[Sermão] A visita dos Reis Magos ao Menino Deus

Sermão para a a Festa da Epifania
06 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Encontraram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se, o adoraram, e abrindo seus tesouros, lhe ofereceram presentes.”

A Festa da Epifania ou do dia de Reis está entre as mais importantes do ano litúrgico, caros católicos, ao lado do Natal e da Páscoa, sobretudo porque ela contém em germe a vocação dos gentios e porque era a Festa da Realeza de Cristo – antes da criação da Festa de Cristo Rei – dado que os Reis Magos foram adorar o Rei dos Judeus. A visita dos Reis Magos ao Menino Deus é de uma riqueza espiritual incomparável.

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Fra Angelico

Antes de tudo, vale destacar que é São Mateus que conta a adoração dos Magos. Ora, a finalidade de São Mateus ao escrever seu Evangelho é converter os judeus, mostrando que Nosso Senhor Jesus Cristo era o Messias prometido. Para atingir o seu objetivo, São Mateus mostra que Cristo cumpriu todas as profecias a respeito do Messias. Na adoração dos magos, várias são as profecias que se cumprem.

Primeiramente, se cumpre a profecia feita por Balaão de que uma estrela sairia de Jacó e que um cetro se levantaria em Israel (Num XXIV, 17). Essa profecia de Balaão era bem conhecida entre os pagãos, pois Balaão era um pagão. A estrela profetizada por Balaão é a estrela que guia os Magos, o cetro que se levanta em Israel é o novo Rei que nasce.

Em seguida, se cumpre a profecia de que o Messias deveria vir quando o povo judeu fosse governado por um estrangeiro (Gen. IV, 9). Sendo o rei Herodes um estrangeiro da região da Iduméia, o tempo para a vinda do Messias havia chegado.

A próxima profecia que se cumpre é a de Miquéias, que indica o nascimento do Messias em Belém. Eis a profecia, que acabamos de cantar no Evangelho: “Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as cidades de Judá, é de ti que sairá aquele que é chamado a governar Israel”.

Como nos mostra o Evangelho de hoje, os escribas e os príncipes dos fariseus conheciam perfeitamente essa profecia e, podemos supor, com acerto, que conheciam também as outras. Finalmente, na adoração dos magos, cumpre-se também a profecia de que os Reis da Arábia e de Sabá trariam presentes ao Messias: ouro, incenso… como vemos no texto de Isaías (Sal. 51, 10 e Isa. 60, 6). Para os Judeus, naquela época a Arábia não se reduzia ao que é hoje, mas se estendia também ao oriente da Judéia. Com tantas profecias cumpridas, não há lugar para a menor dúvida: é o Messias que acaba de nascer, o novo Rei dos Judeus.

Os Magos, ao verem aquela estrela surgir, sabiam, pela profecia e por revelação divina, que se tratava do nascimento do novo Rei dos Judeus. Mago, no oriente antigo, significa a mesma coisa que sábio na Roma Antiga, filósofo na Grécia, ou escriba em Israel. Portanto, os Magos não eram astrólogos, nem adivinhadores, nem feiticeiros. A graça de serem os primeiros gentios a adorarem Cristo não poderia ser dada a adoradores do demônio, como o são os astrólogos, os adivinhadores, os feiticeiros. Era comum naquela época, que os sábios fossem também governantes, ao menos de uma parcela do povo. Por isso, são chamados de Reis Magos. Os magos eram, então, sábios, que praticavam a lei natural e cultivavam as ciências, em particular a astronomia. Sabiam, então, auxiliados pela graça, que a estrela que surgiu era a estrela do Messias, como eles mesmos dizem: “vimos sua estrela no Oriente”. Os Reis Magos sabiam que não se tratava de um fenômeno natural, mas de uma estrela milagrosa, a estrela anunciada pela profecia.

Seguindo a estrela, os Reis Magos chegam a Jerusalém, a fim de perguntar ao rei Herodes onde está o Rei dos Judeus que nasceu. A estrela desaparece nesse momento. Aqui os reis Magos dão uma lição de fortaleza e coragem que devemos seguir. Vejamos.

Os reis magos conheciam Herodes e sua crueldade para com quem ameaçasse o seu trono. Herodes já havia matado inclusive filhos, a fim de assegurar o trono. Ao perguntar a Herodes onde está o rei dos Judeus, eles não temem colocar em perigo a própria vida, a fim de servir a Deus. Os Reis Magos ainda nem viram a criança e já estão dispostos a dar a vida por ela. Ainda nem conhecem Nosso Senhor, mas não temem nada para servi-lo. É evidente que, ao perguntarem a Herodes onde está o Rei dos Judeus que nasceu, correm risco de vida, pois Herodes não admitiria outro rei. É essa coragem dos Reis Magos que devemos ter: servir o Rei dos Reis sem recear os reis desse mundo. Herodes e toda a cidade de Jerusalém temeram. O primeiro temeu, achando que o Rei da Glória eterna lhe tiraria o trono terrestre. Jerusalém temeu pela eventual reação cruel do rei, mas também porque muitos dos judeus não estavam preparados para receber o Messias, como ficará evidente no momento da paixão e morte de Cristo. Todos sabiam, pelas profecias, que o nascimento do Messias ocorreria naqueles tempos. Os escribas sabem exatamente onde ele vai nascer. A própria presença dos Magos é mais uma prova de que o Messias já nasceu. Não há desculpa de ignorância. Os judeus e, em particular, os escribas e os príncipes dos sacerdotes, sabem que o Messias nasceu, mas não querem ir adorá-lo. Quantos católicos procedem da mesma forma? Conhecem a doutrina católica, conhecem sua moral, mas não praticam a religião por medo, medo de abandonar seus pecados e gostos, medo de entregar-se inteiramente a Deus, medo de entregar tudo a Deus, como o fizeram os Reis Magos.

Os Reis Magos prosseguem, então, até Belém, tendo a estrela novamente por guia. Ao vê-la, novamente, se alegram de uma alegria enorme. A tristeza dos Magos pela indiferença dos judeus é compensada pelo auxílio divino significado na estrela. E, finalmente, eles encontram o Menino Rei e sua Mãe, Maria, provavelmente, ainda no estábulo, a palavra casa podendo designar o estábulo. Eles encontram Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Onde está um, lá está também o outro. São José não estava presente, a fim de deixar claro que a criança não tem pai humano. Os reis magos encontram um bebê, enrolado em panos, incapaz de falar, em local muito pobre, sem bens. E o que fazem? Prostram-se, adoram e abrem seus tesouros. Quer dizer, entregam tudo ao Menino Jesus porque sabem que Ele é Deus. Eles se prostram. Prostrar-se é um gesto do nosso corpo e ao fazê-lo, eles entregam todo o corpo, saúde, sofrimentos físicos ao Menino Jesus. Eles o adoram. Adorar é um ato da alma. Ao adorar, eles entregam toda a alma ao Menino Jesus, entregam a inteligência e a vontade, as tristezas e as alegrias. Finalmente, eles abrem seus tesouros, entregando ao Menino Jesus todos os bens materiais que possuem. E esses presentes são uma verdadeira confissão de fé. Pelo ouro, eles confessam a realeza de Cristo. O ouro, sendo o mais nobre dos metais deve ser dado como presente às pessoas mais nobres, aos reis. Pelo incenso, eles confessam a divindade de Cristo. O incenso só podia ser oferecido à divindade. Por isso, tantos Cristãos foram martirizados por não quererem queimar um grão de incenso aos ídolos. Mas Cristo é Deus, e deve receber o incenso. Pela mirra, eles confessam a humanidade de Cristo e sua futura paixão e morte. A mirra era usada para perfumar os corpos dos mortos. Eis uma confissão de fé esplêndida que os chefes dos judeus não quiseram fazer: Cristo é Homem, Deus e Rei. Além disso, os reis Magos, sendo três, com os nomes de Gaspar, Melchior e Baltasar, segundo a tradição mais segura, já indicam a Trindade de Pessoas em Deus.

Cristo chama, então, para a sua Igreja os judeus e os pagãos. Havíamos visto, no Natal, que o anjo anuncia o nascimento de Cristo a alguns pastores judeus. Hoje, na Epifania, os primeiros gentios são chamados a se converter a Cristo. Devemos seguir o exemplo dos reis Magos, nossos pais na fé. Devemos confessar que Cristo é Homem e Deus e que Ele é Rei de nossas almas e das nações. Devemos, como os reis Magos, entregar tudo o que temos a Cristo: nosso corpo, nossa alma, nossos bens. Devemos também entregar a Cristo o ouro das boas obras, o incenso da oração e a mirra da mortificação e da penitência. Devemos como os reis Magos estar dispostos a dar nossa vida por Nosso Senhor Jesus Cristo. Eles ainda nem o conheciam e estavam prontos para morrer pelo Menino Jesus. Nós o conhecemos e sabemos tudo o que ele fez, e tudo o que fez por nós. Peçamos a Maria Santíssima, que está sempre com Cristo, a coragem de servir o Rei dos Reis, sem temer os reis desse mundo, sem temer os sofrimentos. É Maria que nos conduz a Cristo. É Maria a estrela que nos conduz a Cristo. É ela a estrela da manhã e a estrela do mar.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.