[Sermão] A Igreja e sua doutrina

Sermão para o 18º Domingo depois de Pentecostes

22.09.2013 – Padre Daniel Pinheiro

ÁUDIO: Sermão para o 18º Domingo depois de Pentecostes A doutrina católica 22.09.2013

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria…

Nosso Senhor, vindo ao mundo para nos salvar com sua caridade e misericórdia infinita, caros católicos, nos ensinou a verdade e nos instrui a amar a verdade, nos instruiu a aderir a ela e a colocá-la em prática. Nosso Senhor veio nos trazer a salvação. Todavia, sabendo que voltaria ao Pai, de onde veio, instituiu a Igreja, sua esposa imaculada, a fim de que a Igreja pudesse nos transmitir intactos seus ensinamentos, para que a Igreja prolongasse até o fim dos tempos os frutos da encarnação e da paixão de Nosso Senhor. A Igreja com sua doutrina é – como não poderia deixar de ser – fruto da misericórdia de Cristo.

 Algumas questões fundamentais, de grave importância foram suscitadas, agitadas, durante a semana com relação à Igreja e à sua doutrina. Convém muitíssimo deixar alguns pontos claros com relação à Igreja e à sua doutrina. Como diz São Paulo a Timóteo, é preciso pregar a palavra a tempo e fora de tempo, repreendendo, suplicando, admoestando, com toda paciência e doutrina. (II Tim. 4, 2)

Nosso Senhor fundou a Igreja, caros católicos. A Igreja, como nos diz o catecismo de São Pio X, é a sociedade de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam a mesma fé e a mesma lei de Cristo, participam dos mesmos sacramentos, e obedecem aos legítimos pastores, principalmente ao Romano Pontífice. A Igreja não é algo vago, etéreo, nebuloso. A Igreja também não é simplesmente, sem mais nem menos, o povo de Deus. A definição da Igreja como simples povo de Deus resta imprecisa, e define melhor o povo judeu do que a Igreja fundada por Cristo. O que caracterizaria esse povo de Deus? Quais as especificidades desse povo? O que une esse povo? É preciso ter bem presente que a Igreja é uma sociedade. Ela é a sociedade de todas as pessoas batizadas que, vivendo na terra, professam a mesma fé e a mesma lei de Cristo, participam dos mesmos sacramentos, e obedecem aos legítimos pastores, principalmente ao Romano Pontífice. E a Igreja é uma sociedade perfeita, isso quer dizer que ela possui em si todos os meios para atingir o seu fim, que é a maior glória de Deus e a salvação das almas pela aplicação dos méritos infinitos obtidos por Cristo, pela transmissão do ensinamento de Cristo, pela celebração dos sacramentos, pela incitação ao amor a Deus e aos seus mandamentos. A Igreja é essa sociedade de que acabamos de falar, uma sociedade perfeita porque tem todos os meios para atingir seu fim, que é a glória de Deus e a salvação das almas. Claro, a Igreja é uma sociedade ao mesmo tempo divina e humana, portanto, ela é um mistério, mas isso não faz com que ela deixe de ser uma sociedade visível, externa, definida, para se tornar algo puramente espiritual, interno e impreciso, sem limites definidos, de forma que, no fundo, todo mundo faz parte dela. Não. A Igreja é visível, também externa, uma sociedade bem definida, da qual são membros os batizados que professam a fé católica, que partilham os mesmos sacramentos e que obedecem aos legítimos pastores.

A Igreja foi fundada por Cristo. Ela possui, portanto, uma constituição que lhe foi dada pela Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, por Deus Filho. A Igreja foi constituída por Deus como Igreja hierárquica. Nosso Senhor escolheu doze homens que Ele nomeou apóstolos (Marcos 3, 14-16), para que ficassem com Ele e pregassem (Atos 5, 17). E Nosso Senhor deu aos doze a missão de continuar a obra da redenção. Nosso Senhor diz aos apóstolos: “Assim como o Pai me enviou também eu vos envio” (Jo 20, 21). Deus enviou Nosso Senhor para governar, ensinar e santificar. São justamente os três poderes que possuem os Apóstolos e seus sucessores, os Bispos: governar, ensinar, santificar. Portanto, Nosso Senhor escolheu doze e conferiu a esses doze poderes particulares: governar, ensinar, santificar. Nosso Senhor constituiu uma hierarquia. A Igreja, por instituição divina é hierárquica. Mas essa não é uma hierarquia colegial, é, antes, uma monarquia. A Igreja é uma monarquia, pois Cristo deu a um dos Apóstolos, São Pedro e aos sucessores de São Pedro, o poder pleno e supremo de jurisdição e um poder supremo, pleno, ordinário e imediato sobre todas e cada uma das Igrejas particulares e sobre todos e cada um dos pastores e fiéis (Conc. Vat. I, Denz. 3064). Nosso Senhor disse a São Pedro: “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. Eu te darei as chaves do reino dos céus. Tudo o que ligares na terra será ligado no céu. Tudo o que desligardes na terra será desligado no céu” (Mt 16, 18). Depois, Nosso Senhor dirá a São Pedro duas vezes: “apascenta os meus cordeiros” (Jo 21, 15-17). E uma vez: “apascenta minhas ovelhas” (Ibidem). Os cordeiros são só fiéis, as ovelhas são os Bispos e Padres. São Pedro, o Papa, deve apascentar todos, deve governar, instruir e santificar a todos. O que foi divinamente instituído ninguém pode mudar. E Nosso Senhor assistirá a sua Igreja para que ela permaneça até o fim dos tempos como ele a instituiu, pois Ele disse que as portas do inferno não prevaleceriam contra ela e que Ele estaria com a Igreja até a consumação dos séculos. A natureza da Igreja é, então, a de uma sociedade hierárquica e monárquica. Nós sabemos que o bem de cada coisa é agir conforme a sua natureza. Portanto, o bem da Igreja e consequentemente dos fiéis e de todos os homens se verifica quando os membros da Igreja agem conforme a sua natureza, respeitando a instituição divina. Não se trata, em nenhuma hipótese de uma tirania – como é claro -, pois o tirano governa para o seu próprio bem ou para o bem de um grupo. O Papa deve governar para o bem dos fiéis, para que os fiéis alcancem com maior facilidade a salvação. O Papa, sendo o soberano chefe da Igreja, é, ao mesmo tempo e pelo próprio fato de ser o chefe supremo, o servo dos servos. Sua função é servir a todos, promulgando leis que nos levem a Deus, ensinando com clareza e fidelidade a doutrina de Cristo, assegurando a boa administração dos sacramentos. Agindo assim, ele espalhará a misericórdia divina sobre a terra e levará as almas para Deus. Aquilo que muitos desejam, de ver o Papa praticamente como mais um entre os bispos, de ver a democracia instalada na Igreja é um grande prejuízo para a Igreja, para as almas. Agir desse modo é um grande prejuízo para a Igreja e para os homens, é falta de fidelidade a Cristo. O bem de uma coisa é agir em conformidade com sua natureza e a natureza da Igreja é hierárquica, monárquica. Isso não significa que o Papa deva governar sozinho. Não, ele pode e deve pedir conselho, ele pode e deve ser auxiliado no governo da Igreja, mas jamais deve se igualar aos outros bispos.

Como vimos, a Igreja tem como finalidade última a glória de Deus e a salvação das almas. Para atingir esse fim, a hierarquia recebeu de Cristo, como vimos, o poder de ensinar. Esse poder de ensinar consiste em transmitir, guardar, declarar, defender, explicar aquilo que Nosso Senhor ensinou. Aquilo que Nosso Senhor ensinou não pode mudar. Ele manda que os apóstolos ensinam aquilo que ouviram e aprenderam (Mt 28, 20; 10, 27) A Revelação feita por Cristo, se encerrou com a morte do último Apóstolo, São João, no início do século II. O Espírito Santo, como diz Nosso Senhor, ensinou aos apóstolos toda as coisas e lembra a eles o que Cristo ensinou (Jo 14, 26). Não há, portanto, mais nada para ser revelado. Tudo o que a Igreja ensina deve necessariamente estar contido no ensinamento dos Apóstolos. A Igreja não pode, então, mudar aquilo que Cristo e o Espírito Santo ensinaram, a Igreja não pode mudar as verdades reveladas, a Igreja não pode inventar novas verdades reveladas, nem dizer que uma verdade deixou de ser revelada. A Igreja não pode mudar a interpretação dada a uma verdade revelada. A Igreja deve sempre interpretar a verdade revelada no mesmo sentido, com o mesmo entendimento, ainda que mais profundo. Por exemplo, a Igreja sempre afirmou que a presença de Cristo na Missa, após a consagração, é uma presença real, substancial, em corpo, sangue, alma e divindade. A Igreja não pode dizer hoje ou amanhã que a presença de Cristo na Missa existe, mas que é uma presença simbólica, uma presença só para os que creem, etc. A Igreja pode aprofundar-se no entendimento de uma verdade revelada, mas nunca mudando o sentido ou interpretação dessa verdade. Dessa forma, a Revelação (aqui se incluem as verdades de fé e também a moral) não pode ser mudada para se adaptar aos tempos modernos – nem aos antigos, nem a qualquer outro tempo – para se adaptar à mentalidade do homem contemporâneo. As verdades a serem cridas e praticadas não vêm do povo, dos fiéis, mas de Cristo e da hierarquia. A Revelação – a doutrina da Igreja e sua moral – não deve ser lida à luz da modernidade, a fim se adaptar a essa modernidade. É a modernidade que deve ser lida à luz da Revelação, a fim de saber o que pode ser aproveitado da modernidade para o nosso bem. A Igreja tem o dever de se manter fidelíssima ao depósito da Revelação que ela recebeu de Cristo e ela é fidelíssima e será fidelíssima. A Igreja guarda intactas e puras as verdades que recebeu de seu Divino Mestre. Mais uma vez, não é a Revelação que se adapta ao homem e aos seus gostos e caprichos – isso seria divinizar o homem, colocá-lo acima de Deus – mas é o homem que deve ser conformar inteiramente à Revelação. Portanto, a doutrina da fé e da moral da Igreja não pode mudar, não pode evoluir.

Assim sendo, a Igreja não pode evoluir quanto ao aborto, quanto ao homossexualismo, quanto à contracepção, quanto à comunhão dos divorciados recasados, quer dizer, quanto à comunhão daqueles que se casaram na igreja, se separam e depois se juntaram com outra pessoa. A Igreja não pode mudar quanto a isso, pela própria natureza das coisas. E a Igreja deve insistir nesses pontos porque são pontos de suma importância para o indivíduo, mas, sobretudo, para a sociedade. O aborto e o homossexualismo são dois pecados que clamam aos céus por vingança justamente porque são pecados que corroem os fundamentos da sociedade, causam um mal incomensurável à sociedade. O primeiro, porque é suma injustiça, é o assassinato de um inocente indefeso, assassinado por aqueles que mais deveriam protegê-lo e amá-lo. O segundo, porque destrói inteiramente a base da sociedade, que é a família, formada para a propagação do gênero humano e para povoar o céu. É óbvio que a pregação da Igreja não pode nem deve se reduzir a isso. Mas é preciso insistir nesses pontos, sem esquecer os outros principais, a existência de Deus, a Trindade de Deus, a Encarnação de Deus Filho, sua morte por nós na cruz, sua caridade, bondade e misericórdia para conosco. Se os homens da Igreja insistissem um pouco mais sobre esses assuntos, talvez a sociedade não estivesse nesse estado, tão afastada de Deus. Se os homens da Igreja passarem a falar pouco desses assuntos, em pouco tempo os católicos cederão quase completamente em todos esses pontos, como já cederam quase completamente em alguns, como é o caso da contracepção, por exemplo. É preciso falar com frequência sobre esses assuntos, sem reduzir o catolicismo a eles, como é evidente. Todos esses pecados – contracepção, aborto, prática homossexual, divórcio – são pecados graves. Aquele que morrer neles, consciente da gravidade deles – e mesmo um pagão consegue ver com certa facilidade a gravidade deles, excetuando talvez a contracepção – será condenado. É a Igreja que os condena? Não. Eles mesmos se condenam. A Igreja prolonga nesse mundo a missão de Cristo em sua primeira vinda. Cristo veio condenar? Não. O evangelho de São João nos diz (Jo 3, 17 – 21): “Deus não enviou seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem n’Ele crê não será condenado, mas quem não crê, já está condenado, porque não crê no nome do Filho unigênito de Deus. E a condenação está nisto: a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não se aproxima da luz, a fim de que não sejam condenadas as suas obras.” Não é a Igreja que condena. É a própria pessoa que se condena e se prepara para ser julgada como tal por Cristo quando da sua segunda vinda, em que Ele virá glorioso – aí, sim – para julgar os vivos e os mortos. O dever da Igreja e dos homens da Igreja é alertar as pessoas, com caridade: você está se condenando, abandone as trevas, venha para a luz, venha para Deus e sua Igreja. A Igreja deve dizer ao pecador: Nosso Senhor morreu por sua alma, para salvar a sua alma, abandone o pecado e prove e veja quão suave é o Senhor (Salmo 33, 9). A misericórdia da Igreja é tirar o homem de sua miséria. Qual é a maior miséria? O pecado. Para tirar o homem do pecado, ela tem que dizer que o pecado existe e que ele conduz à condenação. A Igreja tem que dizer que pelo pecado grave a pessoa perde o céu e merece o inferno. Quantas almas encontraram e encontram assim a misericórdia divina. Além disso, é obra de misericórdia espiritual ensinar aos ignorantes e corrigir os que erram, oportunamente. Como diz São Pio X, na carta Apostólica Notre Charge Apostolique: “a doutrina católica nos ensina que o primeiro dever da caridade não está na tolerância das convicções errôneas, por sinceras que sejam, nem da indiferença teórica e prática pelo erro ou o vício, em que vemos mergulhados nossos irmãos, mas no zelo pela sua restauração intelectual e moral, não menos que por seu bem-estar material.” A Igreja deve formar a consciência dos homens, é da Igreja que depende a vida espiritual dos homens. Não basta seguir a própria consciência para se salvar, é preciso seguir uma consciência bem formada, que busque realmente a verdade e que a ame. Muitos seguem sua consciência, mas uma consciência cupavelmente mal formada e relaxada, em que se escolhe não se aproximar da luz para não ter que mudar de vida. A Igreja deve formar as consciências. É grande obra de misericórdia ensinar aos ignorantes e corrigir os que estão no erro, de modo oportuno.

A Igreja e seus membros devem trabalhar incessantemente para restaurar tudo em Cristo. A restauração de tudo em Cristo era o que movia São Paulo, como ele disse aos Efésios (1, 10). Restaurar tudo em Cristo era o que movia São Pio X. Restaurar tudo em Cristo é o que deve mover todo católico. Restaurar tudo em Cristo é direcionar tudo a Cristo, fazer tudo por Ele, e com Ele, e n’Ele. Mas, como diz São Pio X, restaurar tudo em Cristo não é simplesmente levar as almas para Deus, mas restaurar a civilização cristã em cada um dos elementos que a compõem (Enc. Il fermo proposito). E isso não é um restauracionismo ideológico, mas um restauracionismo indispensável para todo católico. Mas como fazê-lo? São Pio X indica, na sua Encíclica E Supremi Apostolatus, quatro meios principais, entre outros, para restaurar tudo em Cristo: 1) a boa formação do clero, 2) o ensino da doutrina católica (não é por acaso se São Pio X promulgou o catecismo que leva o seu nome), 3) o fervor da vida cristã, e 4) a caridade cristã, que não é um zelo amargo que mais afasta as almas do que as atrai, mas que é uma verdadeira bondade, que não se confunde tampouco com tolerância do erro ou do pecado. Nesses últimos tempos, nós vemos a disciplina avançando, a liturgia avançando, os ensinamentos avançando e tendendo a se conformar à mentalidade moderna. Ao mesmo tempo em que tudo isso avança, nós vemos a prática real da religião recuando, o número de fiéis caindo, etc. É preciso constatar que esses avanços não têm contribuído para o avanço do Evangelho. Uma pessoa que vai avançando em alto mar e que começa a se afogar deve voltar para a praia ou continuar avançado em alto mar? Dou um exemplo prático na vida da Igreja: a lei da abstinência da sexta-feira. No direito canônico atual, a abstinência de carne pode ser substituída por outra penitência ou por uma obra de caridade. O resultado é que ninguém faz praticamente mais nada na sexta-feira. A penitência, tão necessária à vida cristã, é negligenciada e o resultado são as paixões desordenadas. Não seria o caso de se restabelecer a antiga disciplina, com uma lei clara que pede a abstinência de carne nas sextas-feiras? Algumas conferências episcopais já fizeram isso. Outro exemplo é a recepção da comunhão na mão. Essa prática não tem prejudicado tanto a fé das pessoas na presença real de Cristo na hóstia consagrada? Não seria o caso de se restabelecer uma liturgia e prática provadas por séculos e séculos e centradas completamente em Deus? Não seria o caso de se retornar à teologia baseada nos fundamentos sólidos estabelecidos por São Tomás de Aquino, capaz de responder às exigências de qualquer época? Não seria o caso de se retomar uma pastoral centrada no bem das almas e menos burocrática ou social? Tudo isso aqui é essencial. Não se trata aqui de voltar a um passado por simples gosto romântico do passado ou por ideologia, quer dizer, por uma vontade desconectada da realidade. Os que fazem isso são aqueles que querem restaurar uma suposta liturgia primitiva, que querem restaurar uma suposta caridade primitiva, que querem restaurar uma suposta colegialidade da Igreja dos primeiros séculos, que querem restaurar a disciplina primitiva do não celibato dos padres na igreja latina, etc… Isso seria uma restauração ideológica, uma volta ideológica ao passado. Nós estamos falando aqui de uma restauração que possa nos centrar e centrar a sociedade em Cristo hoje e sempre, com a liturgia tradicional que favorece imensamente a isso, com uma disciplina que nos faz esquecermos de nós mesmos e que nos dirige para Deus, uma disciplina que nos auxilia e facilita a prática do bem, uma disciplina que não é um fim em si, mas um auxílio importante…  Não se trata, nem é possível, como diz São Pio X (Il fermo proposito), de restaurar todas as instituições que se mostraram úteis e eficazes no passado. A Igreja sabe se adaptar facilmente ao que é contingente e acidental sem prejudicar a integridade ou a imutabilidade da fé, da moral e sem prejudicar seus direitos sagrados. Todavia, muitos desses avanços prejudicaram de alguma forma, infelizmente, a fé e a moral, em vez de favorecê-los. A liturgia tradicional, uma disciplina mais tradicional, uma catequese e uma pastoral mais tradicionais não são uma relíquia do passado. São coisas que permanecem sempre jovens, pois fundadas na palavra de Deus, que não passa e não envelhece.

Restaurar tudo em Cristo, caros católicos. Esse deve ser o nosso programa de vida. A começar pela nossa alma, mas sem esquecer nosso próximo, sem esquecer a sociedade. Restaurar tudo em Cristo pelo ensino da religião, da doutrina católica. A primeira e maior obrigação dos pastores, diz o Concílio de Trento, é a de ensinar o povo cristão. E São Paulo diz o mesmo a Timóteo (I Tim. 5, 17): “os presbíteros que governam bem, sejam considerados dignos de estipêndio dobrado, principalmente os que trabalham em pregar e ensinar.” A conversão, o amor a Deus, a misericórdia, só podem vir com a fé. E a fé, como diz São Paulo, vem pelos ouvidos. É preciso que alguém ensine, com segurança e sem ceder às novidades, como diz São Paulo (I Tim. 6, 20). Só se ama aquilo que se conhece. Só amará a Deus quem o conhecer. Se o ensino é bem feito e seguro, isto é, baseado na Revelação e não em conjecturas, e feito com a intenção de trazer as almas para Deus, o resto seguirá como consequência. Façamos nossa parte, caros, católicos, para restaurar tudo em Deus… isso é grande obra de misericórdia.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Artigo] A Armadilha do “Preconceito” e da “Homofobia” – O vocabulario que quer a inversão do que é racional

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(…) Queremos tratar neste breve artigo, todavia, de dois termos muito empregados atualmente pelo politicamente correto e pelo lobby homossexual para a promoção de comportamentos que se opõem francamente à natureza. São esses termos: preconceito e homofobia. Esses termos são utilizados por eles exatamente porque invertem completamente a realidade da questão.

Preconceito e homofobia são expressões muito precisas e que significam algo muito mais sério e profundo do que parece à primeira vista. A intenção com o uso desses termos e pelo próprio sentido deles é afirmar que se opor ao homossexualismo é algo contrário à razão. Convém, para explicitar melhor isso, considerar algumas noções filosóficas. (continuar lendo no site original)

[Sermão] A obediência devida às autoridades humanas

Sermão para o Terceiro Domingo depois da Páscoa
21 de abril de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

***

Sede, pois, submissos a toda instituição humana.

Caros católicos, nós aprendemos no quarto mandamento – honrar pai e mãe – que devemos não somente obedecer aos pais, mas aos superiores de modo geral. Aprendemos que devemos obedecer à autoridade civil e às suas leis. E isso porque, como diz São Paulo (Rom. XIII, 1), todo poder vem de Deus e não há poder que não venha de Deus. Todo poder vem de Deus porque foi Deus quem criou o homem como animal racional e social, como um ser que precisa se associar aos outros para alcançar a sua perfeição. Assim, os homens se unem na sociedade civil a fim de poderem alcançar tudo o que é necessário para o bem temporal, o que inclui não somente bens materiais, mas também bens espirituais. Se os homens vivessem sozinhos eles teriam somente o mínimo necessário para a própria sobrevivência. A vida em sociedade proporciona muitos outros bens ao homem, em particular possibilita ou, ao menos deveria possibilitar, o tempo necessário para a contemplação da verdade. A vida em sociedade é para o bem do homem. Agora, onde existe a associação de homens em vista de um fim, é preciso que haja um chefe ou um grupo de chefes. É preciso que haja um chefe que ordene os diversos membros da sociedade em busca do fim pelo qual se reuniram. Portanto, a existência da autoridade decorre da própria natureza humana. Como a natureza humana foi criada por Deus, toda autoridade vem de Deus, é instituída por Deus e devemos obediência a ela. Essa verdade era muito claramente significada quando os reis, ao assumir o trono, recebiam também a consagração por parte de um Bispo.

Sagração de São Luis (Rei Luis IX) - Iluminura do séc. XIII

Sagração de São Luis (Rei Luis IX) – Iluminura do séc. XIII

Hoje, todavia, pretende-se afirmar que a autoridade vem não de Deus, mas do povo, que tem um poder absoluto e ilimitado. Dizem, então, que se alguém exerce alguma autoridade é simplesmente por delegação do poder absoluto e ilimitado que lhe foi delegado pelo povo e que, sendo assim, a autoridade é obrigada a fazer o que quer o povo, seja o que for. A fonte da autoridade não é mais Deus, e sim o povo, que toma o lugar de Deus. Nesses tempos de “inclusão”, há um só excluído, ou dois: Deus e sua Santa Igreja.

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Dessa forma, a autoridade, representando o povo – que tem poder absoluto e ilimitado – pode decretar o que é o bom e o que é ruim, pode estabelecer o bem e o mal. A autoridade pode aprovar o aborto, ela pode subverter a lei natural aprovando o divórcio ou aprovando a união civil homossexual. A autoridade vem do povo, aquilo que o povo deseja ou aquilo que eles pretendem que o povo quer deve ser feito. Toda a política moderna, todo Estado moderno, se baseia nesse poder absoluto e ilimitado do povo que toma o lugar de Deus e que passa a ser a fonte de todo poder. E isso é um erro. Um erro grave.

Como dissemos no início, a própria natureza humana, criada por Deus, demanda a união das pessoas em sociedade e demanda, consequentemente, a existência de uma autoridade. Assim, a fonte primeira de toda a autoridade é Deus, criador de todas as coisas. E é por isso que devemos obedecer à autoridade civil, às suas leis. Ao longo da história, os cristãos sempre se destacaram pela prática exata das leis civis, pela obediência aos soberanos, à autoridade. Primeiro, porque respeitar tal autoridade é respeitar a autoridade divina, enquanto desrespeitar tal autoridade é desrespeitar a autoridade divina. Segundo, porque respeitar tal autoridade é um apostolado eficaz, como nos diz São Pedro na Epístola: devemos ter bom procedimento entre os gentios para que, considerando as boas obras, eles glorifiquem a Deus.

Toda autoridade vem de Deus e devemos respeitá-la e obedecer a ela por causa disso. Todavia, com a afirmação moderna de que o poder e a autoridade vêm do povo e só do povo e não de Deus, temos visto cada vez com maior frequência, ênfase e violência a promulgação de leis que se opõem às leis de Deus e à lei natural. É evidente que uma autoridade só guarda sua autoridade na medida em que ela permanece submetida à autoridade superior. Assim, quando uma autoridade humana age contrariamente ao que Deus manda, ela perde toda autoridade com relação a isso. Na verdade, uma lei injusta não é uma lei. Uma lei é um ditame para a razão promulgado pela autoridade legítima para o bem comum. Verdadeira e legítima autoridade não pode haver sem que derive de Deus. Não se pode chamar reta razão aquela que discorda da verdade e da razão divina e não pode ter por finalidade o bem comum a lei que se opõe ao bem supremo dos homens que é Deus. Assim, uma lei injusta não é, na verdade, uma lei e pode ser desobedecida e em alguns casos deve ser desobedecida. Ocorre o mesmo com os pais e o filho. Ensinamos no catecismo às crianças que elas devem fazer tudo o que os pais mandam, a não ser que seja algo contrário à fé ou à moral. Devemos fazer tudo o que nos manda a autoridade civil, a não ser que mandem algo contra a fé, contra a moral, contra a lei natural, contra o bem comum. No Império Romano, apesar de perseguidos e martirizados, os cristão eram considerados cidadãos exemplares. Mas se fosse colocado de um lado Deus e de outro a obediência ao Império, não tinham dúvida: preferiam Deus, preferiam morrer a ofender gravemente a Deus.

martiresNinguém pode servir ao mesmo tempo a dois senhores, nos diz Nosso Senhor. Quando a autoridade civil exerce sua autoridade em conformidade com Deus, servimos Deus ao servir a autoridade civil. Quando a autoridade civil age contrariamente a Deus, temos que escolher entre dois senhores: o Estado ou Deus. É preciso escolher Deus, evidentemente. Não devemos temer aquele que pode nos colocar na prisão ou que pode tirar a vida de nosso corpo. Devemos temer aquele que vai nos julgar e que pode nos condenar à morte eterna em razão de nossa desobediência à sua suprema autoridade. Devemos obedecer à autoridade civil, às autoridades humanas e a nossos superiores, mas devemos obedecer em primeiro lugar a Deus.

O Papa Leão XIII tratou em várias ocasiões desse assunto. Ele fez isso porque foi justamente durante seu papado – final do século XIX – que várias nações deixaram de ser católicas em decorrência da revolução francesa e da ação das sociedades secretas.  Ao deixarem de ser católicas, passaram a promulgar várias leis contrárias à religião católica, à fé, à moral, à lei natural. Em sua encíclica Sapientiae Christianae, sobre os deveres fundamentais dos cidadãos cristãos, o Papa assim o diz:

;eao xiii“Se as leis dos Estados se puserem em aberta contradição com a de Deus, se forem injuriosas para a Igreja ou contrárias aos deveres religiosos, se violarem no Sumo Pontífice a autoridade de Jesus Cristo, então resistir é obrigação e obedecer seria um crime – um crime até contra a pátria – porque pecar contra a religião é fazer mal ao próprio Estado.”

Precisamos ter bem presente esse ponto da doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo, caros católicos, pois cada vez teremos mais leis que se opõem à religião divinamente revelada e cada vez mais essas leis serão violentas. E nesse caso, cumprir o quarto mandamento, é obedecer a um só Senhor, Deus. Assim, agiremos para a glória de Deus para o bem da nossa alma e para o bem da sociedade civil.

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Sermão para o Domingo da Septuagésima
27 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Gostaria de fazer um breve comentário sobre o tempo da Septuagésima, antes de passar ao Evangelho. Caros católicos, entramos hoje no tempo da Septuagésima, que compreende os domingos da Septuagésima, da Sexagésima e da Quinquagésima, precedendo a Quaresma. O ano litúrgico começou com o Advento, depois passamos pelo tempo do Natal, que se estende até o dia 13 de janeiro, antiga oitava da Epifania. Em seguida, vem o tempo depois da Epifania, que pode ser mais ou menos longo em função da data da Páscoa. A brevidade do tempo depois da Epifania será recompensada no final do ano litúrgico, em que alguns dos domingos depois da Epifania omitidos no início do ano são retomados, como vimos em novembro. A septuagésima manifesta a bondade da Igreja para com os homens e sua sabedoria. Esse tempo litúrgico que começamos hoje é a transição para a quaresma, a fim de que a passagem para as austeridades não se faça de forma brusca, mas de modo calmo e sereno. São, portanto, duas semanas e meia para que possamos nos dispor bem para o tempo da quaresma. Essa transição está bem marcada na liturgia tradicional, sempre mestra de espiritualidade e doutrina. Assim, os paramentos são da cor roxa, cor penitencial. O Gloria já não é mais cantado, o Alleluia também não. Por outro lado, o órgão ainda é permitido, as flores também são permitidas (embora não as tenhamos hoje). Trata-se, portanto, de preparar, desde já, nosso espírito para a prática mais perfeita e intensa da penitência, da oração e das boas obras que devemos fazer na Quaresma. É o que veremos no Evangelho de hoje que nos prepara para a quaresma ao nos prevenir contra a ociosidade e o mau emprego de nosso tempo.

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Por que estais aqui todo o dia ociosos? … Ide vós também para a minha vinha.

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Sermão (XIII) – A queda de Jerusálem e o dia do Juízo

Sermão para o 26º Domingo depois de Pentecostes (25 de novembro de 2012)

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

Estamos hoje, caros católicos, no último Domingo depois de Pentecostes, que é o último domingo do ano litúrgico. A partir do domingo que vem entraremos no Advento, nos preparando para a festa do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo. Como já falei anteriormente, o último domingo do ano litúrgico simboliza o final dos tempos. E, por isso, Nosso Senhor fala, no Evangelho, de muitas coisas que devem anteceder o final do mundo e que servem também como um sinal do fim dos tempos.

“Esta geração não passará sem que se cumpram todas essas coisas.”

Mas Nosso Senhor, no Evangelho de hoje, não nos fala somente do fim do mundo. Ele nos fala também da queda de Jerusalém, ocorrida algumas décadas depois de seu discurso. O Evangelho que agora cantamos responde a duas perguntas feitas pelos discípulos. Uma pergunta é referente à queda de Jerusalém e a outra é referente à sua segunda vinda e ao fim do mundo. Nesse discurso, Ele responde a essas duas perguntas no estilo dos antigos profetas, com quadros descritivos do futuro que se sobrepõem, um sendo a prefiguração do outro. Aqui é exatamente isso que ocorre. Nosso Senhor trata da ruina de Jerusalém e do fim do mundo, pois a queda de Jerusalém é uma prefiguração do fim do mundo.

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Sermão (XII) – Contracepção, métodos naturais e a cultura da morte

Sermão para o 25º Domingo depois de Pentecostes (18 de novembro de 2012)

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

Filhas de Jerusalém, não choreis sobre mim, mas chorais sobre vossos filhos. Porque eis que virá um tempo em que se dirá: Ditosas as estéreis e ditosos os seios que não geraram e os peitos que não amamentaram. (Lc XXIII, 28-29)

Eis aqui a única referência que Cristo faz à contracepção e à mentalidade contraceptiva. Claro que essas palavras de Nosso Senhor são suscetíveis de várias interpretações e se aplicam a circunstâncias diversas, em particular ao momento da queda de Jerusalém e mesmo ao fim dos tempos. Mas é claro que Nosso Senhor se refere, aqui, também à contracepção e à mentalidade contraceptiva. E Ele o faz no meio de seus maiores sofrimentos, durante a Via Sacra. Durante toda a história da humanidade nunca vimos um período em que a contracepção estivesse tão disseminada como em nossos tempos. É preciso chorar, nos diz Nosso Senhor. Continuar lendo

[Sermão] “É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo”

Sermão para a Solene Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (12 de outubro de 2012)

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

“Tu, Virgem Maria, és a glória de Jerusalém, a alegria de Israel, a honra do nosso povo” Judith 15, 10

Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição

Em 1717, três pescadores buscavam peixes no Rio Paraíba, próximo de Guaratinguetá, interior de São Paulo. Era em torno do dia 12 de outubro, e a câmara da vila havia pedido aos pescadores da região que apresentassem todos os peixes que pudessem conseguir ao novo governador da capitania que estava de passagem pela localidade. Os três pescadores percorreram grande distância entre dois portos sem conseguir pegar peixe algum. Eis, então, que lançando a rede mais uma vez pescaram o corpo da Senhora, sem a cabeça. Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, da Imaculada Conceição. Continuando a pescaria depois de tal descoberta, conseguiram pescar tantos e tantos peixes que tiveram de parar, receosos de que as canoas naufragassem por causa da abundante pesca. Eram certamente extraordinários esses fatos: o encontro da imagem, o encontro da cabeça que naturalmente deveria ter sido arrastada mais longe pela correnteza da água, além de ser dificilmente colhida por uma rede de pescador, dada a sua dimensão. Extraordinária também a pesca abundante que seguiu o encontro da imagem. A devoção a Nossa Senhora Aparecida começou, então, no oratório dos pescadores e graças foram obtidas e milagres realizados, notadamente as velas que se apagavam e se reacendiam sozinhas por diversas vezes. A devoção foi tanta, que, hoje, Aparecida é o maior Santuário Mariano no mundo. Em 1930, o Santo Padre, o Papa Pio XI, na plenitude de seu poder apostólico, constituiu e declararou a mui Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de “Aparecida”,a Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. No ano seguinte, 1931, no dia 31 de maio, em presença do Sr. Presidente da república, de altas autoridades civis e militares, de numerosas divisões das Forças Armadas, do Episcopado Brasileiro e de enorme multidão de fiéis, o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro proferiu o ato de consagração de todo o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, recomendando à Excelsa Padroeira todos os interesses e as necessidades da pátria. Nossa Senhora da Conceição era já a padroeira do Brasil por provisão do Rei de Portugal em 1646 e por declaração de D. Pedro I quando da independência. Simplesmente, ajuntou-se nesse momento o título de Aparecida por causa dos milagres ocorridos, das graças alcançadas e da devoção do povo.

Todos esses fatos nos permitem tecer algumas considerações interessantes. Antes de tudo, a importância de Nossa Senhora na obra da redenção. Nas duas pescas milagrosas no Evangelho, Nosso Senhor quer mostrar aos apóstolos que sem Ele, os únicos frutos que realmente nos interessam, que são os frutos de vida eterna, são inexistentes, apesar de nossos trabalhos e esforços nessa terra. Com Cristo, porém, e seguindo a sua palavra os frutos para a vida eterna são abundantes. Ora, a origem da devoção a Nossa Senhora Aparecida nos mostra algo parecido em relação a Nossa Senhora. A devoção a Nossa Senhora é necessária para que possamos chegar ao Filho e assim nos salvarmos, com frutos abundantes. Enquanto a imagem estava no fundo do rio, esquecida e quebrada, a pesca foi inútil. Depois de encontrarem a imagem e tratarem-na com o devido respeito, a pesca foi abundante. Nossa Senhora, na sua extrema delicadeza, permitiu aos pescadores que apresentassem o fruto de seus trabalhos ao governador da capitania. Nós, nós devemos apresentar os frutos de nossas obras a Nosso Senhor Jesus Cristo, justo juiz, governador do mundo. Sem o auxílio Maria Santíssima não teremos obras dignas de serem apresentadas a nosso Deus, porque Deus quis, não por necessidade, claro, mas por livre vontade que os homens passassem por Maria e quis salvar o homem de forma semelhante como esse havia pecado. No paraíso havia um homem, personagem principal e havia uma mulher que cooperou no seu pecado. Na Redenção há um homem, Cristo, que é também Deus e há uma mulher que coopera na obra infinitamente perfeita de Cristo, Maria.

Dissemos, então, que o Brasil foi consagrado a Nossa Senhora no dia 31 de Maio, data que se tornou depois a data da festa de Nossa Senhora Rainha. Pela consagração de nosso país a Nossa Senhora Aparecida nós reconhecemos e declaramos explicitamente e justamente um fato que já existe. Nossa Senhora é Rainha por sua maternidade divina, aliás, celebrada ontem, mas também por direito de conquista adquirido por sua participação única na obra da redenção de seu Filho. Nossa Senhora é Rainha dos Céus e da terra. Nossa Senhora é, portanto, Rainha do Brasil. Consagrando o Brasil a ela, dizemos que queremos nos submeter a ela espontaneamente, seguindo o seu exemplo e suas ordens, como fizeram os servos em Caná quando do primeiro milagre de NSJC. A devoção a Nossa Senhora consiste em servi-la e imitá-la para poder melhor servir e imitar Nosso Senhor Jesus Cristo.

Hoje, infelizmente, o Brasil, por meio de suas autoridades não quer mais honrar publicamente e se submeter a Nossa Senhora e, por meio dela, honrar e se submeter a Nosso Senhor Jesus Cristo. Claro, existem ainda pessoas devotas de Nossa Senhora Aparecida, mas é preciso que o país também o seja. Se o país por meio de seus governantes pode reconhecer a importância de tal ou tal obra pública, pode também reconhecer que Deus existe, que Cristo é Deus, que a religião católica é a verdadeira, e que devemos voltar a Deus pelo mesmo caminho pelo qual Ele veio até nós: por Maria. Infelizmente, hoje, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, embora colocada no maior Santuário mariano do mundo é desprezada pelo nosso país e muitas vezes mesmo por aqueles que mais deveriam zelar pela honra de Nossa Senhora. É como se a imagem se encontrasse no fundo do rio e quebrada. É preciso, então, fazer como os pescadores. É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo. É por meio de Nossa Senhora que Cristo quer distribuir as infinitas graças que mereceu em estrita justiça durante a sua vida, paixão e morte. O bem de um país não é somente o bem econômico ou um bem social material, mas inclui necessariamente o bem espiritual, bem espiritual que só pode vir de Cristo por Maria. Cristo veio ao mundo por Maria. Ele concede as suas graças por Maria. O bem de nosso país, o verdadeiro bem de nosso país, que consiste, antes de tudo, no favorecimento da prática das virtudes, da única verdadeira religião, passa necessariamente por Nossa Senhora. O bem de nosso país não virá da política ou de uma ideologia. O bem do nosso país deve vir da restauração de tudo em Cristo. Enquanto o Brasil persistir em deixar Nossa Senhora no fundo das águas, nosso país não avançará realmente. Não avançará naquilo que realmente importa: o trabalho pelo bem das almas que só se pode fazer em união com a Santa Igreja. Enquanto Nossa senhora está no fundo das águas, o país caminha para o abismo, rejeitando todos os bens que lhe tinham sido concedidos por Deus. Quantas das supostas leis de nosso país hoje ofendem a Nosso Senhor e quantas outras não estão a caminho de serem aprovadas? O divórcio, que tem destruído a sociedade brasileira e a sociedade no mundo inteiro junto com a anticoncepção. Tantas liberdades absolutas que são liberdades para o erro e para propagá-lo… Uniões homossexuais reconhecidas pelo Estado. Aborto, eutanásia. Quantas liberdades garantidas por lei que são no fundo libertinagem… O projeto de novo código penal está repleto dessas leis ofensivas a Deus e, portanto, prejudiciais ao homem: aborto, eutanásia, suicídio assistido, assassinato de crianças indígenas, se isso é conforme ao costume de uma dada tribo, punição dos que se opõem às uniões homossexuais, descriminalização do uso de drogas, prostituição infantil, terrorismo etc. Claro que tudo isso aparece no texto do projeto com outras palavras que chocam menos o povo brasileiro, que, em sua maioria, se opõe a tudo isso. Nem o argumento da democracia numérica justifica o que querem fazer. Chegamos ao ponto em que os animais são mais importantes que os homens, segundo esse mesmo projeto de Código Penal em trâmite no Congresso: não socorrer um homem é pena de uma a seis meses, enquanto não socorrer um animal é pena de 1 a 4 anos.  Inversão absurda, mas se se considera que o homem é mais importante que Deus por que não considerar que os animais são mais importantes que o homem? Aquele que nega Deus é capaz dos maiores absurdos. É isso que estamos vendo em nosso país. Nossa Senhora está no fundo das águas, esquecida e desprezada por nossa pátria.

Somos nós, então, que devemos pescar a imagem de Nossa Senhora no fundo das águas, a fim de que Ela proteja nosso país e faça com que o Brasil respeite os direitos de Deus, realizando assim a sua finalidade que é o bem de seus cidadãos. Somos nós que devemos ter uma devoção pessoal e verdadeira por Nossa Senhora, imitando as suas virtudes e pedindo que Ela seja reconhecida como a soberana suprema desse país. Devemos, por dever de justiça, de piedade filial, rezar e confiar nosso país a Nossa Senhora, a fim de que ele a reconheça como Mãe e Rainha e se submeta plenamente à vontade de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. E devemos incutir isso em nossas crianças. Por uma grande coincidência, não é?, dessas que não costumam ocorrer jamais, por um grande acaso, hoje é também o dia das crianças. Por que? Para fazer esquecer aos brasileiros e, sobretudo, àqueles que são o futuro de nossa sociedade, a soberania de Maria Santíssima e por meio dela a soberania de Seu Filho. Para fazer crer que o feriado é para as crianças se divertirem.

Devemos deixar claro para as crianças que o fundamental nesse dia 12 de outubro é Nossa Senhora e que foi ela quem nos trouxe o maior presente: o Menino Jesus. E se hoje é feriado, o objetivo não é outro: honrar Nossa Senhora e fazê-lo publicamente, confiando o nosso país a Ela e agradecendo todo o bem que Nossa Senhora já fez pelo nosso país.

Desde o começo de sua história, o Brasil se destacou por sua devoção à Imaculada Conceição. É preciso que isso continue.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, salvai o Brasil!

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Nota do editor: destaques são nossos.