[Sermão] A Ascensão do Senhor

Sermão para a Solenidade da Ascensão
12 de maio de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

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Se alguém ouviu falar em uma aparição de Nossa Senhora Aparecida aqui no Distrito Federal, por favor não se deixe enganar. O Padre responsável por isso abandonou a Igreja Católica, depois abandonou uma Igreja Ortodoxa, portanto cismática, e fundou sua própria religião, casando-se e divorciando-se várias vezes. O que acontece ali é obviamente algo puramente natural, não há nada de sobrenatural e não há nada de católico, apesar de Nossa Senhora Aparecida ser invocada para atrair e enganar os católicos. Mais uma vez, peço que não se deixem levar e enganar por essas supostas aparições recentes, que prejudicam as almas. (Nota do Editor: ver o sermão “A Armadilha das falsas aparições”)

Peço as orações de todos pelo Apostolado para que possa avançar materialmente e, sobretudo, espiritualmente.

Celebramos hoje a Solenidade da Ascensão. A Festa acontece sempre na quinta feira após o V Domingo depois da Páscoa, 40 dias depois da Páscoa. A Ascensão é festa de Preceito, mas como no Brasil não é feriado, não existe, para a Ascensão, a obrigação de ir à Missa na quinta-feira. Mas para que os fiéis não fiquem sem a graça própria do Mistério da Ascensão, a Igreja faz a solenidade no Domingo seguinte. A graça própria do Mistério da Ascensão está expressa na Coleta de hoje: que nós tenhamos nosso espírito já no céu, que nós possamos desejar o céu. Fazer a solenidade de Festas no Domingo não é algo tão recente quanto parece. Pelo menos desde o tempo de São Pio X há essa prática, depois que esse Santo Papa fez algumas mudanças no Calendário, tirando certas festas do Domingo. Foi permitido, então, fazer a solenidade delas no Domingo. A necessidade de fazer essas solenidades de festas de preceito surge com a prejudicial separação da Igreja e do Estado, fazendo que os feriados civis já não correspondam aos dias de preceito, prejudicando a prática da Religião.

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E o Senhor Jesus, depois que assim lhes falou, elevou-se ao céu, e está sentado à direita de Deus.

Nessa solenidade da Ascensão, caros católicos, devemos considerar a alegria que nos causa a Ascensão de Cristo, devemos considerar a importância dos 40 dias que Nosso Senhor passou na Terra depois da Ressurreição e devemos considerar a importância das últimas palavras de Cristo.

Como dissemos no último Domingo, caros católicos, a Ascensão do Senhor poderia parecer para nós motivo de tristeza, pois nos tira a presença física de Nosso Senhor. Ao contrário, porém, ela deve ser para nós motivo de grande alegria. Alegria pelo que a Ascensão significa para Cristo e alegria pelo que ela significa para nós.

Motivo de alegria pelo que a Ascensão significa para Cristo. Aqui na Terra foi condenado pelo tribunal dos homens, humilhado, tratado como um verme. Foi zombado pelos homens por ter atribuído a si a divindade e os atributos divinos. A Ascensão é a resposta de Nosso Senhor e da Santíssima Trindade. Aquele que é perseguido e humilhado por causa da justiça – e justiça quer dizer aqui santidade – será exaltado. Nosso Senhor ressuscitou e subiu aos céus por sua própria virtude, demonstrando a sua divindade. Ele sobe aos céus para sentar-se à direita do Pai. Como falamos, à direita, porque Nosso Senhor é também Deus como o Pai é Deus e como o Espírito Santo é Deus, nem inferior, nem superior, nem acima nem abaixo, mas à direita. As três pessoas são um só Deus. E ele está sentado. O estar sentado é a posição do soberano. Estar sentado à direita do Pai significa a realeza de Cristo, significa que ele detém o poder de governo, de legislador, de juiz. Nosso Senhor é rei imortal, rei das almas e das nações. Além disso, já não convinha ao corpo glorioso de Cristo habitar aqui embaixo. O corpo glorioso demanda uma habitação que corresponda à sua glória: o céu. Finalmente, com a Ascensão nós temos a certeza de que o sacrifício de Cristo na Cruz foi agradável a Deus. No Antigo Testamento, a aceitação do sacrifício era simbolizada pela fumaça que subia aos céus, dirigindo-se para Deus. No Novo Testamento, é a Ascensão de Nosso Senhor que manifesta a aceitação plena do sacrifício oferecido no Calvário. Com a Ascensão, a justiça está plenamente realizada. A obediência e a caridade infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo recebem a recompensa completa com a Ascensão. Só podemos nos alegrar com tal fato.

A Ascensão de Cristo também é para nós motivo de alegria pelos benefícios que nos traz. Motivo de alegria porque Nosso Senhor age, no céu, para aplicar os méritos infinitos adquiridos durante sua vida aqui na Terra, adquiridos sobretudo durante sua paixão e morte. Alegria porque Cristo, tendo subido aos céus, nos enviou o Espírito Santo, para ensinar toda a verdade aos Apóstolos e à Igreja, e para dar a força necessária para transmitir e viver essa verdade. A Ascensão do Senhor é motivo de alegria porque favorece as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. A Ascensão aumenta o mérito da nossa fé. Nossa fé tem muito mais valor com Cristo no céu do que se Ele estivesse entre nós fisicamente, pois a fé é daquilo que não se vê. A Ascensão aumenta nossa esperança, pois aumenta o nosso desejo do céu e nos dá a certeza de que, auxiliados com a graça divina, podemos chegar até o céu. Se a cabeça subiu ao céu, também os membros devem subir. Assim, se vivermos como bons católicos, seremos membros de Cristo e subiremos ao céu junto com Ele. E Nosso Senhor diz que vai preparar o nosso lugar na casa do Pai, o que é motivo de grande esperança. A Ascensão de Cristo aumenta também a caridade. Nosso coração, nosso amor se encontra onde está o nosso tesouro. Ora, nosso tesouro é Cristo, no qual se encontra a nossa salvação. Assim, a Ascensão nos faz amar as coisas do alto e os meios para alcançar as coisas do alto, que são os mandamentos e a fé católica e impede um amor muito terreno a nosso salvador. Grande deve ser, então, nossa alegria nesse dia da Ascensão do Senhor.

Consideremos, agora, brevemente a importância dos 40 dias entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor. Depois de sua Ressurreição, Nosso Senhor Jesus Cristo passou quarenta dias na terra, para provar por muitos meios sua Ressurreição e para falar aos apóstolos e discípulos sobre o reino de Deus, como nos diz São Lucas nos Atos dos apóstolos hoje (Atos I). Portanto, Nosso Senhor passou esses quarenta dias instruindo os apóstolos sobre as verdades de fé, sobre a Igreja e sua constituição hierárquica, sobre as Sagradas Escrituras. Foi nesse período que, muito provavelmente, Nosso Senhor instituiu quatro dos sete sacramentos: os sacramentos da confissão, da crisma, da extrema-unção, do matrimônio. Muito pouco do que Cristo ensinou nesses quarenta dias nos foi transmitido pela Sagrada Escritura. Como é óbvio, caros católicos, nem tudo o que Nosso Senhor ensinou está contido na Sagrada Escritura, ao contrário do que pretendem os protestantes. São João Evangelista diz que Jesus fez ainda muitas coisas que não foram escritas (São João XXI, 25). É a própria Sagrada Escritura que afirma que Cristo fez coisas que não estão contidas na Bíblia, mas que se transmitem pela Tradição. Quem lê a Sagrada Escritura com honestidade e reta intenção se dá conta dessa evidência. Esses quarenta dias que antecederam a Ascensão de Cristo e os ensinamentos do Divino Mestre nesse período com a instituição de quatro dos sete sacramentos são, então, importantíssimos para a nossa salvação.

Finalmente, podemos considerar brevemente as últimas palavras de Cristo antes de sua Ascensão. As últimas palavras de uma pessoa são o seu testamento espiritual, refletem o que tem de mais importante para essa pessoa. Nosso Senhor diz aos apóstolos “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo. O que, porém, não crer, será condenado.” Essas últimas palavras expressam aquilo que moveu Nosso Senhor durante toda a sua vida aqui na terra: o desejo de que as pessoas se salvem. Mas, para tanto, é preciso que o Evangelho seja pregado, que as pessoas tenham a fé, e uma fé viva, acompanhada das obras, da prática dos mandamentos. É preciso que elas sejam batizadas. É essa a finalidade da Igreja: pregar o Evangelho, transmitir a fé, administrar os sacramentos para levar as almas para o Céu. Diante disso, vale lembrar que começa hoje, no Brasil, a semana de oração para a unidade dos Cristãos. É preciso lembrar que como cantamos no Credo, a Igreja de Cristo, que é a Igreja Católica já é una: ela é una pela unidade da fé, pela unidade dos sacramentos e pela unidade de governo, sob o Santo Padre. A Igreja de Cristo, a Igreja Católica não perdeu nem pode perder a sua unidade. Aqueles que perdem a fé, que rejeitam a autoridade eclesiástica ou os meios de santificação dados por Cristo se afastam da Igreja de Cristo e de sua unidade. A unidade não consiste em estar juntos. A verdadeira unida se faz com a mesma fé, a mesma autoridade, os mesmos sacramentos. A unidade entre Cristãos que deve ser buscada é, na verdade, a volta de hereges e cismáticos à unidade da Igreja Católica. Rezemos, durante essa semana para que aqueles que estão afastados da Igreja Católica, que é a Igreja de Cristo, possam voltar ao único rebanho de Cristo, fora do qual não há salvação. Rezemos para que isso aconteça, nessa semana em que, infelizmente, alguns erros contra a fé serão cometidos em nome de uma unidade mal compreendida. Lembremo-nos das palavras de Nosso Senhor: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado, será salvo. O que, porém, não crer, será condenado.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] O Bom Pastor

Sermão para o Segundo Domingo depois da Páscoa
14 de abril de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

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Estamos hoje no Domingo do Bom Pastor. É a festa Patronal do Instituto de que faço parte, Instituto Bom Pastor. Peço que rezem pelo Instituto e por seus membros, padres e seminaristas, em particular pelo vosso servo que está aqui diante de vós.

Peço que rezem também na intenção de nosso apostolado aqui em Brasília.

E como estamos no Domingo do Bom Pastor, gostaria de lembrar que as Missas dominicais são cantadas pelo apostolado em Brasília, o que significa que elas são rezadas antes de tudo pelo bem das ovelhas, pelo bem da alma dos senhores, pelo bem da alma dos que têm ligação com esse apostolado. E isso desde o primeiro domingo que celebrei aqui.

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Ego sum Pastor Bonus.

PC-Shepherd

Eu sou o Bom Pastor. O Bom Pastor dá a sua vida pelas suas ovelhas.

Nosso Senhor Jesus Cristo recebe nas Sagradas Escrituras vários títulos. Ele é chamado de Deus, Senhor, Senhor dos senhores, Salvador, Rei, Mestre… No Evangelho de hoje Nosso Senhor se designa como o Bom Pastor. A figura do pastor sempre foi tida como nobre entre os judeus. E muitos foram os pastores no Antigo Testamento que prefiguraram Nosso Senhor, o Bom Pastor. O primeiro dos pastores foi Abel, que oferecia um sacrifício agradável a Deus.  Abraão também foi pastor, assim como Jacó e seus filhos. Moisés, sendo pastor do rebanho de seu sogro, viu Deus no monte Sinai. Também David antes de ser rei havia sido pastor e foi com as armas de um pastor que ele derrotou o gigante Golias. Mas pastor significa não somente aqueles que tomam conta dos animais, dando-lhes de comer, guiando-os e defendendo-os, mas também aqueles que governam o povo, quer dizer, os sacerdotes e os reis. O Senhor havia dito ao Rei David: “És tu que apascentarás meu povo e serás o chefe de Israel.”  E  do pagão Ciro, libertador dos judeus, o Senhor disse: “É meu pastor, executará em tudo a minha vontade.” Finalmente, o próprio Deus se designa como Pastor de seu povo, quando diz, por exemplo: “E vós, minhas ovelhas, o rebanho que apascento, vós sois homens. E eu sou o Senhor seu Deus.”

Nosso Senhor Jesus Cristo se designa, então, o Bom Pastor. O texto grego, literalmente traduzido nos diz o seguinte: Eu sou o Pastor, o Bom. Isso significa que Jesus Cristo afirma ser o pastor por excelência, o único pastor, do qual alguns são uma figura – os pastores do Antigo Testamento – e os outros uma participação – os pastores da nova e eterna aliança. Ao se afirmar como o pastor por excelência, Nosso Senhor atribui a si mesmo as boas qualidades próprias dos pastores do Antigo Testamento que acabamos de citar, mas também o sacerdócio supremo e a realeza suprema. E ao afirmar ser o pastor por excelência, Ele afirma a sua divindade, porque somente Deus é o Pastor por excelência, supremo, único, que governa todas as coisas. E Ele é o Bom Pastor, que dá a sua vida pelas suas ovelhas.

Não somente nos guiou ensinando-nos uma doutrina celestial e dando-nos o exemplo. Não somente nos defendeu contra os falsos pastores e doutores, contra os mercenários. Não somente nos alimentou, dando-nos graça em abundância. Não. A bondade de Nosso Senhor Jesus Cristo foi tanta que ele entregou sua própria vida para nos salvar, e a entregou quando ainda éramos pecadores. Ninguém a tirou, mas foi Ele quem deu a sua vida pelas ovelhas. Nosso Senhor poderia ter resistido aos seus inimigos e vencido com um sopro de sua boca, como mostrou no Jardim das Oliveiras, momentos antes de sua prisão pelos fariseus: Ele fez que seus inimigos caíssem por terra pela força de sua palavra. O Bom Pastor, porém, dá a vida pelas suas ovelhas, para salvá-las. Evidentemente, o pastor que cuida de animais, deve alimentá-los, guiá-los, defendê-los dos predadores, mas não deve jamais dar a sua vida por esses animais, pois a vida de um homem é muito superior ao bem de alguns animais. Todavia, o pastor de homens, os bispos, os padres, os governantes, os chefes de família, seguindo o exemplo de Cristo, devem dar a sua vida física pelo bem espiritual de seus súditos, porque o bem espiritual deles está muito acima do bem físico que é a vida do pastor.

A ovelha é o animal que mais requer a proteção do homem, tanto por seu instinto fraco quanto por sua incapacidade de se defender dos muitos inimigos a que está exposta. Para compensar tais deficiências ela é, por outro lado, extremamente dócil às ordens dadas pelo pastor. Se vemos hoje uma quantidade enorme de ovelhas mortas, que se perderam no caminho, ou que abandonaram o único rebanho de Cristo, isso se deve à falta de bons pastores, que não se espelham em Nosso Senhor, Bom Pastor por excelência, mas que agem como mercenários e ladrões. As ovelhas, abandonadas sem um bom pastor, terminam seguindo os lobos, seguindo qualquer ideologia, qualquer partido, qualquer seita, qualquer aparição. Daí a importância do pastor ser um bom pastor, porque as ovelhas vão segui-lo para o bem ou para o mal. O Bom Pastor dá a vida por suas ovelhas. E se ele não tem a oportunidade de morrer de fato por suas ovelhas, ele deve dar a sua vida por elas consagrando-se inteiramente ao serviço delas, ao bem delas. Para tanto, o Bom Pastor deve guiar suas ovelhas, ir adiante delas, defendê-las e alimentá-las.

Ele deve guiar as ovelhas ensinando com fidelidade extrema a verdade revelada por Deus, a exemplo de Cristo, que nos falou unicamente daquilo que Ele ouviu do Pai. Os pastores devem, então, guardar e transmitir com fidelidade extrema o depósito da fé, confiado por Nosso Senhor à sua Igreja. Os pastores devem transmitir aquilo que receberam de Cristo, dos Apóstolos e dos sucessores dos Apóstolos, sem novidades e desvios, sem alterar um só jota. É o mercenário, buscando seu bem próprio e não o bem das ovelhas, que as guia por caminhos tortuosos, ensinando não aquilo que recebeu de Deus, mas suas próprias invenções, vãs filosofias e ideologias. O Bom Pastor renuncia a si mesmo, para ser porta-voz fiel do ensinamento de Cristo e da Igreja.

O bom pastor, além de guiar as ovelhas, vai adiante delas. Porque ele não é como os fariseus mercenários que dizem e não fazem, impondo aos outros uma carga pesada que eles mesmos não suportam. O bom pastor, ao contrário, coloca sobre si mesmo e sobre suas ovelhas o jugo leve e suave da lei de Cristo, e ele vai adiante delas, praticando aquilo que ensina, assim como Nosso Senhor começou a fazer antes de ensinar e como nos diz São Pedro na Epístola de hoje: Ele nos deixou o exemplo para que sigamos seus passos. O bom pastor nos guia não somente pelas palavras, mas mostra o caminho a ser seguido também pelo seu exemplo.

O bom pastor, além de guiar a ovelhas e ir adiante delas, as defende, vigiando dia e noite para afastar os animais ferozes e os predadores, a exemplo de Davi, que defendia as ovelhas do rebanho de seu pai: quando vinha um leão ou um urso roubar uma ovelha do rebanho, diz Davi, eu o perseguia e o matava, tirando-lhe a ovelha da boca. E se ele se levantava contra mim, agarrava-o pela goela e estrangulava-o. Assim devem os pastores agir face ao inimigo, face ao mundo que quer tirar as ovelhas do único rebanho de Cristo, que é a Igreja Católica. Assim devem os pastores agir face aos falsos profetas que ensinam uma doutrina alheia à doutrina de Cristo, face aos mercenários que procuram unicamente o próprio bem e não o bem das ovelhas. O mercenário, preocupado unicamente com seu lucro, vendo os predadores e os inimigos, foge, deixando as ovelhas à mercê do lobo que as arrebata e as desgarra, quer dizer, que as conduz para fora do rebanho de Cristo ou lhe tira a vida da graça. Face ào mundo, face às falsas doutrinas, face ao aparicionismo, o mercenário foge, sem combater, ou fica, mas para aderir ao mundo.

Finalmente, o bom pastor alimenta suas ovelhas pela transmissão da graça, que se faz antes de tudo pela administração dos sacramentos, em particular pela eucaristia. Para tanto, o bom pastor deve ser instrumento agradável a Deus e dócil. Guiando, indo adiante de suas ovelhas, defendendo-as e alimentando-as, o bom pastor entregará inteiramente sua vida por suas ovelhas, buscando unicamente o bem espiritual delas. As ovelhas reconhecerão nesse bom pastor a voz de Nosso Senhor Jesus Cristo, assim como João Batista reconheceu Cristo pela voz de Nossa Senhora e como Maria Madalena reconheceu Cristo ressuscitado pela sua voz. As ovelhas de Cristo reconhecem a voz dEle.

O bom pastor tem o dever, além de cuidar das ovelhas que já pertencem ao rebanho de Cristo, de buscar as ovelhas que ainda não pertencem a tal aprisco, a fim de que haja um só rebanho e um só pastor. Ele deve então buscar essas ovelhas desgarradas, sem medir esforços, convertendo-as ao único rebanho de Cristo, que é a Igreja, una pela unidade da fé, de governo e de culto.

A tantas obrigações dos pastores corresponde a docilidade dos fiéis para com o bom pastor, a exemplo da docilidade das ovelhas quando são apascentadas. Nosso Senhor diz: eu conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem. As boas ovelhas devem, então, reconhecendo a voz de Cristo na boca dos bons pastores, conhecer o Salvador cada vez mais perfeitamente, e conhecê-Lo de um conhecimento não somente teórico, mas também prático, conhecendo sua doutrina, seu espírito, suas virtudes, unindo-se a Ele, imitando-o e estando pronto para sofrer por Ele.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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[Sermão/Carnaval] As ofensas ao Imaculado Coração de Maria

Sermão na Festa dos Sete Fundadores dos Servitas de Maria
11 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

A providência quis que passássemos esse Carnaval na companhia de Nossa Senhora. Ontem tivemos a festa de Lourdes, hoje temos a festa dos sete fundadores da ordem dos Servos de Maria, ordem que possui especial devoção a Nossa Senhora das Dores. Essas duas lembranças marianas durante esse período do carnaval são bem importantes. Consideremos ambas brevemente.

Nossa Senhora de Lourdes, como Nossa Senhora de Fátima depois dela, nos exorta à penitência. Lembro que devemos considerar com seriedade essas aparições aprovadas pela Igreja, ainda que não sejam matéria de fé e que, ao contrário, para o bem da nossa alma, devemos nos afastar de aparições não aprovadas, como todas as atuais. Nossa Senhora de Lourdes nos exorta, então, à penitência, como dizíamos. Essa penitência tem aqui dois sentidos, como já dissemos no advento, se vocês se lembram bem.  O primeiro e mais importante sentido é o de arrependimento pelos pecados, com verdadeira dor espiritual e o firme propósito de não mais voltar a pecar. Essa penitência leva a uma boa confissão. A irmã Lúcia, vidente de Fátima, escreveu: “muitos colocam o sentido da palavra penitência nas grandes austeridades… desanimando”. O principal sentido de penitência que Nossa Senhora quer e que Deus quer, e que devemos buscar,  nesse período de carnaval e na Quaresma que iniciará em breve, é a detestação dos nossos próprios pecados, com o propósito de não mais cometê-los.

Todavia, esse sentido de penitência não exclui a penitência no sentido de mortificação exterior, como satisfação pelos nossos próprios pecados e pelos pecados dos outros. Aliás, ao contrário, pois um verdadeiro arrependimento leva ao desejo de satisfação. É preciso que ofereçamos a Deus algo que possa ser agradável a Ele mais do que o pecado o ofendeu. Um dos meios de fazer isso são as mortificações exteriores unidas necessariamente ao sacrifício de Cristo, claro. Elas são necessárias para satisfazer pelo pecado, mas também para obter graças, vencer-se a si mesmo e para nos incorporar a Cristo, que é Cristo crucificado. E essas obras satisfatórias e meritórias nós podemos aplicá-las aos outros, em virtude do dogma da comunhão dos santos.

Consideremos brevemente, agora, Nossa Senhora das Dores. As sete espadas que transpassam o coração de Nossa Senhora das Dores remetem aos maiores sofrimentos dela durante sua vida, mas indicam também que ela foi, depois de seu Filho, a pessoa que mais sofreu nesse mundo, pois o número sete representa a plenitude. Nossa Senhora sofreu com os sofrimentos de seu Filho. Ela sofreu porque seu Coração é praticamente um só com o de seu Filho. Eles amam a mesma coisa: a glória de Deus. Eles repudiam a mesma coisa: o pecado. Assim, Nossa Senhora, ao ver seu Filho inocente sofrer pelo pecado, sofria junto com Ele, pela maldade dos homens. Quando se ofende o Filho, também a Mãe é ofendida. Portanto, pelos pecados do Carnaval, são os Corações de Jesus e Maria que são desprezados e ofendidos. Como se não bastasse ofender o Coração Amantíssimo de Nosso Salvador, também se ofende o Coração de Maria, nossa Mãe. Pois mãe é aquela que gera e, sem dúvida, é pela mediação de Nossa Senhora que somos gerados para a vida da graça. É por Ela que Cristo veio ao mundo, é por Ela que todas as graças passam, vindas do Sagrado Coração de Jesus. A graça é como a água. O Sagrado Coração de Jesus é a fonte. O Imaculado Coração de Maria é o aqueduto. Que tristeza: ofender o Coração de nossa Mãe, aquela que quer unicamente o nosso bem, a nossa salvação. Quanta ingratidão.

Sigamos o conselho de Nossa Senhora de Lourdes. Penitência como arrependimento e penitência como satisfação. Apliquemo-nos a não acrescentar mais espadas no Coração de Maria. E busquemos fazer nosso coração um só coração com o de Nossa Senhora e o de Nosso Senhor. É nisso que consiste nossa verdadeira felicidade.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A armadilha das falsas aparições

Sermão para o II Domingo depois da Epifania
20 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Deixo mais uma vez o texto do Santo Evangelho de hoje de lado – mas não o Evangelho – para tratar de assunto que importa muito para a salvação de nossas almas. Creio que seja evidente, para todos que possuem olhos para ver e ouvidos para ouvir, a crise de fé e de moral em que nos encontramos. Essa crise de fé não é só o abandono de uma ou mais verdades de fé, mas é também o desconhecimento do que é a virtude teologal da fé. A fé, como já dissemos em outra oportunidade (clique neste link para ver sermão anterior), é a adesão da inteligência às verdades reveladas por Deus, em virtude da autoridade divina que não pode se enganar nem nos enganar.

O abandono da verdadeira noção de fé tem levado muitos católicos a um erro contra a fé que é a excessiva credulidade em revelações privadas. A excessiva credulidade consiste em aderir com demasiada facilidade e sem fundamento suficiente a manifestações, profecias ou mensagens de alguém que diz ser favorecido por aparições e revelações privadas. Infelizmente, no Brasil e também no mundo, essas aparições e a crença das pessoas nelas têm se espalhado muitíssimo, com grande prejuízo para as almas.

Antes de tudo, é preciso dizer que toda a verdade necessária para a nossa salvação foi revelada por Nosso Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito Santo aos Apóstolos. A Revelação Pública, quer dizer, aquela em que todos somos obrigados a crer para nos salvar, se encerra com a morte de São João Evangelista, o último apóstolo a morrer. Não há nada que a Igreja ensine como divinamente revelado que já não esteja contido nesse depósito confiado aos apóstolos. Nós temos a obrigação de crer na Revelação feita aos apóstolos e transmitida, defendida, explicada até nossos dias pela Santa Igreja Católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quanto às revelações privadas, feitas a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, elas não são necessárias para a nossa salvação e não temos nenhuma obrigação de acreditar nelas.

Em 13 de outubro de 1930, pela Carta Pastoral "A Divina Providência", o Bispo de Leiria declara "dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria" e permite oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima.

Videntes de Fátima. [Em 13 de outubro de 1930, pela Carta Pastoral “A Divina Providência”, o Bispo de Leiria declara “dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria” e permite oficialmente o culto de Nossa Senhora de Fátima.]

É preciso, porém, distinguir entre as aparições aprovadas pela autoridade hierárquica da Igreja e as que não são aprovadas. Quanto às aparições que são aprovadas pela Igreja, como, por exemplo, Lourdes, Fátima, Nosso Senhora das Graças, Nossa Senhora de Guadalupe, seria muito orgulho e temerário rechaçá-lasA Igreja as examinou com rigor, a fim de estabelecer a sobrenaturalidade dos acontecimentos. Ela constatou que não há nada que se opõe à fé ou à moral. As aparições devidamente aprovadas pela autoridade hierárquica da Igreja não pertencem ao depósito da fé, mas devem ser consideradas com seriedade e respeito, em particular seguindo os conselhos dados por Nossa Senhora, que são, evidentemente, para o nosso bem espiritual.

Outro é o caso das aparições que não são devidamente aprovadas. Seguir uma aparição que não foi devidamente julgada pela Igreja segundo os critérios tradicionais, pode representar um perigo para a alma. Esse exame rigoroso cabe ao Bispo e à Santa Sé. Não cabe a nós dizer se uma aparição é verdadeira. Não temos elementos para julgar.

Por outro lado, não é tão difícil reconhecer uma aparição falsa.

O primeiro critério para julgar uma aparição diz respeito à pessoa favorecida pela aparição. Deus poderia aparecer e fazer uma revelação privada a um pecador, sem dúvida. Todavia, quase sempre uma verdadeira aparição se faz a alguém que não somente é fervoroso, mas que já se encontra muito avançado no caminho da perfeição. E isso condiz com a sabedoria divina. Alguém que fosse favorecido por uma revelação, sendo ainda imperfeito espiritualmente, ficaria, muito provavelmente, cheio de si e orgulhoso. Ao contrário, uma verdadeira revelação favorece a santidade e, portanto, a humildade.

Além disso, a Igreja considera as qualidades da pessoa favorecida. A Igreja considera as qualidades naturais quanto ao temperamento, quanto à sua saúde mental, a fim de saber se a pessoa não tem propensão a alucinações, à autossugestão e coisas do gênero. A Igreja considera também a sinceridade da pessoa, para saber se ela não tem tendência em aumentar a verdade ou simplesmente inventar fatos. A Igreja considera igualmente as qualidades sobrenaturais. É uma pessoa de virtude sólida ou não? Sua humildade é profunda ou ela gosta de aparecer e de contar aos outros os favores que recebeu? Ela segue os conselhos da autoridade eclesiástica com docilidade ou age por conta própria? A Igreja considera também os frutos da aparição. Houve melhoria nas virtudes, nos costumes daqueles favorecidos pelas aparições e mensagens? Todos esses fatores permitirão um juízo correto da aparição.

O critério mais importante, todavia, para julgar uma aparição, é o acordo ou o desacordo com a doutrina e moral católicas. Se a doutrina ou moral católicas são contrariadas, não há a menor dúvida: a aparição é falsa. Se a doutrina católica não é contrariada, é preciso analisar os outros aspectos.

É indispensável a aprovação da autoridade competente feita depois de exame segundo os critérios tradicionais, pois uma aparição que não foi aprovada pode ser obra humana, mas pode também ser obra do demônio. E, normalmente, quem deseja ser favorecido por graças extraordinárias, como o são as aparições, termina tendo aparições, mas que não encontram sua origem em Deus. São notórias aparições do demônio sob a aparência de Nosso Senhor, de Nosso Senhora ou de Santos. Isso ocorreu algumas vezes com o Padre Pio, por exemplo. É também notório que o demônio faz prodígios e fenômenos extraordinários – que não são em nenhuma hipótese milagres – para tentar legitimar falsas aparições. 

Hoje, temos várias aparições por todo o Brasil e no mundo que não possuem aprovação eclesiástica e muitas – praticamente todas – não terão jamais, pois se opõem à doutrina católica. O problema é que muitos têm seguido essas aparições e mensagens, com prejuízo para as suas almas.

Muitas dessas aparições são apocalípticas, condenando aqueles que não acreditam nelas. Isso é mau sinal, muito mau sinal. Acabamos de dizer que não é necessário crer em aparições privadas para se salvar. Por que nos condenaríamos se não acreditamos em aparições que nem aprovação eclesiástica possuem?

Quanto ao fim dos tempos, nós não sabemos nem o dia nem a hora. Teremos, porém, sinais que nos permitirão reconhecer que ele está próximo: a conversão dos judeus, a apostasia, certos desastres, etc. Ainda assim, não saberemos o quanto o final dos tempos estará próximo. Não creio que sejam necessárias aparições que prevejam o fim iminente do mundo e não creio que isso esteja de acordo com a doutrina católica.

Além disso, essas aparições contêm em si, muitas vezes, uma oposição à análise da hierarquia ou afirmam que não se deve confiar no juízo da hierarquia. Ora, uma verdadeira aparição nunca pode se opor ao juízo da hierarquia, pois isso seria uma contradição em Deus, que estabeleceu a hierarquia, mas ao mesmo tempo pediria para que não se submetesse a ela. Ao contrário, a completa submissão à hierarquia estabelecida por Cristo é indispensável em uma verdadeira aparição. Nossa Senhora mostra isso claramente em Lourdes. É somente depois da proclamação do dogma da Imaculada Conceição que ela aparece dizendo ser a Imaculada Conceição. Ela não o faz antes, a fim de não tomar o lugar do Magistério da Igreja. A docilidade ao exame da autoridade competente está completamente ausente nessas aparições, em que os supostamente favorecidos querem justamente aparecer como favorecidos por Deus e Nossa Senhora, como filhos prediletos deles.

Vale também destacar que algumas dessas aparições têm um caráter mais sério no que toca à liturgia ou no que toca à castidade e à modéstia, por exemplo. Mas isso é simplesmente para enganar os incautos. O demônio, ao perceber que muitos buscam maior seriedade nesses pontos, lhes concede isso, mas os desviam por meio de supostas aparições, sejam elas pura invenção humana, sejam elas obras suas.

Poderíamos continuar aqui citando argumentos contra essas aparições que surgem por toda a parte: no sul do Brasil, aqui no Distrito Federal, em Goiás, no interior de São Paulo e em muitos outros lugares

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Videntes de Medjugorje [Nota: os bispos da Diocese de Mostar-Duvno sempre desaprovaram as aparições: “non constat de supernaturalitate”, conforme declaração da Conferência dos Bispos da Iugoslávia, de 1991.]

É preciso dizer: também a aparição de Medjugorje não tem aprovação nenhuma. Ao contrário, os Bispos do local sempre se opuseram. Pode até ser que alguma alma mude de vida em virtude dessas coisas, mas é porque Deus pode tirar de um mal um bem. Eu dou um conselho para o bem de vossas almas: não sigam essas aparições, não sigam essas mensagens.

Eu dizia, no começo do sermão, que essa moda aparicionista e que a credulidade excessiva têm sua origem em uma falsa noção de fé, na falta de fé sólida. Vejamos o que diz São João da Cruz. O Santo diz diz que o desejo de revelações tira a pureza da fé, desenvolve uma curiosidade perigosa que é fonte de ilusões e que confunde o espírito com imaginações vãs. Continua o Santo dizendo que esse desejo de revelações denota, com frequência, falta de humildade e falta de submissão a Nosso Senhor, que, por meio da revelação pública, feita aos apóstolos, já nos deu tudo o que precisamos para chegar ao céu.

Não devemos basear nossa vida espiritual em aparições não aprovadas. Isso é contra a fé, é o erro da credulidade excessiva. Não caiam na armadilha dessas aparições e se já seguem alguma, deixem-na. No lugar de buscá-las, devemos procurar conhecer melhor aquelas que são plenamente aprovadas (Fátima, Lourdes, etc) e conhecer cada vez melhor nossa fé, estudando o catecismo e a doutrina católica e colocando-a em prática.

Gostaria de dirigir agora algumas palavras à prezada Maria Clara, que vai receber o Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo pela primeira vez. (…)

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Notas do Editor

  •  A continuação do sermão (Exortação para Primeira Comunhão) encontra-se em post já publicado.
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