[Sermão] Exortação às crianças que recebem a Primeira Comunhão

Sermão para o Terceiro Domingo depois de Pentecostes
09 de junho de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

***

Gostaria de lembrar que para comungar é preciso ser batizado, católico (e só católico, sem mistura de outras religiões ou doutrinas), não ter pecado grave na consciência (por exemplo, ter faltado à Missa aos Domingos por negligência, estar em situação matrimonial irregular ou usar método anticoncepcional), jejum de pelo menos uma hora antes da comunhão, estar vestido de maneira decente (quer dizer, cobertos os joelhos e os ombros inclusos e tudo o que se encontra entre os dois. A esse respeito ver a instrução no início do livreto da Missa).

***

 Antes de me dirigir às crianças e, por meio delas, a todos, gostaria de lembrar a doutrina da Igreja acerca da primeira comunhão das crianças feita na idade em que elas começam a ter o uso da razão, quer dizer, em torno dos sete anos. Relembrarei simplesmente as palavras de São Pio X em seu decreto Quam Singulari de 1910 – recomendo a todos que o leiam – em que esse Papa Santo dá o último golpe contra os erros nessa matéria, em particular contra o jansenismo que exigia um estado de perfeição para a recepção da Sagrada Comunhão e um alto nível de instrução das crianças, fazendo-as esperar até os 10, 12, 14 ou mais anos. Infelizmente, o erro que São Pio X combateu se encontra hoje – e já faz algumas décadas – novamente difundido: a primeira comunhão e a primeira confissão se fazem muito tarde.

Diz São Pio X:

“(…) Este costume [nota do pregador: de receber tardiamente a primeira comunhão] que, sob o pretexto de assegurar o respeito devido ao Augusto Sacramento, afasta dele os fiéis, foi causa de males sem conta. Sucedia, de fato, que a inocência da criança, arrancada aos afetos de Jesus Cristo, não se alimentava de nenhuma seiva de vida interior; e, consequentemente, a juventude, privada de socorro eficaz e cercada de tantas armadilhas, perdia o candor e caía no vício, antes de ter provado dos Santos Mistérios. E ainda que se preparasse a Primeira Comunhão por uma formação mais diligente e uma Confissão mais cuidadosa, o que, na verdade, não se faz em todo lugar, sempre há um prejuízo para a primeira inocência, prejuízo que talvez pudesse ser evitado, se a Eucaristia fosse recebida em idade mais tenra.

(…) Causaram esses danos os que insistem mais do que é justo em que preparações extraordinárias antecedam à Primeira Comunhão, talvez sem perceber que esse gênero de cuidado deriva dos erros jansenistas, que sustentam que a Santíssima Eucaristia é um prêmio, e não um remédio para a fragilidade humana. Muito oposto a isso era o espírito do Concilio Tridentino, que ensinou que a Eucaristia é “o antídoto por meio do qual somos liberados das culpas quotidianas e preservados dos pecados mortais.” (Sess. XIII, de Eucharistia)

(…) a idade de discrição para comungar é aquela em que a criança sabe distinguir o pão Eucarístico do pão comum e corporal, para poder se aproximar do altar devotamente. Assim, não se requer um conhecimento perfeito das verdades de Fé, pois o conhecimento de alguns elementos basta, e isso é ter um certo conhecimento; nem se requer o uso perfeito da razão, pois basta um uso incipiente, e isso é ter um certo uso da razão. Com tudo isso, adiar a Comunhão, e estabelecer idade mais madura para recebê-la, deve ser algo completamente reprovado. E a Sé Apostólica muitas vezes condenou isso.”

No final do decreto, o Papa estabelece normas com relação ao assunto:

“I. A idade da discrição tanto para a Confissão quanto para a Comunhão é aquela em que a criança começa a raciocinar, isto é, pelos sete anos, às vezes mais, às vezes menos. Nesse período, começa a obrigação de satisfazer aos dois preceitos da Confissão e da Comunhão.

II. Para a primeira Confissão e primeira Comunhão, não é necessário um pleno e perfeito conhecimento da doutrina cristã. A criança, porém, deverá aprender depois gradativamente todo o catecismo, em conformidade com sua inteligência.

III. O conhecimento da religião que se requer da criança para que ela se prepare convenientemente para a primeira Comunhão é que ela entenda, segundo a sua capacidade, os mistérios necessários por necessidade de meio (nota do pregador: Santíssima Trindade e Encarnação, além da existência de Deus e do fato de que Deus é remunerador na ordem sobrenatural) e diferencie o pão eucarístico do pão comum e corporal, para que se aproxime da Eucaristia com a devoção que sua idade comporta.

IV. A obrigação do preceito da Confissão e da Comunhão que concerne à criança recai principalmente sobre aqueles que devem cuidar dela, isto é, sobre os pais, sobre o confessor, sobre os mestres e sobre o pároco. Ao pai, porém, ou àqueles que estão em seu lugar, e ao confessor é que cabe admitir a criança à primeira Comunhão, segundo o Catecismo Romano.

VII. O costume de não admitir as crianças à Confissão ou de nunca lhes dar a absolvição, embora tenham atingido o uso da razão, deve ser completamente reprovado. Por isso, os Ordinários locais, empregando também os remédios do direito, cuidarão para que tal costume desapareça inteiramente.”

Até aqui o decreto do Papa. Podemos ver, então, que a comunhão quando a criança atinge o uso da razão – em torno dos sete anos – é de uma necessidade grande para que ela preserve a sua alma pura de todo pecado, para que ela adquira forças para não cair nas inúmeras ciladas do mundo e do demônio, sobretudo em nossa sociedade atual. O Concílio de Trento diz que “as crianças que não têm o uso da razão não são obrigadas à Comunhão Sacramental por nenhuma necessidade” “pois nessa idade não podem perder a graça de filhos de Deus que receberam”. A única razão, então, que dá o Concílio de Trento para justificar que as crianças não são obrigadas a comungar é o fato de não poderem pecar. Assim, a partir do momento em que podem pecar mortalmente, quer dizer, a partir dos sete anos maios ou menos, elas precisam se confessar e precisam receber a Santa Eucaristia, para evitar a queda, para se fortalecerem espiritualmente, a fim de guardarem a pureza batismal. A comunhão feita cedo é um bem enorme para a criança, para a Igreja, para a sociedade.

Gostaria de dirigir, agora, algumas palavras àqueles que vão receber o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo pela primeira vez.

João Vitor, Miguel, Mateus, Jonathan, Enzo, Catarina e Bárbara. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês, pois hoje é o próprio Jesus Cristo que vocês irão receber na hóstia consagrada. Nosso Senhor Jesus Cristo. Com seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Vocês vão receber Nosso Senhor Jesus Cristo, que é verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem. Vocês vão receber Jesus Cristo, que passou a sua vida fazendo o bem. Vocês vão receber Nosso Senhor, que fez os mais sublimes milagres. Vocês vão receber Nosso Senhor, que nos ensinou a Verdade. Nosso Senhor, que veio ao mundo unicamente para nos salvar e obedecer assim a Deus Pai. Vocês vão receber Jesus, que nasceu de Maria Virgem, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado morto e sepultado para perdoar os pecados de vocês e para salvar a alma de vocês e de todas as pessoas. Vocês vão receber o próprio Deus, criador de todas as coisas, do céu e da terra, dos anjos, dos minerais, das plantas, dos animais, dos planetas, dos homens: criador de tudo o que existe. Que graça enorme e que bondade enorme a de Nosso Senhor Jesus Cristo: se entregar a nós na Eucaristia para que possamos nos salvar. Portanto, vocês sabem muito bem que aquilo que vocês vão receber parece pão, tem gosto de pão, mas que é, na verdade, o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês: é o dia em que o próprio Deus vai se entregar a vocês como alimento espiritual, para dar forças para que vocês sejam pessoas boas, quer dizer, pessoas que seguem aquilo que Cristo ensinou.

Hoje deve ser o dia mais alegre da vida de vocês, pois vão receber o maior bem e o maior tesouro que poderiam desejar. Não se trata de um brinquedo, de uma diversão de algo que passa e caba rapidamente. Não. É o próprio Deus que vocês vão receber. Deus, que é infinito, que é nossa felicidade e nossa alegria. Vocês receberão o próprio Deus na Eucaristia e o receberão bem preparados, com a alma pura, com o desejo de serem melhores cristãos: acreditando mais firmemente naquilo que Deus nos falou, praticando melhor os mandamentos, deixando de lado todo pecado, combatendo, com todas as forças de vocês, o pecado mortal e também o venial, que são os dois maiores males que existem. Se vocês receberem bem o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Cristo, e receberem com frequência, vocês irão ao céu, vocês serão eternamente felizes no céu e agradarão a Deus.

Lembrem-se de que vocês, como todas as outras pessoas, foram criados para conhecer, amar e servir a Deus aqui na terra, para poder ser eternamente feliz com Ele no céu. Fazer uma coisa que não nos leve a conhecer, amar ou servir a Deus é perder o nosso tempo. Lembrem-se, então, de que a primeira comunhão não é o fim, mas o começo.

[Às crianças que fazem a Primeira Comunhão]: “Façam o esforço para rezar o terço diariamente, imitando o exemplo da Jacinta e do Francisco, crianças que viram Nossa Senhora de Fátima. Eles rezavam o terço diariamente e tinham a idade de vocês.”

A partir de hoje, vocês terão que se esforçar ainda mais para fazer aquilo que Deus manda, pois fazer o que Deus manda agrada a Ele e faz bem para vocês. A partir de hoje, vocês terão que rezar ainda mais: ao acordar, antes de dormir, antes das refeições, e várias outras vezes durante o dia vocês devem dirigir palavras a Jesus Cristo e à sua Mãe, Maria. Façam o esforço para rezar o terço diariamente, imitando o exemplo da Jacinta e do Francisco, crianças que viram Nossa Senhora de Fátima. Eles rezavam o terço diariamente e tinham a idade de vocês, aproximadamente. A partir de hoje, vocês terão que procurar conhecer ainda melhor aquilo que Cristo ensinou,para poder amar mais a Cristo e colocar em prática tudo o que Ele nos falou. Leiam o catecismo, perguntem aos pais, que têm obrigação de ensinar a doutrina cristã aos filhos, perguntem ao Padre. A partir de hoje, vocês terão que praticar ainda melhor os mandamentos, evitando com todas as forças de vocês o pecado, pois o pecado ofende a Deus e prejudica a alma de vocês. A partir de hoje, vocês devem receber com frequência a confissão e a comunhão. Se caírem em pecado mortal, procurem confessar rapidamente, fazendo o exame de consciência, com arrependimento, com o propósito de não mais voltar a pecar, confessando sem medo todos os pecados e cumprindo a penitência dada pelo Padre.

A partir de hoje, vocês assistirão à Missa prestando atenção no que está acontecendo, sem se distrair, sem conversar, sem brincar com o irmão ou a irmã. Vocês assistirão à Santa Missa com devoção, entregando tudo o que vocês são e tudo o que vocês têm para Deus. Lembrem-se sempre de que a Missa é a renovação do sacrifício do Calvário, a renovação da crucificação de Cristo. A Missa é o que tem de mais importante na face da terra. Na Missa, vocês devem adorar a Deus, reconhecendo que ele é o Senhor e o Mestre de todas as coisas e se submetendo a Deus todo-poderoso. Na Missa, vocês devem pedir perdão a Deus por todos os pecados que vocês cometeram. Na Missa, vocês devem agradecer por todos os benefícios, por todas as graças que Deus deu a vocês: foi Ele que criou vocês, é pelo poder dEle que vocês continuam existindo, é pela bondade dEle que vocês vão receber a Sagrada Comunhão, é pela bondade dEle que vocês fazem coisas boas. Na Missa, vocês deverão pedir a Deus as graças, as ajudas que vocês precisam para praticar o bem e para não praticar o mal, que é o pecado.

Peçam, principalmente, a graça de serem fortes: a graça de continuarem fazendo sempre a vontade de Deus, sem dar atenção aos colegas que zombam de vocês porque vocês praticam a religião, sem dar atenção a outras dificuldades. Nosso Senhor Jesus Cristo sofreu muito, até a morte e morte de Cruz, mas sempre continuou fazendo o bem, fazendo a vontade de Deus. Vocês devem imitar Nosso Senhor. Nunca deixar de fazer o bem, por mais difícil que seja. Assim, vocês serão verdadeiros heróis, vocês serão santos.

A partir de hoje, vocês deverão ter uma devoção muito grande a Nossa Senhora, Maria. Ela é a Mãe de vocês. Ela é uma boa Mãe que sempre nos ajuda. Nas dificuldades, nos sofrimentos, nas tristezas, mas também nas alegrias e em todas as situações, rezem para Nossa Senhora, rezem o Terço. Ela sempre nos leva para o Filho dela: Jesus Cristo.

Hoje e todos os dias, vocês devem receber a comunhão com muita devoção, sempre na boca, de joelhos, pedindo a Deus que Ele faça de vocês pessoas santas. Uma só comunhão basta para nos transformar, para nos fazer deixar os nossos erros e os nossos maus hábitos e costumes. Recebam a comunhão pedindo a Jesus Cristo a santidade, pedindo a Ele a graça de perseverar com a alma pura até o dia da morte de vocês, para que, nesse dia, vocês possam ir para o céu, para que possam ser eternamente e infinitamente felizes.

É o próprio Deus que vocês vão receber agora na alma de vocês. Façam para Deus uma morada, uma casa digna, com uma alma pura, uma alma que busca em todas as coisas agradar a Deus. Hoje é o dia mais importante da vida de vocês. Vocês receberão o Corpo, o Sangue, a Alma e a Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] Inimigos da Família: feminismo, má educação, falta de oração

Sermão para a Festa da Sagrada Família
Primeiro Domingo depois da Epifania
13 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Fazei, Jesus Cristo, com que nós sejamos instruídos pelos exemplos da vossa Santa Família e consigamos alcançar a sua eterna companhia.”

Festejamos, hoje, caros católicos, a Sagrada Família, constituída por São José, Maria Santíssima e Nosso Senhor Jesus Cristo. É essa família, a Sagrada Família, que deve servir de modelo para toda e qualquer família. A Sagrada Família é exemplo para os pais e para os filhos, sobretudo nesses dias em que a instituição da família se encontra tão ameaçada e é tão desprezada. A família é de suma importância e, sobretudo, a família cristã, pois é da família que procede a sociedade civil e até mesmo a Igreja. A família proporciona ao Estado novos cidadãos e à Igreja, novos filhos de Deus. Suprimi a família e um golpe mortal será dado na sociedade civil e um duro golpe será dado na própria Igreja. O mal da família é o mal da sociedade. O mal da família traz muitos males para as almas.

A família é hoje ameaçada por vários inimigos. Gostaria de tratar de alguns inimigos que, com frequência, não são devidamente levados em conta. Não tratarei aqui de alguns inimigos óbvios e gravíssimos, como a mentalidade contraceptiva, a contracepção e o aborto que solapam os fundamentos da família, pois se opõem ao fim primário da mesma, que é a geração e a educação dos filhos. Também não tratarei do divórcio, que se opõe à indissolubilidade do matrimônio e que tanto prejudica a educação dos filhos e destrói o amor e o auxílio mútuo dos cônjuges. Não tratarei da fidelidade, que se opõe mais uma vez à boa educação dos filhos e ao auxílio e amor mútuos. Não tratarei das uniões contra a natureza, que não podem constituir uma família, mas que constituem pecado que clama aos céus.

O primeiro inimigo da família de que quero tratar hoje, ainda que brevemente, é o feminismo, que quer igualar a mulher ao homem. Ora, a família é a sociedade doméstica e como toda sociedade, ela precisa necessariamente de um chefe, e como em toda sociedade, seus membros têm funções distintas. O feminismo se opõe justamente a isso. O feminismo quer igualar a mulher ao homem, como se a mulher tivesse dignidade somente ao fazer o que faz o homem. Ora, isso é justamente a destruição da mulher e daquilo que a mulher tem de próprio, sua feminilidade.

O feminismo diz que a mulher, com suas qualidades específicas de mulher, não tem valor, e que para ser digna, ela precisa se igualar ao homem.  Ao contrário, a mulher encontra sua dignidade na função que lhe foi dada pelo criador, função que é diferente da função do homem. As funções da mulher e do homem são claras no Gênesis. A função da mulher é, antes de tudo, ser mãe, gerar os filhos e educá-los, sobretudo quando são pequenos. Não é à toa que é a mãe quem carrega o filho durante nove meses e o alimenta. A mulher tem essa função e ela tem, evidentemente, nos traços psicológicos e físicos de sua feminilidade, as qualidades para praticar bem essa função. Ela tem, em particular, uma sensibilidade muito maior que a do homem e, se é bem ordenada, essa sensibilidade é essencial para a família.

O homem, por outro lado, recebeu de Deus a Missão de ser o chefe da sociedade doméstica e de lhe assegurar o sustento e recebeu as qualidades para tanto. É para Adão que Deus diz que será preciso ganhar o alimento com o suor de seu rosto… não é para a mulher. O homem é chefe, mas não um tirano, e deve governar com caridade não para o seu próprio bem, mas para o bem da esposa e dos filhos, para que todos cheguem à vida eterna. Se São Paulo diz que a mulher deve ser submissa ao marido, ele diz também que o marido deve amar sua esposa, isto é, ele deve governar tendo em vista o bem dela (bem espiritual, antes de tudo), reconhecendo nela uma verdadeira companheira de vida e um complemento para sua perfeição.

Cada membro de uma sociedade encontra sua dignidade e sua perfeição ao praticar bem a sua função. A diferença de funções entre homem e mulher não supõe maior perfeição ou maior dignidade, mas simplesmente características diferentes no homem e na mulher. Características que se complementam para aperfeiçoar ambos e para bem educar os filhos. Renunciar às características próprias de cada sexo é prejudicar a si mesmo, é prejudicar a sociedade doméstica, é prejudicar os filhos. Portanto, a dignidade da mulher consiste em gerar e educar os filhos. Gerá-los e educá-los naturalmente. Mas, sobretudo, gerá-los e educá-los para a vida eterna, ensinando aos filhos o amor a Deus desde a mais tenra idade. Claro que o pai deve participar da educação dos filhos, mas ele o faz de modo diverso, com uma influência, em geral, menor, embora essencial.

O que vale mais para uma mulher? Fazer carreira ou ver os filhos cheios de virtudes? É evidente que a mulher é capaz de trabalhar e de competir com o homem no mercado de trabalho e ninguém nunca duvidou disso. Mas é esse o seu objetivo? Consiste nisso a sua verdadeira dignidade e perfeição? Certamente, não. Infelizmente, vivemos em um mundo em que a maioria das mulheres se veem forçadas a trabalhar por diversas razões, muitas vezes puramente econômicas, pois dificilmente não se paga a uma só pessoa o necessário para sustentar toda a família. Todavia, sendo possível, a mãe deve dedicar-se inteiramente aos filhos, não para mimá-los, mas para educá-los, instruí-los, formar a consciência deles. Claro, isso não sendo possível, Deus suprirá, se a mãe se esforça para bem educar os filhos apesar de sua ausência necessária. Como consequência do feminismo, as mulheres são cada vez mais masculinizadas e os homens cada vez mais feminilizados. Isso traz grandes prejuízos para a própria pessoa, para a família, para a sociedade. Portanto, na família, cada um cumpra bem a sua função, pois nisso consiste a dignidade e a perfeição da mulher e do homem, nisso está o bem da mulher e do homem.

O segundo inimigo da família de que quero tratar hoje é o fato dos pais já não saberem como educar os filhos. A educação é uma arte e uma arte ninguém nasce sabendo. É preciso aprender, é preciso se instruir nessa arte. É preciso ler bons livros sobre educação católica, como o livro “Educação com êxito” e “A arte de educar as crianças de hoje” do Padre G. Courtois, por exemplo (ambos podem ser encontrados para download na internet, bem como os livros de Dom Tihamer Toth, que também podem ser encontrados para download). Para conhecer os princípios da educação, aconselho também a leitura e a aplicação do que falei em sermão anterior, sobre a “Educação católica dos filhos”. Uma educação levada à marra, sem experiência e sem instrução de como proceder, não pode dar certo.

Na educação, um grande problema é que os pais não sabem exercer a autoridade e terminam perdendo-a. Já não sabem fazer que os filhos obedeçam, já não sabem mandar. Para ser obedecido, é preciso que as ordens sejam sóbrias (poucas de uma só vez, sobretudo para crianças), que as ordens sejam claras e dadas com afeto, mas também com firmeza. Os pais não devem pedir ao filho que obedeça. Isso é um contrassenso, um absurdo. Um superior não pede, não roga ao inferior que obedeça: “obedeça, por favor”. Pedir algo ao filho lhe desorienta o espírito, pois ele pensará que não deve obediência aos pais, justamente, mas que está fazendo um favor. E hoje, em razão disso, muitos são os filhos tiranos. Vale melhor dar ordens desde início do que ter de mudar de tom depois. Os pais também não devem negociar com os filhos, condicionando o cumprimento de algo a um prêmio. “Se fizer isso, te dou uma bala.” “Se comer tudo, te dou um brinquedo.” E se o filho, então, não quiser a bala ou chocolate, não precisa fazer o que está sendo pedido? Os pais vão formar um bom negociante ou comerciante, mas não uma pessoa de caráter firme. Que tipo de autoridade é essa? Os pais não devem, tampouco, retirar suas ordens diante de insistências ou intimidações, chantagem emocional, gritos, lágrimas, etc.

Os pais evitem se contradizer nas ordens, a não ser que seja estritamente necessário, a fim de evitar um problema grave. Se as ordens são desencontradas, as crianças saberão recorrer ao mais favorável ao seu gosto e a autoridade de ambos será prejudicada. Os pais devem ter autoridade, uma autoridade que é inteiramente voltada para o bem dos filhos, mas uma verdadeira autoridade, capaz de dar ordens que são obedecidas, ordens sóbrias, claras, com afeto, reflexão e calma. É preciso exercer essa autoridade que forma na alma dos filhos a virtude. Aos filhos, claro, cabe obedecer, pois Deus colocou os pais para guiá-los no caminho da virtude.

Um outro inimigo da família são os filmes, os romances, os espetáculos, os programas de televisão. Primeiro, porque a maioria esmagadora contém doutrinas ruins, imoralidades, palavras ruins, e todo tipo de coisa que se opõe ao bem da alma e da família. Segundo, porque ainda que não tivessem nada disso, a assistência frequente a essas coisas colocam o espírito em um mundo irreal e fictício, criando um aborrecimento e descontentamento com relação ao mundo real, com a família, com o Criador, que é Deus. “Ah, no filme, na novela, fulana tinha problema com o marido, ela se separou, juntou com o ciclano e eles viveram felizes. Estou enfrentando dificuldades no meu casamento… será que não poderia fazer como a fulana da novela, do filme… é tão simples…?” E com isso fica facilmente esquecido o contrato e as promessas feitas no matrimônio. São João Crisóstomo já falava disso a propósito dos espetáculos em sua época, há mais de 1500 anos. Isso serve também para as crianças e os desenhos e as histórias infantis completamente fictícias. A ficção pode ser boa e lícita, mas nunca em excesso e jamais com ensinamentos ruins, como acontece na maioria dos casos. É preciso procurar para as crianças histórias que edifiquem. E não se diga: não tem problema, pois as crianças não entendem nada. As crianças entendem bastante coisa e guardam muita coisa e têm a consciência paulatinamente formada por isso. As diversões das crianças, em geral, devem favorecer o raciocínio e o mérito e não simplesmente a sorte e a sensibilidade.

Outros grandes inimigos da família são a falta de oração em família e os hábitos mundanos. Nossa Senhora de Fátima pediu que se rezasse o terço em família. É preciso encontrar durante o dia vinte ou trinta minutos para rezar o terço em família. A oração é a base da vida espiritual. O terço e outras orações em família são a base de um matrimônio sólido, fiel ao compromisso assumido diante de Deus. Os hábitos mundanos conduzem a família a se preocupar com tudo, salvo com a salvação eterna. É preciso adquirir hábitos salutares, práticas de devoção familiares, hábitos de estudo da religião católica, de mortificação. A prática da religião não pode se resumir a evitar os pecados mortais e a vir à Missa aos domingos.

Tudo isso não é invenção minha, mas é a autêntica doutrina dos teólogos, dos Santos, do Magistério da Igreja, com base na Lei Natural e na Revelação. Eu simplesmente transmito aquilo que recebi da Igreja.

Olhemos o exemplo da Sagrada Família. É o plano a ser seguido pela família. A finalidade da família é que todos os seus membros cheguem ao céu. Para tanto, é preciso gerar e educar os filhos segundo as leis da Igreja, é preciso uma vida de oração sólida, é preciso uma vida centrada em Deus e não no mundo, é preciso que seja observada a hierarquia no matrimônio entre homem e mulher, entre pais e filhos, hierarquia que pertence à lei natural e que foi também Revelada por Deus. Somente seguindo o modelo da Sagrada Família uma família poderá ser verdadeiramente feliz, pois se possuirá o verdadeiro bem, que é Deus. Isso não significa a ausência de problemas e provações, mas a disposição de resolvê-los e enfrentá-los tendo em vista sempre a eternidade e a salvação da alma.

“Fazei, Jesus Cristo, com que nós sejamos instruídos pelos exemplos da vossa Santa Família e consigamos alcançar a sua eterna companhia.”

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] “É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo”

Sermão para a Solene Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (12 de outubro de 2012)

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.

“Tu, Virgem Maria, és a glória de Jerusalém, a alegria de Israel, a honra do nosso povo” Judith 15, 10

Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição

Em 1717, três pescadores buscavam peixes no Rio Paraíba, próximo de Guaratinguetá, interior de São Paulo. Era em torno do dia 12 de outubro, e a câmara da vila havia pedido aos pescadores da região que apresentassem todos os peixes que pudessem conseguir ao novo governador da capitania que estava de passagem pela localidade. Os três pescadores percorreram grande distância entre dois portos sem conseguir pegar peixe algum. Eis, então, que lançando a rede mais uma vez pescaram o corpo da Senhora, sem a cabeça. Lançando-a novamente pescaram a cabeça da imagem de Nossa Senhora, que era uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, da Imaculada Conceição. Continuando a pescaria depois de tal descoberta, conseguiram pescar tantos e tantos peixes que tiveram de parar, receosos de que as canoas naufragassem por causa da abundante pesca. Eram certamente extraordinários esses fatos: o encontro da imagem, o encontro da cabeça que naturalmente deveria ter sido arrastada mais longe pela correnteza da água, além de ser dificilmente colhida por uma rede de pescador, dada a sua dimensão. Extraordinária também a pesca abundante que seguiu o encontro da imagem. A devoção a Nossa Senhora Aparecida começou, então, no oratório dos pescadores e graças foram obtidas e milagres realizados, notadamente as velas que se apagavam e se reacendiam sozinhas por diversas vezes. A devoção foi tanta, que, hoje, Aparecida é o maior Santuário Mariano no mundo. Em 1930, o Santo Padre, o Papa Pio XI, na plenitude de seu poder apostólico, constituiu e declararou a mui Bem-aventurada Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de “Aparecida”,a Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus. No ano seguinte, 1931, no dia 31 de maio, em presença do Sr. Presidente da república, de altas autoridades civis e militares, de numerosas divisões das Forças Armadas, do Episcopado Brasileiro e de enorme multidão de fiéis, o Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro proferiu o ato de consagração de todo o Brasil a Nossa Senhora Aparecida, recomendando à Excelsa Padroeira todos os interesses e as necessidades da pátria. Nossa Senhora da Conceição era já a padroeira do Brasil por provisão do Rei de Portugal em 1646 e por declaração de D. Pedro I quando da independência. Simplesmente, ajuntou-se nesse momento o título de Aparecida por causa dos milagres ocorridos, das graças alcançadas e da devoção do povo.

Todos esses fatos nos permitem tecer algumas considerações interessantes. Antes de tudo, a importância de Nossa Senhora na obra da redenção. Nas duas pescas milagrosas no Evangelho, Nosso Senhor quer mostrar aos apóstolos que sem Ele, os únicos frutos que realmente nos interessam, que são os frutos de vida eterna, são inexistentes, apesar de nossos trabalhos e esforços nessa terra. Com Cristo, porém, e seguindo a sua palavra os frutos para a vida eterna são abundantes. Ora, a origem da devoção a Nossa Senhora Aparecida nos mostra algo parecido em relação a Nossa Senhora. A devoção a Nossa Senhora é necessária para que possamos chegar ao Filho e assim nos salvarmos, com frutos abundantes. Enquanto a imagem estava no fundo do rio, esquecida e quebrada, a pesca foi inútil. Depois de encontrarem a imagem e tratarem-na com o devido respeito, a pesca foi abundante. Nossa Senhora, na sua extrema delicadeza, permitiu aos pescadores que apresentassem o fruto de seus trabalhos ao governador da capitania. Nós, nós devemos apresentar os frutos de nossas obras a Nosso Senhor Jesus Cristo, justo juiz, governador do mundo. Sem o auxílio Maria Santíssima não teremos obras dignas de serem apresentadas a nosso Deus, porque Deus quis, não por necessidade, claro, mas por livre vontade que os homens passassem por Maria e quis salvar o homem de forma semelhante como esse havia pecado. No paraíso havia um homem, personagem principal e havia uma mulher que cooperou no seu pecado. Na Redenção há um homem, Cristo, que é também Deus e há uma mulher que coopera na obra infinitamente perfeita de Cristo, Maria.

Dissemos, então, que o Brasil foi consagrado a Nossa Senhora no dia 31 de Maio, data que se tornou depois a data da festa de Nossa Senhora Rainha. Pela consagração de nosso país a Nossa Senhora Aparecida nós reconhecemos e declaramos explicitamente e justamente um fato que já existe. Nossa Senhora é Rainha por sua maternidade divina, aliás, celebrada ontem, mas também por direito de conquista adquirido por sua participação única na obra da redenção de seu Filho. Nossa Senhora é Rainha dos Céus e da terra. Nossa Senhora é, portanto, Rainha do Brasil. Consagrando o Brasil a ela, dizemos que queremos nos submeter a ela espontaneamente, seguindo o seu exemplo e suas ordens, como fizeram os servos em Caná quando do primeiro milagre de NSJC. A devoção a Nossa Senhora consiste em servi-la e imitá-la para poder melhor servir e imitar Nosso Senhor Jesus Cristo.

Hoje, infelizmente, o Brasil, por meio de suas autoridades não quer mais honrar publicamente e se submeter a Nossa Senhora e, por meio dela, honrar e se submeter a Nosso Senhor Jesus Cristo. Claro, existem ainda pessoas devotas de Nossa Senhora Aparecida, mas é preciso que o país também o seja. Se o país por meio de seus governantes pode reconhecer a importância de tal ou tal obra pública, pode também reconhecer que Deus existe, que Cristo é Deus, que a religião católica é a verdadeira, e que devemos voltar a Deus pelo mesmo caminho pelo qual Ele veio até nós: por Maria. Infelizmente, hoje, a imagem de Nossa Senhora Aparecida, embora colocada no maior Santuário mariano do mundo é desprezada pelo nosso país e muitas vezes mesmo por aqueles que mais deveriam zelar pela honra de Nossa Senhora. É como se a imagem se encontrasse no fundo do rio e quebrada. É preciso, então, fazer como os pescadores. É preciso que Nossa Senhora seja reencontrada e venerada pelo Brasil, pelas autoridades públicas, pelo povo. É por meio de Nossa Senhora que Cristo quer distribuir as infinitas graças que mereceu em estrita justiça durante a sua vida, paixão e morte. O bem de um país não é somente o bem econômico ou um bem social material, mas inclui necessariamente o bem espiritual, bem espiritual que só pode vir de Cristo por Maria. Cristo veio ao mundo por Maria. Ele concede as suas graças por Maria. O bem de nosso país, o verdadeiro bem de nosso país, que consiste, antes de tudo, no favorecimento da prática das virtudes, da única verdadeira religião, passa necessariamente por Nossa Senhora. O bem de nosso país não virá da política ou de uma ideologia. O bem do nosso país deve vir da restauração de tudo em Cristo. Enquanto o Brasil persistir em deixar Nossa Senhora no fundo das águas, nosso país não avançará realmente. Não avançará naquilo que realmente importa: o trabalho pelo bem das almas que só se pode fazer em união com a Santa Igreja. Enquanto Nossa senhora está no fundo das águas, o país caminha para o abismo, rejeitando todos os bens que lhe tinham sido concedidos por Deus. Quantas das supostas leis de nosso país hoje ofendem a Nosso Senhor e quantas outras não estão a caminho de serem aprovadas? O divórcio, que tem destruído a sociedade brasileira e a sociedade no mundo inteiro junto com a anticoncepção. Tantas liberdades absolutas que são liberdades para o erro e para propagá-lo… Uniões homossexuais reconhecidas pelo Estado. Aborto, eutanásia. Quantas liberdades garantidas por lei que são no fundo libertinagem… O projeto de novo código penal está repleto dessas leis ofensivas a Deus e, portanto, prejudiciais ao homem: aborto, eutanásia, suicídio assistido, assassinato de crianças indígenas, se isso é conforme ao costume de uma dada tribo, punição dos que se opõem às uniões homossexuais, descriminalização do uso de drogas, prostituição infantil, terrorismo etc. Claro que tudo isso aparece no texto do projeto com outras palavras que chocam menos o povo brasileiro, que, em sua maioria, se opõe a tudo isso. Nem o argumento da democracia numérica justifica o que querem fazer. Chegamos ao ponto em que os animais são mais importantes que os homens, segundo esse mesmo projeto de Código Penal em trâmite no Congresso: não socorrer um homem é pena de uma a seis meses, enquanto não socorrer um animal é pena de 1 a 4 anos.  Inversão absurda, mas se se considera que o homem é mais importante que Deus por que não considerar que os animais são mais importantes que o homem? Aquele que nega Deus é capaz dos maiores absurdos. É isso que estamos vendo em nosso país. Nossa Senhora está no fundo das águas, esquecida e desprezada por nossa pátria.

Somos nós, então, que devemos pescar a imagem de Nossa Senhora no fundo das águas, a fim de que Ela proteja nosso país e faça com que o Brasil respeite os direitos de Deus, realizando assim a sua finalidade que é o bem de seus cidadãos. Somos nós que devemos ter uma devoção pessoal e verdadeira por Nossa Senhora, imitando as suas virtudes e pedindo que Ela seja reconhecida como a soberana suprema desse país. Devemos, por dever de justiça, de piedade filial, rezar e confiar nosso país a Nossa Senhora, a fim de que ele a reconheça como Mãe e Rainha e se submeta plenamente à vontade de seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo. E devemos incutir isso em nossas crianças. Por uma grande coincidência, não é?, dessas que não costumam ocorrer jamais, por um grande acaso, hoje é também o dia das crianças. Por que? Para fazer esquecer aos brasileiros e, sobretudo, àqueles que são o futuro de nossa sociedade, a soberania de Maria Santíssima e por meio dela a soberania de Seu Filho. Para fazer crer que o feriado é para as crianças se divertirem.

Devemos deixar claro para as crianças que o fundamental nesse dia 12 de outubro é Nossa Senhora e que foi ela quem nos trouxe o maior presente: o Menino Jesus. E se hoje é feriado, o objetivo não é outro: honrar Nossa Senhora e fazê-lo publicamente, confiando o nosso país a Ela e agradecendo todo o bem que Nossa Senhora já fez pelo nosso país.

Desde o começo de sua história, o Brasil se destacou por sua devoção à Imaculada Conceição. É preciso que isso continue.

Nossa Senhora da Conceição Aparecida, salvai o Brasil!

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Nota do editor: destaques são nossos.

[Sermão] A educação católica dos filhos: “Ensinar desde a mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo pecado.”

Sermão para o 18º Domingo depois de Pentecostes (30 de setembro de 2012) 

Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Ensinar desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado.”   Ab infantia timere Deum et abstinere ab omni peccato. (Tob. I, 10).

A questão da educação é fundamental, caros católicos, sobretudo nesses dias em que a sociedade como um todo se opõe de maneira cada vez mais hostil à lei natural e à lei divina. Da educação que a pessoa recebe na sua mais tenra infância depende o seu futuro, não somente neste mundo, mas também no próximo. De regra, tal a criança, tal o adolescente e tal o adulto. É a partir da educação que a consciência e a personalidade da pessoa são formadas, seja para o bem, seja para o mal. Assim, saber qual é o fim da educação e quais os meios para bem educar os filhos é indispensável para todo casal e educador católico.

Quando falamos de educação é preciso ter um conhecimento claro do homem e de seu estado atual. O homem é composto de corpo e alma. A educação deve prover, então, aos dois. O homem está maculado, ferido, pelo pecado original e sofre suas consequências, isto é, ele tem uma inclinação desordenada nas suas faculdades: quer dizer, a inteligência está inclinada para o erro, a vontade está inclinada para o mal e as paixões estão inclinadas para o bem sensível desordenado. É preciso levar em conta esta desordem nas faculdades do homem para poder educá-lo bem e empregar os meios adequados. Além disso, o homem foi elevado por Deus à vida sobrenatural, de maneira que o fim último do homem é sobrenatural e só pode ser alcançado pela prática da verdadeira religião.

A educação tem como objetivo, então, levar o homem ao seu desenvolvimento perfeito. A perfeição de cada coisa consiste em atingir a finalidade para a qual foi criada. O homem foi criado para Deus e seu fim último é, portanto, Deus. A educação, então, não deve ser naturalista, mas deve considerar não só a natureza do homem, mas a Revelação divina, pela qual o homem é chamado à vida sobrenatural. Uma educação naturalista privaria o homem daquilo para o que ele foi feito (visão beatífica no céu) e seria extremamente danosa e prejudicial não somente para o indivíduo, mas também para a sociedade.

O dever e o direito de educar as crianças e os jovens dizem respeito aos pais, em primeiro lugar. Por lei natural, este dever e este direito são dos pais. A educação das crianças está contida na primeira finalidade do casamento. Esta primeira finalidade visa não somente à procriação, mas também a educação da prole. Não basta gerar o filho, mas é preciso ajudá-lo a desenvolver-se da melhor maneira possível. Em outras palavras: não basta dar a vida, é preciso dar aos filhos uma vida feliz e a vida feliz é a vida virtuosa. Para tanto, é necessário, segundo a natureza humana e salvo situações extraordinárias, que estejam presentes o pai e a mãe, não somente para o sustento material, mas também para a educação espiritual dos filhos, o que vai contra o divórcio, que perturba a educação dos filhos e, consequentemente, toda a sociedade. Nem precisamos falar de como uniões de pessoas do mesmo sexo são extremamente prejudiciais para a criança e toda a sociedade.

Os pais têm pela lei natural o dever e o direito – invioláveis ambos – de educar os filhos. Não se trata de um direito civil dado pelo Estado e que pode ser retirado a qualquer momento. Não. A família existe antes do Estado. O Estado tem, então, uma grave obrigação moral de permitir que os pais eduquem seus filhos. Por outro lado, os pais podem delegar para o Estado a educação dos filhos e podem retratar tal delegação a qualquer momento. O Estado tem direito de interferir nesse direito natural dos pais de educar os filhos somente em uma circunstância: quando os pais estão instruindo os filhos a violar a lei natural de maneira que decorra dano para o bem comum. Para interferir o Estado tem que agir segundo a lei natural e a lei divina. Então, se o Estado quer forçar o aprendizado da educação sexual, por exemplo, ele não tem direito algum, pois assim ele não está garantindo o bem comum, mas indo contra ele, pois viola a lei natural.

O ideal seria que família, Igreja e Estado cooperassem na educação católica de uma criança e de um jovem, evitando assim, a mudança de ambientes, o que é extremamente prejudicial para a educação. Atualmente, isso é, infelizmente, quase impossível.

A educação é dever grave dos pais, pois da educação das crianças depende o futuro delas. Os filhos são como um depósito dado por Deus aos pais e do qual eles deverão prestar contas. A Sagrada Escritura nos diz: “Aquele que educa seu filho (…) quando morrer não ficará aflito e se salvará pela educação deles.” (Eccl XXX, 3- 5: Qui docet filium suum… in obitu suo non est contristastus nec confusus. E 1 Tim. II, 15:  Salvabitur autem per generationem filiorum.)

O fim da educação é a virtude nesta terra, quer dizer a santidade, e a glória eterna na outra vida. Ora, a virtude consiste numa disposição muito bem enraizada para agir bem, fazendo o que é bom, por um bom motivo e nas circunstâncias devidas. Todavia, essa disposição bem enraizada para agir bem, que é a virtude, adquire-se pela repetição dos atos. Assim, quanto mais cedo aprendemos a agir bem, maior facilidade teremos para agir bem posteriormente. Isso quer dizer que a educação deve começar o mais cedo possível, mesmo quando a criança ainda não entende perfeitamente as coisas. Por isso, levamos a criança à Missa desde cedo, ensinamos à criança a rezar, a manter-se bem vestida, a respeitar as coisas sagradas. Em suma ensinamos à criança a evitar o mal e praticar o bem. Aquilo que a criança aprender na sua infância e adolescência dificilmente deixará de praticar na idade adulta. Diz a Sagrada Escritura que mesmo quando a criança envelhecer, não se afastará de seu caminho. Adolescens juxta viam suam, etiam cum senuerit, non recedet ab ea (Prov. XXII, 6).

Além disso, como no início o homem é como uma tábua rasa, aprender o bem é muito mais fácil, pois a criança ou o jovem não tem disposições ruins, além daquelas que são consequência do pecado original. Por outro lado, deixar o mal ao qual a pessoa já se habituou é uma tarefa dificílima. É imperioso, dessa forma, acostumar as crianças desde já a praticar o bem e a evitar o mal. A Sarada Escritura diz: Ensinar desde a sua mais tenra idade a temer a Deus e a se abster de todo o pecado. Ab infantia timere Deum et abstinere ab omni peccato. (Tob. I, 10). Agora, como começar a educação de alguém que ainda não atingiu a idade da razão? Aristóteles e depois São Tomás dizem que a virtude nada mais é do que alegrar-se com aquilo que é bom e entristecer-se com aquilo que é mau. Dessa maneira, a melhor forma de educar uma criança é fazer que ela se alegre com o bem que ela faz e que ela se entristeça com o mal. É preciso, então, recompensar as boas ações e punir as más, mesmo que ela não tenha plena consciência de uma ou de outra. Ela passará a gostar de fazer o bem e odiará fazer o mal. Ela vai aprender com isso, que nossas ações têm uma consequência, merecendo um prêmio ou um castigo nesta terra, mas também depois da morte.

Mas como educar os filhos? Pais, não exaspereis os vossos filhos, mas educai-os na disciplina e na instrução do Senhor, nos diz São Paulo. Et vos patres educate filios vestros in disciplina et correptione Domini (Eph VI, 4). Isto quer dizer que é preciso instruir os filhos segundo a doutrina e discipliná-los, corrigi-los quando agem mal.

Instrução. O primeiro dever dos pais é conformar a conduta do filho à lei de Deus, quer dizer, segundo a lei natural e segundo a Revelação. E os pais devem fazer isso não somente com as palavras, mas também com o exemplo.

Pelas palavras. Os bons pais reunirão com frequência os filhos em torno de si e ensinarão, desde bem cedo, o temor de Deus, o amor da verdade e do bem.  Assim, o primeiro dever dos pais é instruir os filhos quanto à fé, em particular sobre quatro pontos fundamentais: 1) que há um Deus criador de todas as coisas e todo-poderoso; 2) que este Deus é remunerador, premiando os bons e punindo os maus; 3) que há um só Deus em três pessoas; 4) que Deus se encarnou no seio de Maria e que Ele sofreu e morreu para nos salvar. Os pais devem também ensinar para os filhos o fim que devem buscar: conhecer, amar e servir a Deus.  É preciso, então, que os pais tenham o mínimo de conhecimento dessas coisas a fim de transmitir aos filhos. Se eles ignoram tais coisas (o que é grave) eles devem pelo menos enviá-los a alguém que ensine a fé às crianças. É de se lamentar muitíssimo que as crianças cheguem à juventude sem conhecer praticamente nada da religião, como, por exemplo, o que significam o pecado mortal, o inferno, o céu, a eternidade. É de se lamentar também que eles não conheçam as orações mais básicas que todo cristão deve saber, sob pena de pecado grave (Sto Afonso de Ligório):  Pater, Ave-Maria, Credo. Os pais devem ensinar a criança a rezar. A rezar a oração da manhã, a oração da noite. Devem ensinar a pedir perdão pelas suas faltas, a agradecer pelos dons de Deus, a oferecer tudo a Deus. Os pais devem ensinar a devoção à Maria Santíssima, em particular um apreço enorme pelo Terço. Eles devem favorecer o amor ao Santíssimo Sacramento, visitando-o com frequência. A família deve rezar junta. Os pais devem ler bons livros para seus filhos (história da salvação, histórias de santos, e.g.) e dar bons livros para que eles leiam. No momento em que eles atingirem a idade da razão (em torno de sete anos), é preciso habituá-los a frequentar os sacramentos (confissão e comunhão). Com esses bons hábitos bem penetrados na alma, eles perseverarão até o fim. Deus não há de abandoná-los.

Os pais devem ensinar aos filhos as verdadeiras máximas da vida e não as máximas mundanas. Assim, longe dos pais católicos dizer aos filhos: “É essencial ser estimado pelos outros”; “Deus é misericordioso, no final perdoará teus pecados”. Os bons pais têm outra linguagem. Como Santa Branca, mãe de São Luís, eles dizem: “Meu filho, eu prefiro te ver morto no meu braço que em estado de pecado”; ou dizem: “o que vale ganhar o mundo inteiro, se nós perdemos a nossa alma”, ou “tudo se perde, mas não percamos Deus”. E finalmente aquela máxima de São Domingos Sávio: “Antes morrer do que pecar”. Uma dessas máximas bem impressas no espírito de uma criança bastará, como nos diz Santo Afonso, para que a criança se mantenha toda a sua vida em estado de graça.

Os pais, além de ensinar aos filhos, devem governar os filhos de forma a evitar as ocasiões de agir mal, as ocasiões de pecado. É preciso evitar a ociosidade dos filhos, ocupando bem o tempo deles. A ociosidade é ocasião farta para o pecado. David cometeu adultério e homicídio porque num momento de ociosidade levantou os olhos para uma mulher.

É preciso impedi-los de ir a lugares suspeitos e de andar em má companhia. A má companhia é o flagelo da juventude. Os pais devem saber aonde vai o filho quando ele sai de casa, o que ele vai fazer e com quem ele vai. Os pais devem ter cuidado com os empregados e devem demiti-los se eles têm um comportamento ruim. É preciso impedir os jogos de azar (que levam à perda da fortuna e da alma), as danças e bailes, os espetáculos escandalosos, assim como as músicas ruins (e não só por causa das letras, mas da própria melodia, às vezes muito sentimental ou colérica). É preciso evitar os filmes impróprios (aqui estão incluídos praticamente quase todos os filmes atuais e muitos dos antigos), bem como os programas ruins de rádio. É preciso também vigiar as leituras dos filhos, a fim de que não leiam o que vai contra a moral e contra a fé. É necessário ter cuidado com os livros de romances, que tiram a juventude da realidade e a leva por um caminho ruim. E mesmo historinhas de ficção e desenhos para crianças são em grande parte prejudiciais pelo conteúdo – que via de regra é péssimo – mas também pelo fato do excesso acostumar a criança a viver fora da realidade e não gostar da realidade.

Hoje, é preciso tomar cuidado, sobretudo, com a televisão e a internet. A televisão invade de tal maneira a casa das famílias que elas tendem a destruir os lares e vai aos poucos incutindo uma forma de pensar e uma moral não só anticatólicas, mas também antinaturais. A televisão aos poucos substitui o que de bom existe no intelecto da pessoa por valores anticatólicos e antinaturais. Onde ela entra, atualmente, ela destrói tudo. A internet é celeiro do melhor e do pior. Assim, os pais precisam regular e conhecer o que acessam seus filhos, a fim de que eles se edifiquem natural e sobrenaturalmente. E só devem acessar, mesmo coisas boas, quando já tiverem certa idade. Essas coisas, como filmes, cinema, rádio, televisão, internet, são em si indiferentes. Assim, elas podem ser usadas para o bem e para o mal. Atualmente, porém, elas são usadas para destruir não só a realidade sobrenatural (a doutrina revelada por Cristo e afirmada pela Igreja), mas também os princípios mais básicos da realidade natural e as pessoas passam a viver fora da realidade. É preciso, então, cuidado. Pio XI escreveu assim na sua Encíclica Divini Illius Magistri, sobre a educação da juventude:

“Na verdade nos nossos tempos torna-se necessária uma vigilância tanto mais extensa e cuidadosa, quanto mais têm aumentado as ocasiões de naufrágio moral e religioso para a juventude inexperiente, especialmente nos livros ímpios e licenciosos, muitos dos quais diabolicamente espalhados, a preço ridículo e desprezível, nos espetáculos do cinematógrafo, e agora também nas audições radiofónicas, que multiplicam e facilitam toda a espécie de leituras, como o cinematógrafo toda a sorte de espectáculos. Estes potentíssimos meios de vulgarização que podem ser, se bem dirigidos pelos sãos princípios, duma grande utilidade para a instrução e educação, aparecem infelizmente, na maior parte das vezes, como incentivos das más paixões e da avidez do lucro. Quantas depravações juvenis, por causa dos espetáculos modernos e das leituras infames, não têm hoje que chorar os pais e os educadores!”

E acrescentemos por causa da televisão, da internet… Vale mais cansar-se um pouco agora cuidando do filho do que sofrer enormemente depois por tê-lo deixado à mercê de distrações indevidas.

Os pais devem vigiar também pelas obras de arte que estão em seu lar. Os quadros e esculturas licenciosas que geram pensamentos ruins devem desaparecer. Dessa forma, não basta ensinar o bem, mas é preciso vigiar, a fim de que se evite também o mal. Além disso, o que se verá no dia-a-dia de nossa sociedade já basta para que a criança ou o jovem conheça os males do mundo.

Somem-se aos ensinamentos pelas palavras os ensinamentos pelos exemplos. Os filhos têm grande tendência a ver nos pais o modelo e a imitá-los, portanto. O homem acredita mais naquilo que ele vê do que naquilo que ele ouve. Magis oculis credunt homines quam auribus. Assim, se os pais fazem o mal, como podem esperar que os filhos façam o bem? Aos pais que dão mau exemplo, São Tomás os chama de assassinos dos filhos. Não do corpo, mas da alma, claro. Frequente os sacramentos, vá aos sermões, reze o terço todo dia, seja modesto no falar e no vestir, não fale maledicências do próximo, fuja das disputas, abandone a vida mundana, guardem a devida hierarquia no matrimônio e os vossos filhos frequentarão os sacramentos, irão aos sermões, recitarão o rosário, fugirão das garras do mundo, serão obedientes, modestos e assim por diante. Eles imitarão, enfim, vossa conduta.  Isso tem que ser feito enquanto os filhos são crianças. É preciso endireitá-los desde a infância, nos diz a Sagrada Escritura (Eclesiástico 7, 25). Depois dos maus hábitos, fica extremamente difícil convertê-los pelas palavras e mesmo pelo exemplo.

Os pais devem, desde o momento do casamento, rezar pelos filhos, oferecer sofrimentos e penitências pela santificação dos filhos… suportando os defeitos das crianças, oferecendo as noites em claro para cuidar dos filhos, etc.

Querer o verdadeiro bem do filho não é realizar todas as suas vontades, ou dar abundantes brinquedos. Aliás, a abundância de brinquedos acostuma a criança a buscar sempre a novidade e ser superficial e depois ela não conseguirá controlar seus desejos. Querer o bem é permitir e ensinar à criança a fazer a vontade de Deus. Para tanto, é preciso também corrigir o filho, sempre que ele ande pelo mau caminho. A Sagrada Escritura diz: Quem poupa a vara odeia seu filho; quem o ama, castiga-o na hora precisa. (Prov. XIII, 24). A correção, que é aparentemente um mal, visa a um bem infinitamente superior: a virtude, a santidade. Se os pais amam o filho eles devem repreendê-lo e castigá-lo quando ele comete uma falta, mas claro devem castigá-lo de maneira proporcional. Os pais podem mesmo puni-lo fisicamente, mas só durante a infância e de forma moderada, porque eles agem enquanto pais e não enquanto mestres de escravos. O castigo enquanto se está irado deve ser evitado, para não passar além do que é justo e para que o filho não desconsidere a correção, pensando que se trata de um exagero devido à ira (Santo Afonso o diz expressamente).

Os pais devem proteger os filhos evitando todo tipo de pecado e sobretudo os relativos ao uso do matrimônio para que o demônio não seja atraído para a casa. Devem também usar os sacramentais para proteger a família: água benta, objetos abençoados, abençoando a casa…

Eis aqui, então, alguns deveres e direitos para que os pais eduquem bem os seus filhos. Claro, os filhos terão sempre o livre arbítrio e poderão escolher o mau caminho mesmo tendo recebido uma boa educação. Mas isso é relativamente raro. É preciso confiar em Deus.

Aquele que tiver educado bem os filhos neste mundo será dignamente recompensado.  Os pais se assemelham a Deus que por sua Revelação vai nos ensinando o que há de mais importante na nossa vida e nos conduz pela mão a fim de que possamos adorá-lo eternamente. Que os pais tenham na mente esse preceito de Cristo: “Deixai vir a mim as criancinhas” (Mc X, 14).

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Nota do editor: destaques são nossos.