Arquivo da categoria: Festas Litúrgicas
Fotos da Festa da Imaculada Conceição – 2013
Galeria

Esta galeria contém 30 imagens.
A coisa mais bonita deste lado do céu – a Liturgia Tradicional – para aquela que é inteiramente bela, sem a mácula do pecado original, Nossa Senhora: Tota pulchra es, Maria, et macula originalis non est in te.
[Sermão] O culto dos santos, das relíquias e imagens
Sermão para a Solenidade Externa da Festa de Todos os Santos
3.11.2013 – Padre Daniel Pinheiro
ÁUDIO: Sermão para a Solenidade de Todos os Santos 3.10.2013
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Fazemos hoje a Solenidade externa da Festa de Todos os Santos, celebrada no dia 1º de novembro.
“Laudate Dominum in sanctis ejus.” Louvai o Senhor em seus santos, nos diz o Salmo 150 na Vulgata. Esse versículo da Sagrada Escritura descreve com precisão a natureza da veneração prestada aos santos pelos católicos, desde os primeiros séculos. Ao venerar os santos glorificamos a Deus, louvamos a Deus em seus santos. Veremos porque é possível cultuar os santos, os benefícios que derivam do culto dos santos, de suas imagens e relíquias.
É bem conhecida a objeção dos protestantes ao culto prestado aos santos. E, em geral, quanto mais ignorante um protestante, mais virulento será seu ataque ao culto dos santos. A heresia protestante diz que o culto dos santos não pode se realizar em virtude de três objeções, basicamente. A primeira delas consiste em afirmar que o culto dos santos se contrapõe ao fato de que NSJC é o único mediador. São Paulo na sua 1ª Epístola a Timóteo afirma: “há um só Deus e só há um mediador entre Deus e os homens, que é Jesus Cristo homem, que se deu a si mesmo para redenção de todos.” Não resta dúvida de que São Paulo estabelece NS como o único mediador. Ele faz isso nos versículos 5 e 6 do capítulo 2. Nos versículos precedentes, ele escreve a Timóteo: “Eu te rogo, pois, antes de tudo, que se façam súplicas, orações, petições, ações de graças por todos os homens.” Em seguida, diz: “Isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem e que cheguem a ter o conhecimento da verdade.” São Paulo recomenda a Timóteo que interceda por todos e diz que isso é agradável diante de Deus. Estaria São Paulo em contradição, ordenando a Timóteo que reze pelos outros ao mesmo tempo em que diz que só há um mediador. É claro que não. Nosso Senhor é o único mediador de redenção, Ele é o único que nos redime e nos salva. Isso não impede que haja mediadores de intercessão, que com suas orações pedem para que Cristo nos aplique a sua redenção. Portanto, NS é o único mediador de redenção, mas ele estabeleceu mediadores de intercessão subordinados a Ele.
É possível, então, haver mediadores de intercessão sem que NS deixe de ser o único mediador de redenção. Mas os protestantes dizem – e é a segunda objeção – que os santos no céu não tomam conhecimento de nossas orações, não podendo, assim, nos ajudar. Isso é falso. É claro que os santos conhecem as nossas orações, pois podem ver tudo em Deus, no Verbo de Deus, ainda que nossas orações sejam meramente internas, sem nada exterior. Os santos no céu têm uma caridade perfeita, inflamada, um amor perfeito por Deus e pelo próximo. Eles querem o bem do próximo e querem agir para o bem do próximo. Seria um contrassenso se no momento em que mais são movidos pela caridade, se no momento em que mais querem e podem ajudar o próximo, os santos não pudessem auxiliar aqueles que mais precisam, que somos nós. Portanto, os santos no céu, ao verem Deus face a face, conhecem também os nossos pedidos e nos ajudam, movidos pela caridade perfeita que possuem.
Finalmente, dizem os protestantes que Deus é tão bom que não precisa de intercessores para nos dar o que necessitamos. Estritamente falando, é óbvio que não haveria necessidade absoluta de intercessores. Todavia, Deus é tão bom que quis que tivéssemos intercessores e modelos, para o nosso próprio bem, para que pudéssemos pedir as coisas com maior confiança, sabendo que somos representados por pessoas que agradam mais a Deus do que nós, pobres pecadores. Diz Santo Agostinho que Deus deixa de conceder muitas coisas, se não houver a intervenção de um mediador e advogado digno. Vemos isso na Sagrada Escritura com os amigos de Jó (Jó XLII, 8) e com Abimelec (XX, 17). Deus só perdoou os pecados dos primeiros pela intercessão de Jó e só perdoou a Abimelec pela intercessão de Abraão. Vale também destacar que Cristo enalteceu a fé do centurião com grandes elogios, apesar de o homem ter enviado ao Salvador os anciãos dos Judeus, em vez de ir pessoalmente, para que pedissem ao Senhor a cura de um servo doente (Lc VII, 2-10). E fez isso por acreditar que o pedido vindo dos anciãos dos Judeus seria mais agradável do que o seu pedido feito diretamente. Recorrer aos santos não é falta de fé. Deus é tão bom que faz os santos cooperarem de modo especial na salvação das almas pela intercessão deles. Assim, a intercessão dos santos em nada diminui a bondade divina, mas a manifesta ainda mais perfeitamente.
A invocação dos santos é lícita e boa. Ela está incluída no culto de dulia que é devido aos santos e que consiste em reconhecer internamente e externamente a excelência dos santos com relação às virtudes sobrenaturais, com relação à união íntima deles com Deus. Esse reconhecimento vai acompanhado de certa submissão a eles. Não se trata, portanto, de culto de latria, que é devido somente a Deus. Ao venerarmos os santos, louvamos e veneramos a obra de Deus neles, louvamos a graça divina que atuou de modo particular e excelente neles. Ao elogiar a obra de um artista, elogiamos também e principalmente o artista que é causa da obra. Ao venerar os santos, louvamos verdadeiramente a Deus em seus santos, como nos diz o salmo.
Veneramos os santos louvando suas excelências, celebrando as festas deles, fazendo obras de caridade ou de mortificação em honra deles, expondo e venerando as imagens e relíquias deles. Veneramos os santos também imitando os exemplos deles. E como eles são imitadores de Cristo, ao imitar os santos, imitamos Cristo. É o que diz são Paulo (1 Cor XI, 1): “Sede meus imitadores, como eu o sou de Cristo.” Mas para imitá-los é preciso ler as vidas de santos. O exemplo deles nos faz muito bem, pois são, de fato, o Evangelho colocado em prática por pessoas como nós. A vida dos santos não é só para ser admirada, mas para ser imitada. Não imitada naquilo que tem de extraordinário, milagres, etc., mas no essencial, na conversão a Deus. E veneramos os santos recorrendo à intercessão deles.
Vimos que entre os meios de honrar os santos está a veneração de imagens e relíquias. Relíquia quer dizer resto. As relíquias são, então, um pedaço do corpo de um santo (relíquia de primeira classe) ou algum objeto que lhe pertenceu (relíquia de segunda classe) ou ainda alguma coisa que tocou uma relíquia de primeira classe (e teremos uma relíquia de terceira classe). Ao venerar as relíquias de um santo veneramos, antes de tudo, a pessoa do santo e também aquele corpo que foi templo do Espírito Santo e membro vivo de Cristo, o corpo que junto com a alma praticou tantas virtudes, o corpo que vai ressurgir glorioso um dia. Vemos na Sagrada Escritura como a fímbria do vestido de NS opera prodígios (Mc VI, 54-56), vemos a sombra de São Pedro curar os doentes (At V, 12-16) e vemos lenços e aventais tocados por São Paulo afugentar os espíritos malignos e curar doenças (At XIX, 11 e 12) . Grande deve ser a nossa veneração pelas relíquias dos santos, imitadores de NS, relíquias que nos remetem aos santos e que são também sacramentais.
As imagens dos santos também podem e devem ser veneradas. “As imagens de Cristo, da Santíssima Virgem e de outros Santos, se devem ter e conservar especialmente nos templos e se lhes deve tributar a devida honra e veneração, não porque se creia que há nelas alguma divindade ou virtude pelas quais devam ser honradas, nem porque se lhes deva pedir alguma coisa ou depositar nelas alguma confiança, como outrora os gentios, que punham suas esperanças nos ídolos (cfr. Sl 134, 15 ss), mas porque a veneração tributada às Imagens se refere aos protótipos que elas representam, de sorte que nas Imagens que osculamos, e diante das quais nos descobrimos e ajoelhamos, adoremos a Cristo e veneremos os Santos, representados nas Imagens.” Assim ensina o Concílio de Trento. A proibição de fazer imagens no AT não é mais válida, pois o risco de idolatria que existia para os judeus, rodeados de pagãos idólatras, adoradores de imagens, já não existe. E mesmo no Antigo Testamento, vemos Deus abrir algumas exceções para a proibição das imagens, pois ele ordena que se façam querubins na arca da aliança e manda que Moisés faça uma serpente de bronze, prefiguração de Cristo crucificado, para que os judeus não perecem pelas picadas das serpentes no deserto. Portanto o culto às imagens se dirige ao original.
O culto aos santos, às relíquias e imagens está de pleno acordo com a obra da salvação e com nossa natureza humana. Nós vivemos em sociedade, a Igreja é uma sociedade instituída por Cristo. Nada mais natural que uns membros da sociedade prestem auxílio a outros, nada mais natural que os membros da Igreja triunfante, no céu, socorram os membros da Igreja militante, que somos nós. Nada mais natural que peçamos a ajuda deles. Pela nossa natureza, somos corpo e alma. Nós precisamos de coisas sensíveis que ajudem a nossa inteligência e a nossa vontade a se elevarem às coisas espirituais. Assim, os sacramentos são sinais sensíveis da graça, as cerimônias da Igreja são sensíveis, a Igreja é uma sociedade visível com um chefe visível, etc. As imagens e relíquias nos ajudam muitíssimo a manter a nossa concentração, a considerar o exemplo e as virtudes de Cristo, de Nossa Senhora, dos Santos. Tirar as imagens das igrejas prejudica a vida de oração, diminui o apelo aos santos, nos privando de muitas graças. Dessa forma, a vaga iconoclasta que atingiu muitas das nossas igrejas nas últimas décadas, prejudica a oração do povo. O que corrobora tudo isso é o fato de o próprio Deus ter se encarnado. Nossa religião não é uma religião de anjos, mas uma religião fundada por Deus para nós homens, feitos de corpo e alma. As duas coisas devem estar unidas e devidamente ordenadas, sendo a alma a principal parte de nosso ser.
O culto aos santos, de tradição apostólica, nos faz venerar os santos como amigos de Deus, nos faz venerar os santos pelos dons que receberam de Deus. O culto dos santos nos traz grandes benefícios, pois nos ajudam a obter graças que sozinhos não conseguiríamos e nos dão um exemplo e vida em conformidade com Cristo. Grandes benefícios nos trazem também o culto das relíquias e das imagens.
Recorramos aos santos e peçamos a eles que nos ajudem a alcançar o céu onde já se encontram. Laudate Dominum in sanctis eius. Louvai o Senhor em seus santos.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Fotos da Solenidade externa da festa de Todos os Santos
Santo Estevão, Protomártir
São Pedro Mártir
São Pio V, Papa e Confessor São Pio X, Papa e Confessor
São Boaventura, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja
Santo Alberto Magno, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja
São Francisco de Sales, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja
São Tomás de Aquino, Confessor e Doutor da Igreja
Santo Antonio de Pádua, Confessor e Doutor da Igreja
São João da Cruz, Confessor e Doutor da Igreja
São Francisco de Assis, Confessor São Domingos de Gusmão, Confessor
São Simão Stock, Confessor São Camilo de Lellis, COnfessor
São Felipe Neri, Confessor São Paulo da Cruz, Confessor
São João Maria Vianney, Confessor São Gabriel de N. Sra. das Dores, Confessor
Santa Ágata, Virgem e Mártir Santa Inês, Virgem e Mártir
Santa Luzia, Virgem e Mártir Santa Maria Goretti, Virgem e Mártir
Santa Clara, Virgem Santa Catarina de Sena, Virgem
Santa Teresa, Virgem Santa Rosa Lima, Virgem
Santa Margarida Maria Alacoque, Virgem Santa Gema Galgani, Virgem
Santa Joana Francisca Frémiot de Chantal, Viúva
Imagens da Missa de Finados ou Comemoração de todos os Fiéis Defuntos na capela de Sta. Marcelina 2013
[Sermão] Cristo, Rei das Nações pelo reinado em nossas almas
Sermão para a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei
27.10.2013 – Padre Daniel Pinheiro
ÁUDIO: Sermão para a Festa de Cristo Rei 27.10.2013
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“A turba ímpia grita: não queremos que Cristo reine. Nós, com alegria, dizemos que sois o Rei Supremo de todas as coisas” (Hino das Vésperas da Festa de Cristo Rei).
Caros católicos, hoje é talvez a festa mais importante do ano litúrgico para os nossos tempos atuais: a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei. Não digo que seja a festa litúrgica mais importante em si mesma, pois é claro que temos o Natal, a Páscoa, a Epifania e tantas outras festas tão tradicionais e importantíssimas. Digo que ela é a mais importante pelas circunstâncias em que vivemos, pelo momento da história em que vivemos. Momento de apostasia das nações. Não há, infelizmente, outra palavra, caros católicos. As nações abandonam completamente Deus, abandonam completamente NSJC, abandonam completamente a Igreja. Constatando o estado de coisas já em 1925, o Papa Pio XI, com grande sabedoria, instituiu a Festa de Cristo Rei no último domingo de outubro. O Santo Padre sabia que a melhor maneira de inculcar no povo e lembrar ao povo o reinado social de NSJC é por meio da liturgia. Uma liturgia que proclamasse claramente o reinado de NSJC sobre todas as coisas. Rei das almas e das consciências. Rei das inteligências e das vontades. Rei das famílias, da cidade, do povo, da nação, do mundo todo, de todas as coisas. O drama de nossa época é o abandono completo de Cristo e de sua Igreja por parte da sociedade. Daí a importância da festa de Cristo Rei ser celebrada em conformidade com a verdadeira intenção com que foi criada, ou seja, para que se afirme a realeza social de NSJC. Essa festa não diz respeito ao reinado de NS com a sua vinda gloriosa. Não. Essa festa diz que NS deve reinar desde já, em todos os aspectos da vida humana, do aspecto mais individual ao mais social. E por isso a celebramos agora e não no final do ano litúrgico, que faz referência à vinda gloriosa de Cristo, como se ele fosse reinar somente a partir desse momento. Não. Ele reina desde já. Do íntimo de nossa consciência aos atos públicos do governo, em todas as coisas Cristo deve reinar. Essa festa de Cristo Rei bem compreendida é o terror dos inimigos da Igreja, é o terror do mundo e do demônio. Ela se opõe frontalmente ao laicismo, esse erro perverso que afirma que o Estado não deve ter religião ou que o Estado deve dar iguais direitos a todas as religiões. Pio XI classificava o laicismo como peste da nossa época. O laicismo, fruto do protestantismo e da filosofia moderna, busca construir o reino do homem. Por trás da bandeira do laicismo, excluindo toda possiblidade do reino social de Cristo, se unem as forças dissolventes do liberalismo, da maçonaria, do socialismo, do comunismo, para citar alguns dos inimigos da Igreja (Mons. Antonio Piolanti, antigo Reitor da Pontifícia Universidade Lateranense, no Livro Dio Uomo, 2ª edição, 1995, p. 653). Mas se essa festa é o terror dos inimigos da Igreja, Ela deve ser de um grande consolo para os católicos e celebrada com muita alegria.
Nosso Senhor é, portanto, Rei. Ele é Rei porque é Deus e todas as coisas dependem dele para ser e existir e para se conservar no ser e para poder agir. Todavia, Ele é Rei também enquanto homem. NS é Rei enquanto homem em virtude da união íntima com o Verbo de Deus, ao ponto de haver em Cristo uma só Pessoa, a Pessoa Divina, embora haja nEle duas naturezas, a divina e a humana. Em virtude dessa união, chamada união hipostática, a humanidade de Cristo tem uma excelência e uma dignidade que superam toda e qualquer criatura e que faz dEle verdadeiramente a cabeça, o chefe de todo o gênero humano e de todas as coisas. E NS é Rei enquanto homem também por direito de aquisição. Ao morrer na Cruz, ao derramar o seu sangue divino por nós, Cristo adquiriu sobre nós um domínio soberano, tornou-se nosso Rei por direito. Como nos diz a Igreja no Hino Vexilla Regis, para o Tempo da Paixão: Regnavit a ligno Deus. Deus reinou do madeiro, da cruz. Deus Reinou do madeiro por amor, ao morrer para nos salvar. Portanto, toda criatura deve se submeter a Cristo como a um rei soberano porque Ele é Deus, porque Ele está acima de todos nós por sua excelência e porque nos redimiu na Cruz.
Entre as criaturas, estão as sociedades, que são consequência da natureza social do homem. O homem precisa da sociedade para assegurar o que é útil e necessário para a sua vida, para poder viver com perfeição. Portanto, ao criar o homem assim, Deus criou também a sociedade. As sociedades, por meio de seus representantes, são capazes de reconhecer a verdade e de praticar o bem. Por exemplo, o Estado, por meio de seus representantes competentes, é capaz de chegar à conclusão de que se deve fazer tal obra para o bem dos cidadãos. De modo semelhante, a sociedade pode e deve reconhecer que Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus e Rei e ela deve reconhecer que para honrá-lo como tal é preciso se conformar àquilo que Ele Revelou, ou seja, é preciso estar unido à Igreja que Ele fundou e favorecer essa Igreja. Assim, as sociedades são obrigadas a cultuar NS publicamente conforme a verdadeira religião. Todas as sociedades são obrigadas a isso, desde a família até o Estado. Tudo deve se submeter a Nosso Senhor Jesus Cristo e a suas leis. Os governantes devem honrá-lo publicamente. Os magistrados e professores devem venerá-lo. As artes e as leis devem exprimir a realeza de Nosso Senhor (como nos diz o hino das Véperas da Festa de hoje. Hino Te Saeculorum Principem, das Vésperas de Cristo Rei).
Deve, portanto, haver união entre a Igreja e o Estado. Não se trata de uma confusão entre os dois, mas de união. Essa união não significa que a Igreja deva gerir as coisas puramente temporais do Estado ou ditar qual deve ser a forma de governo, por exemplo. Não. Essa união significa que as leis da Igreja e a doutrina católica, que dizem respeito à salvação das almas, devem ser respeitadas pelo Estado. Assim, por exemplo, na educação e no matrimônio o Estado deve aplicar as leis da Igreja. O Estado ao buscar o bem comum dos seus cidadãos, deve garantir não somente os bens temporais – materiais e culturais – aos cidadãos, mas deve proceder de forma que os cidadãos possam ter com facilidade e em abundância os bens espirituais que são necessários para que eles conduzam religiosamente a sua vida. Entre esses bens espirituais, o mais importante é o de poder conhecer, amar e servir a NSJC. E não basta ao Estado garantir o acesso dos cidadãos à religião católica, mas deve ele próprio prestar vassalagem a NS pelos atos de culto da religião católica, respeitando as leis de Deus e da Igreja. Resta óbvio que essa doutrina do Reinado Social de NSJC, da união entre Igreja e Estado, só pode aplicar-se plenamente em um Estado em que a maioria dos cidadãos é católica. Nesse caso, o poder civil deve procurar os meios e condições intelectuais, sociais e morais pelos quais os fiéis possam perseverar na fé. Isso inclui a regulação das manifestações públicas de outras religiões, que podem colocar em perigo a salvação dos cidadãos. Não se trata, como é evidente, de converter ninguém à força, nem de forçar a consciência, mas de favorecer a verdadeira religião. Por outro lado, o Estado pode ver-se obrigado, em alguns casos, a tolerar uma falsa religião, para evitar um mal maior ou para que se alcance um bem maior. Mas trata-se de tolerância, portanto, de se permitir um mal em vista de um bem. Não se trata de igualar a verdade e o erro, não se trata de colocar em pé de igualdade a religião fundada por NS e o erro. No Estado em que a maior parte dos cidadãos não professa a fé católica ou não conhece a Revelação, o poder civil não católico deve ao menos conformar-se aos preceitos da lei natural – se submetendo assim ao criador – e deve assegurar a liberdade para que a Igreja exerça com liberdade a sua missão.
O Estado, como criatura, deve, então, honrar devidamente a NSJC, isto é, deve honrá-lo como Ele quer ser honrado. Uma criatura que não venera e não cultua devidamente o seu criador está fadada a sofrer graves consequências. Para o homem individualmente considerado, essa consequência é a condenação eterna. Para a sociedade, a consequência de não se cultuar NSJC é o caos social, é o desaparecimento dos primeiros princípios necessários para vida em comum, é o desaparecimento dos primeiros princípios da vida moral, é o indiferentismo religioso dos cidadãos. O Estado que não cultua NSJC devidamente está fadado ao fracasso na sua mais alta missão, que é a de ajudar seus cidadãos a praticarem a virtude. E, assim, os cidadãos são prejudicados no caminho da salvação. Um Estado que não cultua seu criador prepara a sua ruína mais completa.
Nós, então, diante disso, devemos fazer algo pela nossa pátria, cumprindo nosso dever da virtude de piedade, virtude de piedade que nos manda ajudar a nossa pátria e nos manda procurar o bem dela. Nós devemos fazer algo para que a nossa pátria reconheça e se submeta à realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso fazer a nossa parte para que a sociedade compreenda que ela deve honrar NSJC e sua Igreja. Alguns acham que a solução está na volta da monarquia. Ora, é preciso dizer que uma monarquia por si só não resolve nada, pois uma monarquia também pode ser liberal, desligada de Deus e da Igreja. A Igreja não tem preferência por uma forma de governo particular, desde que na democracia, na aristocracia ou na monarquia se reconheça que o poder vem de Deus e não do povo, desde que se reconheça a realeza de NSJC e se submeta a suas leis. Claro que para uma dada nação pela sua mentalidade e pelas circunstâncias, uma forma de governo pode ser mais adaptada do que outra. Isso, porém, não é o essencial. O essencial é que o poder civil honre publicamente a NSJC, cultuando-o e observando as suas leis. Outros acham que a solução consiste no combate ao marxismo, aliando todas as forças contra ele. Aqui, também, o mero combate ao marxismo não basta se não se combate ao mesmo tempo os outros erros, em particular o liberalismo, que diz que o homem pode professar livremente sem problema a religião que mais lhe agrada, que afirma que a consciência é livre para decidir o que é bom ou mau, que diz que o Estado não deve ter religião. Não basta combater o marxismo sem propor a solução: o reinado social de NSJC. A única solução para ajudar o nosso país é ter como finalidade o Reino Social de NSJC, é buscar que a sociedade o reconheça e se submeta a ele. Para fazer isso, caros católicos, o primeiro e mais importante passo é que NS reine nas nossas vidas e nas nossas famílias, é buscar realmente a santidade, com determinação, desejando-a realmente. O reinado de Cristo deve começar pelas nossas almas, por todos os aspectos de nossas vidas. É preciso que Cristo reine nas nossas inteligências pela fé. É preciso que Ele reine na nossa vontade pela caridade. É preciso que Ele reine em todos os nossos afetos pela temperança, pela fortaleza. É preciso que Ele reine em todas as nossas atividades, na profissão, nas diversões, nosso modo de ser. É preciso que Ele reine na vida familiar, no matrimônio, no uso do matrimônio, na educação dos filhos. É preciso que Ele reine, caros católicos, em tudo. Não adianta reclamar das condições em que vivemos se não buscamos mudar isso pela santidade. É pela santidade, pela prática das virtudes e reconhecendo a realeza de Nosso Senhor em todos os aspectos de nossa vida que poderemos alcançar a realeza social de NS. É observando os mandamentos e evitando o pecado que contribuiremos para o reinado social de Cristo. Quando pecamos, recusamos obedecer a Nosso Senhor Jesus Cristo, e aumentamos o poder do príncipe do mundo, do demônio. Pelo pecado, favorecemos o reinado do príncipe desse mundo. Portanto, será pouco eficaz o combate pelo reinado social de Cristo, o combate para que a civilização volte a ser formada pela lei de Cristo, se com os nossos pecados favorecemos justamente o reino do príncipe desse mundo. Não adianta, ou muito pouco, ser um paladino da Tradição e do reinado social de Cristo, na internet ou algures, se Cristo não é realmente o Rei de nossas almas. Portanto, caros católicos, façamos um profundo exame de consciência, para que Cristo possa reinar na nossa inteligência, na nossa vontade, na nossa consciência, em nossos afetos, em todas as nossas ações, em nossa família, em tudo. Primeiro, para podermos nos salvar. Mas também para que Ele reine na sociedade. Se Cristo reinar em nossa alma, o necessário combate público pelo seu reinado social será verdadeiramente eficaz. Convertamo-nos a Cristo Rei. Coloquemos tudo a seus pés e carreguemos o jugo leve e suave de Cristo Rei. A Missa Tradicional exprime claramente o reinado de Cristo. Tudo nela, absolutamente tudo, está voltado para Ele, diz respeito a Ele. Nela, é Cristo o centro, o Rei. Aprendamos com a liturgia. Oportet illum regnare (é preciso que Ele Reine), como diz São Paulo. E esse reinado de Cristo trará grandes benefícios para a sociedade. Ele trará a verdadeira ordem, e o verdadeiro progresso, que é o progresso nas virtudes. Viva Cristo Rei! Rei de nossas almas. Rei das Nações.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
[Sermão] A Igreja e as missões
Sermão para o 22º Domingo depois de Pentecostes – Domingo das Missões
20.10.2013 – Pe Daniel Pinheiro
ÁUDIO: Sermão para o 22º Domingo depois de Pentecostes – Domingo das Missões 20.10.2013
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Concedei-nos, Senhor, que do Oriente ao Ocidente o Vosso nome seja glorificado entre os povos, e que em todo lugar se sacrifique e se ofereça ao Vosso nome uma oblação pura.” (Secreta)
Caros católicos, para toda a Igreja hoje é o domingo consagrado às Missões. Em todas as Missas, ao menos naquelas celebradas no Rito Romano Tradicional, há orações que pedem a Deus que a verdade do Evangelho possa chegar a todos os cantos do orbe e a todos os homens, a fim de que Deus seja conhecido, amado e servido por todos os povos. Se a Igreja faz isso, é porque ela permanece fiel ao mandamento de NS dado aos Apóstolos e aos sucessores deles: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Marcos 16, 15-16) “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei.” (Mateus 28, 19) É, então, Nosso Senhor Ele mesmo que atribui à sua única Igreja a catolicidade, quer dizer, essa universalidade, devendo a Igreja dirigir-se a todo o mundo, a todas as gentes. Consequentemente, é NS Ele mesmo que faz da Igreja uma sociedade necessariamente missionária. A missão é justamente anunciar a verdade do Evangelho, a verdade revelada por NSJC àqueles povos que ainda não a conhecem.
E esse mandamento de NS, caros católicos, é bem lógico. Como diz a coleta de hoje, Deus quer que todos os homens se salvem e que cheguem ao conhecimento da verdade. Para que o homem se salve é preciso que ele acredite com total certeza no que Deus fala, pois Deus não pode se enganar nem nos enganar. E para que o homem se salve, é preciso fazer aquilo que Deus ordena, pois Deus só nos ordena o que é bom. Em suma, para salvar-se, o homem precisa da verdadeira religião. E entre tantas religiões que se contradizem, uma só pode ser a verdadeira. E sabemos que é a católica, confirmada com tantos verdadeiros milagres e anunciada por tantas profecias. Sabemos que é a católica porque somente ela corresponde perfeitamente ao ensinamento de Jesus Cristo, nosso Salvador. Assim, é natural que NS mande que seus Apóstolos preguem o Evangelho em todo o mundo e para todas as gentes, para que se salvem. A Igreja, seguindo seu divino fundador, tem sede das almas e quer levar essas almas que estão nas trevas do erro e na sombra da morte à verdade e à vida eterna. A Igreja se entristece profundamente de ver povos que ignoram o Deus único em três Pessoas, que ignoram o Deus que nos mostrou todo o seu amor ao se encarnar e ao sofrer por nós até a morte e morte de cruz. Ela se entristece de ver os povos que ignoram ou perseguem a Igreja fundada por Cristo. E a Igreja manifesta hoje essa tristeza pelos paramentos roxos, pela ausência do Glória.
Fiéis, então, ao preceito de NS de pregar a todas as gentes, os Apóstolos, de imediato, pregaram em todo lugar a palavra de Deus, ao ponto que o “som da voz deles estendeu-se por toda a terra e as suas palavras até as extremidades do mundo”, como afirma a Igreja (Ofício dos Apóstolos e Salmo 18, 5) Também os sucessores dos Apóstolos foram fiéis ao mandamento de Nosso Senhor. São Martinho, apóstolo da Gália. São Patrício, apóstolo dos irlandeses. Santo Agostinho de Cantuária, apóstolo dos ingleses. São Columba, apóstolo dos escoceses. São Bonifácio, apóstolo dos povos germânicos; Santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos eslavos. São Francisco Xavier, apóstolo do oriente. Padre Anchieta, Apóstolo do Brasil. Isso para citar somente alguns poucos. A Europa foi convertida a Cristo, o norte da África foi convertido a Cristo com grande rapidez. Nos tempos modernos, a maior parte das Américas foi convertida a Cristo pelos missionários portugueses e espanhóis. E quantas obras missionárias feitas em outros cantos do globo. Por que, caros católicos, um zelo tão ardente pelas missões sempre consumiu a Igreja? Porque se trata da salvação das almas e a salvação das almas é a lei suprema da Igreja.
Hoje, infelizmente, muitos parecem ter esquecido este mandamento de NS: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Marcos 16, 15-16) “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei.” (Mateus 28, 19) É por causa desse esquecimento que os infiéis não chegam ao conhecimento da fé. É também por causa desse esquecimento que nossa sociedade, outrora cristã, é cada vez mais paganizada. Esse esquecimento é devido, antes de tudo, ao indiferentismo religioso. Com o indiferentismo religioso se afirma que a salvação é possível em qualquer religião. Se você é mulçumano, seja um bom mulçumano, isso basta. Se você é protestante, seja um bom protestante e você será salvo. Se você é ateu, seja um bom ateu e você irá ao paraíso. São frases que ouvimos. Ora, se NS nos deu um mandamento tão claro incluindo nele a pena da morte eterna – “o que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado” – é justamente porque é extremamente difícil se salvar quando se pratica uma outra religião que não a verdadeira, fundada por Ele. E mesmo nesse caso, muito raro, em que a pessoa se encontra em ignorância invencível quanto à verdadeira religião, mas pratica o bem e evita o mal segundo uma consciência bem formada, é sempre por Cristo e na Igreja que a pessoa se salva. Quantas almas infelizmente se perdem por causa da negligência no cumprimento do preceito divino: ensinai todas as gentes, batizando-as.
Isso não significa, porém, que não haja mais missões. As missões existem, é claro. Todavia, elas são vistas, sobretudo, como uma coisa puramente social ou humana. Elas visam muitas vezes uma paz simplesmente humana, um bem-estar humano. E, para alcançar isso, dizem que é preciso evitar a todo o custo o apostolado, às vezes classificado como proselitismo, quer dizer, é preciso evitar buscar a conversão das almas à religião católica. A Igreja até poderia atrair as almas para si pelo testemunho, pelo exemplo, mas buscar as almas, argumentando, chamando-as à conversão seria já um meio ilegítimo, seria proselitismo dizem. O Papa João Paulo II aponta esse erro: “Hoje – diz o Papa – o apelo à conversão, que os missionários dirigem aos não cristãos, é posto em discussão ou facilmente deixado no silêncio. Vê-se nele – nesse apelo à conversão, continua o Papa – um ato de «proselitismo»; diz-se que basta ajudar os homens a tornarem-se mais homens ou mais fiéis à própria religião, que basta construir comunidades capazes de trabalharem pela justiça, pela liberdade, pela paz, e pela solidariedade.” Até aqui o Papa. Essa proibição do apelo à conversão – apelo que não se faz meramente pelo exemplo, embora o exemplo seja indispensável e a parte mais necessária – vem de uma falsa noção do que é o bem do homem, como se o bem do homem estivesse nos bens desse mundo ou numa paz sem o verdadeiro Deus. Ao contrário, o maior bem para o homem é conhecer, amar e servir a Deus. O verdadeiro bem do homem supõe, portanto, a verdadeira religião e, para isso, é preciso que os homens da Igreja sejam plenamente missionários, ensinando a doutrina de Cristo e batizando aqueles que crerão nEle. É preciso buscar primeiro o Reino de Deus, o resto será dado por acréscimo.
Ora, se decorre da própria natureza da Igreja ser missionária, todos os membros dela estão implicados nisso em alguma medida e devem cooperar com as missões. Há, basicamente, duas maneiras de cooperar efetivamente com as missões: a ajuda material e a oração.
Primeiro, devemos ajudar materialmente e segundo as nossas possibilidades as obras sérias, que têm por objetivo real a propagação da fé católica, o bem das almas e a glória de Deus.
Em segundo lugar, e muito mais importante que a ajuda material, devemos rezar e rezar muito. Em particular, devemos rezar para que Deus suscite numerosas vocações e, sobretudo, vocações sacerdotais, mas sacerdotes santos, de uma fé vivíssima e de uma caridade ardente. NS fundou uma Igreja hierárquica: os sacerdotes são os ministros da salvação trazida por Jesus Cristo. Sem padres e sem bons padres, a evangelização, a conversão das almas e dos povos não terá sucesso ou muito limitado. Eis aqui uma maneira fundamental para cooperar com as missões: rezar pedindo pastores dignos e santos. É exatamente isso que a coleta e o Evangelho de hoje nos lembram: que Deus possa enviar operários que transmitam o Evangelho com confiança, sem receio, a fim de que todos os povos possam conhecer o único Deus verdadeiro e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo, seu Filho. Devemos também rezar constantemente pela conversão daqueles que ainda não têm a fé católica: pagãos, hereges, infiéis, judeus… Comecemos essa oração nos unindo ao Santo Sacrifício da Missa que se consumará sobre o altar. Rezemos para que o Senhor mande operários e rezemos pela conversão dos que vivem na sombra do erro. Rezar com instância e fervor pelas missões é praticamente como tornar-se um missionário, dada a profundidade da cooperação. Santa Teresinha do Menino Jesus nos dá o exemplo, pois sem jamais ter saído de seu convento, ela se tornou a padroeira das missões, pelas orações e sacrifícios que oferecia pelo bom êxito das missões.
Todavia, não devemos considerar as missões simplesmente como algo longínquo e que ocorre somente na outra extremidade da terra. Hoje, as nações outrora católicas se tornaram, na prática, terra de missão. Nós devemos começar, portanto, pelo nosso país, pelo meio em que vivemos. Devemos praticar a ajuda material, e rezar pelas vocações e pela conversão dos não católicos no nosso país e não somente em terras distantes. Nesse caso, devemos também cooperar com a Missão pelo apostolado no meio em que vivemos. Esse apostolado está ao alcance de todos: em casa, no trabalho, na rua, com os amigos, nos lazeres, etc… Podemos exercer de várias maneiras o apostolado. Um bom argumento que damos em favor da religião católica, um bom conselho, uma correção caridosa, um bom livro que emprestamos, uma diversão imoral que se evita, etc. Eis alguns atos de apostolado que Deus recompensará com generosidade. Se a esses atos nós acrescentarmos o apostolado do exemplo – que é um argumento mais forte do que todos os discursos e sem o qual todos os outros atos serão ineficazes – e se acrescentarmos também os sacrifícios, mesmo pequenos, nos tornaremos missionários, no sentido abrangente da palavra. Podemos pensar aqui no exemplo de Santo Afonso que converteu seu escravo mulçumano simplesmente pelo exemplo, sem precisar de outro argumento além do mero exemplo. Com as orações, com o apostolado, com o exemplo, podemos propagar a fé, iluminando as inteligências e inflamando as vontades e não simplesmente atiçando os sentimentos passageiros como, infelizmente, ocorre com muitos que se chamam hoje missionários.
Façamos, então, caros católicos, aquilo que podemos para converter os povos pagãos e para reconverter nossa sociedade a Cristo, para que o único Deus verdadeiro e seu Filho, Jesus Cristo, possam ser reconhecidos, confessados e glorificados pela prática da religião católica: devemos ajudar materialmente, na medida de nossas possibilidades, devemos rezar pelas vocações e pela conversão daqueles que não conhecem NS e sua Igreja, devemos oferecer pequenas penitências nessa intenção, e devemos fazer apostolado no meio em que vivemos, sobretudo pelo exemplo.
O ardor missionário que sempre inflamou a Igreja é a obra de caridade mais perfeita: não se pode demonstrar caridade maior para com o próximo do que o tirando das trevas do erro e o instruindo na verdadeira fé. “Essa obra de caridade, nos diz Pio XI, supera toda outra obra e prova de caridade, como a alma supera o corpo, como o céu supera a terra, como a eternidade supera o tempo. E, continua o Pontífice, quem exerce essa obra de caridade segundo suas forças, demonstra estimar devidamente o dom da fé e, além disso, manifesta sua gratidão para com a bondade divina partilhando com os pobres pagãos o mais precioso dos dons – a fé – e, com ela, todos os outros bens que lhe estão unidos.” (Rerum Ecclesiae) Cooperemos, portanto, caros católicos com as missões. É uma obra muito meritória e de grande caridade que Deus recompensará com generosidade.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
[Sermão] O Brasil escravo de Nossa Senhora Aparecida
Sermão para a Festa de Nossa Senhora Aparecida
12.10.2013 – Padre Daniel Pinheiro
ÁUDIO: Sermão para a Festa de Nossa Senhora Aparecida – O Brasil escravo de Maria 12.10.2013
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito santo. Amém.
Ave Maria…
***
Hoje, Festa de Nossa Senhora Aparecida. Lembro aos pais que devem explicar aos filhos que a importância do dia de hoje é devida a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, e não porque é o dia das crianças. O feriado foi instituído e existe em honra de Nossa Senhora Aparecida.
***
Caros católicos, quando falamos da natureza do culto devido a Nossa senhora dissemos que, além da veneração, da invocação, do amor, da gratidão e da imitação, era devido a Maria Santíssima também um culto de escravidão. A Nossa Senhora como Rainha do céu e da terra, de tudo e de todos, se deve uma verdadeira escravidão. Uma escravidão por amor. E essa escravidão sintetiza perfeitamente todos os outros atos pertencentes ao culto de Maria. O escravo fiel a sua Rainha, a venera, reconhecendo sua singular excelência. O escravo ama a Rainha que o governa tão bem, e ele procura, consequentemente, agradar em todas as coisas à Rainha. O escravo tem gratidão por uma Senhora e Rainha que fez e faz por ele tantos favores e obtém tantas graças. O escravo invoca e recorre com grande confiança a uma Rainha que conhece suas necessidades, e que pode, e quer socorrê-lo em suas dificuldades. O escravo fiel, por último, trata de imitar a Rainha, já que reconhece nela o modelo de todas as virtudes.
Que Nossa Senhora seja Rainha, caros católicos, é inegável. Ela é Rainha porque é a Mãe do Rei, ela é a Mãe de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor é Rei mesmo enquanto homem porque está unido com o Verbo ao ponto de formar com Ele uma só pessoa, uma pessoa divina. Nosso Senhor é Rei porque nos redimiu na cruz, quer dizer, Ele é Rei por direito de conquista. Nossa Senhora, por sua vez, é Rainha porque é a Mãe de Deus, o que a faz ter uma relação única com Nosso Senhor Jesus Cristo, com o Verbo. Nossa Senhora é Rainha também porque é corredentora, porque participou de forma singular em nossa redenção, adquirindo sobre nós a realeza. Ela é Rainha porque sua santidade é maior que a de todas as outras criaturas, incluindo os anjos. Vemos isso claramente na Ladainha de Nossa Senhora. Mais especificamente, ela é Rainha dos Anjos porque conhece mais profundamente que eles os mistérios divinos. Rainha dos patriarcas porque supera todos eles em heroísmo e em piedade. Rainha dos profetas porque os supera no dom da profecia. Rainha dos apóstolos porque os supera no zelo pela glória de Deus e salvação das almas. Rainha dos mártires porque supera todos eles na virtude da fortaleza. Rainha dos confessores porque sua fé aqui na terra era imensamente superior à fé dos confessores. Rainha das virgens porque supera todas elas com sua pureza imaculada. Enfim, Rainha de todos os santos. É óbvio que a realeza de Maria é uma realeza dependente e subordinada à realeza de Jesus Cristo. Não são, portanto, dois reinados absolutos e independentes. O reinado de Nossa senhora depende e está subordinado ao de NS. E Maria, como dispensadora de todas as graças adquiridas por Cristo, participa de modo sublime no governo de seu Filho, ajudando-nos a viver em conformidade com a lei da graça.
Nossa Senhora é, portanto, verdadeiramente Rainha, quer queiramos ou não. A nós cabe reconhecer a realeza dessa Rainha que é também nossa Mãe e nos submeter plenamente, entregando a ela tudo o que temos, tudo o que somos, todas as nossas ações passadas, presentes e futuras. Nós já sabemos que o melhor meio para chegar a Nosso Senhor é por Maria, é pela devoção a Maria. E a melhor devoção a Maria é a consagração total a ela como escravos dela, reconhecendo que pertencemos a ela, que somos propriedade dela e entregando tudo a ela, para que ela disponha disso da melhor maneira possível com o objetivo de dar maior glória a Deus e de salvar as almas. Pela consagração total a Maria, nós entregamos tudo a Nossa Senhora: corpo, alma, os bens exteriores, como casa, família, riquezas, e os bens interiores, como méritos, graças, virtudes, satisfações. Nós nos imolamos inteiramente a Jesus nos consagrando totalmente a Maria, e sabendo que, apresentados pelas mãos de Nossa Senhora, esses bens terão muito mais valor aos olhos de Deus e serão aproveitados de forma muito mais perfeita. Além de nos entregarmos inteiramente a Maria, a total consagração a ela consiste também em fazer todas as coisas por Maria, com Maria, em Maria e para Maria. Não basta fazer o ato de consagração e renová-lo com regularidade, se não se vive realmente uma vida espelhada em Maria. É preciso fazer todas as coisas com Maria, quer dizer, tomando-a como modelo de santidade. Fazer todas as coisas em Maria, quer dizer, em união com ela. Fazer todas as coisas por Maria, sempre por meio dela e por sua intercessão, ainda que implicitamente, sem precisar dizer a cada vez que estamos pedindo sua intercessão. Fazer todas as coisas para Maria, para agradar-lhe e poder, assim, agradar a Nosso Senhor Jesus Cristo e à Santíssima Trindade. Fazer tudo com Maria, em Maria, por Maria e para Maria, como diz São Luís de Montfort, para podermos fazer da melhor maneira possível tudo com Jesus, em Jesus, por Jesus e para Jesus. A total consagração a Maria, nunca é demais repetir, é a mais perfeita consagração a Jesus, pois Maria nos conduz a Ele com suavidade, com firmeza e rapidez.
São inúmeros os benefícios dessa total consagração a Jesus por meio da escravidão a Nossa Senhora. Ela nos consagra inteiramente ao serviço de Deus, entregando a Jesus por Maria tudo o que somos e temos. Com essa consagração, imitamos Nosso Senhor Jesus Cristo, que se submeteu a Nossa Senhora durante grande parte de sua vida e ainda hoje atende a todos os seus pedidos. Ela nos traz grandes benefícios porque atrai o amor de Nossa Senhora e seus auxílios especiais. Maria Santíssima, ao ver que alguém se despoja de tudo para honrá-la e servi-la, não poupará esforços para ajudá-lo no caminho para o céu. Com essa consagração, nossas boas obras são purificadas. A melhor de nossas obras sempre é feita com certo amor próprio, em virtude de nossas fraquezas. Quando as entregamos a Maria, ela purifica nossas boas obras dessas pequenas manchas. Com essa consagração, nossas obras se tornam mais belas diante de Deus. Se oferecêssemos uma simples maçã ao Rei, como diz São Luís de Montfort, nosso oferecimento talvez não fosse tão agradável. Mas quando entregamos essa maçã para a Rainha, ela a coloca em uma bela bandeja de ouro e apresenta essa simples homenagem ao Rei, que ficará muito benévolo em virtude da intermediária e em virtude do modo pelo qual chegou até Ele a homenagem. Essa devoção é também boa para o nosso próximo, pois Nossa Senhora saberá aproveitar plenamente nossas boas obras para o bem dos outros. Enfim, essa consagração é a melhor coisa que podemos fazer se queremos realmente nos converter, caros católicos. Uma explicação tão breve dá somente uma pálida ideia do que é essa escravidão por amor, do que é essa consagração total a Jesus por Maria. Recomendo que leiam o Livro de São Luís de Montfort, Tratado da Verdadeira Devoção a Maria, se quiserem entender bem esse tesouro inesgotável e tendo-o lido, que procedam à consagração, se ainda não a fizeram Que procedam a essa consagração com a real intenção de conversão, de servir Nossa Senhora e Nosso senhor Jesus Cristo. Lembro a todos que a devoção a Nossa Senhora não é uma devoção sentimental ou açucarada. A devoção a Nossa senhora deve nos preparar para a batalha. Para os homens e rapazes, em particular, a devoção a Nossa Senhora deve favorecer a virilidade, tornando-nos capaz de controlar nossas paixões e de nos dispor ao combate espiritual.
Tudo isso que falamos se aplica no plano pessoal, caros católicos. Todavia, se aplica também no plano social. Toda sociedade é também uma criatura e, como tal, deve reconhecer e se submeter à Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo e à realeza de Nossa Senhora. O Brasil tem por Rainha Nossa Senhora da Imaculada Conceição sob o título de Aparecida. Se o Brasil quer realmente viver na ordem, é preciso que seja escravo de Nossa Senhora. O Brasil precisa venerá-la, invocá-la, amá-la, agradecer-lhe, imitá-la, submeter-se a ela. Somente assim haverá a verdadeira ordem, que não pode ser outra do que a ordenação de tudo a Nosso Senhor Jesus Cristo. Somente reconhecendo a realeza e a soberania de Nossa Senhora o país poderá ter um verdadeiro progresso, que não é simplesmente um progresso econômico-social, mas que é um progresso das virtudes no povo, das virtudes naturais e sobrenaturais. Ao desprezar Maria Santíssima com tantas leis iníquas (indiferentismo religioso, aborto em alguns casos, uniões homossexuais e tantas outras coisas); ao desprezar Maria por um sistema político completamente esquecido de seu Filho e de sua Igreja; ao desprezar Maria por uma sociedade cada vez mais hostil à religião católica; ao desprezar Maria pela falta de culto público tributado a ela; ao desprezar Nossa Senhora de tantas formas, o Brasil caminha para o abismo. É nosso dever de piedade filial rezar pelo Brasil, recorrer a Nossa Senhora, pedindo pelo Brasil. E, ao pedirmos pela Brasil, devemos pedir não somente pelos governantes, mas também pelo clero, pelos bispos, pelos sacerdotes, para que sejam fiéis e santos.
Claro, devemos batalhar na esfera pública pela realeza de Nossa Senhora, mas devemos começar reconhecendo a realeza dela sobre a nossa alma. Uma ação individual tem um efeito sobre toda a sociedade, inevitavelmente. Assim, um pecado individual, ainda que praticado sozinho, sem o conhecimento dos outros, traz um prejuízo para a sociedade, porque esse pecado prejudicou ao menos um membro da sociedade e, ao prejudicar um membro, é toda a sociedade que é prejudicada. De forma semelhante, mas ainda mais intensa, uma ação meritória traz um benefício para toda a sociedade ainda que seja uma ação desconhecida das outras pessoas, pois essa ação fez um bem ao menos para um membro da sociedade, e, ao beneficiar um membro da sociedade, toda a sociedade é beneficiada. Portanto, caros católicos, podemos imaginar o bem que traz para a sociedade a alma que se consagra totalmente a Nossa Senhora e vive realmente essa consagração. Se queremos mudar a sociedade, devemos primeiro mudar a nós mesmos.
Roguemos a Maria Santíssima para que alcance de seu divino Filho misericórdia para nosso país tão ingrato com os benefícios divinos, benefícios naturais e sobrenaturais. Em particular, o benefício de ter dado ao nosso país, por meio dos missionários portugueses, a fé. A fé católica, que cada vez mais se enfraquece em nossa sociedade, nos fazendo voltar a viver como pagãos. Roguemos a Maria para que tenha piedade de nosso país, que está em ruínas espiritualmente falando. E quando uma sociedade está em ruína espiritualmente, todo o resto termina também desmoronando. Nós repetiremos, após a Missa, a oração e a consagração a Nossa senhora Aparecida feita pelos bispos do Brasil diante das autoridades civis em 1931. Faremos a nossa parte para que o Brasil reconheça a sua rainha e a sirva dignamente, para assim servir ao Rei dos reis, NSJC. Faremos a nossa parte para honrar publicamente a Nossa Senhora Aparecida. Se Nossa senhora for devidamente honrada publicamente nos dará abundantes graças, como ao ser encontrada nas águas do Rio Paraíba fez com que a pesca fosse abundante. Sem Maria, não há peixes. Com Maria, eles são abundantes.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Imagens da Missa de Nossa Senhora Aparecida
[Sermão]: O Santo Rosário: arma espiritual para alma, a Igreja e a sociedade
Sermão para a Solenidade da Festa de Nossa Senhora do Rosário – 20º Domingo depois de Pentecostes
06.10.2013 – Padre Daniel Pinheiro
ÁUDIO: Sermão para o 20º Domingo depois de Pentecostes – N. Sra. do Rosário 6.10.2013
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Fazei-nos, Senhor, pelos mistérios do Sacratíssimo Rosário, meditar na vida, paixão e glória de Vosso Filho Unigênito, para que sejamos dignos das promessas d’Ele.” (Secreta da Festa de Nossa senhora do Rosário).
Como sabemos, caros católicos, a festa de Nossa Senhora do Rosário foi instituída pelo Papa São Pio V em 1571, após a vitória dos católicos na batalha naval de Lepanto, contra os mulçumanos turcos. O primeiro nome da festa foi o de Nossa Senhora da Vitória. Logo em seguida, o Papa Gregório XIII mandou que a festa fosse em honra de Nossa Senhora do Rosário. Provavelmente, o Papa Gregório XIII queria não somente lembrar a vitória alcançada por Nossa Senhora, mas também a principal arma empregada para que a vitória ocorresse: o Santo Rosário, pois o Papa São Pio V pedira a todos os católicos que rezassem o Terço, para que os católicos vencessem a batalha naval. Ao mesmo tempo, todos os que estavam a bordo das galés também levavam consigo o Rosário. E o estandarte da nau capitânia de Dom João de Áustria, o chefe dos cristãos, era Cristo crucificado. E, além da cruz, ele levava também uma cópia de uma misteriosa imagem de Nossa Senhora que havia aparecido no manto de um índio no México. A bordo da nau de Dom João de Áustria, estava, então, a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe. Os Missionários, graças a Deus, nos trouxeram a verdadeira religião, nos trouxeram Jesus Cristo. O continente americano ajudava agora, com Nossa Senhora de Guadalupe, na preservação do Velho Continente, a Europa. A festa de Nossa Senhora do Rosário foi assim instituída, por gratidão a tão boa Mãe e para favorecer a prática dessa excelente devoção que é o Terço. Em Lepanto, a civilização cristã foi salva contra a barbárie dos turcos mulçumanos pelo Rosário.
Como sabemos também, caros católicos, o Santo Rosário foi a arma dada por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, para ele vencer a heresia albigense ou cátara, heresia descendente do maniqueísmo, e que atingia, particularmente, o sul da França. Tratava-se de uma heresia monstruosa, que considerava a matéria como um mal. Assim, havia a prática do suicídio, eles se opunham ao matrimônio, pois o matrimônio, pela procriação, geraria almas presas a corpos. Por outro lado, favoreciam qualquer outro ato de luxúria, desde que se evitasse a concepção, e não viam com maus olhos a união entre pessoas do mesmo sexo. Destruíam, portanto, a família e combatiam muitas outras instituições sociais: eram contra a pena de morte, contra qualquer tipo de guerra, ainda que defensivas. Era uma heresia que conduzia ao caos social. Eles negavam, evidentemente, a ressurreição da carne, mas acreditavam na reencarnação, negavam o livre-arbítrio, etc. Muitas coisas que vemos amplamente espalhadas em nossa sociedade, não por acaso. Tratava-se, então, de uma heresia que se opunha à fé e que trazia grandes prejuízos à sociedade civil. São Domingos com suas pregações, com suas virtudes, conseguiu pouca coisa diante desses hereges. Foi com o Rosário dado por Nossa Senhora que ele conseguiu tirar as almas desse erro tremendo. O Rosário, na forma em que o conhecemos hoje, foi dado por Nossa Senhora a São Domingos nessa ocasião. O Rosário é o protetor da civilização católica, como vimos na batalha de Lepanto. O Rosário é também arma contra as heresias, como visto no caso dos albigenses.
Caros católicos, se a oração do Rosário pode fazer tanto bem em coisas de tal importância, quanto bem ele não faz para a nossa alma? O terço é também oração eficaz, muito eficaz para a nossa santificação, para que nos convertamos inteiramente a Nosso Senhor Jesus Cristo. Se rezássemos bem o terço, a heresia do modernismo já teria desaparecido. Essa heresia que, simplificando e resumindo, consiste em afirmar que podemos acreditar no que quisermos e que podemos fazer o que quisermos, desde que nos sintamos bem, desprezando aquilo que nos foi dito por Deus. “Acredite no que quiser, siga a moral que quiser, o importante é você se sentir bem, pois se se sente bem está com Deus”, ouvimos com frequência. Se rezássemos bem o terço, nosso país não estaria se afastando cada vez mais das leis de Deus. Se rezássemos bem o terço, nos afastaríamos definitivamente dos pecados mortais e dos pecados veniais deliberados, nos tornaríamos santos.
Se rezássemos bem o Terço… Mas o que é rezar bem o Terço? Como rezá-lo bem? O Terço é uma oração vocal e mental, caros católicos. Isso significa que devemos rezá-lo com todas as condições necessárias para uma boa oração vocal: estar em estado de graça, ou, ao menos, desejar verdadeiramente sair do estado de pecado mortal, se nos encontramos nele. Em seguida, devemos pedir coisas úteis para a nossa salvação, bens espirituais, antes de tudo. Devemos rezar com recolhimento, com atenção, evitando as distrações voluntárias, combatendo as involuntárias. Devemos rezá-lo com humildade, sabendo que não somos dignos de sermos atendidos. Devemos rezar com resignação, aceitando a vontade de Deus, que conhece perfeitamente o que é o melhor para nós. Devemos rezar com perseverança e grande confiança de sermos atendidos, se pedimos o que é bom para nossa alma. Se deixarmos uma dessas coisas de lado, nosso Terço já não será muito eficaz, perderá muito de sua potência. Mas o Terço é também oração mental, caros católicos. Isso significa que, ao rezar o terço, devemos considerar os mistérios da vida de Cristo e de Nossa Senhora e devemos tirar frutos, resoluções práticas, para a nossa vida, para nos corrigirmos em tal erro, para progredirmos em tal virtude, etc. O Terço bem rezado supõe essa oração mental, essa consideração dos mistérios do Terço e a resolução prática para progredirmos na prática do bem. Nessa união de oração vocal e mental está a profunda riqueza do Terço. Ao rezarmos bem as mais excelentes e perfeitas orações – Pai Nosso e Ave Maria – e considerarmos os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos de Nosso Senhor e Nossa Senhora, nos fixaremos no bem, nos tornaremos santos, nos dirigiremos para o céu, trabalharemos para o bem da Igreja e da sociedade.
Não é, porém, tarefa fácil conciliar a oração vocal e mental no Santo Terço. Cada um pode procurar uma maneira de conjugar a oração vocal e mental no Terço. Todavia, o Padre Antonio Royo Marín nos indica um método eficaz e simples. Ele diz que devemos, nas três primeiras Ave Marias de uma dezena, prestar atenção nas palavras que estão sendo ditas. Aqui está a oração vocal. Nas três Ave Marias seguintes, ele diz que devemos considerar o mistério em questão: a encarnação, a agonia de Jesus, a coroação de Nossa senhora, etc. Nas quatro últimas Ave Marias, devemos fazer uma pequena resolução para nossa vida espiritual, de acordo com o mistério considerado. A humildade para a encarnação, por exemplo. No começo, talvez tenhamos dificuldade, mas o importante é não desistirmos nem desanimarmos, mas perseverarmos e avançarmos, ainda que lentamente.
Rezar bem o Terço é uma grande arma no combate espiritual. É uma arma tão importante que Nossa senhora veio até nós insistir para que o rezássemos todos os dias. Em Fátima, Nossa Senhora insiste para que se reze o terço todos os dias. Em cinco das seis aparições, ela pede para que as crianças rezem o terço diário, para que se alcance a paz e o fim da guerra, da 1ª Guerra Mundial, no caso. Se nós queremos a verdadeira paz, que é a paz da graça, a paz do verdadeiro amor a Deus, devemos rezar o terço. O Terço, quando bem rezado, opera grandes prodígios, caros católicos. O maior deles é a conversão de nossa alma. Quem reza bem o Terço vai deixar o pecado grave. O terço e o pecado não podem coexistir durante muito tempo. Ou se abandona um ou se abandona o outro. Aqueles que ainda não o rezam diariamente, aproveitem essa festa de Nossa Senhora do Rosário e o mês do Rosário – outubro – para tomar a resolução de rezá-lo diariamente. Isso é fundamental. Rezemos o Terço e façamos isso em família, caros católicos, na medida do possível. Infundam nos filhos um grande amor ao Terço. Comecem a rezar com eles pequenos, pouco a pouco, com uma dezena, depois duas, e assim por diante, na medida em que for possível para a criança. As crianças de Fátima eram justamente crianças e rezavam o Terço. Lúcia tinha 10 anos. Francisco, 9. Jacinta, 7. Se vocês ensinarem os filhos a rezar o Terço, estarão lhes dando um grande tesouro.
No Evangelho de São João, nos é narrado que, após a ressurreição de Cristo, houve mais uma pesca milagrosa em que os apóstolos pescaram 153 peixes, sem que a rede se rompesse. O Rosário completo é composto de 153 Ave Marias. O Rosário e a terça parte dele – o nosso Terço – é como uma rede que captura graças abundantes sem se romper. O Terço é a devoção que mais agrada a Nossa Senhora. Quantas graças para aqueles que praticam e amam essa devoção. Se rezássemos bem o terço, nossa alma seria outra, a situação da Igreja seria outra, a condição da sociedade seria outra. Ficar se lamentando e reclamando, não adianta nada. Tomemos nosso Terço e rezemos. Se queremos nos tornar santos, se queremos destruir a heresia, se queremos construir uma sociedade cristã, rezemos o Santo Terço.