[Sermão] Inimigos da Família: feminismo, má educação, falta de oração

Sermão para a Festa da Sagrada Família
Primeiro Domingo depois da Epifania
13 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Fazei, Jesus Cristo, com que nós sejamos instruídos pelos exemplos da vossa Santa Família e consigamos alcançar a sua eterna companhia.”

Festejamos, hoje, caros católicos, a Sagrada Família, constituída por São José, Maria Santíssima e Nosso Senhor Jesus Cristo. É essa família, a Sagrada Família, que deve servir de modelo para toda e qualquer família. A Sagrada Família é exemplo para os pais e para os filhos, sobretudo nesses dias em que a instituição da família se encontra tão ameaçada e é tão desprezada. A família é de suma importância e, sobretudo, a família cristã, pois é da família que procede a sociedade civil e até mesmo a Igreja. A família proporciona ao Estado novos cidadãos e à Igreja, novos filhos de Deus. Suprimi a família e um golpe mortal será dado na sociedade civil e um duro golpe será dado na própria Igreja. O mal da família é o mal da sociedade. O mal da família traz muitos males para as almas.

A família é hoje ameaçada por vários inimigos. Gostaria de tratar de alguns inimigos que, com frequência, não são devidamente levados em conta. Não tratarei aqui de alguns inimigos óbvios e gravíssimos, como a mentalidade contraceptiva, a contracepção e o aborto que solapam os fundamentos da família, pois se opõem ao fim primário da mesma, que é a geração e a educação dos filhos. Também não tratarei do divórcio, que se opõe à indissolubilidade do matrimônio e que tanto prejudica a educação dos filhos e destrói o amor e o auxílio mútuo dos cônjuges. Não tratarei da fidelidade, que se opõe mais uma vez à boa educação dos filhos e ao auxílio e amor mútuos. Não tratarei das uniões contra a natureza, que não podem constituir uma família, mas que constituem pecado que clama aos céus.

O primeiro inimigo da família de que quero tratar hoje, ainda que brevemente, é o feminismo, que quer igualar a mulher ao homem. Ora, a família é a sociedade doméstica e como toda sociedade, ela precisa necessariamente de um chefe, e como em toda sociedade, seus membros têm funções distintas. O feminismo se opõe justamente a isso. O feminismo quer igualar a mulher ao homem, como se a mulher tivesse dignidade somente ao fazer o que faz o homem. Ora, isso é justamente a destruição da mulher e daquilo que a mulher tem de próprio, sua feminilidade.

O feminismo diz que a mulher, com suas qualidades específicas de mulher, não tem valor, e que para ser digna, ela precisa se igualar ao homem.  Ao contrário, a mulher encontra sua dignidade na função que lhe foi dada pelo criador, função que é diferente da função do homem. As funções da mulher e do homem são claras no Gênesis. A função da mulher é, antes de tudo, ser mãe, gerar os filhos e educá-los, sobretudo quando são pequenos. Não é à toa que é a mãe quem carrega o filho durante nove meses e o alimenta. A mulher tem essa função e ela tem, evidentemente, nos traços psicológicos e físicos de sua feminilidade, as qualidades para praticar bem essa função. Ela tem, em particular, uma sensibilidade muito maior que a do homem e, se é bem ordenada, essa sensibilidade é essencial para a família.

O homem, por outro lado, recebeu de Deus a Missão de ser o chefe da sociedade doméstica e de lhe assegurar o sustento e recebeu as qualidades para tanto. É para Adão que Deus diz que será preciso ganhar o alimento com o suor de seu rosto… não é para a mulher. O homem é chefe, mas não um tirano, e deve governar com caridade não para o seu próprio bem, mas para o bem da esposa e dos filhos, para que todos cheguem à vida eterna. Se São Paulo diz que a mulher deve ser submissa ao marido, ele diz também que o marido deve amar sua esposa, isto é, ele deve governar tendo em vista o bem dela (bem espiritual, antes de tudo), reconhecendo nela uma verdadeira companheira de vida e um complemento para sua perfeição.

Cada membro de uma sociedade encontra sua dignidade e sua perfeição ao praticar bem a sua função. A diferença de funções entre homem e mulher não supõe maior perfeição ou maior dignidade, mas simplesmente características diferentes no homem e na mulher. Características que se complementam para aperfeiçoar ambos e para bem educar os filhos. Renunciar às características próprias de cada sexo é prejudicar a si mesmo, é prejudicar a sociedade doméstica, é prejudicar os filhos. Portanto, a dignidade da mulher consiste em gerar e educar os filhos. Gerá-los e educá-los naturalmente. Mas, sobretudo, gerá-los e educá-los para a vida eterna, ensinando aos filhos o amor a Deus desde a mais tenra idade. Claro que o pai deve participar da educação dos filhos, mas ele o faz de modo diverso, com uma influência, em geral, menor, embora essencial.

O que vale mais para uma mulher? Fazer carreira ou ver os filhos cheios de virtudes? É evidente que a mulher é capaz de trabalhar e de competir com o homem no mercado de trabalho e ninguém nunca duvidou disso. Mas é esse o seu objetivo? Consiste nisso a sua verdadeira dignidade e perfeição? Certamente, não. Infelizmente, vivemos em um mundo em que a maioria das mulheres se veem forçadas a trabalhar por diversas razões, muitas vezes puramente econômicas, pois dificilmente não se paga a uma só pessoa o necessário para sustentar toda a família. Todavia, sendo possível, a mãe deve dedicar-se inteiramente aos filhos, não para mimá-los, mas para educá-los, instruí-los, formar a consciência deles. Claro, isso não sendo possível, Deus suprirá, se a mãe se esforça para bem educar os filhos apesar de sua ausência necessária. Como consequência do feminismo, as mulheres são cada vez mais masculinizadas e os homens cada vez mais feminilizados. Isso traz grandes prejuízos para a própria pessoa, para a família, para a sociedade. Portanto, na família, cada um cumpra bem a sua função, pois nisso consiste a dignidade e a perfeição da mulher e do homem, nisso está o bem da mulher e do homem.

O segundo inimigo da família de que quero tratar hoje é o fato dos pais já não saberem como educar os filhos. A educação é uma arte e uma arte ninguém nasce sabendo. É preciso aprender, é preciso se instruir nessa arte. É preciso ler bons livros sobre educação católica, como o livro “Educação com êxito” e “A arte de educar as crianças de hoje” do Padre G. Courtois, por exemplo (ambos podem ser encontrados para download na internet, bem como os livros de Dom Tihamer Toth, que também podem ser encontrados para download). Para conhecer os princípios da educação, aconselho também a leitura e a aplicação do que falei em sermão anterior, sobre a “Educação católica dos filhos”. Uma educação levada à marra, sem experiência e sem instrução de como proceder, não pode dar certo.

Na educação, um grande problema é que os pais não sabem exercer a autoridade e terminam perdendo-a. Já não sabem fazer que os filhos obedeçam, já não sabem mandar. Para ser obedecido, é preciso que as ordens sejam sóbrias (poucas de uma só vez, sobretudo para crianças), que as ordens sejam claras e dadas com afeto, mas também com firmeza. Os pais não devem pedir ao filho que obedeça. Isso é um contrassenso, um absurdo. Um superior não pede, não roga ao inferior que obedeça: “obedeça, por favor”. Pedir algo ao filho lhe desorienta o espírito, pois ele pensará que não deve obediência aos pais, justamente, mas que está fazendo um favor. E hoje, em razão disso, muitos são os filhos tiranos. Vale melhor dar ordens desde início do que ter de mudar de tom depois. Os pais também não devem negociar com os filhos, condicionando o cumprimento de algo a um prêmio. “Se fizer isso, te dou uma bala.” “Se comer tudo, te dou um brinquedo.” E se o filho, então, não quiser a bala ou chocolate, não precisa fazer o que está sendo pedido? Os pais vão formar um bom negociante ou comerciante, mas não uma pessoa de caráter firme. Que tipo de autoridade é essa? Os pais não devem, tampouco, retirar suas ordens diante de insistências ou intimidações, chantagem emocional, gritos, lágrimas, etc.

Os pais evitem se contradizer nas ordens, a não ser que seja estritamente necessário, a fim de evitar um problema grave. Se as ordens são desencontradas, as crianças saberão recorrer ao mais favorável ao seu gosto e a autoridade de ambos será prejudicada. Os pais devem ter autoridade, uma autoridade que é inteiramente voltada para o bem dos filhos, mas uma verdadeira autoridade, capaz de dar ordens que são obedecidas, ordens sóbrias, claras, com afeto, reflexão e calma. É preciso exercer essa autoridade que forma na alma dos filhos a virtude. Aos filhos, claro, cabe obedecer, pois Deus colocou os pais para guiá-los no caminho da virtude.

Um outro inimigo da família são os filmes, os romances, os espetáculos, os programas de televisão. Primeiro, porque a maioria esmagadora contém doutrinas ruins, imoralidades, palavras ruins, e todo tipo de coisa que se opõe ao bem da alma e da família. Segundo, porque ainda que não tivessem nada disso, a assistência frequente a essas coisas colocam o espírito em um mundo irreal e fictício, criando um aborrecimento e descontentamento com relação ao mundo real, com a família, com o Criador, que é Deus. “Ah, no filme, na novela, fulana tinha problema com o marido, ela se separou, juntou com o ciclano e eles viveram felizes. Estou enfrentando dificuldades no meu casamento… será que não poderia fazer como a fulana da novela, do filme… é tão simples…?” E com isso fica facilmente esquecido o contrato e as promessas feitas no matrimônio. São João Crisóstomo já falava disso a propósito dos espetáculos em sua época, há mais de 1500 anos. Isso serve também para as crianças e os desenhos e as histórias infantis completamente fictícias. A ficção pode ser boa e lícita, mas nunca em excesso e jamais com ensinamentos ruins, como acontece na maioria dos casos. É preciso procurar para as crianças histórias que edifiquem. E não se diga: não tem problema, pois as crianças não entendem nada. As crianças entendem bastante coisa e guardam muita coisa e têm a consciência paulatinamente formada por isso. As diversões das crianças, em geral, devem favorecer o raciocínio e o mérito e não simplesmente a sorte e a sensibilidade.

Outros grandes inimigos da família são a falta de oração em família e os hábitos mundanos. Nossa Senhora de Fátima pediu que se rezasse o terço em família. É preciso encontrar durante o dia vinte ou trinta minutos para rezar o terço em família. A oração é a base da vida espiritual. O terço e outras orações em família são a base de um matrimônio sólido, fiel ao compromisso assumido diante de Deus. Os hábitos mundanos conduzem a família a se preocupar com tudo, salvo com a salvação eterna. É preciso adquirir hábitos salutares, práticas de devoção familiares, hábitos de estudo da religião católica, de mortificação. A prática da religião não pode se resumir a evitar os pecados mortais e a vir à Missa aos domingos.

Tudo isso não é invenção minha, mas é a autêntica doutrina dos teólogos, dos Santos, do Magistério da Igreja, com base na Lei Natural e na Revelação. Eu simplesmente transmito aquilo que recebi da Igreja.

Olhemos o exemplo da Sagrada Família. É o plano a ser seguido pela família. A finalidade da família é que todos os seus membros cheguem ao céu. Para tanto, é preciso gerar e educar os filhos segundo as leis da Igreja, é preciso uma vida de oração sólida, é preciso uma vida centrada em Deus e não no mundo, é preciso que seja observada a hierarquia no matrimônio entre homem e mulher, entre pais e filhos, hierarquia que pertence à lei natural e que foi também Revelada por Deus. Somente seguindo o modelo da Sagrada Família uma família poderá ser verdadeiramente feliz, pois se possuirá o verdadeiro bem, que é Deus. Isso não significa a ausência de problemas e provações, mas a disposição de resolvê-los e enfrentá-los tendo em vista sempre a eternidade e a salvação da alma.

“Fazei, Jesus Cristo, com que nós sejamos instruídos pelos exemplos da vossa Santa Família e consigamos alcançar a sua eterna companhia.”

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] “O Terço é a melhor das devoções”

Sermão para o 19º Domingo depois de Pentecostes (7 de outubro de 2012) 

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

A Batalha de Lepanto

Caros católicos, estamos hoje no 19º Domingo depois de Pentecostes, mas festejamos também a festa de Nossa Senhora do Rosário.  A história da Festa de Nossa Senhora do Rosário é uma história de vitória. A origem da festa, antes chamada de Nossa Senhora da Vitória, está, justamente, na vitória dos católicos sobre os turcos na batalha naval de Lepanto em 1571, sob o Papa São Pio V. A vitória foi atribuída em grande parte às orações e procissões feitas pela Confraria do Rosário durante a batalha. Uma outra vitória dos católicos sobre os turcos, em 1716, na Hungria, permitiu que o Papa Clemente XI tornasse a festa, já chamada de Nossa Senhora do Rosário, uma festa para toda a Igreja. O Terço precede a Festa de Nossa Senhora do Rosário e se confunde com a própria história da Igreja, quando muitos que não podiam rezar o 150 Salmos o substituíam por 150 Pais-Nossos e Ave-Marias.  Tal como o conhecemos hoje, o Rosário foi dado por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, fundador dos dominicanos, a fim de que o santo pudesse converter os hereges cátaros no sul da França por meio dessa oração, visto que todos os outros meios tinham sido inúteis. Esse fato – de que o terço foi dado por Nossa Senhora a São Domingos – é confirmado por pelo menos dezesseis Papas. Depois de começar a rezar o Rosário e ensiná-lo aos outros, o sucesso da pregação de São Domingos foi admirável. O Santo Rosário ou a terça parte dele, conhecida como Terço é, então, uma devoção que nos dá a vitória sobre os nossos inimigos, sobre nós mesmos, sobre o mundo e o demônio. O terço é, então, uma arma poderosíssima e nós não podemos negligenciá-la se nos preocupamos com a nossa salvação.

O Terço é tradicionalmente dividido em três mistérios – gozosos, dolorosos e gloriosos. Três mistérios a fim de honrar a Santíssima Trindade; três mistérios para honrar a vida, a morte e a glória de Cristo; três mistérios para nos dar abundância de graças durante a vida, paz na hora da morte e glória na eternidade. São 150 Ave-Marias como são 150 Salmos.

Mas por que o terço é tão eficaz na fuga do pecado e na busca da santidade? Como já mencionamos, ele nos foi dado por Nossa Senhora e recomendado inúmeras vezes por ela, bastando mencionarmos Lourdes e Fátima, aparições ampla e devidamente aprovadas pela Igreja. O Terço é a devoção mais recomendada pelos Papas.

O terço é também uma oração excelente em virtude das orações que compõem o seu corpo. O Credo, que é o resumo essencial das verdades em que devemos crer e que nos coloca na disposição correta para rezar. O Pai-Nosso, que é a oração mais perfeita que existe, pois foi composta e ensinada pelo próprio Verbo de Deus encarnado e que contém tudo aquilo que devemos pedir para nos salvar, começando pelos bem espirituais, mas sem esquecer os bens materiais necessários. A Ave-Maria, que é a saudação do Anjo a Nossa Senhora com as palavras de Santa Isabel também dirigidas à Mãe de Deus acrescidas da súplica da Igreja para que Maria Santíssima reze por nós agora e na hora de nossa morte, que são os dois momentos mais importantes de nossa vida. A Ave-Maria é a oração que mais agrada a Nossa Senhora, pois contém na primeira parte as palavras do próprio Deus e na segunda as palavras dos filho de Nossa senhora. Na Ave-Maria, os dois títulos principais de Nossa Senhora são invocados: a maternidade divina e a concepção sem pecado original. A Ave-Maria é o cântico novo anunciado no Antigo Testamento, nos Salmos em particular, é o cântico da nova e eterna aliança, que começa na Anunciação e se conclui no calvário. O Glória ao Pai recitado após cada dezena do terço expressa nossa submissão total à vontade de Deus, querendo aquilo que for para a sua maior glória, quer dizer, querendo aquilo que o torne mais conhecido, amado e servido pelos homens. Finalmente, podemos citar ainda a oração que foi ensinada por Nossa Senhora aos pastorinhos de Fátima e que implora a misericórdia divina. Disse Nossa Senhora: “Quando rezais o terço, dizei depois de cada mistério: Ó meu Jesus, perdoai-nos, livrai-nos do fogo do inferno; levai as almas todas para o Céu, principalmente as que mais precisarem.”

Uma objeção comum ao Terço diz respeito à repetição das orações. Ora, a repetição não é algo ruim. Ao contrário. A repetição é ruim e entediante para os sentidos, que buscam sempre novidades. Mas para a inteligência, a repetição é indispensável. A repetição é a mãe do aprendizado e só podemos conhecer algo profundamente quando ele é repetido inúmeras vezes. Assim, as repetições no Terço, como na Missa, permitem que conheçamos o significado profundo das orações e permitem que possamos pedir com verdadeiro conhecimento de causa. Além disso, repetindo as orações, simplesmente imitamos NSJC, que, no momento de sua agonia repetia as mesmas palavras. Essa repetição mostra a profundidade e a intensidade da oração.

Eis, então, o corpo do Santo Terço: as orações que o compõem. Agora precisamos considerar a alma do Terço.

O Terço é uma oração extremamente eficaz também porque ela é ao mesmo tempo uma oração vocal e mental. Ele é uma oração vocal porque recitamos com a boca todas as orações que acabamos de mencionar. Mas o terço, para ser verdadeiramente tal e realmente eficaz, deve ser também uma meditação, uma oração mental. É essa a alma do terço. Isso quer dizer que durante o terço devemos também considerar as verdades eternas expressadas nele e tirar conclusões práticas para nossas vidas. Devemos, então, considerar os mistérios da vida, paixão, morte e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo, bem como considerar os mistérios da vida de Nossa Senhora contidos nos quinze mistérios do Terço, procurando imitar os exemplos dados por Cristo e Maria Santíssima.

Mas para obter todas as graças que derivam do terço precisamos rezá-lo bem. Primeiro, devemos estar em estado de graça ou ter o propósito de deixar o pecado mortal, ao menos, pedindo a Deus a nossa conversão. Segundo, devemos evitar distrações voluntárias; evitar todas as distrações involuntárias é praticamente impossível, mas devemos combatê-las e, mesmo se não conseguimos afastá-las de todo, nossa oração será agradável a Deus. Terceiro, é preciso ter atenção quando se reza e no que se reza, sem pular partes das orações e sem rezá-las com rapidez. Quarto, é preciso meditar nos mistérios do terço, considerando o exemplo de Jesus e Maria e tirando uma conclusão prática para nossas vidas. Finalmente, é preciso pedir sempre uma graça, pois só alcançamos aquilo que pedimos, só achamos aquilo que buscamos. Não devemos deixar o terço, caros católicos, para o último momento do dia, em que já estamos cansados e não conseguimos mais nos concentrar devidamente e corremos mesmo o risco de terminar o dia sem rezá-lo.

Parece bem complicado conseguir rezar o Terço, falando as orações e meditando os Mistérios. Há um método simples para unir a oração vocal e mental no terço. Em cada dezena, nas três primeiras Ave-Marias, devemos considerar as palavras das orações que estamos fazendo. Nas três Ave-Marias seguintes devemos considerar o Mistério em questão. Por exemplo, na encarnação, a humildade de Nosso Senhor Jesus Cristo e seu amor por nós. Nas últimas quatro Ave-Marias, devemos inflamar nossa vontade e tirar uma pequena conclusão prática: por exemplo, reconhecendo que todo o bem nos vem de Deus – humildade – ou nos propondo a visitar o Santíssimo Sacramento para expressar nossa caridade para com Deus etc. Esse método pode parecer um pouco artificial no começo, mas se mostra depois muito eficaz contra as distrações e para o progresso da alma, conciliando bem a oração vocal e a meditação.  As dificuldades para se rezar o terço e para rezá-lo bem são inúmeras e o inimigo tentará nos desencorajar ao máximo, sabendo o quanto o terço é essencial para a nossa santificação. Assim, é preciso perseverar apesar das distrações e das inúmeras dificuldades. Não devemos jamais abandonar o Santo Terço.

Aquele que reza o Terço diariamente com uma reta intenção, como Nossa Senhora pediu tantas vezes, há de se salvar, pois como acabamos de ver se trata de uma arma poderosíssima que nos foi dada por nossa Mãe. É preciso que, na medida do possível, se reze o Terço em família e que pouco a pouco as crianças se acostumem a rezar o Terço. A família que reza o Terço junta alcançará de Nossa Senhora graças abundantes para permanecer fiel a Deus nesses tempos de tormentas e para cumprir a finalidade do matrimônio, que é a santificação dos esposos e dos filhos.

O Terço é uma oração simples, perfeita, uma verdadeira síntese da Fé e um resumo do santo Evangelho. E essa oração simples e perfeita nos toma somente alguns minutos por dia. Assim como a rosa é a rainha das flores, o Terço é a melhor das devoções depois da santa Missa, claro. A devoção que mais agrada a Nossa Senhora é o Santo Terço. Se tivéssemos que escolher uma só devoção, excetuando a Missa, teríamos que escolher certamente o Terço. Devemos utilizar essa arma potentíssima para o bem da nossa alma, para o bem de nossa família e para o bem da sociedade. A guerra é tremenda, uma arma como o Terço é essencial. Arma que nos foi dada por Nossa senhora, que é recomendada por Ela e pelos Papas. Arma composta das orações mais perfeitas e mais agradáveis a Deus. Arma que nos faz considerar, pela meditação, os mistérios mais importantes da vida de Cristo e de sua Santíssima Mãe. Arma que nos faz imitar as virtudes de Nosso Salvador e de sua Mãe. Cabe somente a nós utilizar bem essa arma. Quem reza o terço com uma reta intenção, buscando agradar a Deus e se converter, se salvará certamente.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Nota do editor: destaques são nossos.

[Sermão] A educação católica dos filhos: “Ensinar desde a mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo pecado.”

Sermão para o 18º Domingo depois de Pentecostes (30 de setembro de 2012) 

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Ensinar desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado.”   Ab infantia timere Deum et abstinere ab omni peccato. (Tob. I, 10).

A questão da educação é fundamental, caros católicos, sobretudo nesses dias em que a sociedade como um todo se opõe de maneira cada vez mais hostil à lei natural e à lei divina. Da educação que a pessoa recebe na sua mais tenra infância depende o seu futuro, não somente neste mundo, mas também no próximo. De regra, tal a criança, tal o adolescente e tal o adulto. É a partir da educação que a consciência e a personalidade da pessoa são formadas, seja para o bem, seja para o mal. Assim, saber qual é o fim da educação e quais os meios para bem educar os filhos é indispensável para todo casal e educador católico.

Quando falamos de educação é preciso ter um conhecimento claro do homem e de seu estado atual. O homem é composto de corpo e alma. A educação deve prover, então, aos dois. O homem está maculado, ferido, pelo pecado original e sofre suas consequências, isto é, ele tem uma inclinação desordenada nas suas faculdades: quer dizer, a inteligência está inclinada para o erro, a vontade está inclinada para o mal e as paixões estão inclinadas para o bem sensível desordenado. É preciso levar em conta esta desordem nas faculdades do homem para poder educá-lo bem e empregar os meios adequados. Além disso, o homem foi elevado por Deus à vida sobrenatural, de maneira que o fim último do homem é sobrenatural e só pode ser alcançado pela prática da verdadeira religião.

A educação tem como objetivo, então, levar o homem ao seu desenvolvimento perfeito. A perfeição de cada coisa consiste em atingir a finalidade para a qual foi criada. O homem foi criado para Deus e seu fim último é, portanto, Deus. A educação, então, não deve ser naturalista, mas deve considerar não só a natureza do homem, mas a Revelação divina, pela qual o homem é chamado à vida sobrenatural. Uma educação naturalista privaria o homem daquilo para o que ele foi feito (visão beatífica no céu) e seria extremamente danosa e prejudicial não somente para o indivíduo, mas também para a sociedade.

O dever e o direito de educar as crianças e os jovens dizem respeito aos pais, em primeiro lugar. Por lei natural, este dever e este direito são dos pais. A educação das crianças está contida na primeira finalidade do casamento. Esta primeira finalidade visa não somente à procriação, mas também a educação da prole. Não basta gerar o filho, mas é preciso ajudá-lo a desenvolver-se da melhor maneira possível. Em outras palavras: não basta dar a vida, é preciso dar aos filhos uma vida feliz e a vida feliz é a vida virtuosa. Para tanto, é necessário, segundo a natureza humana e salvo situações extraordinárias, que estejam presentes o pai e a mãe, não somente para o sustento material, mas também para a educação espiritual dos filhos, o que vai contra o divórcio, que perturba a educação dos filhos e, consequentemente, toda a sociedade. Nem precisamos falar de como uniões de pessoas do mesmo sexo são extremamente prejudiciais para a criança e toda a sociedade.

Os pais têm pela lei natural o dever e o direito – invioláveis ambos – de educar os filhos. Não se trata de um direito civil dado pelo Estado e que pode ser retirado a qualquer momento. Não. A família existe antes do Estado. O Estado tem, então, uma grave obrigação moral de permitir que os pais eduquem seus filhos. Por outro lado, os pais podem delegar para o Estado a educação dos filhos e podem retratar tal delegação a qualquer momento. O Estado tem direito de interferir nesse direito natural dos pais de educar os filhos somente em uma circunstância: quando os pais estão instruindo os filhos a violar a lei natural de maneira que decorra dano para o bem comum. Para interferir o Estado tem que agir segundo a lei natural e a lei divina. Então, se o Estado quer forçar o aprendizado da educação sexual, por exemplo, ele não tem direito algum, pois assim ele não está garantindo o bem comum, mas indo contra ele, pois viola a lei natural.

O ideal seria que família, Igreja e Estado cooperassem na educação católica de uma criança e de um jovem, evitando assim, a mudança de ambientes, o que é extremamente prejudicial para a educação. Atualmente, isso é, infelizmente, quase impossível.

A educação é dever grave dos pais, pois da educação das crianças depende o futuro delas. Os filhos são como um depósito dado por Deus aos pais e do qual eles deverão prestar contas. A Sagrada Escritura nos diz: “Aquele que educa seu filho (…) quando morrer não ficará aflito e se salvará pela educação deles.” (Eccl XXX, 3- 5: Qui docet filium suum… in obitu suo non est contristastus nec confusus. E 1 Tim. II, 15:  Salvabitur autem per generationem filiorum.)

O fim da educação é a virtude nesta terra, quer dizer a santidade, e a glória eterna na outra vida. Ora, a virtude consiste numa disposição muito bem enraizada para agir bem, fazendo o que é bom, por um bom motivo e nas circunstâncias devidas. Todavia, essa disposição bem enraizada para agir bem, que é a virtude, adquire-se pela repetição dos atos. Assim, quanto mais cedo aprendemos a agir bem, maior facilidade teremos para agir bem posteriormente. Isso quer dizer que a educação deve começar o mais cedo possível, mesmo quando a criança ainda não entende perfeitamente as coisas. Por isso, levamos a criança à Missa desde cedo, ensinamos à criança a rezar, a manter-se bem vestida, a respeitar as coisas sagradas. Em suma ensinamos à criança a evitar o mal e praticar o bem. Aquilo que a criança aprender na sua infância e adolescência dificilmente deixará de praticar na idade adulta. Diz a Sagrada Escritura que mesmo quando a criança envelhecer, não se afastará de seu caminho. Adolescens juxta viam suam, etiam cum senuerit, non recedet ab ea (Prov. XXII, 6).

Além disso, como no início o homem é como uma tábua rasa, aprender o bem é muito mais fácil, pois a criança ou o jovem não tem disposições ruins, além daquelas que são consequência do pecado original. Por outro lado, deixar o mal ao qual a pessoa já se habituou é uma tarefa dificílima. É imperioso, dessa forma, acostumar as crianças desde já a praticar o bem e a evitar o mal. A Sarada Escritura diz: Ensinar desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado. Ab infantia timere Deum et abstinere ab omni peccato. (Tob. I, 10). Agora, como começar a educação de alguém que ainda não atingiu a idade da razão? Aristóteles e depois São Tomás dizem que a virtude nada mais é do que alegrar-se com aquilo que é bom e entristecer-se com aquilo que é mau. Dessa maneira, a melhor forma de educar uma criança é fazer que ela se alegre com o bem que ela faz e que ela se entristeça com o mal. É preciso, então, recompensar as boas ações e punir as más, mesmo que ela não tenha plena consciência de uma ou de outra. Ela passará a gostar de fazer o bem e odiará fazer o mal. Ela vai aprender com isso, que nossas ações têm uma consequência, merecendo um prêmio ou um castigo nesta terra, mas também depois da morte.

Mas como educar os filhos? Pais, não exaspereis os vossos filhos, mas educai-os na disciplina e na instrução do Senhor, nos diz São Paulo. Et vos patres educate filios vestros in disciplina et correptione Domini (Eph VI, 4). Isto quer dizer que é preciso instruir os filhos segundo a doutrina e discipliná-los, corrigi-los quando agem mal.

Instrução. O primeiro dever dos pais é conformar a conduta do filho à lei de Deus, quer dizer, segundo a lei natural e segundo a Revelação. E os pais devem fazer isso não somente com as palavras, mas também com o exemplo.

Pelas palavras. Os bons pais reunirão com frequência os filhos em torno de si e ensinarão, desde bem cedo, o temor de Deus, o amor da verdade e do bem.  Assim, o primeiro dever dos pais é instruir os filhos quanto à fé, em particular sobre quatro pontos fundamentais: 1) que há um Deus criador de todas as coisas e todo-poderoso; 2) que este Deus é remunerador, premiando os bons e punindo os maus; 3) que há um só Deus em três pessoas; 4) que Deus se encarnou no seio de Maria e que Ele sofreu e morreu para nos salvar. Os pais devem também ensinar para os filhos o fim que devem buscar: conhecer, amar e servir a Deus.  É preciso, então, que os pais tenham o mínimo de conhecimento dessas coisas a fim de transmitir aos filhos. Se eles ignoram tais coisas (o que é grave) eles devem pelo menos enviá-los a alguém que ensine a fé às crianças. É de se lamentar muitíssimo que as crianças cheguem à juventude sem conhecer praticamente nada da religião, como, por exemplo, o que significam o pecado mortal, o inferno, o céu, a eternidade. É de se lamentar também que eles não conheçam as orações mais básicas que todo cristão deve saber, sob pena de pecado grave (Sto Afonso de Ligório):  Pater, Ave-Maria, Credo. Os pais devem ensinar a criança a rezar. A rezar a oração da manhã, a oração da noite. Devem ensinar a pedir perdão pelas suas faltas, a agradecer pelos dons de Deus, a oferecer tudo a Deus. Os pais devem ensinar a devoção à Maria Santíssima, em particular um apreço enorme pelo Terço. Eles devem favorecer o amor ao Santíssimo Sacramento, visitando-o com frequência. A família deve rezar junta. Os pais devem ler bons livros para seus filhos (história da salvação, histórias de santos, e.g.) e dar bons livros para que eles leiam. No momento em que eles atingirem a idade da razão (em torno de sete anos), é preciso habituá-los a frequentar os sacramentos (confissão e comunhão). Com esses bons hábitos bem penetrados na alma, eles perseverarão até o fim. Deus não há de abandoná-los.

Os pais devem ensinar aos filhos as verdadeiras máximas da vida e não as máximas mundanas. Assim, longe dos pais católicos dizer aos filhos: “É essencial ser estimado pelos outros”; “Deus é misericordioso, no final perdoará teus pecados”. Os bons pais têm outra linguagem. Como Santa Branca, mãe de São Luís, eles dizem: “Meu filho, eu prefiro te ver morto no meu braço que em estado de pecado”; ou dizem: “o que vale ganhar o mundo inteiro, se nós perdemos a nossa alma”, ou “tudo se perde, mas não percamos Deus”. E finalmente aquela máxima de São Domingos Sávio: “Antes morrer do que pecar”. Uma dessas máximas bem impressas no espírito de uma criança bastará, como nos diz Santo Afonso, para que a criança se mantenha toda a sua vida em estado de graça.

Os pais, além de ensinar aos filhos, devem governar os filhos de forma a evitar as ocasiões de agir mal, as ocasiões de pecado. É preciso evitar a ociosidade dos filhos, ocupando bem o tempo deles. A ociosidade é ocasião farta para o pecado. David cometeu adultério e homicídio porque num momento de ociosidade levantou os olhos para uma mulher.

É preciso impedi-los de ir a lugares suspeitos e de andar em má companhia. A má companhia é o flagelo da juventude. Os pais devem saber aonde vai o filho quando ele sai de casa, o que ele vai fazer e com quem ele vai. Os pais devem ter cuidado com os empregados e devem demiti-los se eles têm um comportamento ruim. É preciso impedir os jogos de azar (que levam à perda da fortuna e da alma), as danças e bailes, os espetáculos escandalosos, assim como as músicas ruins (e não só por causa das letras, mas da própria melodia, às vezes muito sentimental ou colérica). É preciso evitar os filmes impróprios (aqui estão incluídos praticamente quase todos os filmes atuais e muitos dos antigos), bem como os programas ruins de rádio. É preciso também vigiar as leituras dos filhos, a fim de que não leiam o que vai contra a moral e contra a fé. É necessário ter cuidado com os livros de romances, que tiram a juventude da realidade e a leva por um caminho ruim. E mesmo historinhas de ficção e desenhos para crianças são em grande parte prejudiciais pelo conteúdo – que via de regra é péssimo – mas também pelo fato do excesso acostumar a criança a viver fora da realidade e não gostar da realidade.

Hoje, é preciso tomar cuidado, sobretudo, com a televisão e a internet. A televisão invade de tal maneira a casa das famílias que elas tendem a destruir os lares e vai aos poucos incutindo uma forma de pensar e uma moral não só anticatólicas, mas também antinaturais. A televisão aos poucos substitui o que de bom existe no intelecto da pessoa por valores anticatólicos e antinaturais. Onde ela entra, atualmente, ela destrói tudo. A internet é celeiro do melhor e do pior. Assim, os pais precisam regular e conhecer o que acessam seus filhos, a fim de que eles se edifiquem natural e sobrenaturalmente. E só devem acessar, mesmo coisas boas, quando já tiverem certa idade. Essas coisas, como filmes, cinema, rádio, televisão, internet, são em si indiferentes. Assim, elas podem ser usadas para o bem e para o mal. Atualmente, porém, elas são usadas para destruir não só a realidade sobrenatural (a doutrina revelada por Cristo e afirmada pela Igreja), mas também os princípios mais básicos da realidade natural e as pessoas passam a viver fora da realidade. É preciso, então, cuidado. Pio XI escreveu assim na sua Encíclica Divini Illius Magistri, sobre a educação da juventude:

“Na verdade nos nossos tempos torna-se necessária uma vigilância tanto mais extensa e cuidadosa, quanto mais têm aumentado as ocasiões de naufrágio moral e religioso para a juventude inexperiente, especialmente nos livros ímpios e licenciosos, muitos dos quais diabolicamente espalhados, a preço ridículo e desprezível, nos espetáculos do cinematógrafo, e agora também nas audições radiofónicas, que multiplicam e facilitam toda a espécie de leituras, como o cinematógrafo toda a sorte de espectáculos. Estes potentíssimos meios de vulgarização que podem ser, se bem dirigidos pelos sãos princípios, duma grande utilidade para a instrução e educação, aparecem infelizmente, na maior parte das vezes, como incentivos das más paixões e da avidez do lucro. Quantas depravações juvenis, por causa dos espetáculos modernos e das leituras infames, não têm hoje que chorar os pais e os educadores!”

E acrescentemos por causa da televisão, da internet… Vale mais cansar-se um pouco agora cuidando do filho do que sofrer enormemente depois por tê-lo deixado à mercê de distrações indevidas.

Os pais devem vigiar também pelas obras de arte que estão em seu lar. Os quadros e esculturas licenciosas que geram pensamentos ruins devem desaparecer. Dessa forma, não basta ensinar o bem, mas é preciso vigiar, a fim de que se evite também o mal. Além disso, o que se verá no dia-a-dia de nossa sociedade já basta para que a criança ou o jovem conheça os males do mundo.

Somem-se aos ensinamentos pelas palavras os ensinamentos pelos exemplos. Os filhos têm grande tendência a ver nos pais o modelo e a imitá-los, portanto. O homem acredita mais naquilo que ele vê do que naquilo que ele ouve. Magis oculis credunt homines quam auribus. Assim, se os pais fazem o mal, como podem esperar que os filhos façam o bem? Aos pais que dão mau exemplo, São Tomás os chama de assassinos dos filhos. Não do corpo, mas da alma, claro. Frequente os sacramentos, vá aos sermões, reze o terço todo dia, seja modesto no falar e no vestir, não fale maledicências do próximo, fuja das disputas, abandone a vida mundana, guardem a devida hierarquia no matrimônio e os vossos filhos frequentarão os sacramentos, irão aos sermões, recitarão o rosário, fugirão das garras do mundo, serão obedientes, modestos e assim por diante. Eles imitarão, enfim, vossa conduta.  Isso tem que ser feito enquanto os filhos são crianças. É preciso endireitá-los desde a infância, nos diz a Sagrada Escritura (Eclesiástico 7, 25). Depois dos maus hábitos, fica extremamente difícil convertê-los pelas palavras e mesmo pelo exemplo.

Os pais devem, desde o momento do casamento, rezar pelos filhos, oferecer sofrimentos e penitências pela santificação dos filhos… suportando os defeitos das crianças, oferecendo as noites em claro para cuidar dos filhos, etc.

Querer o verdadeiro bem do filho não é realizar todas as suas vontades, ou dar abundantes brinquedos. Aliás, a abundância de brinquedos acostuma a criança a buscar sempre a novidade e ser superficial e depois ela não conseguirá controlar seus desejos. Querer o bem é permitir e ensinar à criança a fazer a vontade de Deus. Para tanto, é preciso também corrigir o filho, sempre que ele ande pelo mau caminho. A Sagrada Escritura diz: Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa. (Prov. XIII, 24). A correção, que é aparentemente um mal, visa a um bem infinitamente superior: a virtude, a santidade. Se os pais amam o filho eles devem repreendê-lo e castigá-lo quando ele comete uma falta, mas claro devem castigá-lo de maneira proporcional. Os pais podem mesmo puni-lo fisicamente, mas só durante a infância e de forma moderada, porque eles agem enquanto pais e não enquanto mestres de escravos. O castigo enquanto se está irado deve ser evitado, para não passar além do que é justo e para que o filho não desconsidere a correção, pensando que se trata de um exagero devido à ira (Santo Afonso o diz expressamente).

Os pais devem proteger os filhos evitando todo tipo de pecado e sobretudo os relativos ao uso do matrimônio para que o demônio não seja atraído para a casa. Devem também usar os sacramentais para proteger a família: água benta, objetos abençoados, abençoando a casa…

Eis aqui, então, alguns deveres e direitos para que os pais eduquem bem os seus filhos. Claro, os filhos terão sempre o livre arbítrio e poderão escolher o mau caminho mesmo tendo recebido uma boa educação. Mas isso é relativamente raro. É preciso confiar em Deus.

Aquele que tiver educado bem os filhos neste mundo será dignamente recompensado.  Os pais se assemelham a Deus que por sua Revelação vai nos ensinando o que há de mais importante na nossa vida e nos conduz pela mão a fim de que possamos adorá-lo eternamente. Que os pais tenham na mente esse preceito de Cristo: “Deixai vir a mim as criancinhas” (Mc X, 14).

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Nota do editor: destaques são nossos.