Atenção! Na quinta-feira, dia 21/04, feriado, a Santa Missa será celebrada às 8h30 da manhã (e não no outro horário divulgado no calendário).
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Solenidade de Corpus Christi (7/6/12)
Fotos da Santa Missa, Procissão e Benção do Santíssimo na capela do Instituto Bíblico, em 7 de junho de 2012, na festa de Corpus Christi. A procissão passou por pequeno trecho da via L2 Norte, uma das principais vias da cidade.
* Agradecimento ao Sr. Leonardo que nos cedeu gentilmente algumas de suas fotos.
II Domingo do Advento
Missa às 17h, Capela do Instituto Bíblico de Brasília,
(Foto: agradecemos ao leitor Marcos M. pelo envio da foto acima da missa rezada no domingo passado.)
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TEXTO PARA MEDITAÇÃO
(retirado do site São Pio V)
Razão e Revelação
Lendo com atenção o Evangelho de hoje, notamos que ele é a expressão de certa inquietação.
Os discípulos de João Batista querem saber se Jesus é o Messias esperado ou se devem esperar por outro.
Jesus responde a estas dúvidas, mostrando as suas obras, para que o julguem conforme estas obras.
Domingo passado, provamos a existência de Deus: hoje demos mais um passo avante e respondamos à mesma inquietação que nos invade a respeito de Deus.
Deus existe: é certo, mas podemos nós pelas luzes da nossa razão conhecê-lo plenamente, ou precisamos de outra luz para penetrar os seus aparentes segredos?
Resolvamos esta dúvida examinando:
– O que pode a razão humana
– O que não pode por si mesma
Será um duplo raio de luz lançado sobre o grande mistério da união da razão e da revelação.
I. O que pode a razão humana
A nossa razão pode dar-nos umas noções sobre Deus, porém, muito limitadas e incompletas.
A nossa razão é muito limitada. Ela é para as coisas intelectuais o que é o nosso olhar para as coisas materiais: vê apenas certas coisas e não perscruta nada até no fundo.
A nossa razão é finita: Deus é infinito, de modo que podemos ver apenas o que está ao nosso alcance, todo o resto nos escapa.
Remontando da sua própria existência e da das criaturas, a nossa razão pode conhecer a existência de Deus, o seu poder criador; e refletindo, pode formar-se uma idéia de certos atributos de Deus, como a sua unidade, sua eternidade, sua justiça, bondade, etc.
Temos, pois, uma idéia de Deus; e notemos que tal idéia é já uma prova da existência de Deus, pois o homem é incapaz de ter a idéia de uma coisa inexistente, em partes ou em seu todo.
Deus assim concebido permanece, entretanto, um ser incompreensível, misterioso:
a) em sua natureza, que ultrapassa infinitamente toda natureza criada;
b) em suas perfeições, que incluem todas as perfeições;
c) em seus decretos que são impenetráveis;
d) em suas obras que o manifestam, mas não o mostram senão velado, misterioso.
A nossa razão precisa, pois, de um auxílio, que lhe permita penetrar mais no fundo das verdades entrevistas, do mesmo modo como a nossa vista para enxergar o que ultrapassa o seu raio visual, precisa de um instrumento para penetrar além
O olho nu vê certas coisas, com um binóculo vê mais longe; com uma longa vista penetra mais além ainda.
Este auxílio, este instrumento que nos permite ver mais longe, mais claramente, chama-se revelação divina, ou a voz de Deus, explicando-nos o que não compreendemos.
II. O que não pode a razão humana
A razão, como acabamos de ver, tem o seu círculo visual determinado e limitado. Existência de Deus, imortalidade da alma, princípios da lei natural: eis o seu horizonte.
Para conhecer as verdades de ordem sobrenatural, a razão precisa absolutamente de uma voz reveladora e esta voz chama-se: a revelação.
Deus, diz o Apóstolo, tendo falado outrora muitas vezes e de muitos modos a nossos pais pelos profetas, ultimamente, nestes dias, falou-nos por meio de seu Filho (Hebr. I. 1-2).
Esta voz de Jesus Cristo ensinando-nos a verdade é o caminho sobrenatural, um como complemento do caminho natural da razão.
Há, sobretudo, três verdades importantes que a nossa razão não pode conhecer, são:
A origem das misérias humanas.
Os meios de expiação.
Os destinos futuros do homem.
Para estas verdades a revelação é absolutamente necessária.
Ela é moralmente necessária para serem conhecidos e com certeza os preceitos da lei natural, que devem guiar a nossa vida e os quais a razão pode apenas distinguir vagamente.
Antes do pecado original, os nossos primeiros pais conheciam perfeitamente o bem e o mal; depois do pecado, a razão humana ficou obscurecida, enfraquecida e como paralisada pelas paixões que nos dominam, falsificam a nossa vista intelectual e nos fazem tomar o mal pelo bem e o bem pelo mal, como dizia o Apóstolo: O homem faz às vezes o mal que não quer e não faz o bem que quer. (Rom. VII. 19).
É um fato de experiência que um povo sem sacerdotes para instruí-lo e exortá-lo cai inevitavelmente na ignorância das verdades da ordem natural.
É preciso que os princípios da lei natural lhe sejam, vez ou outra, claramente formulados, freqüentemente repetidos e incutidos com vigor, senão, em breve, ficam alterados ou esquecidos.
“Deixem uma paróquia sem sacerdote, dizia o santo Cura d’Ars, durante vinte anos, os seus habitantes adorarão os animais!”.
O povo precisa ser instruído até nos princípios da lei natural; com quanto mais razão nos da lei sobrenatural.
III. Conclusão
Eis, pois, duas verdades bem esclarecidas: a nossa razão enfraquecida pode conhecer a existência de Deus e umas outras verdades elementares, porém, tudo bastante superficialmente; para um conhecimento total, sobrenatural, precisamos do auxílio da revelação divina.
As conseqüências desta revelação em nossa razão são imensas e admiráveis.
É a revelação que reforma as idéias falsas, retifica as idéias inexatas, esclarece as idéias confusas, tornando impossíveis a inquietação e a dúvida.
A razão nos mostra que a alma é incorruptível; a fé nos diz que é imortal.
A razão indica uma vida futura; a fé nos dá uma promessa positiva da mesma.
A razão entrevê recompensas e castigos; a fé nos mostra a sua extensão e natureza
A razão vislumbra um destino futuro; a fé no-lo apresenta luminoso e indica os meios de adquiri-lo.
A razão nos esmaga sob o peso de nossas misérias; a fé nos levanta pela misericórdia divina.
Em suma: A revelação satisfaz todas as aspirações do homem:
O nosso espírito precisa de uma doutrina certa: a revelação lha dá.
Ele precisa de um código moral: a revelação lho fornece.
Ele precisa de uma lei social de caridade: a revelação lha ministra.
Ele precisa de conselhos de perfeição: a revelação lhos dá.
(Leia mais em: http://www.saopiov.org/2011/12/segundo-domingo-do-advento.html#ixzz1fWp3eWkU)
(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 25 – 30)
Haverá Santa Missa
Informo que hoje, quinta-feira, e amanhã, primeira sexta-feiria de novembro, haverá Santa Missa às 19H30, no IBB.
Salve Maria Santíssima!
Cleber
Missa dos Fiéis Defuntos
Informo que nesta quarta-feira, dia de finados, haverá Santa Missa no IBB, Instituto Bíblico de Brasília, às 10H00.
Cleber
Amanhã, Missa em honra à Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil
A santa Missa será rezada no IBB, às 10h.
A terrível justiça divina para com um pervertido Arcebispo
Na cidade de Magdeburgo, que é metropolitana no ducado de Saxônia, cursava as escolas um estudante por nome Udo, de tão curta capacidade para as letras, a que suposto aplicava da sua parte o trabalho e diligência, não tirava daqui mais fruto que mofa e zombaria dos condiscípulos, enfado dos mestres e aflição do próprio espírito. Um dia que estas o apertou mais, entrou na Sé daquela cidade, que é dedicada a Deus em honra do ínclito capitão S. Maurício Mártir e de toda a sua Legião Tebeia; e, ali prostrado em oração fervente, rogou à Virgem Santíssima Nossa Senhora, e ao mesmo S. Maurício, lhe alcançassem de Deus luz no entendimento para os estudos. Adormeceu, e ali em sonhos lhe apareceu a mesma Senhora e lhe disse: Ouvi tua oração, e não só te concede meu Bendito Filho o talento das letras, senão que por elas subirás a ser bispo desta igreja, por morte do que agora governa. Se acudires fielmente às obrigações deste ofício, será grande o teu prêmio; porém; se fores negligente será grande o teu castigo.
Desapareceu a visão; acordou Udo, e, desde aquela hora, não teve dificuldade em coisa alguma que estudasse. Foi o seguinte dia às escolas, e começou a dar tão boa conta de si, que seus condiscípulos, admirados, diziam: Não é este Udo, de quem há pouco nos riamos? Como tão brevemente se fez tão excelente filósofo? Na mesma admiração estava o mestre, ponderando a capacidade rara com que compreendia as matérias, a agudeza rara com que penetrava as dificuldades, a destreza e facilidade com que as soltava, e a retentiva com que tudo o que lia e ouvia lhe ficava como gravada na memória. Finalmente, ganhou nome tão famoso em poucos anos, que vagando aquele Arcebispado, foi eleito nele por comum aplauso do povo.
Colocado, pois, na cadeira arcebispal, procedeu louvávelmente aos princípios. Porém, como ofícios grandes costumam mudar os procedimentos da pessoa que não está fundada em sólidas virtudes, foi pouco a pouco esquecendo-se de suas obrigações, e entregando-se a vícios, de tal sorte que mais parecia lobo que entrava no aprisco a degolar o rebanho de Cristo, do que pastor para o apascentar e defender. Deu-se particularmente ao vício da sensualidade, tão sem freio do temor de Deus e do escândalo do povo, que não havia mulher casada, nem donzela, segura de sua insaciável torpeza. E como era rico e poderoso, e com muitos dependentes da sua mão, ninguém se atrevia a impedi-lo nem a repreendê-lo. Fez com isto mais profundo o seu pecado, e desmandou-se a solicitar religiosas; e tirou de um mosteiro a abadessa, com a qual publicamente vivia amancebado. Quem esperara tal desatino de um homem letrado, tal desenvoltura de um prelado eclesiástico, tal ingratidão de um sujeito tão obrigado à Virgem? Porém, o vício da carne cega muito a luz do espírito: também Salomão era sábio; também como rei devia dar bom exemplo; também, como devedor do benefício da sabedoria, devia honrar e servir a Deus, que lha concedera.
Quis o Senhor piedosíssimo justificar mais a sua causa, primeiro que descarregasse o golpe: e assim lhe faz três como admoestações canônicas. Estando Udo uma noite com aquela concubina à ilharga, ouviu uma voz que dizia: Cessa de ludo, quia lusisti satis Udo: Cessa já de jogar, Udo, porque tens jogado muito. Fez o miserável pouco caso disto, e ficou jazendo no seu pecado. Na seguinte noite teve na mesma forma o mesmo aviso, e também o desprezou; porque o Demônio, que estava mui acastelado na sua alma com posse pacífica, logo lhe divertia o pensamento, e com fazer-lhe repetir o pecado, se iam embastecendo mais as suas trevas interiores. Na terceira noite ouviu a mesma voz, muito mais terrível e espantosa. Começou a temer e ansiar-se; porém, brevemente se tornou a quietar na falsa paz de sua cauterizada consciência. Converteu, pois, Deus a sua justiça em juízo, e dirigiu este na forma seguinte.
Um cônego daquela Sé, varão de muita oração e virtudes (que sem aquela, mal poderia ter estas), ficou na igreja uma noite depois de matinas, encomendando a Deus Nosso Senhor este negócio: e lhe pediu com vivas lágrimas e gemidos, que, ou sua Majestade abrandasse o empedernido coração de Udo, ou, quando ele não se quisesse converter, lhe tirasse a vida, e o castigasse, para cessarem os escândalos, que cada dia eram maiores. Neste tempo, entrou na igreja um grande-pé-de-vento, apagou todas as lâmpadas. Temeu o cônego, e se lhe arrepiaram os cabelos; mas voltando-se para Deus e pedindo-lhe ânimo, se recobrou, e viu este admirável espetáculo.
Entraram na Igreja emparelhados dois mancebos de extremada galhardia, com tochas acesas nas mãos, de claridade superior à que costuma na Terra; e fazendo profunda reverência ao altar-mor, se puseram em pé, um a um lado e outro a outro. Entraram logo outros quatro: dois deles com alcatifas preciosíssimas, que estenderam no pavimento da capela, e dois com cadeiras de ouro, que colocaram em cima, uma a par da outra. Vieram depois doze veneráveis personagens, de tão respeitoso aspecto, que cada qual parecia imperador do mundo: porém, no meio deles parecia outro Senhor incomparavelmente mais majestoso, com coroa de ouro na cabeça e cetro na mão: era Cristo Salvador Nosso, e aqueles seus Sagrados Apóstolos; os quais, dividindo-se a uma e outra parte, lhe fizeram uma reverência, e o Senhor se sentou numa das cadeiras. Entrou logo a Rainha do Céu, Maria Santíssima Senhora nossa, com numerosa comunidade de Virgens e Mártires; e feita reverência ao Senhor, tomou a outra cadeira.
O cônego, lá desde o seu cantinho, estava embebido em admirações, mas desperto, esperando que ação se representaria digna de tão aparatoso teatro. Quando vê que entra S. Maurício, patrão daquele templo, com toda a triunfante legião dos Mártires seus companheiros (que dizem foram 6 666), todos coroados de luz e ornados de decoro e majestade; e feita adoração ao Rei e outra à Rainha das Alturas, se dispuseram por todo aquele âmbito em bem ordenadas fileiras. Eis que entra outro formosíssimo mancebo de galharda estatura, armado de ponto em branco, com espada nua e reluzente na mão, como pintam a Justiça; e depois de feita a semelhante adoração com os joelhos em terra, se pôs no meio, e levantando a voz, lançou este pregão: Todos os Santos, cujas relíquias aqui se conservam, levantai-vos e vinde a este juízo. Imediatamente apareceu ali uma grande multidão de Santos, Mártires, Virgens, confessores e doutores, que, postos também por sua ordem, enobreceram mais aquele ilustríssimo conclave.
Saiu então o capitão S. Maurício, dando-se por autor naquela causa; e proclamou, dizendo: Retíssimo Juiz, tempo é de que vossa soberana Majestade faça justiça. Mandou então o Senhor que lhe trouxessem ali a Udo; voaram logo uns Anjos, e tirando-o da ilharga da concubina, com quem estava abraçado, o puseram na presença de Cristo, no meio de todo aquele concurso, com tal confusão do miserável, que não é possível explicar-se. S. Maurício começou a pôr-lhe os cargos, dizendo: Este, Soberano Senhor, é aquele Udo, a quem vossa Mãe Santíssima, que presente está, fez tão particulares benefícios: a quem por sua intercessão, deste o talento da sabedoria; a quem encomendastes o cuidado desta igreja, e ele, em vez de apascentar as vossas ovelhas, as tem apestado com o contágio de seus vícios, gastando nele o patrimônio da mesma igreja. Este é o que teve atrevimento de violar as vossas esposas consagradas e de persistir na sua maldade contra o seu próprio voto, contra o seu ofício, contra as leis humanas e Divinas, contra os remorsos de sua consciência, e contra um e outro avisos do Céu, que lhe enviou vossa paciência e piedade.
Ouvia o Supremo Juiz os graves artigos daquele processo; e voltando o rosto para aqueles Santos que lhe assistiam, disse: Como vos parece que nos portemos com este homem? Aqui levantando a voz o mancebo da espada nua, disse, em nome de todos aqueles assessores que: Digno é de morte. E o Senhor pronunciou a sentença nesta forma: Execute-se: e, pois, não soube ser cabeça da igreja que lhe encomendaram, cortem-lhe a cabeça. No mesmo ponto chegou o mancebo e mandou a Udo que inclinasse a cabeça para o degolar. Levanta a espada, vai para descarregar o golpe, quando um dos outros Anjos acode, dizendo: detém-te, que esse mau homem celebrou ontem e comungou em pecado mortal, e por vontade de Deus se conservam ainda em seu corpo as espécies sacramentais: e é necessário tirarmos com decência a hóstia consagrada. Neste ponto levantou-se da cadeira a Virgem Santíssima Senhora nossa e, acompanhada de Anjos e Santos, chegou com um cálice de ouro na mão, no qual outro Anjo, dando nas costas de Udo uma pancada, lhe fez lançar a sagrada Forma. E a Senhora a purificou com sua mão e colocou o cálice sobre a pedra de ara, com toda a decência e acompanhamento de Anjos e Santos. Isto feito, o valoroso mancebo descarregou o golpe, e destroncou aquele miserável corpo, saltando a cabeça para a outra parte e ficando as lajes manchadas com seu torpe sangue. Executada a sentença desapareceu toda aquela nobre companhia, deixando o tempo às escuras, como antes estava.
Atônito, aquele virtuoso sacerdote com a representação de caso tão estupendo, não sabia que fizesse, nem em que se determinasse; e dizia entre si: Que é isto que vi? Sonho meu ou ilusão do Demônio, ou revelação de Deus? Sonho não parece, que sempre estive desperto e fiz disso mesmo atos reflexos; mas quero certificar-me se está aqui o corpo do desventurado arcebispo. Animou-se, pois, e foi buscar luz (porventura a sua casa, ou a alguma capela mais retirada no claustro, onde houvesse lâmpada); acendeu as da igreja, chegou ao lugar onde vira o suplício, e, com efeito, viu o corpo destroncado e a cabeça lançada à outra parte, e as pedras banhadas no sangue fresco: subiu ao altar e viu nele o cálice de ouro com a Forma consagrada dentro. Não foi logo sonho (disse então novamente admirado), mas demonstração pública da divina justiça, pois, a ofensa também era pública. E cerradas as portas da igreja, foi, antes que amanhecesse, a notificar aos capitulares e outras pessoas principais do povo tudo o sucedido. Divulgou-se o caso: abriram-se as portas da igreja, entrou inumerável gente, e todos foram testemunhas daquele tão raro, como formidável espetáculo; e louvaram os juízos de Deus, que sendo umas vezes ocultos e outras manifestos, sempre são retos e justificados por si mesmos.
Até aqui, revelara Deus Nosso Senhor a condenação de Udo quanto à morte temporal; segue-se outro caso, em que revelou a outro sacerdote a sua condenação quanto à morte eterna. Era este um capelão do mesmo arcebispo, e corretor de sua torpeza, e ele o havia mandado fora da cidade a negócios de importância; e se vinha neste mesmo tempo recolhendo, mandadas já adiante as cargas. Vindo, pois, caminhando por um descampado, o carregou um sono tão pesado, que não podendo resistir-lhe desmontou; e atando as rédeas do cavalo ao braço, se lançou a dormir ao pé de uma árvore. Apenas adormecido, viu em sonhos uma numerosa tropa de demônios fazendo grande ruído, armados todos de diversas armas, com lanças, piques e alabardas nas mãos, e que faziam alto naquele campo. Vinha entre eles um, que no agigantado da estatura, no disforme do aspecto e no soberbo das ações mostrava ser o Príncipe das Trevas. Levantaram-lhe logo ali um tribunal, em que tomou assento, e todos lhe fizeram reverência. Assomou neste tempo por outra parte outra caterva de Demônios, que vinham dando descompostas risadas e fazendo grande algazarra, como que traziam alguma rica presa, ou despojo, com que se mostravam contentes. Era este a miserável alma de Udo em figura corporal, para que pudesse ser vista por semelhantes espécies. Vinha amarrada com cadeias de fogo e sobre todo encarecimento feia, triste e desconsolada; e quando já chegava perto do Príncipe Demonarca, alguns daqueles infernais ministros correram adiante, mais ligeiros que abutres, a dar-lhe a nova, e diziam: Praça, graça, que vem uma pessoa principal; façam lugar, que vem um sujeito mui benemérito do nosso reino.
Chegando o miserável Udo, pôs nele Lúcifer os afogueados olhos, e lhe disse mofando: Seja Vossa Senhoria mui bem-vindo, que tem sido a sua vinda mui suspirada em meu palácio e corte, e desejamos todos pagar-lhe tantos e tão sinalados serviços, com que tem aumentado a nossa coroa. Olá, vassalos meus, é razão que regalemos o novo hospede; dai-lhe alguma coisa que coma. Chegaram logo uns demônios com pratos negros e asquerosos cheios de sapos, e víboras, e serpentes vivas; e abrindo-lhe por força a boca, o constrangeram a comer. Entraram outros com grandes vasos de fel de dragões e enxofre derretido, e o obrigaram a beber, esgotando até as fezes. Disse então Lúcifer: Agora que Sua Senhoria comeu e bebeu, é bem que goze também da suavidade dos nossos banhos. Dito e feito: afastou um Demônio uma grande laje, que servia de tampa a um poço que estava ali perto, do qual rebentaram tantas e tão impetuosas e vorazes labaredas, que pareciam querer escalar o Céu; e desafogando-se por aquele campo, tornaram em cinzas não só as árvores, mas as mesmas pedras, e até uma fonte que por ali corria, a deixaram seca sem gota. Agarraram logo outros daquele desventurado e o emborcaram pelo poço dentro: onde, havendo estado largo espaço, o tiraram da cor de um ferro que esteve na frágua feito brasa viva, e o tornaram à presença de Lúcifer, o qual, escarnecendo, lhe disse: Que lhe parece a Vossa Senhoria dos nossos banhos? Não são suaves e regalados? Pois isto não é mais que uma prova ou ensaio, da grande paga que temos prevenida para os sinalados serviços e merecimentos de Vossa Senhoria.
A tudo isto tinha estado em silêncio o desventurado Udo; e vendo-se já condenado a uma duração interminável de tormentos, e, que de seus olhos se ausentara para nunca mais tornar a esperança de remédio, levantou a temerosa voz e com prolixos e altíssimos gemidos, dizia: Ai de mim! Ai de mim, desgraçado! Oh que caros me custaram meus deleites! Oh que breves foram e momentâneos, sendo a pena deles eterna! Maldito seja o dia em que fui gerado; maldita a hora em que nasci no mundo; malditos os pais que me deram o ser; malditos todos os que me ajudaram a pecar; maldito (aqui começou a blasfemar de Deus, e da Virgem, e de todos os Santos). E os demônios, ouvindo-o, desfecharam em risadas e diziam: Oh que bem sabe já o nosso ofício! Oh que lindamente canta! Necessário é que fique em nossa casa e cante no nosso coro. Pois levai-o logo (disse Lúcifer) e dai-lhe um dos primeiros lugares. Então remeteram a ele como cães danados, e pegando-lhe com unhas e dentes, se sumira pela boca do poço, com tão ruidoso estrondo, que parecia virem-se abaixo as bóvedas do firmamento, e que os montes se arrancavam de seus assentos.
Ficou, todavia, o Demonarca com outros espíritos malignos que lhe faziam corte; o qual, pondo os espantosos e terríveis olhos, que pareciam carvões acesos, no clérigo que estava dormindo: Aquele (disse) que ali está dormindo não é o capelão de Udo e seu alcoviteiro? Razão é que o acompanhe nas penas, pois, lhe ministrou nas culpas; trazei-o aqui logo. Correram a ele os demônios, para o agarrar. E neste passo o clérigo, com a força do susto, acordou daquele formidável sonho. E como se levantou estrebuchando e espavorido, espantou-se o cavalo, que estava atado ao seu braço, e correu furiosamente pelo campo arrastando-o por largo espaço, até que lhe quebrou a cana dele. Porém, como Deus queria dar-lhe lugar da penitência, e que fosse testemunha do que vira, parou enfim o bruto, e se amansou de sorte que o clérigo pôde outra vez montar, ainda que com grande dor e trabalho. Chegando à cidade, viu que em nenhuma outra coisa se falava mais que na infeliz e repentina morte de seu amo; e conferindo o que tinha passado no castigo do corpo, com o que vira no da alma, ficou a verdade de uma e outra visão mais contestada.
Porém, como as obras de Deus em qualquer gênero são perfeitas, faltava ainda alguma demonstração da ira Divina acerca daquele miserável cadáver, que na igreja ficara degolado. Esta foi que não quiseram os da cidade dar-lhe sepultura em sagrado. Lançaram-no na lagoa: porém, logo saíram dos bosques, brenhas e covas, diversas feras, que ali tinham seus esconderijos; e entrando na lagoa, tiraram fora o corpo e o levaram arrastando pelos campos, sem nenhuma lhe dar dentada, como que abominavam coisa tão maldita. E os pastores e rústicos, que com isto padeciam não pequeno assombro e dano, se viram obrigados a queimar aquele corpo. Lançaram as cinzas dele no rio Alba; e no mesmo ponto (coisa maravilhosa!) todos os peixes dele fugiram para o mar, e não apareceu ali pesca alguma pelos dez anos seguintes; até que os naturais aplacaram a ira de Deus com procissões, penitências e ladainhas, e então, começaram os peixes a tornar para o rio.
Dura a memória deste espantoso caso naquela província até o presente dia; e ainda que os Saxônios o quisessem negar, as mesmas pedras o publicaram: porque numa da dita igreja se mostra claramente o sangue daquele justiçado, cuja nódoa não pode apagar-se por estar incorporada com a mesma pedra, que parece a embebeu em si. Está coberta com um tapete; e quando há nova promoção de arcebispo, a descobrem e lhe mostram, dizendo: Que veja bem como castiga Deus a quem não administra como deve aquela dignidade, que lhe encomenda.
Até aqui a relação do caso. No qual se ofereciam muitas coisas dignas de ponderação: o perigo das letras, quando se não acompanham das virtudes; o fácil abuso das riquezas e dignidades, para a depravação dos costumes; a graveza do escândalo, quando o causam pessoas grandes, particularmente eclesiásticas; a dureza do coração humano resistindo às vozes Divinas, e despenhando-se de um pecado em outro mais profundo; a eficácia da oração dos justos, em ordem ao bem público e à honra divina; o desamparo de uma alma, tanto que a Virgem Nossa Senhora fica em silêncio e não advoga por ela; o execrando sacrilégio dos que comungam em pecado mortal, e o respeito que se deve ao Augustíssimo Sacramento do Altar; a justificação exatíssima e vasta profundeza dos divinos juízos; a honra e fama dos pecadores, trocada subitamente em infâmia e ignomínia; a ingratidão, como é caráter próprio de almas réprobas; o ofender a Deus por servir aos ímpios, como é arriscado a fazer-lhes companhia na pena eterna; as criaturas todas como perseguiriam ao pecador, se Deus lhes desse licença; e outros muitos doutrinais avisos, que desta história se provam manifestamente. Porém, como o nosso intento nesta obra não tem esfera tão ampla, só pretendo agora que tiremos com tempo o desengano que aquela alma ponderou já tarde. Oh deleites da carne (dizia ela, abrindo na pena os olhos que fecharam na culpa), como custais caro! Que brevemente passastes, e como vosso tormento não passará eternamente! Consideremos atentamente, como não indo entre o pecador e o Inferno mais que o fio da sua vida, que pode quebrar em qualquer instante, não pode haver loucura mais desatinada do que deixar-se o pecador viver no estado em que não quisera morrer, e por um gosto torpe e momentâneo vender a salvação eterna da sua alma.
E, finalmente, tornando à conclusão do presente capítulo, digo que são tantas no mundo as desgraças, ruínas, sedições, crueldades e sucessos trágicos que este só vício da carne tem causado, que apenas há pessoa, das que têm anos de discrição e experiência, que não possa referir vários exemplos. Nestes, pois, deve carregar com a consideração quem deseja tirar escarmento, e pedir a Deus lhe conceda seu santo temor, para conter-se nos limites que sinala sua lei.
Extraído da obra “Armas da Castidade” do Padre Manoel Bernardes.
Missa da Oitava de Natal 01/01/2010
Maria diante do trono de Deus
Depois, de joelhos, a humilde e santa Virgem adora a majestade divina e abisma-se no conhecimento do seu nada. Agradece a Deus todas as graças que por mera bondade lhe havia concedido, especialmente de a ter feito Mãe do Verbo Eterno. Imagine e compreenda agora, quem puder, com que amor a Santíssima Trindade abençoou! Quem nos descreverá o afável e afetuoso acolhimento que fez o Pai Eterno à sua Filha, o Filho à sua Mãe, o Espírito Santo à sua Esposa! O Pai a coroa, participando-lhe o seu poder, o Filho a sabedoria, o Espírito Santo o amor. As três Pessoas divinas, colocando-lhe o trono à direita de Jesus, a declaram Rainha universal do céu e da terra. Aos anjos também ordenam, e a todas as criaturas, que a reconheçam por sua Rainha e como tal a sirvam e lhe obedeçam.
Glórias de Maria, Sto. Afonso M. de Ligório.
Domingo de Pentecostes
“Eis realizada a profecia de Joel: O Espírito Santo desce sobre Maria e os Apóstolos; e as maravilhas de Deus vão ser pregadas no mundo inteiro.”
Estação em S. Pedro
Festa de I classe com oitava de I classe
Paramentos vermelhos
O dom do Espírito Santo fora anunciado pelos profetas para os tempos messiânicos. A sua descida sobre os Apóstolos é o pórtico desta era nova. Funda-se então a igreja, e é-lhe conferido o espírito de Cristo, “para renovar a face da terra”. A narrativa dos Atos nos recorda os acontecimentos do dia de Pentecostes: a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e os fenômenos que a acompanham, particularmente o milagre das línguas, símbolo da Missão universal dos Apóstolos. Todas as nações chamadas a ouvir a proclamação da Boa Nova.
A esta presença do Espírito Santo, que inspira e dirige a Igreja, na sua missão de pregar o Evangelho até aos confins do mundo, acresce uma outra presença mais intima e mais pessoal, que faz dos Apóstolos homens novos, transformando-lhes a própria natureza. A seqüência da missa e o hino de vésperas descrevem e evocam esta ação penetrante do Espírito Santo no coração dos fieis. A leitura do livro dos Atos durante toda a oitava, mostrará esta dupla ação do Espírito Santo na Igreja e na alma dos crentes.
Epístola
Dos Atos dos Apóstolos 2. I-II
Realiza-se a promessa de Cristo: os Apóstolos recebem o Espírito Santo, e, fortificados com Ele, partem até aos confins do mundo, a pregar o Evangelho e a dar testemunho de Cristo.
Tinham-se completado os dias de Pentecostes, e estavam todos os discípulos no mesmo lugar, quando, de repente, sobreveio do céu um estrondo, como de vento soprando impetuoso, que encheu toda a casa onde se encontravam. Em seguida, viram aparecer-lhes, semelhantes a fogo, línguas que se repartiam, pousando-se sobre cada um deles. Nisto, todos ficaram cheios do Espírito Santo, e começaram todos a falar em varias línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Ora, estavam presentes, em Jerusalém, Judeus, piedosos, vindos de todas as nações que há debaixo do céu. Logo depois do estrondo, acudiu muita gente, ficando pasmada, por cada um ouvir falar na sua própria língua! Estavam assim todos espantados, “Porventura não são Galileus, todos estes que falam? Como é que então cada um de nós os ouve falar na própria língua materna? Partos, Medo e Elamitas; habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia; do Ponto e da Ásia, da Frigia e da Panfília, do Egito e das bandas da Líbia Cirenaica; Romanos de passagem; Judeus e prosélitos, Cretenses e Árabes, – nós (todos) os ouvimos exprimir, nas nossas mesmas línguas, as maravilhas de Deus!”
Evangelho
Segundo S. João 14. 23-31
Tirado dos discurso depois da Ceia, o evangelho de Pentecostes é uma das mais belas perícopes do ensino de Jesus respeitante à missão do Espírito Santo.
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu Pai o amará; e viremos até ele, e nele faremos a nossa morada. Quem me não ama, não observa as minhas palavras. E a palavra que ouvistes, não é minha, mas do Pai que Me enviou. Eu disse-vos estas coisas, enquanto estive convosco. Porém, o Consolador, EspÍrito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, Ele vos ensinará todas as coisas, e vos recordará tudo o que vos tenho dito. Deixo-vos a paz: dou-vos a minha paz; não vo-la dou como a dá o mundo. Que o vosso coração se não perturbe, nem assuste. Ouvistes o que Eu vos disse: Vou, mas regresso a vós. se vós me amásseis, certamente haveríeis de folgar de Eu ir para o Pai, porque o Pai é maior do que Eu. Disse-vo-lo agora, antes que suceda, para que quando suceder, acrediteis. Já não falarei muito convosco, porque vem o Príncipe deste mundo, que nenhum poder tem sobre Mim; é, porém, necessário que o mundo reconheça que amo o Pai, e que faço como o Pai me ordena.”
Fonte: Missal Quotidiano D. Gaspar Lefebvre