração nascerá o desejo de imitar essas virtudes, imitação que é a verdadeira devoção a Maria Santíssima.

Portanto, grande alegria nesse dia de hoje. Alegria porque com a Imaculada Conceição a Santíssima Trindade é glorificada ao mostrar ao mundo a sua obra-prima. Alegria porque Nosso Senhor Jesus Cristo é honrado, pois a honra dos filhos depende em parte da perfeição dos pais. Alegria porque Nossa Senhora é honrada, e isso não só pela ausência do pecado, mas pela presença sublime de todas as virtudes. Alegria porque a admiração e a consideração dessas virtudes são o primeiro passo para imitá-las. Alegria porque Nossa Senhora nos mostra o caminho da salvação. Ela nos mostra e nos transmite, qual um aqueduto, as graças que precisamos para chegar à salvação. Ela é a estrela da manhã que anuncia o sol. E onde há sol, já não pode haver trevas. Por sua Imaculada Conceição ela nos ensina o ódio ao pecado e o amor a Deus.

Um parêntese. Alegria também porque essa Virgem Imaculada, Mãe de Deus, está nos  céus e intercede por nós, por cada um de nós, e esmaga todas as heresias. Nesse tempo de apostasia generalizada, especialmente a partir do anos 60, recorramos à Imaculada Conceição. E confiança. Nossa Senhora manteve a fé, não se escandalizou. Alegria, Nossa senhora esmaga todas as heresias.

Ó Maria concebida sem pecado…

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] “É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo”

Sermão para a Solene Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (12 de outubro de 2012)

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

“Tu, Virgem Maria, és a glória de Jerusalém, a alegria de Israel, a honra do nosso povo” Judith 15, 10

Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição

Em 1717, três pescadores buscavam peixes no Rio Paraíba, próximo de Guaratinguetá, interior de São Paulo. Era em torno do dia 12 de outubro, e a câmara da vila havia pedido aos pescadores da região que apresentassem todos os peixes que pudessem conseguir ao novo governador da capitania que estava de passagem pela localidade. Os três pescadores percorreram grande distância entre dois portos sem conseguir pegar peixe algum. Eis, então, que lançando a rede mais uma vez pescaram o corpo da Senhora, sem a cabeça. Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, da Imaculada Conceição. Continuando a pescaria depois de tal descoberta, conseguiram pescar tantos e tantos peixes que tiveram de parar, receosos de que as canoas naufragassem por causa da abundante pesca. Eram certamente extraordinários esses fatos: o encontro da imagem, o encontro da cabeça que naturalmente deveria ter sido arrastada mais longe pela correnteza da água, além de ser dificilmente colhida por uma rede de pescador, dada a sua dimensão. Extraordinária também a pesca abundante que seguiu o encontro da imagem. A devoção a Nossa Senhora Aparecida começou, então, no oratório dos pescadores e graças foram obtidas e milagres realizados, notadamente as velas que se apagavam e se reacendiam sozinhas por diversas vezes. A devoção foi tanta, que, hoje, Aparecida é o maior Santuário Mariano no mundo. Em 1930, o Santo Padre, o Papa Pio XI, na plenitude de seu poder apostólico, constituiu e declararou a mui Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de “Aparecida”,a Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. No ano seguinte, 1931, no dia 31 de maio, em presença do Sr. Presidente da república, de altas autoridades civis e militares, de numerosas divisões das Forças Armadas, do Episcopado Brasileiro e de enorme multidão de fiéis, o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro proferiu o ato de consagração de todo o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, recomendando à Excelsa Padroeira todos os interesses e as necessidades da pátria. Nossa Senhora da Conceição era já a padroeira do Brasil por provisão do Rei de Portugal em 1646 e por declaração de D. Pedro I quando da independência. Simplesmente, ajuntou-se nesse momento o título de Aparecida por causa dos milagres ocorridos, das graças alcançadas e da devoção do povo.

Todos esses fatos nos permitem tecer algumas considerações interessantes. Antes de tudo, a importância de Nossa Senhora na obra da redenção. Nas duas pescas milagrosas no Evangelho, Nosso Senhor quer mostrar aos apóstolos que sem Ele, os únicos frutos que realmente nos interessam, que são os frutos de vida eterna, são inexistentes, apesar de nossos trabalhos e esforços nessa terra. Com Cristo, porém, e seguindo a sua palavra os frutos para a vida eterna são abundantes. Ora, a origem da devoção a Nossa Senhora Aparecida nos mostra algo parecido em relação a Nossa Senhora. A devoção a Nossa Senhora é necessária para que possamos chegar ao Filho e assim nos salvarmos, com frutos abundantes. Enquanto a imagem estava no fundo do rio, esquecida e quebrada, a pesca foi inútil. Depois de encontrarem a imagem e tratarem-na com o devido respeito, a pesca foi abundante. Nossa Senhora, na sua extrema delicadeza, permitiu aos pescadores que apresentassem o fruto de seus trabalhos ao governador da capitania. Nós, nós devemos apresentar os frutos de nossas obras a Nosso Senhor Jesus Cristo, justo juiz, governador do mundo. Sem o auxílio Maria Santíssima não teremos obras dignas de serem apresentadas a nosso Deus, porque Deus quis, não por necessidade, claro, mas por livre vontade que os homens passassem por Maria e quis salvar o homem de forma semelhante como esse havia pecado. No paraíso havia um homem, personagem principal e havia uma mulher que cooperou no seu pecado. Na Redenção há um homem, Cristo, que é também Deus e há uma mulher que coopera na obra infinitamente perfeita de Cristo, Maria.

Dissemos, então, que o Brasil foi consagrado a Nossa Senhora no dia 31 de Maio, data que se tornou depois a data da festa de Nossa Senhora Rainha. Pela consagração de nosso país a Nossa Senhora Aparecida nós reconhecemos e declaramos explicitamente e justamente um fato que já existe. Nossa Senhora é Rainha por sua maternidade divina, aliás, celebrada ontem, mas também por direito de conquista adquirido por sua participação única na obra da redenção de seu Filho. Nossa Senhora é Rainha dos Céus e da terra. Nossa Senhora é, portanto, Rainha do Brasil. Consagrando o Brasil a ela, dizemos que queremos nos submeter a ela espontaneamente, seguindo o seu exemplo e suas ordens, como fizeram os servos em Caná quando do primeiro milagre de NSJC. A devoção a Nossa Senhora consiste em servi-la e imitá-la para poder melhor servir e imitar Nosso Senhor Jesus Cristo.

Hoje, infelizmente, o Brasil, por meio de suas autoridades não quer mais honrar publicamente e se submeter a Nossa Senhora e, por meio dela, honrar e se submeter a Nosso Senhor Jesus Cristo. Claro, existem ainda pessoas devotas de Nossa Senhora Aparecida, mas é preciso que o país também o seja. Se o país por meio de seus governantes pode reconhecer a importância de tal ou tal obra pública, pode também reconhecer que Deus existe, que Cristo é Deus, que a religião católica é a verdadeira, e que devemos voltar a Deus pelo mesmo caminho pelo qual Ele veio até nós: por Maria. Infelizmente, hoje, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, embora colocada no maior Santuário mariano do mundo é desprezada pelo nosso país e muitas vezes mesmo por aqueles que mais deveriam zelar pela honra de Nossa Senhora. É como se a imagem se encontrasse no fundo do rio e quebrada. É preciso, então, fazer como os pescadores. É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo. É por meio de Nossa Senhora que Cristo quer distribuir as infinitas graças que mereceu em estrita justiça durante a sua vida, paixão e morte. O bem de um país não é somente o bem econômico ou um bem social material, mas inclui necessariamente o bem espiritual, bem espiritual que só pode vir de Cristo por Maria. Cristo veio ao mundo por Maria. Ele concede as suas graças por Maria. O bem de nosso país, o verdadeiro bem de nosso país, que consiste, antes de tudo, no favorecimento da prática das virtudes, da única verdadeira religião, passa necessariamente por Nossa Senhora. O bem de nosso país não virá da política ou de uma ideologia. O bem do nosso país deve vir da restauração de tudo em Cristo. Enquanto o Brasil persistir em deixar Nossa Senhora no fundo das águas, nosso país não avançará realmente. Não avançará naquilo que realmente importa: o trabalho pelo bem das almas que só se pode fazer em união com a Santa Igreja. Enquanto Nossa senhora está no fundo das águas, o país caminha para o abismo, rejeitando todos os bens que lhe tinham sido concedidos por Deus. Quantas das supostas leis de nosso país hoje ofendem a Nosso Senhor e quantas outras não estão a caminho de serem aprovadas? O divórcio, que tem destruído a sociedade brasileira e a sociedade no mundo inteiro junto com a anticoncepção. Tantas liberdades absolutas que são liberdades para o erro e para propagá-lo… Uniões homossexuais reconhecidas pelo Estado. Aborto, eutanásia. Quantas liberdades garantidas por lei que são no fundo libertinagem… O projeto de novo código penal está repleto dessas leis ofensivas a Deus e, portanto, prejudiciais ao homem: aborto, eutanásia, suicídio assistido, assassinato de crianças indígenas, se isso é conforme ao costume de uma dada tribo, punição dos que se opõem às uniões homossexuais, descriminalização do uso de drogas, prostituição infantil, terrorismo etc. Claro que tudo isso aparece no texto do projeto com outras palavras que chocam menos o povo brasileiro, que, em sua maioria, se opõe a tudo isso. Nem o argumento da democracia numérica justifica o que querem fazer. Chegamos ao ponto em que os animais são mais importantes que os homens, segundo esse mesmo projeto de Código Penal em trâmite no Congresso: não socorrer um homem é pena de uma a seis meses, enquanto não socorrer um animal é pena de 1 a 4 anos.  Inversão absurda, mas se se considera que o homem é mais importante que Deus por que não considerar que os animais são mais importantes que o homem? Aquele que nega Deus é capaz dos maiores absurdos. É isso que estamos vendo em nosso país. Nossa Senhora está no fundo das águas, esquecida e desprezada por nossa pátria.

Somos nós, então, que devemos pescar a imagem de Nossa Senhora no fundo das águas, a fim de que Ela proteja nosso país e faça com que o Brasil respeite os direitos de Deus, realizando assim a sua finalidade que é o bem de seus cidadãos. Somos nós que devemos ter uma devoção pessoal e verdadeira por Nossa Senhora, imitando as suas virtudes e pedindo que Ela seja reconhecida como a soberana suprema desse país. Devemos, por dever de justiça, de piedade filial, rezar e confiar nosso país a Nossa Senhora, a fim de que ele a reconheça como Mãe e Rainha e se submeta plenamente à vontade de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. E devemos incutir isso em nossas crianças. Por uma grande coincidência, não é?, dessas que não costumam ocorrer jamais, por um grande acaso, hoje é também o dia das crianças. Por que? Para fazer esquecer aos brasileiros e, sobretudo, àqueles que são o futuro de nossa sociedade, a soberania de Maria Santíssima e por meio dela a soberania de Seu Filho. Para fazer crer que o feriado é para as crianças se divertirem.

Devemos deixar claro para as crianças que o fundamental nesse dia 12 de outubro é Nossa Senhora e que foi ela quem nos trouxe o maior presente: o Menino Jesus. E se hoje é feriado, o objetivo não é outro: honrar Nossa Senhora e fazê-lo publicamente, confiando o nosso país a Ela e agradecendo todo o bem que Nossa Senhora já fez pelo nosso país.

Desde o começo de sua história, o Brasil se destacou por sua devoção à Imaculada Conceição. É preciso que isso continue.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, salvai o Brasil!

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Nota do editor: destaques são nossos.

Informes: missas na Festa de Nossa Senhora Aparecida

No dia 12 de outubro, festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, duas missas em Brasília, ambas pela manhã. Seguem os horários.

  • às 10 horas, na Capela do Instituto Bíblico de Brasília (Celebrante: Pe. Sérgio David)
  • às 11 horas, na Capela do Instituto das Irmãs de Santa Marcelina (Celebrante: Pe. Daniel Pinheiro)