[Fotos] [Vídeos] Tríduo Pascal – Pe. Daniel Pinheiro

Quinta-Feira Santa (Lava-pés / in Coena Domini)

Semana Santa01

Semana Santa01

Semana Santa02

Semana Santa03

Semana Santa03

Semana Santa02

Depois da Missa conduz-se processionalmente a Santa Hóstia ao lugar em que deverá ficar até Sexta-feira. Durante a procissão canta-se o hino “Pange Lingua”

Sexta-Feira Santa (Via Sacra)

Semana Santa01

Semana Santa03

Semana Santa03Semana Santa02Semana Santa04

Sexta-Feira Santa (Solene Ação Litúrgica)

Semana Santa01

Prostração do sacerdote ao pé do altar

Semana Santa04

Leituras do Antigo Testamento

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Segue o canto do Tracto

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Paixão de Nosso Senhor segundo o Evangelho de São João é cantada.

Semana Santa1

Paixão de Nosso Senhor segundo o Evangelho de São João é cantada.

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Sacerdote preparado para as chamadas Orações Solenes, que antecedem a Adoração da Cruz

Sábado Santo – Vigília Pascal

Semana Santa1

Para a benção do fogo, o clero e o povo se encaminham para a porta da Igreja.

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O fogo é abençoado e também os cinco grãos de incenso que significam as cinco chagas de Nosso Senhor e serão fixados no Círio Pascal.

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O diácono acende no fogo uma vela e é ele, revestido de uma dalmática, quem anuncia a Ressurreição.

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Inicia-se o louvor da Páscoa e a Benção do Círio Pascal

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Ao canto triunfal do Exultet aparece o próprio Cristo, simbolizado pelo Círio Pascal

Erro
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Semana Santa04

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Leitura das Profecias

Semana Santa05

Semana Santa01

Semana Santa08

Semana Santa03

Semana Santa24

Renovação das Promessas do Batismo

Semana Santa VP1

A Santa Missa inicia-se após os ritos de benção, a renovação das promessas do Batismo e o canto da Ladainha de Todos os Santos.

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[Sermão] Causas e efeitos da Paixão de Cristo

Sermão para o Primeiro Domingo da Paixão
17 de março de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Entramos hoje no Tempo da Paixão. Os sinais de austeridade se acentuam. O Gloria Patri é tirado do Asperges, do Intróito e do Lavabo. O Salmo 42, que expressa alegria, é omitido. A Cruz e as imagens dos santos são cobertas com panos roxos, simbolizando que a Paixão de Cristo ainda não ocorreu e, se ela ainda não ocorreu, os santos também ainda não entraram no céu. Somente na Sexta-Feira Santa a Cruz será descoberta e somente na Vigília, após a ressurreição, os santos serão descobertos.

Rezemos pelo Santo Padre, o Papa Francisco, pela Igreja e por nós mesmos, caros católicos.

Lembro mais uma vez que a Quaresma é Tempo propício para a Confissão, a fim de fazermos uma boa comunhão pascal. Como dizia oração da Missa de sexta-feira passada: Deus renova o mundo por meio dos sacramentos, pois a verdadeira renovação se faz pela santidade e fidelidade ao que a Igreja sempre ensinou e não por revoluções.

***

Entramos hoje, caros católicos, nesse tempo particular dentro do Tempo da Quaresma: o Tempo da Paixão. É tempo oportuno para refletir bem e meditar bem a obra da nossa Redenção e o mistério dos sofrimentos de Nosso Senhor Jesus Cristo durante a sua Paixão. Não basta, no entanto, considerar somente o fato dos sofrimentos suportados por Nosso Senhor. É preciso conhecer também as causas e os efeitos da Paixão, pois somente assim poderemos começar a ter ideia da grandeza da bondade divina e poderemos haurir uma água viva para a nossa vida espiritual.

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo encontra sua origem no pecado de nossos primeiros pais. Com efeito, Nosso Senhor se encarnou para nos livrar do pecado, que entrou no mundo pela falta cometida por Adão. Nós sabemos, a gravidade de uma ofensa se mede a partir da dignidade da pessoa ofendida. Como o pecado é uma ofensa feita a Deus, infinitamente digno, o pecado é uma ofensa infinita. E isso não só para o pecado de Adão, mas também para todos os nossos pecados graves, que são, então, ofensas infinitas feitas a Deus. Ora, como nós somos seres finitos, como podemos satisfazer por nossos pecados, que são ofensas infinitas? Como podemos satisfazer, quer dizer, como podemos oferecer a Deus algo que lhe agrade mais do que a ofensa infinita lhe desagradou? Isso é, para nós, impossível. Até mesmo se oferecêssemos a Deus todas as vidas de todos os homens de todos os tempos, seria largamente insuficiente. Assim, é impossível para nós satisfazer pelo pecado. Como resolver esse problema?

Nós, na nossa sabedoria humana, teríamos pensado em um perdão gratuito e completo de Deus, que Ele poderia nos dar sem nenhuma injustiça e sem prejudicar ninguém. Todavia, nessa hipótese, a justiça divina, embora não fosse violada, não seria perfeitamente satisfeita. Além disso, com um perdão gratuito, o homem não se daria conta da gravidade de seu pecado: se Deus perdoa com tanta facilidade, o pecado não é assim tão grave, diria o homem. Podemos dizer também que esse perdão gratuito não manifestaria claramente e perfeitamente o amor de Deus pelos homens. O perdão puramente gratuito é uma solução humana.

A sabedoria divina, que dispõe perfeitamente todas as coisas, nos deu outra solução. Deus permite um mal sempre em vista de um bem superior. Dessa forma, se a sabedoria divina permitiu o pecado, que é o maior dos males, foi justamente para que ocorresse a encarnação e para que a obra da redenção se cumprisse pelo Verbo feito carne, Nosso Senhor Jesus Cristo, homem e Deus. Sendo homem e Deus, uma só ação de Nosso Senhor basta para satisfazer abundantemente a ofensa infinita do pecado. E isso pela simples razão de que a mais simples ação de Cristo é feita sempre com uma caridade, com um amor infinito por Deus. E essa caridade do Homem-Deus é infinitamente mais agradável a Deus do que todos os pecados lhe são desagradáveis. Assim, a encarnação é necessária para satisfazer plenamente a justiça divina. Um ato, então, do Menino Jesus recém-nascido teria bastado para resgatar, redimir todos os homens. A encarnação, resposta divina ao pecado, satisfaz perfeitamente a justiça divina. Mas a solução divina não se resume a isso. A solução divina compreende, além da encarnação, a paixão, os sofrimentos e a morte de Cristo.

No entanto, caros católicos, se uma única ação do Menino Jesus teria bastado para a redenção de todos os homens, por que uma paixão tão sangrenta? Estamos nós diante de um Deus sedento de vingança? Claro que não. Como dissemos, a justiça divina já está plenamente satisfeita com a mais simples ação de Cristo, homem e Deus. Se a providência divina permitiu a paixão e a morte de Nosso Senhor, há uma só razão (principal) para isso. Seu amor por nós. Como nos diz São João: Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu seu Filho Unigênito. E Nosso Senhor, Ele mesmo desejava com um desejo ardente a chegada de sua hora, que não é outra que a hora de sua Paixão. Mas como? Nosso Senhor quis padecer tantos sofrimentos por amor dos homens? Sim, caros católicos, o motivo principal da paixão e morte de Cristo é seu amor por nós. Por amor, Ele quis ser preso e amarrado no Jardim das Oliveiras, maltratado  na casa do sumo sacerdote, flagelado e coroado de espinhos diante de Pilatos. Ele quis carregar a Cruz, Ele quis as quedas dolorosas durante o caminho da Cruz. Por amor, Ele quis, enfim, ser destituído de todas as suas vestes, quis a crucificação com dores inauditas, a sede tremenda. Ele quis também padecer as dores interiores, mil vezes maiores que essas imensas dores exteriores: a tristeza mortal no Jardim das Oliveiras diante da visão de todos os tormentos que Ele ia sofrer, o sofrimento diante da perfídia dos judeus que teriam tantos imitadores ao longo dos séculos; a tristeza mortal face à infidelidade de seus discípulos e de tantos cristão frouxos, face aos pecados sem número cometidos até o final dos tempos, face à inutilidade de seu sangue para o mau ladrão e para tantas outras almas que não o aceitaram.

O Verbo Encarnado nos mostrou, pela sua Paixão e Morte de Cruz, a imensidade de seu amor porque uma das medidas mais seguras e exatas do amor é justamente o sofrimento que somos capazes de suportar para alcançar o bem do amigo. Ele quis nos mostrar esse amor infinito, amor capaz de sofrer todas as dores para o bem daqueles que eram ainda pecadores. E ao nos mostrar seu amor, ele queria uma só coisa, pois Cristo quer uma só coisa: que o amemos em troca. E que o amemos com todas as nossas forças, com toda a nossa alma, com todo o nosso ser, guardando os seus mandamentos. A paixão de Cristo destrói os obstáculos que se opõem à conversão da alma, em particular, ela destrói a dureza do coração que se obstina a não escutar a voz suave de Deus que o chama por meio de sua Paixão.

Da Paixão de Nosso Senhor há ainda vários outros frutos. A Paixão de Cristo e sua Cruz, de modo particular, é a cátedra mais eloquente que pode existir. O Salvador nos ensina do alto dessa cátedra pelo exemplo. Ele nos ensina a prática de todas as virtudes, sem as quais o homem não pode se salvar: obediência, humildade, paciência, justiça, constância, fidelidade à vontade de Deus, etc…

Pela Paixão de Cristo, a feiura e as gravíssimas consequências do pecado nos são mostradas claramente. Os sofrimentos, as feridas, as chagas, os opróbrios suportados por Nosso Senhor Jesus Cristo, deveriam ter sido carregados por nós, os verdadeiros culpados. Assim, à vista das graves consequências do pecado, tão graves que levam Deus a um tal sofrimento, devemos ser levados a abandonar todo e qualquer pecado.

Finalmente, a Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo é a derrota mais humilhante para o demônio. O inimigo do gênero humano havia triunfado fazendo nossos primeiros pais pecarem. A morte, fruto amargo do pecado, era o troféu do demônio. Nosso Senhor destruiu a obra perniciosa do demônio e abriu para nós o céu justamente pela sua morte. Quando o demônio acreditava vencer, ele foi, na realidade, definitivamente derrotado e humilhado.

Sofrer por aquele que amamos e lhe fazer o bem. Eis as duas coisas que nos fazem conhecer um amigo, diz Cícero. Todos os sofrimentos e todos os bens que decorrem da Paixão de Cristo nos mostram a grandeza de seu amor por nós. Na Paixão de Nosso Salvador, a justiça e o amor se encontram de modo perfeito. E é o amor que vence, pois a Paixão, embora tenha por finalidade satisfazer pelo pecado, ela tem como objetivo principal mostrar aos homens o amor infinito de Deus por nós, a fim de que o amemos em troca. A Paixão era, então, a maneira mais conveniente de nos resgatar porque pela paixão nós somos levados a Deus e afastados do pecado de uma maneira admirável. Um homem não seria capaz nem de suspeitar uma resposta tão perfeita ao pecado.

Não fiquemos indiferentes, caros católicos, a um tal amor. E quando Nosso Senhor se dirige a nós, como o faz agora, não endureçamos nosso coração, mas sigamos o Salvador, guardando seus preceitos e carregando nossa cruz com verdadeira alegria. Não sejamos como os judeus do Evangelho de hoje, que não encontrando nenhuma falta em Cristo, quiseram lapidá-lo. Ao contrário, vivamos, de agora em diante, por Cristo, com Cristo, em Cristo, fazendo em tudo a sua divina vontade. Combatamos pelo triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Se o pecado e a morte entraram no mundo pela falta de um só homem – Adão – a graça e a vida eterna vieram também por um só homem – Jesus Cristo. Consideremos com frequência a misericórdia, a bondade, o amor infinito de Jesus Cristo por nós, e que nos foram manifestados na sua Paixão e Morte. E peçamos também a Nossa Senhora, Virgem das Dores, a graça de nos fazer herdeiros desses bens que foram adquiridos ao preço de um sangue tão caro. Foi pela nossa alma que Cristo sofreu e morreu. Foi para salvar a nossa alma.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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[Liturgia] Tempo da Paixão

[Republicação] Texto publicado originalmente em 22 de março de 2010

Constituído de dois domingos que antecedem imediatamente a Páscoa, o Tempo da Paixão delineou-se no século VII, quando se começou a dar maior relevância ao mistério da Cruz. O segundo domingo da Paixão, ou Domingo de Ramos, primeiro dia da Semana Santa, revela o caráter quaresmal nas Orações e Leituras. Continuar lendo

[Liturgia] Tempo da Quaresma

[Republicação] Texto publicado originalmente em 18 de outubro de 2010

Exposição Dogmática

O Tempo da Septuagésima já nos demonstrou a necessidade de nos unirmos, pelo espírito de penitência, à obra redentora do Salvador. Pelo jejum e  outros exercícios de penitência, a Quaresma vai associar-nos a Ele de maneira efetiva. Mas não há Quaresma que valha, sem esforço pessoal de retificação da vida e de a viver com mais fidelidade, reparando, por qualquer privação voluntária, as negligências de outros tempos.

Paralelamente a este esforço, que exige de cada um de nós, a Igreja ergue diante de Deus a cruz de Cristo, o Cordeiro de Deus, que tomou sobre Si os pecados dos homens, e que é o verdadeiro preço da nossa Redenção. À medida que nos aproximamos da Semana Santa, o pensamento da Paixão tornar-se-á predominante, até chegar o momento de prender por completo a nossa atenção. Já desde o começo da  Quaresma, ela nos está presente, e é em união com os sofrimentos de Cristo que o exército cristão vai entregar-se à “santa quarentena”, indo ao encontro da Páscoa com a alegre certeza de partilhar da Ressurreição do Senhor.

Eis o tempo favorável, eis os dias da salvação.* A Igreja apresenta-nos a Quaresma nos mesmos termos com que a apresentava outrora aos catecúmenos e aos penitentes públicos, que se preparavam para as graças pascais do batismo e da reconciliação sacramental. Para nós, como para eles, a Quaresma deve ser um longo retiro, um treino, em que a Igreja nos exercita na prática de uma vida cristã mais perfeita. Aponta-nos o exemplo de Jesus e, através do jejum e da penitência, associa-nos aos seus sofrimentos, para nos fazer participar da Redenção.

Lembremo-nos que não estamos isolados, nem somos os únicos  em causa nesta Quaresma, que ora se empreende. É todo o mistério da Redenção que a Igreja põe em ação. Fazemos parte dum conjunto imenso, em que somos solidários de toda a humanidade, resgatada por Jesus Cristo. –A liturgia do tempo não se cansará de o recordar. Nas matinas dos domingos, as lições do Antigo Testamento, começadas na Septuagésima, continuam a lembrar, a largos traços, a historia do povo judeu, em que se consignam os desígnios de Deus acerca da salvação de todo o gênero humano o afastamento de Esaú em beneficio de Jacó (não é a linhagem terrestre, mas a escolha gratuita, agora estendida a todas as nações, que faz os eleitos); José, vendido por seus irmãos, e salvando o Egito, é Jesus salvando o mundo, depois de ser rejeitado e traído pelo seus; Moisés, que arranca o seu povo à escravidão, e o conduz à terra prometida, é Jesus que nos liberta do cativeiro do pecado e abre as portas do Céu. Os evangelhos não são menos eloqüentes: a narrativa da tentação de Jesus, mostra o Segundo Adão, novo chefe da humanidade, a contas com as astúcias de Satanás, mas esmagando-o com o seu poder  divino; a parábola do homem armado e expulso, por um mais forte, do domínio que usurpara, é ainda afirmação da vitória de Cristo.

Tal é o sentido da nossa Quaresma: um tempo de aprofundamento espiritual, em união com a Igreja inteira, que se prepara para a celebração do mistério pascal. Todos anos, a exemplo de Cristo, seu chefe, o povo cristão, num esforço renovado, retoma a luta contra a maldade, contra Satanás e o homem de pecado, que cada qual arrasta em si mesmo, para  haurir, na páscoa, um suplemento de vida, renovada nas próprias fontes da vida divina e continuar a marcha para o Céu.

Epistola do Primeiro Domingo da Quaresma

Apontamentos de Liturgia

O Tempo da Quaresma começa na Quarta-Feira de Cinzas e termina no sábado Santo. Os últimos quinze dias deste longo período constituem o Tempo da Paixão. Outrora, a Quaresma começava no primeiro domingo, mas os dias que precedem foram acrescentados para perfazer os quarenta dias de jejum. De contrário, ficaria apenas trinta e seis, visto não se jejuar aos domingos.

O jejum de quarenta dias, “inaugurado pela Lei e pelos Profetas, e consagrado pelo próprio Cristo”, foi sempre uma das práticas essenciais da Quaresma. A liturgia a ele alude constantemente, e o prefácio do Tempo recorda-o todos os dias.

Mas o jejum irá de par com a oração, como todos os exercícios penitenciais da Quaresma, é oferecido a Deus em união com o sacrifício do Salvador, diariamente renovado na Santa Missa. Cada dia da Quaresma tem missa própria, devido ao fato de outrora toda a comunidade cristã de Roma assistir diariamente à Santa Missa, durante esta quadra. Daí o indicar-se a “estação”, a Igreja em que se celebrava, nesse dia, a missa da comunidade romana.

Todas as missas feriais incluem, depois da póscomunhão, uma “oração sobre o povo”, precedido dum convite à penitência e à humildade: “Baixai vossas cabeças diante de Deus.” O caráter penitencial é acentuado pelo silêncio do órgão. Os paramentos são roxos. À 2ª, 4ª e 6ª feiras repete-se o trato da Quarta-Feira de Cinzas: “Senhor, não nos trateis conforme merecem os nossos pecados…”.

Rubricas

I. Os domingos da Quaresma são de 1ª classe. Têm sempre Missa e Vésperas. A Quarta-Feira de Cinzas e toda a Semana Santa são férias de 1ª Classe e não admitem nenhuma comemoração.

II. A comemoração da féria é privilegiada: faz-se sempre e antes de qualquer outra.

III. As férias das Quatro-Têmporas são de 2ª classe, e preferidas mesmo às festas particulares de 2ª classe; as outras férias da Quaresma são de 3ª classe e preferidas às memórias e às festas de 3ª classe.

IV. As Quatro-Têmporas da Quaresma verificam-se na primeira semana; seguem as mesmas regras das do Advento.

Texto extraído do Missal Romano Quotidiano de Dom Gaspar Lefebvre

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[Sermão] Programa para a Quaresma: a Cruz, a caridade, a oração e a batalha contra o defeito dominante

Sermão para o Domingo da Quinquagésima
10 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Se não tiver a caridade, nada sou.” (I Cor, 13)

Três dias somente nos separam do começo da Quaresma. A Santa Igreja continua a nos preparar e a nos dispor, pela Sagrada Liturgia, a uma Quaresma que possa o dar frutos eternos. Para tanto, a Igreja nos apresenta o sublime elogio da caridade na Epístola de São Paulo e nos apresenta, no Evangelho, o anúncio da paixão e a cura de um cego. Mas como essas três coisas nos preparam de maneira perfeita para a Quaresma, pois não parece haver muita relação entre elas?

Para compreender o que a Igreja quer nos ensinar, devemos, antes de tudo, considerar bem a finalidade da Quaresma. A quaresma são quarenta dias de conversão, quarenta dias para que possamos morrer ao pecado com Nosso Senhor Jesus Cristo, a fim de ressuscitar com Ele para a vida da graça. Para fazer isso, precisamos da penitência, pela qual, com verdadeira dor e detestação de nossos pecados, satisfazemos pela ofensa feita a Deus. Todavia, a penitência sozinha não serve para nada, se ela não é inspirada pela caridade, quer dizer, ela não serve para nada se ela não é feita em união com Deus ou tendo em vista essa união com Deus, essa amizade com Deus. E isso porque a melhor das ações não tem valor algum para a salvação, se ela não é acompanhada da caridade ou se ela não tem por fim a caridade. Além disso, como somos fracos e inconstantes e sem Deus nada podemos fazer, devemos pedir a Deus, pela oração, que nossas penitências acompanhadas da caridade sejam agradáveis aos seus olhos.

Dessa forma, podemos compreender porque a Igreja escolheu estas passagens da Sagrada Escritura para o Domingo que precede a quaresma. A Igreja anuncia a Cruz, para que satisfaçamos pelos nossos inumeráveis pecados. Ela faz o elogio da caridade porque sem a caridade nada tem valor, dado que só a caridade ordena tudo a Deus. E, finalmente, ela nos apresenta a cura do cego, na qual encontramos um modelo de oração: “Filho de David, tende piedade de mim.” Assim, não podemos fazer uma penitência sincera sem ter por finalidade a união com Deus. E, ao mesmo tempo, não podemos estar verdadeiramente unidos a Deus se recusamos carregar a nossa própria cruz, quer dizer, se recusamos fazer penitência. A cruz e a caridade são inseparáveis nessa Terra. Todavia, nem a caridade nem a cruz podem existir sem a oração, pois sem Deus nada podemos fazer. É preciso fazer penitência não para se orgulhar, não para se mostrar aos outros, mas para recobrar ou aumentar a nossa amizade com Deus, pedindo-lhe, pela oração, essa amizade. Durante a Quaresma, a união da penitência, da oração e da caridade é indispensável. Uma Quaresma sem um desses três elementos seria uma Quaresma infrutífera, que não conduziria a uma união profunda e duradoura com Deus, união que é, justamente, o objetivo da Quaresma. É por isso que, tradicionalmente, recomendam-se esforços nesses três frontes durante a Quaresma: penitência (privar-se de algo que gosta, por exemplo), oração (determinar dias de visita ao Santíssimo, rezar um terço a mais, ou outra devoção) e obras de caridade (como, por exemplo, esmolas ou as obras de misericórdia corporais e espirituais).

Gostaria, porém, de dar um exemplo e uma sugestão, caros católicos, de resolução para essa Quaresma. Exemplo e sugestão de uma resolução que une muito bem esses três elementos de que acabamos de falar. Trata-se do combate de cada um contra seu defeito dominante.

O demônio, inimigo do homem, é como um leão que ruge ao nosso redor, procurando nos devorar. Com muita inteligência, ele busca, precisamente, nos atacar em nosso ponto fraco. Assim, ele faz a ronda para examinar todas as nossas virtudes teologais, cardeais e morais, e é no ponto em que nos encontra mais fraco, é nesse ponto, que é o mais perigoso para a nossa salvação, que ele nos ataca e tenta nos abater. Como um bom chefe de guerra, ele sabe que uma vez tomado o ponto mais fraco de nossa alma, o menos virtuoso, ele vai se tornar o mestre de todo o resto de nossa alma. Esse ponto mais desprovido de virtude, o mais arruinado pelas nossas más inclinações é justamente o nosso defeito dominante, que é também a raiz, a causa de muitos outros pecados. Esse defeito dominante pode ser muito diverso segundo cada pessoa: o orgulho, a vaidade, a sensualidade, a impureza, a falta de modéstia, o respeito humano, o apego aos bens desse mundo, o apego às honras ou à glória desse mundo. Ele pode ser a preguiça, sobretudo a preguiça espiritual, a falta de espírito sobrenatural, a falta de esperança, a inconstância, o espírito mundano, a cólera, etc…

É fácil ver a importância de combater nosso defeito dominante e isso por duas razões principais. Primeiramente, porque é do defeito dominante que nos vêm os maiores perigos para a nossa alma e as mais graves ocasiões de pecado. Como dissemos, ele é a raiz para vários outros pecados. Segundo, podemos ver a importância de combater o defeito dominante pelo fato de que, uma vez vencido o inimigo mais terrível, os inimigos mais fracos serão facilmente derrotados por nossa alma, que se tornou mais forte em razão da primeira vitória. Devemos agir como o Rei da Síria na guerra contra Israel. Esse Rei ordenou aos seus soldados que combatessem unicamente contra o Rei de Israel, prometendo que a morte do Rei inimigo daria uma vitória fácil sobre o resto do exército israelita. Foi exatamente o que aconteceu: tendo morrido o rei de Israel, todo o exército cedeu e a guerra terminou imediatamente. De maneira semelhante, caros católicos, será muito mais fácil vencer nossos outros defeitos quando tivermos vencido o nosso defeito dominante.

Para que sejamos vitoriosos nesse combate, é preciso, todavia, seguir o conselho da Igreja. A vitória sobre o nosso defeito dominante não ocorre sem os sofrimentos, sem as cruzes, sem as privações. É impossível vencê-lo sem a mortificação, sem a penitência. Do mesmo modo, sem a oração – sem muita oração – é igualmente impossível vencê-lo e até mesmo começar a batalha, pois é Deus que nos dá a força para combater e é Deus que nos dá, em última instância, a vitória. Sem Ele, mais uma vez, nada podemos fazer. Finalmente, é a caridade, a vontade de servir Deus, infinitamente bom e amável, que deve nos animar e nos dispor ao combate. São a cruz e a oração simples – mas eficaz – do cego que nos são lembradas pelo Evangelho. É a caridade – absolutamente necessária – que nos lembra São Paulo no sublime elogio da caridade. Mas para não se enganar a respeito de seu próprio defeito dominante, é necessário pedir o auxílio de Deus, para que Ele mostre qual é esse defeito e convém pedir conselho a um padre bom que conheça sua alma.

Se, caros católicos, conseguirmos vencer ou ao menos começar uma batalha séria contra nosso vício dominante – porque às vezes é preciso muito tempo para vencê-lo, como foi o caso, por exemplo de São Francisco de Sales com a ira – o caminho da santidade estará bem traçado, pois dessa forma cortamos o mal pela raiz, cortamos o mal em sua causa e evitamos todos os frutos ruins, que são os pecados. Com essa má árvore cortada, poderemos praticar com facilidade e alegria a virtude e o bem, avançando no caminho da perfeição.

Em todo caso, caros católicos, durante a Quaresma, não esqueçam nem um só desses três elementos: a penitência, a oração e a caridade. Com eles teremos uma Quaresma com frutos abundantes e duradouros porque teremos avançado em direção à vida eterna, satisfazendo por nossos pecados e nos dispondo à graça. Sem esses elementos, nossa Quaresma até poderá produzir alguns frutos, mas eles permanecerão superficiais e passageiros. Portanto: a cruz, a oração, a caridade. Isso é o resumo do Evangelho, o resumo da vida de Nossa Senhor Jesus Cristo. Deve ser também o resumo de nossas vidas.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] “A Parábola do Semeador” ou “Os deveres do sacerdote e dos fiéis”

Sermão para o Domingo da Sexagésima
03 de fevereiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

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“Saiu o semeador a semear a sua semente (…) e uma parte caiu em terra boa e, depois de nascer, deu fruto, a cem por um.”

No Domingo da Sexagésima temos a bem conhecida parábola do semeador e dos diferentes terrenos em que cai a semente. O semeador é, antes de tudo, Deus, e a semente é a sua Divina Palavra. Mas o semeador é também os sacerdotes, encarregados por Deu de ensinar todas as nações. Os diferentes terrenos são as almas diversamente dispostas a receber a pregação da Palavra Divina. No Domingo da Sexagésima, a Igreja continua a querer nos dispor para uma boa quaresma, para uma quaresma que dê frutos a cem por um. Para nos dispor todos a uma boa Quaresma, que possa realizar em nós uma profunda conversão, a Igreja lembra ao semeador o seu dever de pregar e lembra às almas o dever de serem uma terra boa.

[Os deveres do sacerdote]

O bom semeador deve, em primeiro lugar, pregar a Palavra de Deus e não a sua própria. É necessária fidelidade extrema ao que ensina a Igreja, ele deve transmitir aquilo que recebeu, sem corrupção, sem emenda. Um sacerdote que prega outra coisa que a doutrina de Cristo, prega ventania e colherá tempestade. É o que vemos hoje. Prega-se muita ventania e colhe-se tempestade e não uma primavera, como querem muitos. Diz o Livro dos Provérbios (XXX, 6) “não acrescentes nada às palavras de Deus para não serdes por isso repreendido e achado mentiroso”. O sacerdote deve ter verdadeira pureza de intenção: seu fim tem que ser dar testemunho da verdade, para que todos tenham vida. Não deve buscar fins menos honestos como o renome, os elogios, a glória desse mundo. O sacerdote, além disso, deve ter uma vida de oração profunda e deve pregar também com o exemplo. O exemplo é indispensável. Uma pregação que é contrariada por um mau exemplo será quase sempre vã. O sacerdote deve praticar penitências, a fim de que seus ouvintes se disponham bem.  O sacerdote, evidentemente, deve ter uma ciência adequada e uma caridade ardente, pois só pode acender aquele que arde, como dizia São Francisco de Sales. A eloquência do sacerdote é a sua caridade.

Ademais, o Sacerdote deve ter em mente que sua missão é ensinar e não agradar aos ouvintes. O pregador deve, então, perguntar-se com São Paulo: “é o favor dos homens que eu procuro ou o de Deus? Porventura é aos homens que eu pretendo agradar? Se agradasse aos homens, não seria servo de Cristo.” O Apóstolo diz também: “prega a Palavra, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, porque virá tempo em que muitos não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos”. O semeador não deve temer as perseguições por ensinar a verdade divina, nem deve temer os sofrimentos e privações. São Paulo lhe dá o exemplo na Epístola de hoje: cárceres, açoites sem medida; muitas vezes viu a morte de perto; cinco vezes recebeu dos judeus os quarenta açoites menos um; três vezes foi flagelado com varas; uma vez apedrejado; três vezes naufragou, uma noite e um dia passou no abismo; viagens sem conta, exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de seus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade, perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos! Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes jejuns, frio e nudez! Não é pouca coisa o que sofreu São Paulo para pregar o Evangelho.

Somente tendo isso em mente o pregador cumprirá devidamente o mandamento de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ide e ensinai todos os povos. Pregai o Evangelho a toda a criatura. Se o pregador insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda paciência e doutrina, muitas vezes de forma inconveniente, ele cumpre simplesmente seu dever. O pregador insiste e desagrada muitas vezes porque tem de salvar a sua alma, o que se faz unicamente pela pregação da verdade revelada.

O pregador deve lembrar-se de que não tem que prestar contas aos homens, mas a Deus. Os fiéis poderão, talvez, dizer que não ouviram a Palavra de Deus, mas o sacerdote não terá desculpa por não tê-la pregado. A Quaresma se aproxima e, nesse tempo, o sacerdote deve cumprir ainda melhor a missão que lhe foi dada pela Igreja: levar as almas ao amor a Deus e à detestação do pecado.

[Os deveres dos fiéis]

Se ao sacerdote cabe o grave dever de anunciar a Palavra de Deus e de anunciá-la continuamente, sem mescla de erro, mas com fortaleza, prudência e ciência, aos fiéis cabe ouvir essa Palavra. E não só ouvi-la, mas colocá-la em prática. Nosso Senhor o diz: “Bem-aventurados aqueles que ouvem a minha Palavra e a põem em prática” (Luc XI, 28). E o Salmista diz: “hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações” (Sal XCIV, 8). E, finalmente, São João: “Quem é de Deus escuta as palavras de Deus” (Jo XIV, 24). Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso dispôr a alma pelo desejo de ouvi-la, pelo desejo de deixar o pecado, pela oração. Para ouvir a Palavra de Deus com fruto é preciso remover os obstáculos: é preciso sair do caminho aberto, é preciso remover as pedras e os espinhos. O caminho aberto é a alma que não se protege, não cerca o terreno. O caminho aberto é a alma em que qualquer coisa pode transitar. É a alma preguiçosa, que não reza e que não foge das ocasiões de pecado. Pode ser também a alma endurecida pelo pecado. O demônio a faz esquecer rapidamente a Palavra de Deus.  O pedregulho são as almas inconstantes. Recebem a doutrina com gosto e alegria, apreciam sua beleza e sua santidade, mas não tomaram a firme decisão de converter-se completamente e permanecem superficiais. Quando chegam as dificuldades, as tentações e as provações, voltam atrás. Os espinhos são as preocupações imoderadas da vida, os prazeres mundanos, o apego aos bens desse mundo. A alma cercada de espinhos recebe a Palavra de Deus, mas logo a esquece e a abandona, preocupada desordenadamente com as coisas desse mundo.

É preciso, caros católicos, ouvir a Palavra de Deus com docilidade e colocá-la em prática. Da fidelidade e da prontidão em recebê-la e em tomá-la por regra depende a nossa salvação. Como diz Nosso Senhor: “Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha Palavra… tem a vida eterna e não incorre no juízo, mas passou da morte para a vida” (Jo V, 24).

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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Nota do Editor: os subtítulos foram acrescentados por nós e não pertencem ao texto original do padre.

[Sermão] A Ociosidade e a Preguiça Espiritual

Sermão para o Domingo da Septuagésima
27 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Gostaria de fazer um breve comentário sobre o tempo da Septuagésima, antes de passar ao Evangelho. Caros católicos, entramos hoje no tempo da Septuagésima, que compreende os domingos da Septuagésima, da Sexagésima e da Quinquagésima, precedendo a Quaresma. O ano litúrgico começou com o Advento, depois passamos pelo tempo do Natal, que se estende até o dia 13 de janeiro, antiga oitava da Epifania. Em seguida, vem o tempo depois da Epifania, que pode ser mais ou menos longo em função da data da Páscoa. A brevidade do tempo depois da Epifania será recompensada no final do ano litúrgico, em que alguns dos domingos depois da Epifania omitidos no início do ano são retomados, como vimos em novembro. A septuagésima manifesta a bondade da Igreja para com os homens e sua sabedoria. Esse tempo litúrgico que começamos hoje é a transição para a quaresma, a fim de que a passagem para as austeridades não se faça de forma brusca, mas de modo calmo e sereno. São, portanto, duas semanas e meia para que possamos nos dispor bem para o tempo da quaresma. Essa transição está bem marcada na liturgia tradicional, sempre mestra de espiritualidade e doutrina. Assim, os paramentos são da cor roxa, cor penitencial. O Gloria já não é mais cantado, o Alleluia também não. Por outro lado, o órgão ainda é permitido, as flores também são permitidas (embora não as tenhamos hoje). Trata-se, portanto, de preparar, desde já, nosso espírito para a prática mais perfeita e intensa da penitência, da oração e das boas obras que devemos fazer na Quaresma. É o que veremos no Evangelho de hoje que nos prepara para a quaresma ao nos prevenir contra a ociosidade e o mau emprego de nosso tempo.

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Por que estais aqui todo o dia ociosos? … Ide vós também para a minha vinha.

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[Sermão] A visita dos Reis Magos ao Menino Deus

Sermão para a a Festa da Epifania
06 de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave Maria…

“Encontraram o Menino com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se, o adoraram, e abrindo seus tesouros, lhe ofereceram presentes.”

A Festa da Epifania ou do dia de Reis está entre as mais importantes do ano litúrgico, caros católicos, ao lado do Natal e da Páscoa, sobretudo porque ela contém em germe a vocação dos gentios e porque era a Festa da Realeza de Cristo – antes da criação da Festa de Cristo Rei – dado que os Reis Magos foram adorar o Rei dos Judeus. A visita dos Reis Magos ao Menino Deus é de uma riqueza espiritual incomparável.

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Fra Angelico

Antes de tudo, vale destacar que é São Mateus que conta a adoração dos Magos. Ora, a finalidade de São Mateus ao escrever seu Evangelho é converter os judeus, mostrando que Nosso Senhor Jesus Cristo era o Messias prometido. Para atingir o seu objetivo, São Mateus mostra que Cristo cumpriu todas as profecias a respeito do Messias. Na adoração dos magos, várias são as profecias que se cumprem.

Primeiramente, se cumpre a profecia feita por Balaão de que uma estrela sairia de Jacó e que um cetro se levantaria em Israel (Num XXIV, 17). Essa profecia de Balaão era bem conhecida entre os pagãos, pois Balaão era um pagão. A estrela profetizada por Balaão é a estrela que guia os Magos, o cetro que se levanta em Israel é o novo Rei que nasce.

Em seguida, se cumpre a profecia de que o Messias deveria vir quando o povo judeu fosse governado por um estrangeiro (Gen. IV, 9). Sendo o rei Herodes um estrangeiro da região da Iduméia, o tempo para a vinda do Messias havia chegado.

A próxima profecia que se cumpre é a de Miquéias, que indica o nascimento do Messias em Belém. Eis a profecia, que acabamos de cantar no Evangelho: “Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre as cidades de Judá, é de ti que sairá aquele que é chamado a governar Israel”.

Como nos mostra o Evangelho de hoje, os escribas e os príncipes dos fariseus conheciam perfeitamente essa profecia e, podemos supor, com acerto, que conheciam também as outras. Finalmente, na adoração dos magos, cumpre-se também a profecia de que os Reis da Arábia e de Sabá trariam presentes ao Messias: ouro, incenso… como vemos no texto de Isaías (Sal. 51, 10 e Isa. 60, 6). Para os Judeus, naquela época a Arábia não se reduzia ao que é hoje, mas se estendia também ao oriente da Judéia. Com tantas profecias cumpridas, não há lugar para a menor dúvida: é o Messias que acaba de nascer, o novo Rei dos Judeus.

Os Magos, ao verem aquela estrela surgir, sabiam, pela profecia e por revelação divina, que se tratava do nascimento do novo Rei dos Judeus. Mago, no oriente antigo, significa a mesma coisa que sábio na Roma Antiga, filósofo na Grécia, ou escriba em Israel. Portanto, os Magos não eram astrólogos, nem adivinhadores, nem feiticeiros. A graça de serem os primeiros gentios a adorarem Cristo não poderia ser dada a adoradores do demônio, como o são os astrólogos, os adivinhadores, os feiticeiros. Era comum naquela época, que os sábios fossem também governantes, ao menos de uma parcela do povo. Por isso, são chamados de Reis Magos. Os magos eram, então, sábios, que praticavam a lei natural e cultivavam as ciências, em particular a astronomia. Sabiam, então, auxiliados pela graça, que a estrela que surgiu era a estrela do Messias, como eles mesmos dizem: “vimos sua estrela no Oriente”. Os Reis Magos sabiam que não se tratava de um fenômeno natural, mas de uma estrela milagrosa, a estrela anunciada pela profecia.

Seguindo a estrela, os Reis Magos chegam a Jerusalém, a fim de perguntar ao rei Herodes onde está o Rei dos Judeus que nasceu. A estrela desaparece nesse momento. Aqui os reis Magos dão uma lição de fortaleza e coragem que devemos seguir. Vejamos.

Os reis magos conheciam Herodes e sua crueldade para com quem ameaçasse o seu trono. Herodes já havia matado inclusive filhos, a fim de assegurar o trono. Ao perguntar a Herodes onde está o rei dos Judeus, eles não temem colocar em perigo a própria vida, a fim de servir a Deus. Os Reis Magos ainda nem viram a criança e já estão dispostos a dar a vida por ela. Ainda nem conhecem Nosso Senhor, mas não temem nada para servi-lo. É evidente que, ao perguntarem a Herodes onde está o Rei dos Judeus que nasceu, correm risco de vida, pois Herodes não admitiria outro rei. É essa coragem dos Reis Magos que devemos ter: servir o Rei dos Reis sem recear os reis desse mundo. Herodes e toda a cidade de Jerusalém temeram. O primeiro temeu, achando que o Rei da Glória eterna lhe tiraria o trono terrestre. Jerusalém temeu pela eventual reação cruel do rei, mas também porque muitos dos judeus não estavam preparados para receber o Messias, como ficará evidente no momento da paixão e morte de Cristo. Todos sabiam, pelas profecias, que o nascimento do Messias ocorreria naqueles tempos. Os escribas sabem exatamente onde ele vai nascer. A própria presença dos Magos é mais uma prova de que o Messias já nasceu. Não há desculpa de ignorância. Os judeus e, em particular, os escribas e os príncipes dos sacerdotes, sabem que o Messias nasceu, mas não querem ir adorá-lo. Quantos católicos procedem da mesma forma? Conhecem a doutrina católica, conhecem sua moral, mas não praticam a religião por medo, medo de abandonar seus pecados e gostos, medo de entregar-se inteiramente a Deus, medo de entregar tudo a Deus, como o fizeram os Reis Magos.

Os Reis Magos prosseguem, então, até Belém, tendo a estrela novamente por guia. Ao vê-la, novamente, se alegram de uma alegria enorme. A tristeza dos Magos pela indiferença dos judeus é compensada pelo auxílio divino significado na estrela. E, finalmente, eles encontram o Menino Rei e sua Mãe, Maria, provavelmente, ainda no estábulo, a palavra casa podendo designar o estábulo. Eles encontram Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Onde está um, lá está também o outro. São José não estava presente, a fim de deixar claro que a criança não tem pai humano. Os reis magos encontram um bebê, enrolado em panos, incapaz de falar, em local muito pobre, sem bens. E o que fazem? Prostram-se, adoram e abrem seus tesouros. Quer dizer, entregam tudo ao Menino Jesus porque sabem que Ele é Deus. Eles se prostram. Prostrar-se é um gesto do nosso corpo e ao fazê-lo, eles entregam todo o corpo, saúde, sofrimentos físicos ao Menino Jesus. Eles o adoram. Adorar é um ato da alma. Ao adorar, eles entregam toda a alma ao Menino Jesus, entregam a inteligência e a vontade, as tristezas e as alegrias. Finalmente, eles abrem seus tesouros, entregando ao Menino Jesus todos os bens materiais que possuem. E esses presentes são uma verdadeira confissão de fé. Pelo ouro, eles confessam a realeza de Cristo. O ouro, sendo o mais nobre dos metais deve ser dado como presente às pessoas mais nobres, aos reis. Pelo incenso, eles confessam a divindade de Cristo. O incenso só podia ser oferecido à divindade. Por isso, tantos Cristãos foram martirizados por não quererem queimar um grão de incenso aos ídolos. Mas Cristo é Deus, e deve receber o incenso. Pela mirra, eles confessam a humanidade de Cristo e sua futura paixão e morte. A mirra era usada para perfumar os corpos dos mortos. Eis uma confissão de fé esplêndida que os chefes dos judeus não quiseram fazer: Cristo é Homem, Deus e Rei. Além disso, os reis Magos, sendo três, com os nomes de Gaspar, Melchior e Baltasar, segundo a tradição mais segura, já indicam a Trindade de Pessoas em Deus.

Cristo chama, então, para a sua Igreja os judeus e os pagãos. Havíamos visto, no Natal, que o anjo anuncia o nascimento de Cristo a alguns pastores judeus. Hoje, na Epifania, os primeiros gentios são chamados a se converter a Cristo. Devemos seguir o exemplo dos reis Magos, nossos pais na fé. Devemos confessar que Cristo é Homem e Deus e que Ele é Rei de nossas almas e das nações. Devemos, como os reis Magos, entregar tudo o que temos a Cristo: nosso corpo, nossa alma, nossos bens. Devemos também entregar a Cristo o ouro das boas obras, o incenso da oração e a mirra da mortificação e da penitência. Devemos como os reis Magos estar dispostos a dar nossa vida por Nosso Senhor Jesus Cristo. Eles ainda nem o conheciam e estavam prontos para morrer pelo Menino Jesus. Nós o conhecemos e sabemos tudo o que ele fez, e tudo o que fez por nós. Peçamos a Maria Santíssima, que está sempre com Cristo, a coragem de servir o Rei dos Reis, sem temer os reis desse mundo, sem temer os sofrimentos. É Maria que nos conduz a Cristo. É Maria a estrela que nos conduz a Cristo. É ela a estrela da manhã e a estrela do mar.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

[Sermão] A circuncisão de Nosso Senhor

Sermão para a Oitava de Natal / Circuncisão de Nosso Senhor Jesus Cristo
1º de janeiro de 2013 – Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

“Depois que se completaram os oito dias para ser circuncidado o Menino, foi-lhe dado o nome de Jesus.”

Hoje é o dia da Oitava do Natal e da circuncisão do Menino Jesus, no rito tradicional. A aliança divina feita com Abraão mandava que seus descendentes homens fossem circuncidados. A lei de Moisés ordenava que ela fosse feita no oitavo dia. Como vimos no domingo passado, Nosso Senhor Jesus Cristo se submeteu inteiramente à lei mosaica para o nosso bem. Dessa forma, no oitavo dia de seu nascimento, o Menino Deus foi circuncidado e recebeu o nome de Jesus. A festa do Santíssimo nome de Jesus será celebrada amanhã.

Hoje, cumpre entender o que era a circuncisão e qual é a circuncisão da nova e eterna aliança instituída por Deus Nosso Senhor.

Fra Angelico, 1451/1452

Fra Angelico, 1451/1452

A circuncisão foi dada por Deus a Abraão como sinal de fé na promessa que havia sido feita ao Santo Patriarca, promessa que de sua descendência viria o Messias, o Salvador. Era, portanto, um ato de fé na promessa divina, além de ser um símbolo da consagração a Deus e do reconhecimento de sua soberania, e também um sinal de reconhecimento do pecado e da satisfação que é devida pelo pecado. A circuncisão, significando a fé na promessa divina, significando a consagração a Deus e o reconhecimento do pecado, era a ocasião para que Deus purificasse a alma das crianças judaicas de sexo masculino do pecado original. Como sabemos, todos os que vêm ao mundo – com exceção de Nosso Senhor e Nossa Senhora, claro – possuem o pecado original, que nada mais é que a ausência da graça, o afastamento de Deus.  Uma criança até os seus sete anos não pode livrar-se do pecado original a não ser por um rito instituído por Deus, pois é incapaz de um ato voluntário pelo qual poderia arrepender-se de seus pecados e unir-se a Deus. Uma criança não pode salvar-se por um batismo de desejo. Assim, é necessário um rito que manifesta a fé no Messias e pelo qual Deus purifica a alma da criança para que essa possa se salvar, caso venha a morrer antes da idade da razão, antes dos sete anos. Antes da circuncisão, na época da lei natural, havia um rito instituído por Deus para apagar o pecado original e que não sabemos mais em que consistia. Com a promessa feita a Abraão, esse rito de purificação do pecado original passou a ser a circuncisão para as crianças judias de sexo masculino. Para as crianças judias de sexo feminino e para as crianças pagãs, persistia o rito instituído na época da lei natural, anterior a Abraão. A prática da circuncisão era, portanto, o único modo de salvar os meninos judeus, caso viessem a morrer antes da idade da razão. E, por isso, Deus ordenou que fossem circuncidados no oitavo dia e não mais tarde.

Nós vemos, então, claramente, que a circuncisão era uma prefiguração do batismo. O Batismo é, evidentemente, muito mais perfeito que a circuncisão, sendo um rito muito mais espiritual e profundo. O Batismo, ao contrário da circuncisão, não é só uma ocasião na qual Deus confere a graça. O Batismo é causa da graça, pois nele Deus usa a água e as palavras para transmitir a graça.  Após a morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, o único meio pelo qual uma criança sem o uso da razão pode se salvar é pelo batismo (excetuando o martírio, como foi o caso dos santos inocentes). Não há outro meio. Por isso Nosso Senhor disse aos seus apóstolos “ide e ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.” Daí a importância de batizar as crianças rapidamente, a fim de lhes assegurar o céu, em caso de morte prematura. Uma criança que não tem o uso da razão e que falecesse iria para o limbo, onde elas estão isentas de sofrimento e gozam de uma felicidade natural, que é incomparavelmente inferior à felicidade no céu, que é uma felicidade sobrenatural. É, assim, de suma importância batizar as crianças o quanto antes. Os moralistas dizem que adiar o batizado por mais de um mês é falta grave dos pais, colocando em risco a salvação da criança. Portanto, caros pais, não batizar a criança dentro de um mês após seu nascimento é pecado mortal. E que não se diga que a saúde da criança durante esse período é frágil. Ora, Deus mandou que fosse feita a circuncisão, que é muito mais perigosa para a saúde do bebê, no oitavo dia, em um tempo em que a medicina era precária, e nós adiaríamos o batismo por mais de um mês por motivos de saúde? Chegando próximo o momento do nascimento, os pais devem já tomar todas as providências para que o batismo seja feito, no máximo, dentro de um mês, cumprindo os trâmites necessários, realizando os cursos necessários, etc., escolhendo os padrinhos por suas qualidades espirituais e não por mero parentesco ou motivo social. Os padrinhos serão necessários não para dar presentes, mas para auxiliar os pais e talvez para supri-los na educação religiosa da criança.

A necessidade do batismo é tanta que Nosso Senhor Jesus Cristo quis que a matéria do batismo fosse a água, que é muito fácil de ser encontrada em praticamente qualquer lugar, diferentemente do pão e do vinho – necessários para a eucaristia – ou do óleo – necessário para a crisma e extrema-unção. O Batismo é tão necessário que, em caso de urgência, qualquer um pode batizar. É preciso que todo católico saiba como se faz o batismo, a fim de realizá-lo em caso de urgência: basta derramar água na testa da pessoa dizendo “Eu te batizo em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo.” Se a cabeça não estiver acessível, por uma razão ou outra, a água pode ser derramada em outro membro do corpo, dizendo as palavras acima mencionadas.

Pe. Edgardo Mortara com a mãe judia; ele fora educado pelo Papa Pio IX por ter sido batizado

Pe. Edgardo Mortara com a mãe judia; ele foi educado pelo Papa Pio IX após ter sido batizado criança e sobrevivido ao perigo de morte.

O Batismo é tão necessário que em perigo de morte de uma criança, ela deve ser batizada ainda que seus pais não sejam cristãos. Houve um caso famoso na época de Pio IX em que uma babá batizou um menino judeu em perigo de morte. O menino sobreviveu e Pio IX passou a cuidar de sua educação cristã, para a revolta dos liberais da época. Ao menino foi dada a liberdade de voltar a viver com os pais durante a adolescência. Dada a incompatibilidade com a fé, ele deixou os pais e tornou-se sacerdote, adotando o nome de Pio na vida religiosa.

O Batismo não é um mero rito de introdução na sociedade ou na Igreja, não se trata de mero evento social de apresentação da criança. O Batismo é um sacramento instituído por Cristo, para que a pessoa receba a sua graça, para que tenha o pecado original apagado. Pelo Batismo, se imprime na alma uma marca que nunca mais poderá ser apagada, o caráter batismal, que nos incorpora a Cristo e que nos torna aptos a receber os outros sacramentos e aptos a participar da liturgia, em particular da Santa Missa. Eis a importância capital do batismo, sem o qual as criancinhas não podem se salvar. Resta claro que a circuncisão enquanto rito religioso está abolida e praticá-la com sentido religioso seria negar a vinda de Cristo e a instituição do Batismo, que é falta grave contra a fé.

No dia de sua circuncisão Nosso Senhor nos ensina, então, a importância de receber logo o batismo. É também nesse dia que Cristo, ainda criança, oferece as primeiras gotas de sangue para a nossa redenção, manifestando, mais uma vez, sua caridade ardente para conosco. Cristo mostra também a sua humildade. Ele não precisava ser circuncidado, pois não tinha qualquer pecado e já estava inteiramente consagrado a Deus. Se o fez foi porque tomou sobre si todos os nossos pecados e sofreu por eles, a fim de nos obter a misericórdia divina. Além dos motivos gerais que mencionamos no domingo passado para observar a lei (mostrar que a lei de Moisés era boa, impedir as calúnias dos judeus, nos livrar do jugo pesado da lei mosaica, consumá-la e dar exemplo de obediência), Cristo quis hoje mostrar que ele possuía um corpo verdadeiramente humano, capaz de sofrer até o sangue e quis mostrar, cumprindo as profecias, que descendia de Abraão, se submetendo ao rito imposto por Deus ao patriarca e seus descendentes. Submetendo-se à circuncisão, Cristo nos lembra de que devemos todos ser espiritualmente circuncisos. Já no Antigo Testamento estava dito. “O senhor circuncide o teu coração, para que ames a Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, a fim de que possas viver” (Deut. XXX). Assim como não bastava aos judeus serem circuncidados na carne, devendo ser também na alma, devemos ser batizados e cumprir as promessas feitas em nosso batismo. Promessas de servir a Deus e de renunciar ao demônio e suas pompas, que são os pecados.

Santo Ano de 2013 a todos. É muito comum ouvirmos nesses dias de começo de ano o desejo de muita saúde e paz. É o que desejo a todos. Desejo saúde, antes de tudo a da alma, e também a do corpo, se for conveniente para a alma. E desejo a paz, mas a paz de Cristo, que não é como a do mundo. A paz de Cristo é feita de combate para defender as nossas almas, a fé e a Igreja dos ataques dos inimigos. Santo Ano de 2013.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito santo. Amém.

[Sermão] A apresentação ao Templo e a lei mosaica

Sermão para o Domigo da Oitava de Natal
30 de dezembro de 2012 – Padre Daniel Pinheiro

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…

Nós estamos, caros católicos, na oitava do Natal. Isso significa que a alegria e as graças próprias do Natal se prolongam durante oito dias, ou uma semana, do dia 25 ao dia 1º de janeiro. As oitavas na Igreja Católica encontram sua origem no Antigo Testamento: a festa dos tabernáculos durava oito dias, havendo no oitavo uma grande solenidade; a festa de consagração do templo, na época de Salomão, também foi feita no oitavo dia. No Rito Tradicional, ainda restam três oitavas, a oitava de Natal – na qual estamos -, a oitava de Páscoa e a de Pentecostes. As três principais festas litúrgicas se prolongam, assim, durante oito dias, a fim de que durante os oito dias a Igreja possa comunicar de modo mais pleno as graças e os ensinamentos relativos a esses mistérios, que não podem ser esgotados em um único dia.

O Evangelho de hoje nos narra a apresentação de Nosso Senhor ao Templo. Segundo a lei mosaica, os primogênitos dos homens e dos animais deveriam ser consagrados ao Senhor. Os primogênitos dos homens deveriam ser resgatados em troca de um cordeiro ou, se a família fosse pobre, por um par de rolas ou dois pombinhos. A Santa Família, claro, fez a oferenda dos pobres, embora tivessem recebido pouco antes os presentes caros dos Reis Magos. Podemos supor que, movidos pela caridade, já haviam dado o valor de tais presentes aos que eram mais pobres que eles. Tal exigência da parte de Deus – de consagrar os primogênitos – decorria da liberação do povo Judeu da escravidão do Egito. Nessa ocasião, dado que o Faraó, com o coração endurecido, não deixava os judeus partirem, Deus fez que a morte atingisse todos os primogênitos do Egito, homens e animais, poupando os primogênitos dos judeus. Poupou-os, mas pediu que lhe fossem consagrados e resgatados por animais. Dessa forma, ao consagrarem os primogênitos, os judeus reconheciam que Deus é o soberano Senhor de todas as coisas, mesmo da vida dos homens. Cristo, sendo o primogênito de Nossa Senhora, deveria ser consagrado a Deus. Bom, vale notar que dizer que Cristo foi o primogênito não significa que ela teve outros filhos. Nunca é demais lembrar: Cristo não tinha irmãos em sentido estrito. Na Sagrada escritura, também os primos e parentes próximos são chamados de irmãos. Primogênito é um termo jurídico da lei mosaica, empregado mesmo quando é o único filho. Nosso Senhor, no Evangelho de hoje, é apresentado ao templo, segundo a lei de Moisés.

Nosso Senhor se submete, então, à lei mosaica. Ora, Jesus Cristo, sendo homem e Deus desde o primeiro instante de sua concepção, já estava plenamente consagrado a Deus pela união com a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade desde o momento da encarnação. Ele não precisava ser consagrado a Deus por meio da lei mosaica. Todavia, Cristo quis praticar e observar esse e todos os outros pontos da lei mosaica. Ele quis fazê-lo não porque estivesse submetido à essa lei – pois era Deus -, mas por quatro motivos.

Primeiro, para mostrar que a lei mosaica era boa. A lei mosaica levava à salvação, se fosse praticada em virtude da fé no Messias vindouro e por amor a Deus. A lei mosaica era imperfeita, mas boa.

Segundo, Ele quis praticar a lei mosaica para consumá-la, mostrando que a lei estava ordenada a Ele, mostrando que a lei era uma preparação para a sua vinda, e para mostrar que ela deveria cessar com a sua vinda. Claro, a parte da lei que deve cessar diz respeito às práticas rituais e cerimoniais, dado que os dez mandamentos permanecem plenamente válidos mesmo depois da vinda de Cristo.

Em terceiro lugar, Nosso Senhor Jesus Cristo quis observar a lei para que os judeus não tivessem uma desculpa para caluniá-lo, acusando-o de pecado por não praticar a lei.

Em quarto lugar, Ele quis submeter-se à lei mosaica, justamente, para nos liberar dela, e nos dar uma lei muito mais perfeita que é a lei da graça.

Portanto, após a vinda de Cristo, os ritos e as cerimônias mosaicas devem cessar, sob pena de falta grave, pois continuar a praticá-las significa negar que o Messias já veio e que nos deu uma lei muito mais perfeita. Antes da vinda de Cristo e durante a sua vida na Terra, a lei mosaica estava viva e vivificava as almas dando a graça. Depois da morte de Cristo até o ano 70, aproximadamente, a lei já estava morta, pois Cristo já havia instituído a nova aliança em seu sangue na Cruz, mas ela ainda não era mortífera. Isto significa que entre a morte de Cristo e a destruição do templo no ano 70, a lei mosaica estava morta, mas sua prática não era, ainda, um pecado, e por isso os Apóstolos continuaram a frequentar o Templo até essa data. A lei estava morta, mas sua prática não matava a alma. Após a destruição de Jerusalém e do Templo no ano 70, a lei mosaica torna-se morta e mortífera, quer dizer, praticá-la é um pecado grave, pois significa dizer que o Messias ainda não veio ou que não instituiu uma nova aliança, o que vai contra a fé.

Claro que, ao obedecer às cerimônias e ritos da lei de Moisés sem estar minimamente obrigado a isso, Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensina uma obediência perfeita ao mandamentos, às leis da Igreja e aos superiores quando os superiores nos dão ordens legítimas. Vale destacar que mesmo o repouso do sábado nunca foi violado pela Salvador quando Ele realizava milagres, apesar das acusações dos fariseus. O repouso sabático não proibia as obras divinas e os milagres são, evidentemente, uma obra divina. No sétimo dia, Deus cessou a criação, mas não parou de agir na conservação e no governo do mundo. Portanto, o milagre, sendo obra divina, era perfeitamente possível e lícito no sábado. Segundo, não eram proibidas as obras necessárias para a saúde do corpo no repouso sabático. A lei permitia até que se libertasse um jumento que tivesse caído no poço e não permitiria a cura de uma pessoa doente? Além disso, os milagres realizados por Cristo tinham por objetivo não só o bem do corpo, mas também o da alma. Finalmente, o repouso sabático não proibia os atos de culto. Quando Nosso Senhor pede para que o paralítico carregue seu leito no dia de sábado, por exemplo, Ele ordena ao homem que faça um ato de culto a Deus, pois o ex-paralítico ao carregar seu leito proclama o milagre, a misericórdia e a onipotência divinas, o que é um ato de culto a Deus. Portanto, Nosso Senhor está longe de ser o primeiro revolucionário como querem alguns. Quem adulterava o sábado, querendo proibir o que era permitido, eram os fariseus. E nisso consiste a revolução: em adulterar as leis divina e natural ajustando-as aos nossos próprios gostos. Os revolucionários eram, portanto, os fariseus. Nosso Senhor é para nós, no Evangelho de hoje, exemplo de perfeita obediência e submissão à vontade de Deus. E mais uma vez Ele mostra toda a sua caridade por nós ao se submeter à lei para o nosso bem, para que possamos ter uma lei muito mais perfeita.

Gostaria de fazer também um breve comentário a respeito da Epístola e do que hoje muitos chamam de fé adulta. Hoje se ouve com frequência dizer que devemos ter uma fé adulta e, no mais das vezes, isso significa que não devemos aceitar tudo o que a Igreja sempre ensinou. Uma fé adulta significa, então, recusar o que não nos agrada ou recusar aquilo que não estamos dispostos a acreditar, embora a Igreja o tenha ensinado sempre. Assim, muitos políticos, por exemplo, se dizem católicos de fé adulta, e, como tal, são favoráveis ao aborto, ao divórcio, ao casamento homossexual. Essa fé chamada de adulta é exatamente o que São Paulo chama de meninice e de escravidão aos rudimentos do mundo na Epístola de hoje. Portanto, a fé adulta, entendida como essa liberdade diante do que a Igreja sempre ensinou, é na verdade uma escravidão aos rudimentos do mundo, uma escravidão que impede de ver a Verdade e de amá-la.

Se queremos que Deus mande aos nossos corações o Espírito do seu Filho, para fazer de nós seus filhos adotivos, devemos ter uma obediência perfeita à vontade de Deus, aos mandamentos e às leis da Igreja. Devemos também ter uma fé que aceita tudo aquilo que está contido no depósito da revelação confiado à Igreja Católica Apostólica Romana.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.