[Sermão e Vídeo] O sentido da Ladainha de Nossa Senhora das Dores e Vídeo da Missa Solene em honra da Padroeira

Sermão para a Festa de Nossa Senhora das Dores

15.09.2017 – Padre Daniel Pinheiro, IBP

 

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

Ave Maria.

Cada um aqui, ao considerar a Ladainha de Nossa Senhora das Dores, composta para o uso privado, não litúrgico, por Pio VII, pôde observar uma ordem clara nas invocações. Começa com as três invocações iniciais a Nossa Senhora, as mesmas invocações da Ladainha Lauretana, a ladainha comum de Nossa Senhora.

Essas três invocações são: Santa Maria, Santa Mãe de Deus e Santa Virgem das Virgens. Não poderíamos deixar de começar invocando Nossa Senhora pelo próprio nome que lhe foi dado por Deus. Maria. Várias são as interpretações para o nome Maria. O Breviário Romano retém a interpretação de estrela do mar para o nome de Maria. A estrela que não perde a sua luz ao brilhar. Como Maria não perdeu a virgindade ao dar à luz seu divino Filho. A estrela do mar que orienta os navegantes pelo caminho a ser seguido. Estrela prometida para a descendência de Jacó. Em seguida vem a invocação de Mãe de Deus. É a maternidade divina que dá a Nossa Senhora todos os seus privilégios, desde a Imaculada Conceição até a sua Assunção aos céus. Foi em preparação para a maternidade divina que Nossa Senhora recebeu tantas graças e foi em consequência da maternidade divina, e por tê-la exercido perfeitamente, que ela recebeu tantas graças. A terceira invocação comum é Virgem das virgens. Mais do que a importante virgindade de Maria, antes, durante e depois do parto, a invocação significa que Nossa Senhora é a mulher por excelência, a inimiga do demônio de que se fala no Gênesis. Significa também a dedicação completa a Deus.

Depois das invocações comuns, a ladainha passa a uma série de invocações que nos mostram os sofrimentos de Maria. Pio VII não quis recorrer aos momentos dessas dores, como a profecia de Simeão, a fuga para o Egito, a perda do Menino Jesus em Jerusalém e as outras. Preferiu ele tratar da intensidade dessas dores. E com palavras que podem até deixar transparecer um certo desespero, se não são bem interpretadas. Claro, em Nossa Senhora, a dor – e a tristeza – foi a maior possível – Mãe tristíssima – mas em momento algum a dominou tirando-lhe a fé, a esperança, a caridade. Em momento algum diminuiu-lhe o uso da inteligência e da vontade. Em momento algum ofuscou-lhe a lucidez e a serenidade. Mãe lacrimosa, pois as lágrimas são a expressão exterior da tristeza de sua alma. Mãe aflita no sentido de que seu próprio corpo sofria as consequências sensíveis de suas dores. Mãe abandonada porque perdeu o seu Divino Filho e abandonada no mesmo sentido em que Nosso Senhor se diz abandonado no alto da cruz, isto é, sem consolação sensível alguma. Mãe consumida pelas tribulações, pois sem um milagre da graça não teria ela resistido a tantas dores, mas teria sido consumida por elas. Deveria ter morrido com tamanhas tribulações. Mãe repleta de angústias, pois tinha a alma tão estreitada que só passava o amor a Deus e ao próximo. Ápice dos sofrimentos, pois ninguém sofreu mais que ela, excetuando seu divino Filho. Essa parte das ladainhas nos dá um pouco a noção da intensidade das dores de Maria Santíssima.

A parte seguinte das ladainhas coloca Nossa Senhora como aquela que sustenta a virtude dos fiéis em todas as ocasiões, principalmente nas adversidades. Espelho de paciência. Âncora de confiança. Refúgio dos desamparados. Conforto dos miseráveis. Fortaleza dos fracos. Porto dos náufragos, pois é a estrela do mar. Bonança nas borrascas, pois serena a alma nas tribulações. Tesouro dos fiéis, pois nosso tesouro é a graça e Nossa Senhora é a medianeira de todas as graças, de todo o nosso verdadeiro tesouro.

Depois, Nossa Senhora é apresentada como a virtude dos santos de toda classe. Olho dos profetas, pelos quais faziam a profecia; o báculo dos apóstolos, para reger todo o rebanho do Senhor; a pérola das virgens, pois a castidade é uma joia de valor inestimável. Nossa Senhora das Dores como Corredentora, unindo-se à redenção operada pelo seu Filho, distribui tão imensas graças. Pela comunhão dos santos, ofereceu suas dores, associando-as às dores de seu Filho, pela nossa salvação eterna. E todos os santos são devotos e imitadores de Maria Santíssima.

Todavia, é na última invocação da ladainha que podemos ver a beleza da ordem com que está feita. Maria das Dores, Mãe tristíssima, é invocada como a alegria de todos os santos. Depois de invocar Maria na intensidade mais alta de suas dores, sofrimentos e tristezas, a invocamos como a alegria de todos os santos. A primeira coisa a notar é que todos os santos são alegres, por definição. De uma alegria espiritual, de uma alegria que vem da graça de Deus, de uma alegria que vem da consciência pura, da alegria que vem do fazer a vontade de Deus. A alegria que vem de sermos filhos de Deus e de sabermos que dependemos inteiramente dEle. Essa alegria estável e duradoura que vem da união com Deus. Essa alegria que persiste na alma mesmo em meio aos sofrimentos. Essa alegria que os mundanos desconhecem, que os pecadores desprezam. Essa alegria que muitas vezes chega a transbordar no exterior pelo semblante, nas conversas e nas recreações honestas. Que em nada tem a ver com a dissipação do espirito, com as risadas descompassadas ou com diversões que prejudicam a nossa alma e ofendem a Deus. Todos os santos tiveram essa alegria profunda na alma. E a fonte dessa alegria? Deus, claro. Nosso Senhor Jesus Cristo, o Verbo Encarnado. E Nossa Senhora. A Mãe das Dores. A Mãe Tristíssima é a alegria de todos os santos. Porque ela nos conduz a Deus, nos conduz sempre a seu filho. Ela nos distribui, por vontade de Deus, as graças que seu Filho alcançou na cruz. Nossa Senhora é a alegria de todos os santos.

Quem compreender isso, que Nossa Senhora das Dores é mãe da alegria terá compreendido o segredo de nossa santa religião. Encontrar a alegria da união com Deus, encontrar a alegria de nos assemelharmos a Cristo entre os sofrimentos dessa vida. Nossa Senhora, ao sofrer, guardou a sua profunda alegria de alma, pois sabia que tudo se fazia para a maior glória de Deus e para a salvação das almas. Sabia que cooperava na redenção de nossas almas. Sendo a Mãe de Deus e Mãe das Dores, somente ela pode ser a Mãe da Alegria.

Nossa Senhora das Dores, que nos mostrais o sentido da dor e da alegria, rogai por nós.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.